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terça-feira, 10 de abril de 2018

Reductio Ad Hitlerum


LULA DA SILVA

Diogo Prates

10/4/2018, 7:55

Há argumentação que esperamos ouvir à mesa de um café mas que se torna preocupante e triste quando a vemos ser usada pela líder de um partido parlamentar e que faz parte da actual solução governativa.

“Os judeus foram obrigados a despir-se, deviam estar uns 18ºC abaixo de zero e depois meter-se em “sepulturas” previamente abertas por prisioneiros de guerra russos. Foram depois abatidos a rajadas de metralhadora; a seguir os alemães lançaram granadas para dentro das valas. Sem sequer verificarem se estavam todos mortos, os homens da Força Especial mandaram tapar as valas.”

“No campo de concentração de Auschwitz, em finais de Julho, um prisioneiro polaco fugiu de uma das equipas de trabalho. A título de represália foram escolhidos ao acaso dez homens do seu barracão de seiscentos prisioneiros, para serem trancados numa cela onde morreriam à fome. Após a selecção, um padre católico polaco, Maximilian Kolbe, também prisioneiro do campo, abordou o comandante e pediu para tomar o lugar de um dos escolhidos: “Eu estou sozinho no mundo” disse Kolbe; “aquele homem, Francis Gajowniczek, tem uma família para quem viver”. “Aceite”, disse o comandante, afastando-se. O padre Kolbe foi o último a morrer. Trinta anos depois, a cerimónia de beatificação de Kolbe contou com a presença do homem cujo lugar ele tomou, Francis Gajownciczek e a sua mulher.

Estes são apenas dois exemplos relatados no excelente livro de Martin Gilbert: “A Segunda Guerra Mundial” acerca das atrocidades cometidas pelos nacionais-fascistas alemães contra judeus, russos, polacos e outros durante a segunda guerra. Torna-se assim incompreensível e até ultrajante a designação feita por Catarina Martins acerca da prisão de Lula da Silva, classificando-a como “fascista”. Que termo utilizará então a porta-voz do BE para classificar o regime alemão liderado por Hitler?

Querer comparar a prisão de Lula com as inomináveis crueldades sofridas pelas vítimas do fascismo revela imensa ignorância e má-fé, mas é sobretudo muito perigoso porque compara o pior regime ditatorial da história da Humanidade, o mais cruel e selvagem, a um Estado de direito democrático onde a justiça é feita nos tribunais por juízes independentes do poder político e onde existe a possibilidade de recorrer a instâncias superiores.

É evidente que a prisão do ex-presidente do Brasil é um embaraço para a extrema-esquerda nacional que tinha em Lula um herói, muito popular no seu país e capaz de fazer sonhar os seus correligionários nacionais com vitórias semelhantes em Portugal. A sua queda é um rude golpe nestas aspirações, mal acusar a justiça de ser fascista e reacionária, sobretudo num país como o Brasil, onde é corrupção é generalizada, é em si mesmo um golpe nas aspirações do povo brasileiro a viver num país onde a justiça funcione de facto.

A expressão “Reductio Ad Hitlerum” foi cunhada pelo filósofo americano de origem judaica Leo Strauss e descreve o momento em que durante uma discussão um dos participantes sem mais nenhum argumento válido “saca da carta” de comparar o seu oponente a Hitler ou as posições do seu adversário a posições assumidas pelos fascistas ou nazis. Esperamos encontrar este tipo de argumentação à mesa de um café, mas torna-se preocupante e triste quando a vemos ser usada pela líder de um partido com representação parlamentar e que actualmente faz parte da solução governativa.

Hungria: o Inverno do nosso descontentamento

UNIÃO EUROPEIA

Diana Soller

9/4/2018, 8:27112

É muito cedo para declarar a morte da democracia liberal, mas o triunfo de Viktor Orbán mostra o tremendo erro o Ocidente ao pensar que este regime era um dado adquirido e podia parar de o defender.

A terceira vitória eleitoral de Viktor Orbán demonstra vivamente que nas últimas décadas não fomos capazes de perceber a lógica da manutenção da democracia. Pensou-se no final dos anos 1980 que esta se ia disseminar naturalmente depois do colapso da União Soviética, vista como o único entrave ao seu florescimento; na década de 1990, entendeu-se que a democracia se poderia impor de dentro para fora e cometeram-se um conjunto de erros políticos que aceleraram a sua degradação; nos anos 2000 falhou-se quando não se percebeu que as grandes ameaças ao liberalismo não vinham de potências revisionistas, mas sim do interior dos próprios regimes democráticos.

Vamos fixar-nos no último ponto, a pretexto das eleições deste domingo, na Hungria.

Já não é segredo para ninguém que Budapeste é o regime menos liberal da Europa. Orbán conseguiu a sua primeira maioria de dois terços nas eleições de 2010, o que lhe permitiu alterar a Constituição para um modelo muito pouco liberal e acentuadamente nacionalista. Instituições que seriam independentes num estado de direito, como o poder judicial e a comunicação social, passaram a estar sob alçada do regime. Já entre 2014 e 2015 – depois de ter conquistado a segunda maioria confortável – disse muito claramente ao que vinha: estava decidido e refundar a Hungria como uma “democracia iliberal” inspirada no modelo russo, com nítidos contornos antieuropeus e nacionalistas. Empenhou-se, então, em transformar o país através de instrumentos clássicos: usando o ensino e as instituições culturais – também sob forte influência estatal – para difundir o seu pensamento; usou de várias formas de propaganda para conter a liberdade da sociedade civil. Ontem, ganhou nas urnas a sua terceira maioria, provando que o modelo veio para ficar.

A verdade é que o resultado eleitoral de Orbán se deve essencialmente a três fatores.

Primeiro, a uma adaptação conjuntural vertiginosa. O Fidesz – a Aliança dos Jovens Democratas – nasceu em 1988 como um partido de estudantes, de tendências libertárias e matriz anticomunista. Mas cedo vai assumindo diferentes identidades ideológicas consoante as condições conjunturais em Budapeste. Orbán tornou-se primeiro ministro em 1998 em coligação com dissidentes da Democracia Cristã. O partido tornava-se mais e conservador e nacionalista, mas empenhado na adesão à União Europeia e à economia de mercado. As dificuldades começam no início dos anos 2000 quando a economia se ressente das medidas de ajustamento económico. Orbán perde o poder para os socialistas em 2002 e inicia uma nova fase na oposição em que o conservadorismo ainda liberal se vai transformando num conservadorismo cada vez mais nacionalista e populista. O primeiro de vários que iriam surgir na Europa.

Nessa altura – e este é o segundo ponto – Orbán percebeu que havia mecanismos populistas para chegar ao poder que poderiam ser explorados. Por um lado, a população sentia as dificuldades económicas que o resto da Europa veio a conhecer uns anos mais tarde, e por outro, havia um enorme vazio identitário: o comunismo forçado durante quarenta anos tinha caído e o liberalismo tinha tido uns poucos anos dourados que se desvaneciam rapidamente. Restava o nacionalismo e os receios da população de que a Europa fosse, afinal, uma razão de descontentamento em vez de júbilo. O Fidesz explorou este filão de eleitorado desorientado. Conquistou primeiro os mais desfavorecidos, prometendo mundos e fundos, e depois foi ganhando a classe média através dos medos relacionados com a imigração. Quando o discurso nacionalista étnico, xenófobo e antieuropeu se instalou, os húngaros estavam mais do que dispostos e recebê-lo e aplaud­i-lo.

Finalmente, o Fidesz tirou proveito de duas grandes fraquezas europeias: a crise de 2008, que abalou profundamente a confiança das populações no modelo europeu – e reforçou a posição húngara – e um certo negacionismo dos apoiantes do projeto europeu relativamente à possibilidade da emergência de um governo iliberal no seu próprio território. Apesar de em 2002 Budapeste já estar identificada como um potencial desafio à democracia, prestou-se muito pouca atenção política e intelectual a este fenómeno. Quando a Europa finalmente levou a ameaça a sério, esta já se tinha espalhado por vários outros países, ainda que a exploração de ressentimentos tenha aspetos diferente de estado para estado. Mas a Hungria foi o primeiro caso do qual se poderiam ter tirado ilações. Mas ninguém quis encarar este problema de frente. E o resultado é este: as eleições de ontem são mais um passo concreto rumo a um novo tipo de autoritarismo.

É muito cedo para declarar a morte da democracia liberal. Ainda não é uma batalha perdida. Mas a vitória eleitoral do Fidesz de Viktor Orbán só demonstra que a democracia precisa, mais do que nunca, de ser protegida. O maior erro que o Ocidente cometeu nas últimas quase três décadas foi pensar que este regime era um dado tão adquirido que podia pousar as armas e parar de o defender. Como se viu pelo resultado das urnas húngaras ontem, estamos a pagar um preço altíssimo por isso.

Sporting. Marta Soares em reflexão, Holdimo pede AG da SAD, “oposição” já mexe mas Bruno de Carvalho não sai

9/4/2018, 23:30106

Bruno de Carvalho não sai, Marta Soares pondera solução, Holdimo pede AG urgente da SAD, "oposição" trabalha nos bastidores. Em cinco anos, o Sporting mudou. Cinco anos depois, há parecenças com 2013.

Bruno de Carvalho respondeu a Marta Soares, deixou mais críticas e encerrou a sua página no Facebook esta segunda-feira

LUSA

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Cinco anos depois, o Sporting mudou. Mudou, de forma radical, e voltou a aproximar-se daquilo que sempre foi até um período que teve como ponto mais baixo de crise a posição a meio da tabela classificativa na época de 2012/13. E mudou porque houve uma rutura total com o passado, quase numa espécie de fechar de ciclo geracional com aquilo que era visto como os últimos capítulos da era “Projeto Roquette”, que foi definhando com o passar dos anos, dos mandatos e da sucessão galopante de resultados negativos em termos futebolísticos e financeiros. De certa forma, todo esse período acabou por desviar o foco dos adeptos leoninos da génese desportiva da instituição. Cinco anos depois, vêem-se capítulos semelhantes ao que aconteceu em 2013:guerra aberta entre o presidente do Conselho Diretivo e o líder da Mesa da Assembleia Geral; assobios e manifestações de desagrado bem percetíveis para o número um; manobras preparatórias para outros cenários nos bastidores. Porquê?

“Bruno de Carvalho teve condições de governabilidade como mais ninguém teve nos últimos dez ou 15 anos, mas chegou a um ponto onde tudo o que fez no clube acaba por ser ultrapassado por tudo o que tem andado a dizer no Facebook e não só”, explica ao Observador um antigo dirigente verde e branco. Mas quer isso dizer que poderemos estar a falar de forma tão precoce em sucessão? “Não, nada disso. A dita oposição, como algo organizado para tentar chegar a esse ponto de fazer frente a Bruno de Carvalho, acha que existe mas na verdade pouco representa”. Se a troca de farpas entre o atual presidente da direção e Jaime Marta Soares, líder da Mesa da Assembleia Geral, se tornou num novelo onde é complicado encontrar a ponta, o futuro tem ainda muitos nós. O mais curioso é que, das muitas pessoas com quem o Observador foi falando ao longo do dia, houve uma ideia que se repetiu: a culpa deste choque é de Bruno de Carvalho… por ter na sua equipa Jaime Marta Soares.

Presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Poiares durante quase 40 anos, membro da Associação Nacional de Municípios e deputado da Assembleia da República durante sete legislaturas, Jaime Marta Soares chegou ao Sporting pela mão de Dias Ferreira em 2011, sendo um dos 50 eleitos para o Conselho Leonino num sufrágio para o órgão que teve um total de nove listas e 450 candidatos. O advogado acabou por ficar na terceira posição para o Conselho Diretivo, atrás de Godinho Lopes e Bruno de Carvalho e à frente de Pedro Baltazar e Sérgio Abrantes Mendes, mas o atual presidente da Liga de Bombeiros Portugueses integrou o órgão eleito por método de Hondt. Aí, segundo nos explicaram, Marta Soares teve sempre uma das posturas mais críticas em relação ao comportamento do atual presidente leonino no pós-eleições. Ainda assim, dois anos depois, Bruno de Carvalho deixou de contar com Eduardo Barroso e Daniel Sampaio nas suas listas (apesar de se manterem como apoiantes) e optou pelo antigo líder autárquico para a Mesa da Assembleia Geral, contra Tito Fontes (nome indicado por José Couceiro, o seu principal opositor em 2013) e Carlos Teixeira (candidato pela lista de Carlos Severino).

A relação nem sempre foi perfeita, com Bruno de Carvalho a não gostar do tom “paternal” que Marta Soares utilizava em algumas intervenções públicas e Marta Soares a não gostar de algumas decisões que lhe iam passando ao lado; contudo, assente no respeito institucional, era boa. Entre esses pequenos atritos, e até porque o único caso que teve algum abalo na vigência do atual líder verde e branco foi a guerra com Marco Silva em 2014/15, o primeiro grande choque surgiu apenas em 2018, na primeira Assembleia Geral que se realizou em fevereiro: logo no início, Bruno de Carvalho percebeu que a Mesa tinha falhado por completo a preparação logística de uma reunião magna que teria muito mais sócios do que habitual pelo tema em causa (alteração dos estatutos e novo regulamento disciplinar), chegando a “ajudar” na orientação de associados para a acreditação; depois, pela forma como deixou os trabalhos decorrerem com alegados insultos a membros do Conselho Diretivo antes da suspensão dos mesmos.

“Foram entregues à MAG três requerimentos para não serem votados os pontos 6 e 7. Disseram que necessitava de um amplo debate… O tal velho hábito do antigamente de ter de ir primeiro pedir autorização aos grupos e grupinhos do clube. Comigo isso não cola. Esses requerimentos deviam ter sido imediatamente recusados pela MAG, pois a AG foi devidamente marcada e cumpridos todos os preceitos legais, sem que essa decisão tivesse de ser votada. Mas erradamente colocaram a votos a decisão da MAG de recusar os requerimentos. Aqui começou o fim da AG”, disse Bruno de Carvalho, que criticou ainda o porquê da não expulsão de quem estava a insultar.

Jaime Marta Soares ficou incomodado com as críticas via Facebook mas acabou por admitir que as coisas podiam ter sido diferentes e desdobrou-se em reuniões para que tudo funcionasse na perfeição na Assembleia Geral seguinte, já em março, no Pavilhão João Rocha (e no Multidesportivo, aqui por vídeo-conferência, porque a lotação estava esgotada na nova casa das modalidades). Antes, durante e depois, elogiou Bruno de Carvalho e a sua liderança. Mas, no seguimento de uma crise iniciada pelas críticas do presidente leonino a alguns jogadores após a derrota da equipa verde e branca em Madrid, acabou por ter uma postura ziguezagueante, com o epílogo ainda por conhecer.

“Estou atento ao que se está a passar, estou a falar com muitas pessoas que são do Sporting e com responsabilidades. Quero ter uma conversa com o presidente, ao nível do que temos tido sempre nestes anos, uma conversa franca, leal e aberta, e depois tomarei a atitude que achar mais conveniente”, disse Marta Soares na sexta-feira. “Quero saudar os jogadores e a equipa técnica pelo sentido de responsabilidade que demonstraram em todo o processo e pela serenidade com que enfrentaram todo este problema em prol do Sporting.

Tivemos uma longa conversa e estou certo que vamos ultrapassar esta situação. Não mais permitirei que algo assim se repita”, atirou no sábado, sem mencionar a figura de Bruno de Carvalho que, apesar de tudo, levantou a suspensão dos jogadores que tinha anunciado na véspera. Sinal da quebra de ligação? Parecia que sim, mas o líder da Mesa da Assembleia Geral falou com Bruno de Carvalho e, entre conversas, nunca colocou em causa a legitimidade para prosseguir o seu mandato e aproveitou também para lhe desejar sorte no nascimento da filha. Ao final da noite, ficou na Tribuna a aplaudir de pé os jogadores enquanto os mesmos deram uma volta olímpica em Alvalade.

Um corte abrupto de relações, via Facebook e diretos na rádio

Perante este cenário, as declarações de Jaime Marte Soares à TSF esta manhã de segunda-feira, fazendo quase uma espécie de ultimato a Bruno de Carvalho, acabaram por ser uma “bomba” que, de acordo com as fontes contactadas, só se poderá perceber pelo desagrado após o comunicado publicado horas antes da receção ao P. Ferreira e que foi extensível a outros momentos dos órgãos sociais (Jorge Gaspar, vogal do Conselho Fiscal e Disciplinar, apresentou antes a demissão, mas outros dirigentes ponderaram renunciar aos seus lugares).

“Com Bruno de Carvalho não há paz no Sporting. Os sócios deram o sinal e disseram aquilo que querem. Os clubes ficam, as pessoas passam e o que têm a fazer é deixar história do seu passado, e Bruno de Carvalho deixa, mas isso não lhes dá o direito de pensarem que o clube é propriedade de alguém a não ser dos sócios. Ninguém pode pensar de outra forma, a partir do momento que se tem outra interpretação não se está a respeitar o que é o desejo de todos. Por isso, na minha opinião,estão esgotadas as hipóteses de manutenção da atual presidência, para o Sporting retomar a paz que se impõe e se deseja. O tempo urge, não há tempo a esperar, e espero que ele [Bruno de Carvalho] tenha consciência disso”, anunciou Jaime Marta Soares, numa espécie de “demita-se ou será demitido”.

“O Dr. Jaime Soares criou a maior confusão vista na história do Sporting, ao conduzir, de forma infantil e incompetente, uma AG. Com essa sua atuação, provocou a necessidade na Direção de fazer uma nova AG. E eu a vir a público defender um homem que não tem defesa possível. Este foco de problemas vem agora ameaçar-me. Tinha avisado que mais uma dele e quem pediria a sua saída seria eu e não apenas os sócios, como o fizeram, de forma esmagadora, só o mantendo porque eu o pedi. Escusa de reunir a MAG que, diga-se, nunca se reviu nele nem esteve a seu lado, pois serei eu a pedir novamente à Direção para se fazer uma AG para os sócios se voltarem a pronunciar sobre nós e, separadamente, sobre os presidentes da MAG e do CFD. Se os sócios não tiverem a memória curta, sairá pela porta pequena como em Poiares”, respondeu Bruno de Carvalho no Facebook.

De seguida, de novo através de uma rádio (de Poiares), Jaime Marta Soares respondeu à parte da publicação em que foi invocada a Câmara Municipal que liderou durante vários anos: “Meter o nome da minha terra no meio de uma situação destas… O Bruno de Carvalho pensava que era tudo à maneira dele e que ele é que mandava. Ontem [domingo] viu que não é assim, o Sporting está acima de todos. Vamos fazer aquilo que os estatutos definem. É isso que vamos respeitar”. De seguida, de novo através do Facebook, Bruno de Carvalho anunciou que fecharia a sua página mas acrescentou mais um ponto à novela: “A vida tem coisas engraçadas! Ontem [Domingo], o Jaime Soares dava-me palmadinhas nas costas, desejava-me as melhoras e que hoje fosse um dia muito bom para mim e para a ‘Joaninha’. De repente, o poder caiu na rua e já veio atraiçoar quem sempre o defendeu. E colocou em perigo coisas importantíssimas da SAD“.

Os opositores que falam e uma oposição que está nos bastidores

Bruno de Carvalho sabia do que falava quando disse que “a oposição de 10%”, que entretanto pode ser mais do que a oposição de 10%,fez um bom trabalho na receção do Sporting ao P. Ferreira em Alvalade. Inclusive, na conferência após o jogo, descreveu mesmo um grupinho na bancada nascente “que tem um estilo mais trauliteiro”. Durante o dia, circulou também uma foto de um adepto, devidamente equipado, a entregar lenços de papel na bancada. Mas a real dimensão dos sócios que poderão assumir-se contra Bruno de Carvalho mede-se a outro nível.

“Vejo com agrado que agora são muitos e cada vez mais os que dizem o que eu tenho dito há muito tempo… mas agora acabou o tempo das palavras e é hora de agir”, destacou Pedro Madeira Rodrigues,candidato derrotado em 2017. “O Sporting não pode ser gerido por um ditador e devia demitir-se para bem do clube. Que seja uma lição para os sócios. Em relação a Bruno de Carvalho, precisa de descansar e mostra-se nitidamente afetado”, comentou Carlos Severino, candidato que esteve nas eleições de 2013. “Bruno de Carvalho vai requerer a assembleia e vai outra vez chamar a guarda pretoriana, como é hábito, no sentido de não deixar que as coisas decorram na sua totalidade ordem pública. É isso que vai acontecer. Ele não vai abandonar, porque Bruno de Carvalho tem um problema de personalidade. É um homem que, neste momento, precisa de muita ajuda”, referiu Sérgio Abrantes Mendes, antigo presidente da Mesa da Assembleia Geral e ex-candidato nos sufrágios de 2006 e 2011.

Numa lógica diferente, de quem reconhece todo um trabalho feito durante cinco anos mas que nesta altura deve ter uma pausa (temporária ou definitiva?), Dias Ferreira, ex-presidente da Mesa da Assembleia Geral e ex-vice da direção que também foi candidato nas eleições de 2011, referiu que “existe algum autismo” por parte do presidente do Sporting. “Tenho alguma dificuldade em avaliar todo o problema. Neste momento não consigo compreender a intenção de Bruno de Carvalho. Estamos a assistir a um exemplo típico de uma coisa que leva muito tempo a construir e que em horas se destrói. Nada me levava a pensar numa situação destas”, defendeu.

Ainda assim, segundo foi sabendo o Observador, as maiores movimentações foram feitas nos bastidores e sem intervenções públicas, com uma série de reuniões e contactos para aferir a possibilidade de haver, ou não, um movimento capaz de poder colocar em causa o trabalho de Bruno de Carvalho nos últimos cinco anos. Ideias, todos têm. Candidato? Nem por isso. E por variadas razões, esse poderá ser o problema: encontrar alguém que não esteja muito ligado ao período que antecedeu à ascensão do atual presidente à liderança mas que, em paralelo, seja uma cara com o carisma e notoriedade suficientes para ter condições de lutar de forma real por um triunfo num cenário de eleições, sejam elas para já, daqui a um ano ou no final do atual mandato, em 2021.

Olhando meramente no plano teórico, sem que com isso queiram ou estejam a preparar uma eventual candidatura, existem alguns nomes sempre ventilados. Rogério Alves, antigo Bastonário da Ordem dos Advogados e presidente da Mesa da Assembleia Geral que mereceu reparos em relação à sua conduta na última Assembleia Geral (“Se quer ser candidato, que se assuma de uma vez”, disse o líder), costuma surgir sempre na órbita do universo verde e branco. Mais recentemente, sem que alguma vez tenha declarado que era sua intenção avançar com uma lista, João Benedito, antigo jogador e capitão de futsal durante duas décadas que acabou por tornar-se num símbolo leonino, também foi surgindo nas conversas. E existem sempre outros “grupos” ou movimentos que, com ou sem candidato, conseguem ter o seu peso, maior ou menos, em termos eleitorais (algo que não se viu em 2017 porque Pedro Madeira Rodrigues acabou por surgir de uma esfera distinta de todas as que foram supracitadas).

Num outro plano, neste caso mais focado na SAD e não no clube, mas sendo algo que “pressiona” mais Bruno de Carvalho, a Holdimo, principal acionista além do Sporting com cerca de 30% do capital social, estará a tentar marcar uma reunião de emergência entre os administradores da sociedade e uma Assembleia Geral para debater a atual crise que assola o futebol do Sporting. A ideia terá partido de Álvaro Sobrinho, empresário que esteve próximo do presidente verde e branco no início do seu primeiro mandato mas que, com o tempo, se foi distanciando, por divergências em torno de matérias como o aumento do capital social da SAD. Acrescente-se que uma coisa é a SAD e outra é o clube, pelo que, neste caso, a posição de Bruno de Carvalho no Sporting não mudava.

“É necessário debater e resolver os problemas internos do clube em sede de uma Assembleia Geral da SAD”, defendeu a Holdimo em comunicado, numa decisão assente “nas consequências financeiras e no potencial prejuízoda atual clivagem no clube para os ativos da sociedade”, entre outras.”As ações da Sporting SAD estão suspensas da negociação bolsista, pela segunda sessão consecutiva, em consequência de quebras de cotação superiores a 30 por cento (…) O debate público sobre questões internas tem contribuído para uma exposição que é absolutamente dispensável e atentatória da melhor tradição da marca Sporting. As relações humanas têm momentos de tensão que temos de saber gerir com a maior ponderação, discrição e bom senso”, explica a missiva.

Uma coisa é certa: ninguém irá fazer nada a não ser que exista um cenário mais ou menos definido em relação aos próximos capítulos. Um exemplo prático de algo que corre mal? Falar em nomes de jogadores em vésperas de eleições. Corre sempre mal, retira automaticamente capital aos olhos de quem vota: os sócios. Por isso, tudo será mantido em segredo e sem avanços. Até porque reconhecem que, no limite, tudo pode não passar de um momento conturbado.

Os sete anos que deram sete vidas a Bruno de Carvalho

Rui Rigueiro, que é comentador da Sporting TV, escreveu esta segunda-feira um texto que resume o sentimento de todos aqueles que mostraram o seu desagrado (porque também houve) pelas manifestações anti-Bruno de Carvalho no encontro com o P. Ferreira. E, em poucas linhas, resumiu o “capital” que, em termos internos, o atual presidente ainda beneficia. “Se ou quando Bruno de Carvalho deixar de ser presidente, quem vier a seguir encontrará o seguinte no clube: 170 mil sócios; um clube mais rico em património; um contrato de direitos televisivos superior a 500 milhões de euros e que entrou em vigor este ano; equilíbrio orçamental conseguido na diferença compras/vendas; 55 modalidades que precisam de ser bem tratadas e acarinhadas, sendo que na esmagadora maioria estamos na liderança; uma SAD com lucros sistemáticos e redução de passivo; um conjunto de lojas e pontos de venda comerciais para maior alcance da marca; um pavilhão que é apenas o maior e melhor dos clubes nacionais (…) Por isso, quem vier a seguir não terá um décimo do trabalho que Bruno de Carvalho teve”.

São poucos, pouquíssimos, os apoiantes de Bruno de Carvalho que não consideram ter havido precipitação por parte do presidente do Sporting na abordagem aos jogadores após a derrota de Madrid (da mesma forma como também não gostaram da forma como o plantel reagiu). E que até admitem que o líder tem revelado alguns sinais de desgaste nos últimos tempos que “ajudam” à construção da ideia de fim de ciclo. No entanto, acreditam que o atual líder tem todas as condições para continuar o seu projeto caso tome algumas medidas a breve e médio prazo. Uma, por exemplo, foi comunicada pelo próprio antes de ser pai: vai deixar de vez a sua página oficial de Facebook.

“Falei com ele há horas para saber se tinha nascido a filha e se estava tudo bem, porque há um ser humano, um homem que está a ser linchado e que está, como se diz em inglês, em burnout, num stress brutal. E disse-me que ia acabar com o Facebook para sempre. Disse-me que era definitivo e essa é a condição fundamental para conseguir ter condições para continuar a ser presidente do Sporting. Repugna-me que, quem não conseguiu ganhar as eleições, tem tempo de antena. Que não se aproveite este tempo para linchar o Bruno de Carvalho. Ele teve milhares e milhares de votos a favor. Quem me diz que ele não voltaria a ganhar com uma maioria larga? Estou a dar a cara por ele, mas não me sirvo desta crise para ir contra ele”, frisou Eduardo Barroso, à tarde, na SIC Notícias.

Numa espécie de introspeção a tudo o que se tem passado, Bruno de Carvalho, que foi pai de Leonor ao final da noite, considera que a imagem que passa na opinião pública e na comunicação social não reflete em nada o que se passa num possível contexto de Assembleia Geral ou de eleições. E está apostado em acabar o mandato, atingindo ainda alguns objetivos que lhe têm falado como a conquista do Campeonato de futebol. Por isso mesmo, é certo que não se vai demitir. E, caso exista mesmo uma reunião magna, defenderá todo o trabalho que tem para apresentar perante “a ingratidão e a memória curta”. “As Assembleias Gerais, os debates e o confronto trazem o melhor dele ao de cima”, diz-nos uma fonte próxima. No entanto, “é muito improvável que haja um Bruno de Carvalho como o Bruno de Carvalho até aqui”.

A certeza de que Bruno de Carvalho não se demitiria acabou por ser mais um dado tido em conta na reunião que houve esta segunda-feira em Alvalade entre os membros da Mesa da Assembleia Geral do clube. Pelo que soube o Observador, Jaime Marta Soares, que teve um dia de loucos face à “pressão” criada após as palavras que teve esta manhã na TSF, ainda quer amadurecer uma decisão final em relação aos caminhos a seguir nos próximos dias, com dois cenários em cima da mesa que ganharam força: ou a convocação de uma Assembleia Geral, seguindo aquilo que anunciara durante o dia, ou a hipótese de haver uma outra solução “provisória” durante esta fase.

Costa encontra-se hoje com Theresa May para preparar pós-Brexit

O primeiro-ministro, António Costa, viaja hoje da cidade francesa de Lille para Londres, onde se reunirá com a sua homóloga britânica, Theresa May, encontro em que vão preparar o novo quadro de relações bilaterais após o Brexit.

Costa encontra-se hoje com Theresa May para preparar pós-Brexit

© Lusa

Notícias ao Minuto

HÁ 2 HORAS POR LUSA

POLÍTICA PRIMEIRO-MINISTRO

Areunião com a primeira-ministra do Reino Unido será o primeiro ponto da agenda de dois dias da presença de António Costa em Londres, numa deslocação que terá um caráter predominantemente económico.

Antes de viajar de comboio para Londres, António Costa vai visitar, em Lille, uma fábrica do grupo português Simoldes, fornecedora de componentes em plástico para a indústria automóvel e que em 2017 teve uma faturação de 46 milhões de euros e emprega 240 pessoas. O primeiro-ministro esteve no domingo, segunda-feira e a manhã de terça-feira em França no âmbito das celebrações do centenário da Batalha de La Lys.

No encontro com Theresa May, António Costa deverá reiterar a posição portuguesa em relação ao processo de saída do Reino Unido da União Europeia.

Uma questão em que o primeiro-ministro português, em sucessivas declarações públicas, sempre se demarcou da corrente de Bruxelas que reclamou negociações duras com Londres.

"O primeiro-ministro português vai auscultar Theresa May sobre a avaliação que o Reino Unido faz do atual momento negocial tendo em vista a conclusão do acordo de saída. Mas a reunião servirá, sobretudo, para preparar o quadro da relação futura a nível bilateral", referiu a mesma fonte do Governo.

No primeiro dia de presença em Londres, ao início da noite, António Costa estará ainda numa receção com a comunidade portuguesa residente em Londres.

O segundo dia do primeiro-ministro na capital britânica, na quarta-feira, será totalmente dominado pela agenda económica, começando com um pequeno almoço com potenciais investidores.

António Costa participa depois num fórum de negócios "Portugal/Reino Unido - uma ocasião para apresentar os mais relevantes indicadores sobre a evolução da economia portuguesa ao longo dos últimos.

Nesta sua visita, o primeiro-ministro estará ainda numa segunda conferência económica sobre negócios entre Portugal e a Índia, que tem uma comunidade considerada poderosa do ponto de vista económico na Grã-Bretanha.

Durante a visita de Estado que António Costa realizou à Índia, em janeiro de 2017, o primeiro-ministro anunciou uma unidade de missão para candidatar Portugal a receber empresas de países terceiros que tencionem deslocalizar-se na sequência da saída do Reino Unido da União Europeia.

"Portugal pode ser uma excelente plataforma para empresas que estão instaladas na União Europeia e que não têm vontade de sair deste espaço", declarou então António Costa perante uma plateia de empresários indianos.

"Salazar tinha um certo desprezo pelos portugueses"

A historiadora e autora Irene Pimentel é a entrevistada de hoje do Vozes ao Minuto.

"Salazar tinha um certo desprezo pelos portugueses"

© Blas Manuel / Notícias Ao Minuto

Notícias ao Minuto

06/04/18 POR FÁBIO NUNES

PAÍS IRENE PIMENTEL

António de Oliveira Salazar é uma figura incontornável da história portuguesa e que continua a exercer fascínio sobre a população. É um caso semelhante ao de outros ditadores como Adolf Hitler ou Benito Mussolini.

Não é por isso de estranhar o interesse da historiadora Irene Pimentel neste tema. Salazar e a PIDE já deram origem a livros da autora, que volta a debruçar-se sobre o ditador português. Desta vez porém, com um ângulo diferente.

'Inimigos de Salazar' foi publicado pelo Clube de Autor e lançado no final de março. Este livro de Irene Pimentel destaca os homens das mais diversas áreas da sociedade portuguesa que fizeram frente a Salazar e ao Estado Novo.

O livro deu o mote para esta entrevista de Irene Pimentel ao Notícias ao Minuto, no qual falámos ainda sobre o paralelismo que se pode traçar entre o período do Estado Novo, onde proliferavam várias ditaduras na Europa, e o período que se vive atualmente com o crescimento da extrema-direita e do populismo no Velho Continente.

O percurso de vida de da historiadora e o seu gosto pela política foram outros dos assuntos abordados.

Já escreveu vários livros relacionados com Salazar, o Estado Novo, a PIDE. Porque resolveu agora escolher este ângulo dos inimigos de Salazar, estas várias figuras da vida militar, política, civil?

Eu já tinha dois livros, ou pelo menos dois temas de estudo, que eram por um lado a polícia política do Estado Novo e portanto do regime de Salazar e de Marcelo Caetano, e por outro lado um livro sobre a oposição ao regime desde 1926 até 1974. Mas eram livres bastante académicos. Aquele sobre a PIDE tinha a ver com a minha tese de doutoramento e o outro era bastante volumoso. Vários professores de História perguntaram quando é que fazia um livro mais ágil, por assim dizer, sobre o tema. E resolvi, pegando nesses dois livros e na investigação que fiz para esses dois livros, fazer um livro mais pequeno e mais agilizado sobre os inimigos de Salazar. Portanto é menos sobre as instituições da oposição mas mais sobre as figuras propriamente ditas que se opuseram ao regime.

Este livro acaba por ter esse lado mais pessoal de cada uma dessas figuras.

Exatamente. Embora sejam sempre pequeníssimas biografias, porque houve muitas pessoas, e sejam sobretudo biografias políticas, portanto as opções políticas e de que forma eles atuaram contra o regime ditatorial.

Eu tento dar um pouco uma imagem de todos os representantes dessa luta, muita dela inglória porque muitos nasceram, viveram e morreram em ditadura porque foi de tal maneira longaTemos aqui algumas figuras que a maioria dos portugueses conhece. São os casos de Mário Soares, General Humberto Delgado, Álvaro Cunhal, mas depois temos muitas figuras que não são tão conhecidas.

Muitos deles porque são mais velhos. Muitos deles atuaram já no período quer da República, quer depois da ditadura militar e do salazarismo e muitos até morreram durante o período salazarista e muitos ficaram esquecidos. Há um aspeto muito importante. O facto de ter havido censura, uma censura muito forte, impediu essas pessoas de se expressarem na imprensa ou até publicamente e portanto não temos fontes que nos lembrem quem foram essas figuras.

Eu posso dar o exemplo do Francisco Cunha Leal, que foi claramente uma pessoa que se tornou num inimigo político pessoal de Salazar. Havia um ódio muito grande de Salazar relativamente a ele e é uma inimizade que começa logo na ditadura militar, ali por volta dos anos 30, e que tinha a ver com o facto de Cunha Leal, que era Governador do Banco de Angola, erguer-se contra a política colonial de Salazar. E depois ao longo dos anos foi sempre uma figura que esteve contra Salazar. Muitas vezes ele até era um colonialista, digamos que ele não um crítico da política colonial por si mas da política colonial de Salazar. Mas havia ouras figuras mais jovens, estudantes, trabalhadores mas sobretudo a intelectualidade que ao longo dos anos se foi renovando. Escritores que também foram alvo da ditadura, artistas. Eu tento dar um pouco uma imagem de todos os representantes dessa luta, muita dela inglória porque muitos nasceram, viveram e morreram em ditadura porque foi de tal maneira longa. E sobretudo a censura, a PIDE, eles desapareceram do espaço público e é um pouco fazer o papel da memória.

Notícias ao MinutoO livro 'Inimigos de Salazar' destaca figuras como o General Humberto Delgado ou Mário Soares mas também outros nomes menos conhecidos dos portugueses© Blas Manuel / Notícias Ao Minuto

Obviamente a censura teve um papel muito importante porque se calhar muitas pessoas não conhecem a preponderância que essas pessoas tiveram. Desde o 25 de Abril levámos algum tempo a conhecer alguma dessas histórias.

Por exemplo, outra figura que acho que é muito importante e que não se fala muito, ao contrário de Delgado, é o Henrique Galvão. Ele é um figura, que tal com Humberto Delgado, vem de dentro do regime, aliás de tal forma que ele era um dos Tenentes do 28 de Maio e o Estado Novo depois nomeia-o diretor da Emissora Nacional , que era um dos principais meios de propaganda do regime. Ele depois vira-se tanto contra o regime que inclusive inaugura novas modalidades de oposição, como por exemplo a tomada do navio Santa Maria e o desvio do avião da TAP. É um inimigo que depois morre também no exílio.

O Cardoso Pires, e eu cito essa frase no livro, diz que o período mais terrível que foi entre 1965 até 1968, aqueles últimos anos do salazarismo, e lembra-se que a própria censura usava o termo ‘essas figuras desapareceram’. Só para mostrar que havia esse propósito. Era um sinal que dizia à imprensa estes escritores não serão nunca publicados, não haverá entrevistas com eles, nada.

Os Aliados acharam que era preferível Salazar continuar no poder do que uma democracia em que eventualmente o Partido Comunista tivesse mais forçaTemos aqui um leque variado de figuras que foram inimigos de Salazar mas que não conseguiram derrubar esta figura. Mesmo depois de Salazar houve uma continuação do regime. Isso foi algo que aconteceu noutras ditaduras daquele período como na Alemanha nazi ou na União Soviética de Estaline. Porque é que isso acontece? É porque os seus regimes estão muito bem organizados, estruturados que silenciam quase completamente os opositores?

A ditadura portuguesa está bem estruturada e tem um quantidade enorme de ferramentas para não ser derrubada. Para falar só em algumas, as próprias Forças Armadas que Salazar conseguiu domesticar a partir de 1937. E não é por acaso que quando uma parte das Forças Armadas se revolta contra o regime devido à Guerra Colonial e é quando se dá o 25 de Abril. Mas depois tinha as polícias todas. Tinha a polícia política, que servia sobretudo para reprimir e neutralizar uma minoria, que era a minoria que atuava organizadamente, como o Partido Comunista e outras organizações. E mais tarde com o marcelismo, que não é focado no livro, surgem outras organizações de luta armada e da esquerda radical.

A censura é outro dos factores e também outra grande instituição que penso que apoiou muito o regime, que foi a Igreja Católica. A Igreja e o Estado Novo têm uma matriz comum doutrinal e ideológica e aquilo que verificamos é que não só esta matriz é comum ao Estado e à Igreja, como a ditadura é quase sempre apoiada pela hierarquia da Igreja. Não quer dizer que tenha sido apoiada pela Igreja Católica no seu conjunto. A partir dos anos 60 claramente se vê que começam a haver divergências. No caso da hierarquia, há a grande divergência em 58 do bispo do Porto, mas sobretudo depois de católicos, nomeadamente jovens estudantis e operários. E isso também é muito importante.

No entanto, não foram só estas questões. Internacionalmente o Estado Novo pôde manter-se para além da derrota dos fascistas e dos nazis. Em 1945 termina a guerra, são derrotados os fascistas e os nazis pelos aliados ocidentais, e toda a oposição pensou que os Aliados não iriam deixar que o franquismo aqui ao lado e o salazarismo permanecessem. Mas não se aperceberam na altura que estávamos a entrar numa nova fase, noutra guerra, a Guerra Fria. Aí os Aliados tiveram como principal adversário a União Soviética. Em 1949, quando Salazar consegue que Portugal seja um dos primeiros países da NATO, a partir daí ele está praticamente garantido porque os Aliados acharam que era preferível Salazar continuar no poder do que uma democracia em que eventualmente o Partido Comunista tivesse mais força.

O nazismo tem grandes diferenças. Além de ter o mesmo anti-comunismo, o mesmo anti-liberalismo, a anti-democracia, tem uma componente racial que o salazarismo não teve. E por exemplo, quer a Igreja Católica e a Igreja Protestante não têm a preponderância no nacional-socialismo alemão, onde o poder gira todo em torno do Führer. E depois há muitas rivalidades. Eu não diria que o nacional-socialismo fosse um regime unificado. Era um regime que assentava em muitos pequenos poderes, todos com rivalidades uns com os outros, sob a arbitragem de Hitler. A questão do racismo, e sobretudo do racismo anti-semita, vem diferenciar muito o nacional-socialismo alemão do salazarismo português. E depois também há a questão expansionista. Enquanto que a Alemanha e a Itália queriam a expansão, a atitude de Portugal era completamente diferente, era mais conservadora, de manutenção das colónias que já tinham e por outro lado de manutenção da neutralidade durante a Segunda Guerra Mundial, esperado passar entre os pingos da chuva e realmente conseguiu.

Salazar parece ter conseguido jogar sempre bem. Apesar da relação aos outros regimes fascistas, ele conseguiu manter sempre um distanciamento suficiente ao ponto dos Aliados não acharem necessária a mudança de regime.

Ao ponto dos académicos no estrangeiro, quando começam a analisar o salazarismo, têm tendência para dizer que é um regime autoritário, mas não se referem tanto a ele como a uma ditadura e sobretudo diferenciam-no muito de outros regimes fascistas, e dando quase a entender que era uma democracia musculada, orgânica. Não estou muito de acordo com isso mas essa imagem foi passada por Salazar e teve uma eficácia. Ele refere o nazismo, o fascismo italiano nos ano 30 e 40 em textos e entrevistas, mas diz que o caso português é completamente específico com algumas parecenças mas com muitas diferenças. E isso foi muito eficaz até para com a própria oposição porque no pós-guerra teve dificuldade em analisá-lo concretamente da forma que era e foi um regime terrível para a maioria dos portugueses devido à longevidade. O nacional-socialismo alemão cai ao fim de alguns anos, ao contrário do que se pensava que ia ser o Reich dos mil anos, e este manteve-se até 1974. Muito reforçado pela Guerra Colonial, que depois vai ser a causa do derrube do Estado Novo.

Salazar tinha um certo desprezo pelos portugueses. Chegou a dizer que não eram rigorosos, que tendiam sempre a esperar que as coisas viessem de cimaFoi um regime que de facto manteve-se durante muito tempo e abrangiu várias gerações. Muitas gerações foram influenciadas desde muito cedo. Esse foi um dos fatores que contribuiu para solidificar o regime e para que se mantivesse durante aquele tempo?

É um processo de ciclo vicioso. Eu acho que outra das características de Salazar é que percebia bastante bem de que forma os portugueses eram de uma forma geral. Temos de nos lembrar que a população daquela altura não tinha nada a ver com a população portuguesa atual. Era uma população muito rural, analfabeta, muito influenciada pela Igreja Católica. Salazar tinha um certo desprezo pelos portugueses. Chegou a dizer que não eram rigorosos, que tendiam sempre a esperar que as coisas viessem de cima. Mas ele conseguiu que esse processo continuasse, ou seja transformou-se quase num código genético que podia não estar lá no início mas que ele foi reforçando. Penso que essa tendência de esperar que as decisões venham de cima é algo que ainda se mantém. Qualquer dia já temos tantos anos de pós-ditadura como de ditadura e não podemos estar sempre a culpabilizar o antigo regime pelo que se passa hoje. Mas é verdade que as mentalidades são o que mais demora a mudar. Demoram a fixar-se e depois demoram muito a transformar-se.

Notícias ao MinutoIrene Pimentel considera que a Guerra Colonial "ainda não foi trabalhada na história" portuguesa© Blas Manuel / Notícias Ao Minuto

Destes inimigos de Salazar, é possível eleger uma figura que ele temesse mais?

Eu diria que Delgado, a dada altura, é considerado um inimigo principal, tanto que é assassinado pela PIDE. Como eu também refiro no livro, segundo a minha interpretação, a PIDE era um Estado dentro do Estado e Salazar podia não ter sabido o que iria acontecer e sabido apenas posteriormente de que forma é que se lidou com o caso de Delgado, mas havia aquela vontade de neutralizá-lo. Penso que ele é uma dessas figuras mais temidas, e isso pelas eleições de 1958. Mas Salazar também odiava Cunha Leal, por exemplo. É um caso diferente porque Cunha Leal era um conservador, mas era um conservador que Salazar nunca conseguiu levar para o seu lado. Penso que também o Partido Comunista porque ele era profundamente anti-comunista, e aí poderá falar-se de Cunhal, mas também dos dirigentes anteriores, como Bento Gonçalves.

Ditadores? Fascina como é que um ser humano sozinho tem um papel tão preponderanteExiste um certo fascínio por figuras como Salazar, Hitler. Basta ir a uma livraria e vemos na montra livros sobre estas figuras. Porque é que isso acontece?

Porque foram figuras individuais que tiveram uma preponderância tão grande na história, que moldaram não só regimes como tiveram consequências terríveis para as pessoas de um modo geral. Eu própria digo que estou fascinada, não no sentido de gostar das personagens mas sinto-me um pouco fascinada por elas tanto que ando a estudá-las há vários anos. Tentar perceber como é que Estaline, na União Soviética, e o Hitler, na Alemanha nazi, destruíram tantas pessoas. Isso não aconteceu com Salazar, mas também aconteceu com Franco, por exemplo. Fascina como é que um ser humano sozinho tem um papel tão preponderante. Claro que sempre com muitos cúmplices mas politicamente como é que têm o poder que tiveram.

Pode se dizer que se trata de um fascínio pelo próprio poder em si?

É claro. O poder político. A mim fascina-me. É ele que nos governa e é por causa dele que pagamos impostos, que lutamos para que se mantenha ou, pelo contrário, para que seja derrubado. E eu sou de uma geração muito politizada, até porque vivi naquela fase mais crucial da idade adulta ainda jovem do 25 de Abril. Eu tinha 18 anos em 1968.

A Guerra Colonial ainda é um assunto relativamente tabuEm alguns países, como na Alemanha, parece ser desconfortável falar dos períodos em que estes regimes fascistas dominavam. Aqui em Portugal não parecemos sentir-nos tão desconfortáveis em falar da ditadura, abordamos esse tema de forma mais aberta.

Mas há uma coisa em que diria que não estamos com essa postura mais cómoda, que é a questão da Guerra Colonial. Penso que ainda não foi trabalhada na história, na memória de gerações porque foi muito traumática para gerações de pessoas que participaram na guerra e esses normalmente foram silenciosos relativamente aos seus filhos. Mas agora alguns falam mais com os netos. Isso aconteceu porque o 25 de Abril veio alterar, por rutura, de um dia para o outro a realidade. Não foi só a democratização, foi a independência das colónias, a entrada na Europa. Isso provocou um certo silêncio. Muitas das pessoas que participaram na Guerra Colonial de um dia para o outro passaram de heróis a vilões e portanto remeteram-se ao silêncio.

Sei que a Irene já sugeriu a criação de uma Comissão da Verdade para apurar o que se passou nas colónias?

Acho que é uma tarefa dos países independentes porque houve massacres. As guerras coloniais foram muito violentas. Em Portugal, e falo sobre isso no meu livro anterior ‘O Caso da PIDE/DGS’, acho que já passou o tempo da Comissão da Verdade e da justiça. É o tempo da história. Ainda falta fazer o trabalho histórico e do seu relacionamento com a memória. Ainda não está muito estudado. Sobre a repressão da ditadura, há muitas peças de teatro, há muitos filmes, há depoimentos, há memórias de pessoas individuais, há livros de história. A Guerra Colonial ainda é um assunto relativamente tabu. Já devíamos estar a fazê-lo pois já passaram 44 anos, mas se calhar ainda tem de passar mais algum tempo.

A Irene é filha de pai português e de mãe suíça, estudou no Liceu Francês. Comparando com grande parte da população que viveu durante o Estado Novo, de que forma é que ter acesso a uma cultura diferente e estudar num sítio onde havia mais liberdade do que nas outras escolas portuguesas, ajudou a que a Irene tivesse um pensamento diferente?

Penso que isso influenciou. Eu tenho uma tendência para o cosmopolitismo, sou anti-nacionalista. E como a minha mãe é suíça, e sempre tive parte da família na Suíça, sempre convivi com essa família também. Mesmo cá em Portugal também estava num microcosmo. Todos os meus primos andavam nos liceus portugueses e eu lembro-me que havia uma grande diferença. Por outro lado, sempre gostei muito de história porque havia uma grande liberdade de ensinar história no Liceu Francês. Nós podíamos pegar na questão do Marxismo, quando aqui ninguém pegava. Apesar de ser um liceu conservador, era um liceu de uma democracia. Apesar da disciplina, havia mais liberdade. Deu-me um olhar crítico, de interpretação a partir de fora e talvez isso tenha contribuído, sim.

Gerigonça? Acho muito interessante. É um caso completamente contrário ao que se está a passar no resto da EuropaEm que momento é que a Irene percebeu que tinha gosto pela política? Foi ainda antes de 1968?

Eu tinha gosto pela história política. Depois houve algo que me influenciou muito. Eu tinha um diário e fartei-me de escrever coisas contra o racismo logo aos 13 anos. A desigualdade a que assistia em Portugal também era algo que me incomodava. Isto também tem a ver com a minha família. Na Suíça o meu avô era ferroviário, ao passo que o meu avô em Portugal tinha cinemas e laboratórios. No maio de 68 eu estava no meu último ano no Liceu Francês e ia fazer o exame de saída, o célebre Baccalauréat, e sentia-me, culturalmente, muito próxima de França. Seguia o que se passava lá. O maio de 68 influencia-me depois porque ainda faço essa exame, em França não fizeram. Fui estudar para a Suíça e ao fim de um ano e meio fui para Paris. Foi um período que teve muita influência na minha maneira de estar, na minha mentalidade, como também influenciou muitas pessoas da minha geração.

Depois do 25 de Abril teve um corte com a vida política mais ativa. Sentiu-se desiludida?

Senti-me completamente desiludida. Ainda agora quando o Manuel Reis morreu, houve este debate em torno dos anos 80. Eu não vivi nada disso. Nesse período eu estava a ver o refluxo. Eu saí da vida partidária em 1978 e no próprio dia em que saí, disse a uma amiga minha que sabia pela primeira vez o que era a liberdade de pensamento, mas que esse tipo de liberdade era muito duro. De repente senti-me despida só a contar comigo. Esse período seguinte não foi muito feliz para mim. Mas também aconteceu com muitas pessoas. Foram períodos de isolamento porque nós tínhamos uma socialização com os partidos e a vida política, e de repente ficámos sozinhos. Como dizia o Zeca Afonso, ele era o seu “próprio comité central” e que isso às vezes era muito duro. E eu também passei a ter o meu comité central, em vez de obedecer ou seguir os outros.

A sua geração era muito politizada. O que lhe parece a geração atual?

A minha geração é aquela que reage mais contra a autoridade dos pais e dos ascendentes e agora não é bem assim. Não é necessário ter essa luta dessa forma e acho que isso às vezes faz falta. As novas gerações são sempre diferentes, são menos ideologizadas e partidárias, e ainda bem. Eu acho que têm todos à partida o seu próprio comité central e espero que não sejam atreitos aos populismos e a esse tipo de coisas. Depois são gerações que admiro porque estão ligadas a um humanismo que nós não tínhamos naquele período. É também uma geração muito mais sensibilizada para a questão da ecologia e do clima até porque percebe melhor as transformações que aconteceram. E, por exemplo, eu gosto muito do que se está a passar agora nos Estados Unidos em que uma juventude muito nova está a reagir a questões que têm a ver com eles, como é a questão das armas. Irem para a escola e não correrem o risco de serem mortos. Eu que não gosto nada do Trump, acho fabuloso o que se está a passar. Mas na Europa também. Contra o racismo, a xenofobia.

Neste momento temos uma solução política em Portugal diferente do que já se viu no passado. Já passámos mais de metade do mandato. Como é que a Irene está a analisar a Geringonça?

Eu acho interessantíssima. Cá está uma mudança, que não é revolucionária, não é uma mudança através de golpe de Estado e é uma mudança que ninguém esperou. Nunca mais me vou esquecer daquela frase do Jerónimo de Sousa na noite das eleições, a dizer que o PS só não governava se não quisesse. Eu ouvi aquilo e disse ‘Há aqui qualquer coisas que está a gerar uma grande mudança’. Mas não percebi o efeito que isto ia ter, fomos depois percebendo. Acho muito interessante. É um caso completamente contrário ao que se está a passar no resto da Europa. Uma das coisas que eu temo um pouco é esta atitude anti-políticos, que eu não gosto.

A nossa própria ditadura não teve essa componente racial, teve uma imperial. A xenofobia e o racismo são coisas que ainda não são muito bem vistas aqui, ao contrário do que sucede em França já há muitos anos ou na AlemanhaTendo em conta a questão do Brexit, o projeto europeu vai sempre sair mais fragilizado. Mas está condenado?

Espero que não esteja condenado. É um projeto muito interessante. Mas foi dominado pela onda neoliberal, do ponto de vista financeiro e económico. Em vez de caminhar para uma Europa mais social, preocupada com a unidade a nível de impostos. Em cada país, as pessoas estão muito afastadas do projeto europeu e nem sabem muito bem o que representa, o que se discute lá. É necessária mais Europa cultural, social. Mas face ao escândalo da Cambridge Analytica, já se fala na possibilidade de novo referendo do Brexit.

Atualmente temos um paralelo entre aquele período da Segunda Guerra Mundial, com várias ditaduras na Europa, e agora não havendo ditaduras, assistimos a um crescimento da extrema-direita, da intolerância, de xenofobia. Não estamos a aprender com a história?

É sempre aquela velha questão de ‘E para que é que serve a história?’. Eu acho que a história de facto nunca se repete. Se temos parecenças com os anos 30 do século XX, e claramente temos devido à crise do regime liberal, da democracia, a história pode sobretudo indicar para onde não queremos ir. Uma das coisas que a história nos indica é relativamente aos refugiados. Durante a Segunda Guerra Mundial houve muitos refugiados que não encontraram refúgio em muitos países da Europa, vieram a ser apanhados e muitos deles foram chacinados. Nós hoje sabemos isso, vamos maltratar os refugiados que aí vêm? Não os vamos integrar noutras zonas? Amanhã podemos ser nós. A história serve para isso. Mas só se as pessoas a conhecerem e se se interessarem por ela.

Em Portugal, não há partidos de extrema-direita e populistas no Parlamento. Porque é que continuamos a ser uma exceção, quando comparado com muitas realidades europeias?

Acho que tem a ver com o facto do 25 de Abril ser recente. Houve uma diabolização do antigo regime e sobretudo nenhuma organização parlamentar de direita, PSD e CDS, por exemplo, nenhuma delas defende o regime ditatorial. Ninguém defende a PIDE. Depois a nossa própria ditadura não teve essa componente racial, teve uma imperial. A xenofobia e o racismo são coisas que ainda não são muito bem vistas aqui, ao contrário do que sucede em França já há muitos anos ou na Alemanha. Além disso, também somo um país de emigrantes. A tendência é para sermos ou podermos ser alvos da xenofobia lá fora e aqui não sermos assim. Por outro lado, ainda não houve ataques terroristas cá.

Já tem alguma ideia para um futuro livro? Vai continuar a debruçar-se neste tema de Salazar e do Estado Novo?

Eu vou voltar à PIDE. Todas dizem-me ‘Que horror!Livra-te disso!’, mas vou voltar porque interessam-me dois aspetos. Fala-se do Silva Pais, o Rosa Casaco também é falado, o Casemiro Monteiro porque matou o Delgado, ou pelo menos foi condenado por matá-lo. Eu vou pegar nessas figuras mas vou tentar ver de que forma se fabricou um PIDE. E depois por outro lado também interessa-me o relacionamento com agências secretas de países democráticos porque comecei já a estudar a questão da espionagem durante a Segunda Guerra Mundial, mas interessa-me o pós-guerra. O relacionamento com os franceses, com a CIA.