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quinta-feira, 22 de março de 2018

Mark Zuckerberg pediu novamente desculpa em entrevista

22 mar 2018 02:37

MadreMedia

Atualidade

Mark Zuckerberg: "Temos a responsabilidade de proteger os vossos dados pessoais e, se não conseguimos fazê-lo, não merecemos servir-vos"

O criador do Facebook, Mark Zuckerberg, falou durante a madrugada desta quinta-feira com a cadeia CNN sobre o uso indevido de dados pessoais de milhões de utilizadores pela empresa britânica Cambridge Analytica. Primeiro, começou a entrevista a pedir desculpa e a anuir quanto à gravidade da situação. Depois, pelo meio, disse estar disponível para se apresentar no Congresso. E, no final, indicou que quer deixar um legado do qual as filhas se orgulhem.

Mark Zuckerberg pediu novamente desculpa em entrevista

A entrevista surge no meio de um autêntico alvoroço de notícias sobre a Cambridge Analytica, uma empresa de dados alegadamente ligada à campanha do presidente norte-americano Donald Trump, que teve acesso a informações de cerca de 50 milhões de utilizadores do Facebook sem que estes tivessem dado o seu consentimento para tal.

Zuckerberg, aos 33 anos, prefere geralmente expor-se via Facebook, nomeadamente em publicações na sua página oficial. Rara é a vez que concede entrevistas. Mas a situação atual assim o exigia. Afinal, deu-se um silêncio quase ensurdecedor que durou seis dias desde que a história desencadeou um autêntico frenesim após ter sido publicada pelo britânico The Observer. À CNN, nesta madrugada, começou a conversa pedindo desculpa.

"Foi uma grande quebra de confiança e lamento muito que isto tenha acontecido ", disse Zuckerberg a Laurie Segall, uma jornalista que acompanha os feitos do Facebook há 10 anos. "Temos a responsabilidade básica de proteger os dados das pessoas", continuou.

Não é caso para menos. O escândalo levou a uma descida das ações em bolsa e o homem que criou a rede social foi inclusivamente convocado por uma comissão parlamentar britânica e pelo Parlamento Europeu para se explicar.

Todavia, enquanto o mundo ficou turbinado em debates sobre dados, de Zuckerberg não havia qualquer reação. Foi preciso esperar até ao início da noite desta quarta-feira, em que quebrou o silêncio numa publicação na sua página, catalogando o incidente como sendo uma "quebra de confiança" entre a rede social e os seus utilizadores.

"Temos a responsabilidade de proteger os vossos dados pessoais e, se não conseguimos fazê-lo, não merecemos servir-vos. Tenho trabalhado para perceber exatamente o que aconteceu e como garantir que isto não volte a acontecer. A boa notícia é que as ações mais importantes para evitar que esta situação se volte a repetir, já foram tomadas há anos. Mas também cometemos erros, há mais a fazer", escreveu.

A empresa afirmou-se "escandalizada por ter sido enganada" pela utilização feita com os dados dos seus utilizadores e disse que "compreende a gravidade do problema".

Zuckerberg sentiu-se enganado e na entrevista à CNN, fazendo uma retrospeção dos acontecimentos, admite que "existiu um erro claro" em trabalhar com a Cambridge Analytica. E que no Facebook "temos de ter a certeza que não nunca mais cometemos um erro destes".

De seguida, assumiu que vão entrar em contacto com todos aqueles afetados e tentou descansar os mais preocupados sobre futuros deslizes idênticos. "E, doravante, quandoidentificarmos aplicações que façam esquemas semelhantes, nós vamos garantir que vamos avisar as pessoas também", revelou.

Eleições passadas e futuras

"Se me tivesses dito, em 2004, quando estava a arrancar com o Facebook, que grande parte da minha responsabilidade, atualmente, seria ajudar a proteger a integridade de eleições e interferências de outros governos... Eu, hum, não ia acreditar que isso seria algo que iria ter que lidar 14 anos mais tarde", contou num momento da entrevista.

Este pequeno desabafo de Zuckerberg levou a que a jornalista questionasse se o Facebook desempenhou ou não um bom trabalho na ingerência russa/notícias falsas durante as eleições norte-americanas de 2016. À pergunta, respondeu que se fez um trabalho "bom o suficiente". No entanto, era claro que nesse ano "não estávamos por cima num número de coisas que devíamos estar; fossem as notícias falsas ou a interferência russa".

O que não quer dizer que, na sua opinião, não tivessem sido alcançados progressos desde então. Para isso, para além de fazer referência às eleições francesas, recordou a vitória democrata no Alabama, um dos estados mais conservadores dos Estados Unidos, naquela que foi a eleição mais disputada de 2017 no país.

"Mas, aquilo que vimos uns meses mais tarde, durante as eleições francesas, numa altura em que já dispúnhamos de melhores ferramentas de AI, foi que se conseguiu um trabalho muito melhor em identificar bots russos  — basicamente interferência russa — algo que tínhamos antecipado antes do período de eleições e ficámos muito mais satisfeitos com os resultados", disse.

Embora tenha acrescentado que, na realidade, "isto não é nada de transcendente. O que eu quero dizer é que há muito trabalho que precisamos de fazer para garantir que seja difícil a nações como a Rússia interferir e para garantir que os trolls e outros indivíduos não espalhem as notícias falsas".

Portas abertas ao Congresso

Mark Zuckerberg deixou a porta aberta para ir testemunhar perante o Congresso norte-americano, algo que nunca fez. "A resposta rápida é: ficarei feliz em ir, se for a coisa correta a fazer", disse.

Depois, explicou: "Testemunhamos regularmente no Congresso sobre um vasto número de tópicos; uns com perfil mais importante, outros não. E o nosso objetivo é prestar um melhor trabalho trabalho possível, levando a maior informação que se conseguir. Mas só se vê uma pequena parte dessa atividade. O que nós tentamos fazer é enviar a pessoa no Facebook que tem o maior conhecimento sobre aquilo que o Congresso quer saber. Se esse sou eu, então estarei feliz por ir. É que existem pessoas cujo seu único trabalho é focarem-se numa área. Mas se existir um tópico onde sou a única autoridade, então faz sentido que seja eu a ir", disse.

Só que no final daquela declaração pareceu ter um pouco de hesitação. E foi essa pequena hesitação que levou à jornalista interromper e esclarecer que as pessoas tinham interesse em que fosse o próprio e nenhum dos seus representantes a falar sobre o assunto. "É a cara do Facebook. Representa a marca e elas querem é ouvi-lo a si".

Tal se verificando, Zuckerberg deu nova explicação:

"É por isso que estou a fazer esta entrevista. Porque quando vamos testemunhar temos de perceber qual é o objetivo. E isso não é um motivo para existir um momento de media — ou pelo menos não é suposto. Penso que o objetivo é facultar ao Congresso tudo aquilo que este precisa para que faça o seu trabalho que é muito importante. E nós só queremos enviar a melhor pessoa para o fazer. Paralelamente, concordo que de facto existe um elemento de responsabilidade em que considero que eu devia de fazer mais entrevistas — por mais desconfortante que seja para mim fazê-las na televisão. Penso que é uma coisa importante enquanto disciplina para aquilo que estamos a fazer. Eu devia de estar disponível para responder a questões difíceis dos jornalistas", disse.

O legado para as filhas

Zuckerberg falou também do que é ser pai e como isso o afetou. Quer enquanto homem, quer no modo como leva agora o seu dia-a-dia no trabalho.

"Aquilo que eu pensava que era o mais importante, de longe, era ter o maior impacto no mundo que me fosse possível. Agora, apenas me importa construir algo que faça com que as minhas filhas que vão crescer tenham orgulho em mim. É o tipo de filosofia que me guia neste momento a este ponto; quando vou trabalhar em muitas coisas difíceis durante o dia e vou para casa, pergunto-me apenas: será que minhas meninas vão ter orgulho do que fiz hoje?".

O Facebook tem estado no centro de uma vasta polémica internacional com a empresa Cambridge Analytica, acusada de ter recuperado dados de 50 milhões de utilizadores da rede social, sem o seu consentimento, para elaborar um programa informático destinado a influenciar o voto dos eleitores, favorecendo a campanha de Donald Trump.

Nos Estados Unidos, os procuradores de Nova Iorque e de Massachusetts e a Comissão Federal do Comércio anunciaram que vão investigar o caso.

Sexo, dados & Facebook. O que o líder da Cambridge Analytica disse (e escondeu) em Lisboa

21 Março 2018165

Ana Pimentel

O fundador da Cambridge Analytica falou na última Web Summit, em Lisboa. Contamos-lhe o que ele disse. E o que escondeu - milhões de dados tirados do Facebook, operações na sombra, Trump e mulheres.

Foi filmado a dizer que recorria a práticas ilegais, “nas sombras”, e a mulheres para seduzir opositores políticos e ganhar eleições. Confirmou que foi o cérebro por detrás da campanha de Donald Trump e que foram os dados recolhidos pela empresa que liderava, a Cambridge Analytica, que colocaram o republicano na Casa Branca. Horas depois de o Channel 4 ter revelado esta investigação, o inglês de 42 anos foi suspenso com efeitos imediatos e regresso pendente de uma investigação autónoma à sua conduta.

Alexander Nix, fundador e presidente da empresa de análise de dados no centro da polémica das 50 milhões de contas de Facebook que foram usadas indevidamente para ajudar a eleger Donald Trump é o “génio” que explorou a privacidade de milhões de pessoas. O mesmo “génio” que se sentou durante 19 minutos no palco principal da Web Summit, no Altice Arena, em Lisboa, a 9 de novembro, para responder às perguntas de Matthew Freud, responsável pela empresa de relações públicas internacional Freud Communications. Da sua boca, saíram palavras como “justiça”, “liberdade”. Isso foi o que ele disse. Agora, está a descobrir-se o que ele escondeu e não disse.

O que Alexander Nix disse em Lisboa sobre a campanha de Trump…

– O seu trabalho para a campanha de Donald Trump ultrapassou alguma barreira?
— É uma boa pergunta… Acho que estas eleições vão ser lembradas  por muitas razões, algumas mais controversas do que outras. Gosto de pensar que as pessoas se vão lembrar destas eleições porque foram as primeiras verdadeiramente orientadas pelos dados. Foram as primeiras eleições em que o poder da análise e da previsão do ‘big data’ foi usado para tomar decisões de forma informada, enviar mensagem e alocar recursos de uma forma que nunca tínhamos visto antes.

Esta foi uma das respostas de Alexander Nix em Lisboa. Mas à luz das revelações feitas por Christopher Wylie, que trabalhou na Cambridge Analytica durante a campanha eleitoral norte-americana, houve pelo menos 50 milhões de barreiras que foram ultrapassadas por Nix, mas que este não revelou às 60 mil pessoas que esgotaram a Web Summit: as dos 50 milhões de utilizadores do Facebook que viram os seus dados serem utilizados, sem saberem, para prever qual seria o seu sentido de voto nas eleições de novembro de 2016.

[Veja neste vídeo a intervenção de Alexander Nix em Lisboa]

Na cadeira em que se sentou no Altice Arena, Alexander Nix resumiu nestes termos o que a Cambridge Analytica faz: “Estamos aqui para servir os nossos clientes. Apenas lhes damos as ferramentas de que precisam para chegarem aos seus objetivos“. E delimitou fronteiras, que agora parecem dúbias: “Não somos uma empresa política, mas sim de tecnologia. Temos clientes de todas as alas políticas”. Sem hesitar nas palavras, explicou que a ciência de dados “não é penicilina” e que não era este tratamento de dados que fazia “de um mau candidato um bom candidato”. Mais tarde, ressalvou: “Numas eleições, se as sondagens entre dois candidatos forem muito próximas, a ajuda que a Cambridge Analytica dá pode ser fundamental”.

— Devemo-nos preocupar com a quantidade de dados que têm sobre nós e a forma como vão utilizá-los?
— Não, acho que não têm. Acho que a maioria das pessoas voluntaria mais dados e dados que são frequentemente mais prejudiciais nas redes sociais do que aqueles que nós temos. Os nossos dados são benignos, como o tipo de carro que conduzes, as revistas que lês ou os cereais que comes ao pequeno-almoço. Isto não é propriamente intrusivo ou muito revelador.

No centro da polémica na altura estava (e continua a estar) a alegada interferência russa nas eleições norte-americanas e a forma como as redes sociais foram utilizadas para ajudar a promover Donald Trump. Sobre o papel da sua empresa no processo, Nix foi perentório. Para o britânico, a ideia é por si só “absurda”: “Não, não trabalhámos com a Rússia nem com terceiros ao longo desta campanha. A ideia de que a Rússia interferiu significativamente nas eleições norte-americanas é simplesmente absurda. É inconcebível. Eram precisos meses para que um russo ou outra pessoa qualquer conseguisse construir dados suficientes para isso. Era possível, mas precisavam de tempo”.

Na Web Summit, antes de se conhecerem os dados agora tornados públicos, Alexander Nix jurou que o seu trabalho procurava ajudar a “termos eleições que são justas e livres”, que a Cambridge Analytica “é uma empresa privada”, que só aceita as propostas que são “uma oportunidade de negócio”, independentemente de onde vêm. “Tentamos sempre alinhar as campanhas que aceitamos com aquilo que é o consenso da empresa.”

No palco do Altice Arena, não houve espaço para falar sobre formas de segmentação da população. Só para “justiça”. Nix contou como acredita que as pessoas querem ter mais controlo sobre os seus dados, saber como são usados, para que são usados. “Querem poder ver algum retorno da informação que está a ser usada. Estamos a investir muito em tentar entender como pode haver uma troca justa destes dados pessoais por serviços ou outras remunerações, sem que as pessoas sintam que nos estamos a aproveitar delas“, afirmou.

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.. e o que (na verdade) Alexander Nix fez para eleger Trump

Quatro meses depois de Alexander Nix ter pisado o Altice Arena, Christopher Wylie contou o que estava escondido desde 2014: “Aproveitámos o Facebook para recolher milhões de perfis e construímos modelos de análise para — através do que ficámos a saber sobre estas pessoas — direcionarmos conteúdos pensados nos seus maiores medos”. Problema: nenhum destes utilizadores soube que os seus dados pessoais estavam a ser usados para este fim.

A Cambridge Analyica recolheu os dados dos utilizadores através da aplicação “Thisisyourdigitallife”, desenvolvida por Aleksandr Kogan, um estudante da Universidade de Cambridge que trabalhou em colaboração com a empresa de análise de dados. Quem utilizou a aplicação recebeu dinheiro para que a empresa acedesse aos dados disponíveis na rede social, que seriam utilizados “para uso académico”. Bastava que as pessoas fizessem um teste de personalidade para que, à semelhança de outras aplicações que integram a plataforma, como jogos, a Cambridge Analytica acedesse aos seus dados pessoais e não só. A app permitia que toda a rede de amigos destes utilizadores ficasse exposta. Ou seja, os dados pessoais destes amigos também chegaram às mãos da empresa

Entre novembro de 2017 e janeiro de 2018, jornalistas de uma equipa de investigação do canal de televisão britânico Channel 4 fizeram-se passar por representantes de um cliente no Sri Lanka, que queria eleger candidatos nas próximas eleições locais, para conseguir reunir com os executivos da Cambridge Analytica em hotéis de Londres. As reuniões foram gravadas sem que estes soubessem e foi assim que Nix admitiu, sem hesitar, que subornava políticos, recorria a táticas ilegais e usava “mulheres ucranianas” para seduzir opositores.

Alexander Nix confidenciou ainda que a empresa “opera através de diferentes veículos, nas sombras”, e que costuma enviar “algumas mulheres a casa” de opositores políticos do cliente, para conseguirem informação ou material confidencial. Ao lado do britânico estavam Mark Turnbull, director-executivo da Cambridge Analytica, e Alex Tayler, diretor de informação. É Tayler quem explica que a empresa recolhe dados de pessoas para ter uma “maior percepção sobre como segmentar a população” e “transmitir mensagens sobre assuntos com que se importam, em linguagens e com imagens que os atraiam”.

No último episódio do trabalho de investigação do Channel 4, Alexander Nix revela que se encontrou com Donald Trump várias vezes. “Fizemos investigação, recolhemos todos os dados, fizemos todas as análises, toda a campanha digital e televisiva e foram os nossos dados que suportaram toda a estratégia” do então candidato republicano.

No mesmo trabalho, vê-se e ouve-se o diretor Mark Turnbull a explicar o caminho para a vitória de Trump no colégio eleitoral quando teve menos três milhões de votos da população: “Isso deveu-se aos dados e à investigação. Porque fizeram os comícios nos locais certos, mudaram o sentido de voto de mais pessoas-chave no dia das eleições e foi assim que ele ganhou as eleições. Ganhou por 40 mil votos em três estados”.

"Não vale de nada combater em campanha pelos factos, porque na verdade trata-se de emoções. O grande erros que os partidos políticos cometem é que tentam vencer pelo argumento em vez de localizarem o centro emocional do assunto"

Mark Turnbull, diretor da Cambridge Analytica

Sem saber que estava a ser filmado, Turnbull explicou como dividiam a estratégia da campanha de Trump pela via oficial e pela não oficial, ou seja, por organizações externas e supostamente independentes. “Não vale de nada combater em campanha pelos factos, porque na verdade trata-se de emoções. O grande erro que os partidos políticos cometem é que tentam vencer pelo argumento em vez de localizarem o centro emocional do assunto, a preocupação, e falarem diretamente para ela.”

— Nesta lógica, às vezes queres separar isto da campanha política. Então, nos Estados Unidos, existem estes grupos independentes que atuam por detrás da campanha.
— O que são?
— São os PAC’s, os Comités de Ação Política. As campanhas estão sujeitas aos limites de quanto dinheiro conseguem angariar, mas estes grupos podem ser financiados sem limites. Por isso, a campanha utiliza os seus recursos finitos para coisas como a persuasão [dos eleitores] e a mobilização e deixam a chamada ‘guerra do ar’, como todos os ataques negativos, para os grupos afiliados.

É nesta sequência que a Cambrige Analytica assume aos jornalistas infiltrados que são eles as mentes por detrás da campanha amplamente disseminada nas redes sociais contra Hillary Clinton, a Defeat Crooked Hillary. Objetivo: convencer potenciais eleitores de Clinton a não votarem nela. A explicação é pormenorizada: “Os dois ‘o’, aquele ‘OO’, são um par de algemas, porque o lugar dela é atrás das grades”, explica o diretor da empresa britânica.

— Foi você que criou isto?
— Sim. E depois pusemos, fizemos centenas de coisas criativas com isto e pusemo-las online.

Toda a campanha foi paga pela organização independente Make America Number 1, para que não houvesse ligação à campanha oficial de Donald Trump — mas, depois da investigação do Channel 4, o Centro Legal de Campanhas norte-americano não tem dúvidas: o que a Cambridge Analytica fez com estas organizações foi ilegal. No vídeo, Turnbull explica como usavam organizações de caridade e grupos ativistas para este fim: alimentavam-nas com mensagens específicas e deixavam que passassem a palavra pelas redes sociais. “E depois viamo-las crescer. Isto infiltra-se na comunidade online e expande-se, mas sem marcas, sem que seja atribuído a alguém, sem que ninguém possa ser rastreado.”

Quando o jornalista infiltrado pergunta a Alexander Nix o que diria às autoridades americanas se estas lhes perguntassem se trabalhavam para estas organizações, o presidente da empresa respondeu: “Diríamos que não têm nada a ver com quem trabalhamos. Não falamos sobre os nossos clientes“.

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O que defendeu o diretor digital da campanha de Trump em Lisboa

Sentaram-se os dois no palco principal da Web Summit, no Altice Arena, em novembro, com 24 horas de diferença. Brad Parscale chegou primeiro. Com poucos sorrisos e pouco pudor nas palavras, o diretor digital da campanha do presidente dos Estados Unidos negou que a Cambridge Analytica o tivesse ajudado a estudar dados brutos sobre a campanha de Donald Trump, “o melhor presidente que os Estados Unidos tiveram em muito tempo”. O papel da empresa foi “criar uma estratégia de investigação” que ajudasse o agora presidente dos Estados Unidos “a angariar dinheiro” para as ações de campanha.

“Tivemos de construir uma infraestrutura. E [a Cambridge Analytica] forneceu-nos pessoal, recursos, porque tínhamos de crescer rapidamente para uma organização maior. Fizeram muitas sondagens e direcionaram-nos para onde devíamos pôr o dinheiro, elaborando relatórios que dissessem que ‘estas é que são as tendências’, e que me permitissem direcionar o nosso orçamento em determinado sentido, aconselhar Trump dizendo-lhe: ‘Aqui está uma oportunidade, devemos ir a esta parte do Michigan. E a esta parte do Wisconsin’. Cambridge conseguiu dar-nos esse tipo de informação… num modelo de consumo simples, diariamente”, explicou.

Do Facebook, o homem forte das redes sociais de Donald Trump confirmou que teve umas “aulas”. A rede social deu-lhe “boas ferramentas para aumentar o alcance da mensagem” do atual presidente dos EUA. A Michael Isikoff, jornalista da secção de investigação da Yahoo News, Brad Parscale explicou que a rede social liderada por Mark Zuckerberg o ajudou a angariar cerca de um terço de todo o dinheiro amealhado para a campanha.

“Não achava que sabia tudo sobre o Facebook. E fiquei aberto a que outras pessoas me ajudassem a perceber como conseguir melhores alcances e chegar aos quase 100 milhões de dólares que conseguimos angariar através da rede social. Pedi ajuda ao próprio Facebook para aprender a alcançar estes números”, contou. A ajuda, descobriu-se quatro meses depois, não se traduziu apenas em anúncios e propaganda oficial. Foi graças à informação pessoal dos utilizadores que a equipa de Trump soube quem atacar e como influenciar para que no dia das eleições os indecisos nos estados que verdadeiramente importavam optassem por Trump e não por Hillary.

Dos dados que captaram dos 50 milhões de utilizadores da mesma rede social, nenhuma referência de Parscale. Muito menos de Alexander Nix.

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Como reagiu a Cambridge Analytica, o Facebook e a Europa à polémica

Quando saiu o primeiro episódio do trabalho de investigação do Channel 4, que decorreu entre novembro de 2017 e janeiro de 2018, a Cambridge Analytica emitiu um comunicado no qual refutava ter recorrido a armadilhas e subornos para “qualquer propósito”, afirmando que conversam com clientes para perceber se têm intenções não-éticas ou ilegais. “Ao entrar nesta linha de conversa, e de modo a poupar o nosso ‘cliente’ de uma humilhação, levantamos uma série de cenários absurdos e hipotéticos”, lê-se na declaração de Alexander Nix.

“Sei o que isto parece, mas simplesmente não é esse o caso. Devo enfatizar que a Cambridge Analytica não apoia ou recorre a armadilhas, subornos ou ‘honeytraps’ [armadilhas através de romance ou relações sexuais], nem usa material falso para qualquer propósito”, afirmou. A empresa britânica tentou impedir a emissão da reportagem, mas sem sucesso. E o canal televisivo já divulgou três episódios da investigação.

A polémica levou a comissária da informação do Reino Unido, Elizabeth Denham, a tentar obter um mandado para fazer uma busca aos servidores da Cambridge Analytica. Apesar de a empresa ter afirmado que estava disposta a cooperar com as autoridades, não cumpriu com o prazo imposto pela comissária para a entrega da informação. A principal acusação é a de ter adquirido, por meios não autorizados, dados pessoais de milhões de pessoas.

A empresa de análise de dados não é a única sob o olhar das autoridades e do governo britânico. A comissária ressalvou que as leis britânicas exigem a plataformas como o Facebook que tenham fortes medidas de segurança que previnam o uso indevido dos dados. Por ter permitido que estes dados fossem utilizados — Christopher Wylie afirma que a rede social sabia que estes dados estavam a ser utilizados há dois anos — Mark Zuckerberg foi chamado ao parlamento britânico e ao Parlamento Europeu.

Antonio Tajani quer que o presidente da rede social preste contas aos eurodeputados sobre o uso de dados de cidadãos europeus. “As alegações de uso indevido de dados de utilizadores do Facebook é uma inaceitável violação dos direitos de privacidade dos cidadãos”. O método que foi utilizado pela Cambridge Analytica para recolher estes dados também motivou investigações por parte da União Europeia e de responsáveis federais e estaduais nos Estados Unidos. A Comissão de Proteção de Dados da Irlanda (DPC) também informou que vai analisar o uso da publicidade política no Facebook.

Na sequência do escândalo das 50 milhões de contas de Facebook que foram usadas indevidamente, o conselho de administração da Cambridge Analytica suspendeu o presidente Alexander Nix, com efeitos imediatos e o seu eventual retorno fica dependente de uma investigação completa. “Na opinião do conselho de administração, os comentários de Mr. Nix secretamente gravados pelo Channel 4 não representam os valores das operações desta empresa e a sua suspensão reflete a seriedade com que vimos esta violação“, informou a empresa em comunicado.

Mark Zuckerberg ambém já utilizou o Facebook para se pronunciar sobre a polémica que envolveu a Cambridge Analytica. “Houve uma quebra de confiança entre o Facebook e as pessoas”, sublinhou o presidente da rede social, que, depois de admitir que “tinha cometido erros”, anunciou seis coisas que vão mudar na relação entre rede social e os utilizadores.

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Dono da Cambridge Analytica contribuiu com 15 milhões para campanha de Trump

A curiosidade à volta do trabalho da Cambridge Analytica não é de agora. A empresa que identifica potenciais eleitores com base no seu perfil psicológico já tinha trabalhado com os republicanos Ted Cruz e Ben Carson, nas primárias que acabariam por eleger Donald Trump, mas sofreu resistência interna do partido.

De acordo com a Wired, havia vários membros do Partido Republicano a questionar a metodologia da empresa britânica. Mais: a empresa é detida pelo fundo de investimento de Robert Mercer, apoiante de Donald Trump e um dos norte-americanos que mais contribui financeiramente para o Partido Republicano. Só para a campanha de Donald Trump, Mercer doou perto de 15 milhões de dólares. Foi também um dos apoiantes do principal rosto do Brexit, Nigel Farage, em Londres.

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WTF America?@WTFAmerica123

Filthy rich white nationalist Robert Mercer invested $15 million in Cambridge Analytica, where his white nationalist daughter Rebekah is a board member. #Trump #WhiteNationalists #Facebook #CambridgeAnalytica #Traitors #Russia #Un-American #LockThemUp #TuesdayThoughts #Bannon

15:50 - 20 de mar de 2018

Informações e privacidade no Twitter Ads

A Cambridge Analytica começou a trabalhar com candidatos norte-americanos há cerca de dois anos e ficou conhecida pela componente psicológica do seu trabalho — as estratégias de caça ao voto são feitas tendo em conta o perfil psicológico dos potenciais eleitores e parâmetros como idade, raça, rendimentos,comportamentos e hábitos online. Estes dados chegam através de testes de personalidade que a empresa desenvolve desde 2013 e que têm por objetivo traçar o perfil psicológico dos eleitores. Toda esta informação é depois trabalhada por uma equipa de cientistas de dados e de psicólogos, que produzem mensagens específicas para cada tipo de perfil que encontram.

Chris Wilson, diretor de campanha digital de Ted Cruz, tinha dito à mesma publicação que os cientistas de dados da Cambridge Analytica eram “os melhores” e “os mais talentosos” com quem já tinha trabalhado. A equipa que rodeia Alexander Nix conseguiu pôr o líder da maior rede social do mundo a pedir desculpa publicamente pelos erros que cometeu. Em Lisboa, ninguém pediu desculpa, ninguém falou em erros. Muito menos em 50 milhões de erros. O fundador da Cambridge Analytica disse que gostava de pensar que as pessoas se vão lembrar das eleições norte-americanas de 2016 porque foram as primeiras verdadeiramente orientadas pelos dados. Só não sabíamos quanto.

Na prática, 80% dos incêndios de Outubro tiveram causas intencionais

por estatuadesal

(Por Penélope, in Blog Aspirina B, 21/03/2018)

fogo_diabo

O DN faz um resumo do relatório independente sobre os incêndios de Outubro do ano passado. A páginas tantas, lê-se que  “em termos de grandes grupos de causas (…) 40% tiveram origem em reacendimentos, 40% em causas intencionais e 20% em negligentes“.

Portanto, 20% deveram-se a comportamentos negligentes, como os da EDP ou queimadas irresponsáveis, mas 40% foram o resultado de crimes premeditados. E o mais extraordinário é que os outros 40%, segundo o relatório, foram reacendimentos. Em lado nenhum se fala do efeito da incidência dos raios solares (“nas margaridas”) ou da formação espontânea de chamas. Ou seja, em 40% dos incêndios houve alguém que quis provocar tragédias intencionalmente e conseguiu, e os 40% restantes foram reacendimentos dos primeiros 40% intencionais, depois de terem sido dados como extintos. Podemos, assim, afirmar que 80% dos incêndios foram propositados, se incluirmos os que foram consequência dos ateamentos iniciais.

Parece-me muito esclarecedor e sobretudo muito grave e implica sem qualquer dúvida que se enverede por um discurso diferente sobre os incêndios, que comece por não omitir este dado importantíssimo e acabe a falar de vigilância local e familiar e de penas pesadas para os criminosos. Há pessoas que não se importam de atear fogos apenas pelo prazer de ver tudo a arder e famílias em pânico, algumas das quais acabam mortas. E assim temos hectares e hectares de floresta ardida e centenas de vidas destruídas por crimes que não só não foram evitados ou sequer mencionada a sua possibilidade em alertas, como também nem sempre são devida e exemplarmente punidos.

Resta a questão de saber quantos dos incêndios intencionais, se é que alguns, foram ateados com fins políticos. Morreremos na ignorância? (Eu sei que está lá dito o seguinte: “Os elementos da comissão técnica admitem que as causas intencionais “são as que apresentam maior dificuldade na compreensão e na antecipação, por não ser conhecido o seu móbil, exceto posteriormente, se capturado e obtida confissão dos autores“.  Pois capturem-nos!)

Que a floresta estava seca e a esmagadora maioria das matas (mas nem todas) por limpar é uma verdade incontestável. E que esse facto, aliado aos fenómenos meteorológicos extremos, facilitou a propagação das chamas e a dificuldade em apagá-las também não suscita dúvidas a ninguém. Assim como o dever permanente e eterno de melhorar a coordenação, a organização e o emprego dos meios de combate para estancar a devastação. Mas também é verdade que a intenção de provocar danos – materiais e/ou políticos – não pode estar ausente dos discursos nem do apuramento de responsabilidades. Este crime não pode ser “normalizado” nem esquecido como se fosse uma inevitabilidade.

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Republicanos e democratas alcançam acordo para orçamento dos EUA

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Sarkozy indiciado por corrupção passiva, financiamento ilegal de campanha e encobrimento de fundos públicos
MAI: Validade do passaporte vai manter-se nos 5 anos por razões de segurança
Eduardo Cabrita: “Este relatório incorpora muito do que já está a ser profundamente alterado”
Cinco bombas em 20 dias, suspeito morto e ainda nenhuma explicação. Foi uma série que inspirou isto tudo?
Bolsas de Nova Iorque fecham no vermelho. Fed diz que empresários estão preocupados com as tarifas de Trump

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Matheus Pereira motiva desmentidos
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Estrela Salah faz 'trabalho sujo'
Soares tem fome de golos
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Portugal Fashion: Desfiles estreiam-se no Parque da Cidade do Porto
Catalunha: Parlamento inicia hoje novas consultas para eleger presidente
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Amazon é um fator catalisador do canal 'online' - diretor-geral da GfK
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Ladrões de Bicicletas


Marielle

Posted: 21 Mar 2018 11:35 AM PDT

«Quando Marielle decidiu se candidatar ao cargo de vereadora na cidade do Rio, não tive dúvidas: era dela meu voto. Conhecia a pessoa, acompanhava seu trabalho há anos. Sequer hesitei. Lembro do dia da apuração dos votos, amigos na Lapa, celular na mão, atualizando sistematicamente o aplicativo do TSE. Marielle bateu 5 mil, 6 mil, 10 mil, 15 mil votos. Era inacreditável. Foi a 46 mil votos. Uma votação histórica. Uma coisa raríssima: uma mulher negra, moradora de favela eleita vereadora no Rio. Me lembro que sua primeira medida foi propor um projeto para que as creches municipais atendessem também à noite. Ela sabia a hora que mães periféricas chegavam em casa. Pensei: “valeu meu voto”. Marielle se foi. Sabe quantas fotos de Marielles mortas eu vejo todos os dias? Dezenas, de todos os ângulos, compartilhadas pelas redes, imagens com legendas como “toda furada”. A banalidade do mal. Por causa do trabalho eu vejo corpos – ou pedaço de corpos – diariamente, nesse Rio de Janeiro ocupado, usado por gente como os políticos que decidiram intervir nele militarmente apenas como cavalo de batalha eleitoral. 38 anos. Minha idade. Marielle tinha muita vida pela frente. Vai fazer muita falta. Falta para família, amigos, para a política do Rio de Janeiro. Sigamos. Por Marielle»
Cecília Olliveira, Marielle Franco, minha vereadora, assassinada
«Não pretendo (...) fingir que sou brasileira e que sinto na pele o que é ter um país sequestrado, dividido e uma democracia em convalescença. Também não quero tentar sequer comparar-me a quem convive quotidianamente com a morte programada e com a violência direccionada que mata centenas de milhares de jovens negros e pobres em nome da luta contra o crime, que se traduz na legitimação de um genocídio que subtrai vidas negras a cada segundo. Mas, assim como hoje em toda a parte, junto a minha voz a todos e a todas que choram e gritam a morte de Marielle. Porque a Maré cheia de futuro e optimismo vazou para o mar/Rio vermelho do sangue dos meus irmãos e irmãs negras desse Brasil. E porque a luta dos negros e negras de todo o mundo é a mesma luta. (...) Porque os negros são os espelhos uns dos outros nos momentos de dor e consternação. Isto não é poesia, acreditem. E tudo isso faz com que eu precise, mesmo não querendo, de roubar essa dor aguda e profunda para me conectar com os meus do outro lado do Atlântico (...) A vereadora Marielle Franco foi executada juntamente com o motorista Anderson Pedro Gomes. Enfrentou a face oculta do poder com a desfaçatez de uma crente nas instituições democráticas. Sorriu e ironizou, dando lições aos detentores de armas de fogo e canetas de pólvora. Contra a violência policial, contra a militarização do Estado, própria das ditaduras e dos fascismos cinzentos que a História já conheceu»
Joacine Katar Moreira, Marielle Franco e a hegemonia do medo
«Negra, favelada, feminista, bissexual e esquerdista, Marielle representa tudo o que a direita brasileira mais odeia. Falava em nome dos invisíveis e denunciava as arbitrariedades daqueles que os esmagavam. Estava-lhe reservado o que o bruto poder do ódio e do privilégio usou para calar Chico Mendes ou fazer desaparecer os meninos da Candelária: quatro tiros na cabeça. (...) As mesmas forças que manipularam o sentimento de indignação com a corrupção para porem os seus corruptos no poder, que usaram a insegurança que a crise alimenta para, através do exército, impor a arbitrariedade como forma normal de agir, que através de uma crise política, social e moral que alimentam estão a capturar e a matar a democracia, ficaram muito chocadas com o aproveitamento político que a esquerda está a fazer desta execução política. Pelo contrário, espero que os que resistem ao regresso ao passado usem este assassinato para dar força à sua luta. Só isso respeita a memória de Marielle. Só isso a mantém lutadora depois da execução. Só isso dá sentido, se algum sentido pode haver, à sua morte. Só assim não terão conseguido calar a voz negra, favelada e feminista que tanto os incomodava»
Daniel Oliveira, Que a morte de Marielle vos atormente tanto como a sua vida

Frases actuais

Posted: 21 Mar 2018 01:23 PM PDT

"Felizes as nações que nos momentos cruciais da sua vida não são obrigadas a escolher e às quais a Providência com desvelado carinho dispõe os acontecimentos e suscita as pessoas de modo tão natural e a propósito que só uma solução é boa e essa a vêem com nitidez no íntimo da sua consciência todos os homens de boa vontade!"
António de Oliveira Salazar,
a 7 de Fevereiro de 1942, aos microfones da Emissora Nacional sobre o facto de não haver oposição à recandidatura de Óscar Carmona às eleições presidenciais (Discursos e Notas Polícicas, volume III, pag 309/318)
Não sei porquê lembrei-me antes da Grécia, em vários momentos da vida da Grécia, e de muitas coisas que se passam por esta Europa, e neste cantinho à beira-mar, sossegado, muito sossegado, face aos tristes destinos à vista.