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quinta-feira, 12 de abril de 2018

A sombra que aí vem

Opinião

Miguel Guedes

Ontem às 00:01

Uma das questões que pendem no fio de prumo é a de saber se os problemas de Bruno de Carvalho são maiores do que os problemas do Sporting, nomeadamente aqueles que criou. A tentação mais imediata de todos aqueles que foram atacados por Bruno de Carvalho ao longo dos anos - e poucos escaparam - seria a de proceder ao ajuste de contas, amargo travo de gosto duvidoso no contorno das facas longas. A natureza humana tem departamentos de loucura e felicidade que facilmente se confundem com tragédia. E há quem seja mestre dessa notação. Por vezes, basta o reflexo da curva, um acervo de dificuldades ou laçados nós que ninguém julgaria ou poderia antecipar. É tanto o homem que se confunde com algo maior, como é o homem cuja providência não lhe assiste no simulacro de megalomania. É muito curioso, perante a espiral destes dias, como assistimos - em simultâneo - ao recato e prudência daqueles que o presidente do Sporting permanentemente ofendeu e ao ataque feroz de muitos daqueles que sempre lhe passaram um cheque em branco para tudo o que lhe antecipava um fim previsível.

Sendo que o tempo do fim não é certo. Numa altura em que a indefinição é o dado mais seguro, deveria ser o momento a convocar a sensatez de dizer pouco. A autodestruição ao vivo e em directo de um homem a que assistimos, foi ao longo dos anos apelidada por muitos como um facto menor de carácter, agora "burnout" clínico ou transtorno de personalidade e circunstâncias adjacentes. Em nome da reposição da grandeza que não deixou de ter e do corte umbilical com a época dos viscondes, há um dente do leão que sempre afiou as garras do líder sem cuidar de lhe dar a mão em consciência. Percebo que sejam esses os mais desiludidos com a sua perda de percepção última, mas é pouco admissível que sejam alguns deles os seus principais algozes em democracia. Bruno de Carvalho está mais do que legitimado, até pela sua soberba de legitimidade permanente. Só ele pode decretar o seu fim em juízo.

Independentemente dos dias que aí vêm numa realidade que não pode esperar, é a contenção que pode definir uma resolução em equilíbrio. Nada será como dantes. É absurdo pensar que a condição fundamental para qualquer continuidade seja a saída ou o corte com as redes sociais. A sombra de um homem. O fim dos absolutos poderes que ninguém mais tolerará a Bruno de Carvalho não tem que significar o absoluto regresso da turma dos nobres e do seu "catering". Sabe-se também que a perfeita divisão só acentuará a sombra do que será inevitável. Alguém imagina Bruno de Carvalho como ex-presidente em oposição? A palavra à inteligência emocional dos sócios numa Assembleia-geral que poderá reunir todos os males do clube numa sala transformada em jaula. Senão do leão, em nome do homem, que se resista à tentação do uso do chicote.

O autor escreve segundo a antiga ortografia

MÚSICO E JURISTA

Governo deve aprovar esta quinta-feira défice de 0,7% para 2018 com a oposição do BE

12/4/2018, 8:00

A confirmar-se esta meta mais ambiciosa, existe uma diferença de 0,4 pontos percentuais entre o défice que foi definido no Orçamento do Estado de 2018. Bloco de Esquerda está contra a mudança.

JOSÉ COELHO/LUSA

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  • Agência Lusa
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O Governo deve aprovar esta quinta-feira, em Conselho de Ministros, o Programa de Estabilidade 2018-2022, devendo rever as metas orçamentais para este ano e os próximos, mas com a oposição do BE, que exige que se mantenham os compromissos assumidos. Há uma semana, Eco e Jornal de Negócios divulgaram que, no documento, o Governo queria rever em baixa as metas orçamentais para este ano, fixando, agora, o défice orçamental em 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB).

A confirmar-se esta meta mais ambiciosa, existe uma diferença de 0,4 pontos percentuais – cerca de 800 milhões de euros – entre o défice que foi definido no Orçamento do Estado de 2018 (OE2018) e que contou com a aprovação do Bloco de Esquerda (BE) e do PCP. Recorde-se que o OE2018 prevê um défice orçamental de 1,1% do PIB, que contabiliza um impacto de 0,1 pontos com as despesas relacionadas com os incêndios do ano passado.

Na segunda-feira, a coordenadora do BE, Catarina Martins, considerou preocupante que o Governo quisesse alterar as metas orçamentais negociadas com os bloquistas para este ano, apelando para que se mantivessem os compromissos assumidos e o espírito de negociação.

No dia seguinte, num artigo de opinião publicado no Jornal de Notícias, a deputada bloquista Mariana Mortágua defendeu que o Governo “faz mal em pôr em causa a estabilidade da atual solução parlamentar” e, na véspera da aprovação do documento em Conselho de Ministros, avisou que o Governo tem até sexta-feira para recuar e manter no Programa de Estabilidade a meta do défice para 2018 acordada no orçamento.

Ao BE — bem como ao PCP – já não tinha caído bem que o défice orçamental de 2017, que ficou nos 0,9% do PIB (sem o impacto da recapitalização da Caixa Geral de Depósitos), tenha ficado cerca de 1.000 milhões de euros abaixo do inicialmente previsto. No parlamento, Mariana Mortágua acusou o ministro das Finanças, Mário Centeno, de ser uma “força de bloqueio a despesas nos hospitais, na ferrovia e em vários ministérios”, defendendo que esse montante deveria ter sido investido e acusando o Governo de dar mais valor às metas de Bruxelas do que aos acordos parlamentares.

Também o deputado do PCP Paulo Sá defendeu que, “ao longo de 2017, tendo o Governo a perceção de que o défice seria inferior ao objetivo estabelecido, poderia ter executado despesa necessária e imprescindível”, criticando que o executivo tenha optado por não o fazer. Mário Centeno explicou, no parlamento e mais recentemente num artigo no Público, que essa diferença de 1.000 se deveu, em partes iguais, à menor despesa em juros da dívida e ao crescimento económico do conjunto de 2017, que superou as expectativas.

Nesse artigo, o ministro deixa vários avisos: “Fruindo do momento, temos que nos preparar para o futuro”; é necessária margem fiscal e orçamental para “fazer face a futuras crises” e para que “os resultados conquistados não sejam efémeros”; os portugueses “continuarão a cumprir os seus compromissos”. Numa entrevista à Bloomberg divulgada na quinta-feira, o ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral, deu como certa a revisão em baixa da meta o défice para este ano, de 1,1% para 0,7% do PIB.

Recorde-se que o Programa de Estabilidade tem um horizonte de quatro anos, sendo o primeiro momento em que o Governo demonstra, com metas, os objetivos orçamentais para o ano seguinte. Para 2019, último ano da legislatura, o Governo prepara-se para apresentar uma meta do défice de 0,2% do PIB, segundo o Eco e o Negócios. Numa reunião com os parceiros sociais sobre o documento, o Governo excluiu aumentos de salários para a Administração Pública em 2019, admitindo-os apenas em 2020, uma posição que recebeu a oposição imediata dos sindicatos.

No Programa de Estabilidade 2017-2021, apresentado há cerca de um ano, o executivo liderado por António Costa estimava que o défice orçamental de 2018 fosse de 1% do PIB e que o de 2019 fosse de 0,3%. A partir daí, o Governo antecipava excedentes orçamentais: de 0,4% em 2020 e de 1,3% e em 2021.

O documento é debatido na Assembleia da República no próximo dia 24 de abril e o CDS já anunciou que vai apresentar, à semelhança de anos anteriores, um projeto de resolução para que o Programa de Estabilidade seja rejeitado. Nos anos anteriores, o PS contou com o apoio dos parceiros parlamentares. Depois, o documento deve ser remetido para a Comissão Europeia até ao final do mês, assumindo então as novas metas. O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, avisou que “uma crise política é indesejável”, considerando que “a conclusão da legislatura é muito importante para Portugal”.

Porto e Gaia anunciam nova ponte sobre o Douro

ATUALIZADO

Rui Moreira e Eduardo Vítor Rodrigues, autarcas do Porto e de Vila Nova de Gaia, anunciaram a construção de uma nova travessia sobre o Douro. Obra vai ser paga pelos dois municípios.

ESTELA SILVA/LUSA

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As cidades do Porto e de Vila Nova de Gaia vão ter uma nova ponte rodoviária sobre o douro. O anúncio foi feito esta quinta-feira por Rui Moreira e Eduardo Vítor Rodrigues.

A nova travessia vai unir os dois concelhos entre Oliveira do Douro, em Gaia, e a zona de Campanhã, no Porto. A informação foi avançada pelos dois autarcas no Laboratório Edgar Cardoso, equipamento próximo da ponte São João, que une os dois concelhos via ferroviária.

A ponte vai chamar-se D. António Francisco dos Santos, antigo bispo do Porto. De acordo com o Jornal de Notícias, a nova travessia será destinada ao trânsito automóvel, terá uma faixa destinada a peões e bicicletas e permitirá, também, novas ligações de transportes públicos rodoviários.

Segundo as garantias deixadas pelos dois autarcas, a nova travessia será paga pelos municípios, não dependendo de financiamento externo.

Buracas do Casmilo: um segredo escondido no Maciço do Sicó

por admin

Perto da aldeia do Casmilo há paredes de rocha esburacada. Que nem queijo suíço, mas à escala supra humana. São grutas que exploram as deficiências do calcário, que aqui é rei. Chamaram-nas, convenientemente, de Vale das Buracas do Casmilo. O que hoje se vê são aberturas de grutas que entretanto já não lá estão. Foram abruptamente esmagadas pelo chão da serra que está acima. E com elas, segundo se diz, enterrou-se ouro mouro para não mais voltar à superfície.

Buracas do CasmiloBuracas do Casmilo

Quando falamos de grutas, o réu é quase sempre o mesmo, e é também quase sempre declarado culpado: o calcário. Os sistemas cársicos, isto é, estes que aqui vemos, salvo raras excepções, são sempre motivados por esta rocha que é tão parte da província da Estremadura, principalmente, mas também de outras, como a da Beira Litoral, que é o caso presente. Mais concretamente num muro natural da Serra do Rabaçal, inscrito no quadro cársico do Maciço de Sicó.

Buracas do CasmiloBuracas do Casmilo

Mas adiante. As Buracas do Casmilo estão perto de Condeixa-a-Nova, e podem ser miradas em muitos sítios mas é junto à aldeia com o mesmo nome onde há maior concentração. As covas são de desenho vagamente horizontal, de média profundidade – podem chegar à dezena de metros, mas não muito mais do que isso.

Buracas do CasmiloBuracas do Casmilo

Além do efeito pouco comum que tem na paisagem, importa falar de como é que estas covas nasceram. A verdade é que estas eram entradas para túneis maiores, autênticas grutas. Foi o desabamento do tecto que se sobrepunha a elas que acabou por tapar esses antigos corredores, ficando apenas estas luras de grande escala.

Buracas do CasmiloBuracas do Casmilo

O que hoje é uma mistura de curiosidade geológica com palco de escalada desportiva, foi antes abrigo – e mesmo casa improvisada – de gente do calcolítico e do paleolítico, como ratificam alguns materiais de lá sacados e pinturas que se fixaram anos a fio naquelas paredes carregadas de dobras. Mais tarde, em tempos medievos, este lado acolhedor das covas manteve-se uma realidade.

Buracas do CasmiloBuracas do Casmilo

Ao lado das buracas, encontra-se uma outra serra de nome sugestivo, a Senhora do Círculo – poderá estar o nome ligado a uma cristianização de um ritual antigo? Conta-se, a par com muitas outras grutas que existem em Portugal, que dentro daquelas buracas se esconde ouro. Ouro antigo, de anterior posse moura. Veio todo do Castelo de Soure, ali ao lado, numa altura em que os sarracenos tiveram de se retrair para sul como consequência das investidas cristãs vindas do norte. Verdade ou mito, não sabemos.

Buracas do CasmiloBuracas do Casmilo

Sabemos sim que ainda há quem lá vá com essa fé, a de encontrar a luz doirada que faz um homem rico. Adultos e crianças aventuram-se a desenterrar o que as mãos conseguem, não vá realizar-se uma das inúmeras lendas que versa sobre as Buracas do Casmilo serem um reservatório de tesouros perdidos.

Vale das Buracas do CasmiloBuracas do Casmilo

Não é para menos: as lendas têm invenção na mesma proporção que realidade. Nenhum texto lendário é criado exclusivamente da imaginação – isso tem o nome de conto. E por isso tente-se esse dois em um: o de ver o Vale das Buracas do Casmilo, e o extra de sair de lá mais pesado de ouro.

Buracas do CasmiloBuracas do Casmilo

Se ao visitante comum, as buracas impressionam pela imponência, aos espeleólogos e praticantes de desportos de outdoor (escalada, montanhismo, orientação, rappel…) constituem-se em desafio empolgante. Para chegar ao Vale das Buracas do Casmilo, tenha em conta as seguintes indicações: tomando como ponto de referência a vila de Condeixa-a-Nova, apanhe o IC2 em direcção a sul. Siga, depois, para a povoação da Arrifana (à saída de Condeixa) e, por fim, suba o monte na direcção da aldeia do Casmilo.

EUA e Rússia evocam a Guerra Fria: “paz impossível, guerra improvável”

Entrevistamos Reginaldo Nasser, professor do Departamento de Relações Internacionais da PUC-SP e pesquisador do INEU (Instituto de Ciência e Tecnologia para Estudos sobre os EUA), sobre a tensão diplomática que está ocorrendo entre as potências presentes na Síria. Ele fala que as chances de uma guerra são “praticamente zero”, e sobre o Irã, que agora é uma potência difícil de ser invadida.

Nada novo sob o sol: para o professor Reginaldo Nasser, as ameaças de Trump de bombardear a Síria podem até se concretizar, mas não seriam “nada que eles já não estejam fazendo nesse momento”. O que está acontecendo é um “jogo de encenação”. O confronto não é em relação aos interessas das grandes potências, como foi nas guerras mundiais, portanto a probabilidade de guerra é praticamente zero, apesar de “não termos uma bola de cristal”. “Já estão bombardeando a síria a muito tempo”, diz.

Reginaldo Nasser

Para o professor, as diferenças entre os Estados Unidos e a Rússia são notórias, mas não devemos nos deixar levar: eles têm diversos interesses em comum, como por exemplo os acordos comerciais. Nasser relembra a frase imortalizada durante a Guerra Fria, proferida por Raymond Aron e muito válida para a ocasião: “Paz impossível, guerra improvável”. Essa é a relação entre as potências envolvidas nos confrontos na Síria.

Nasser lembra que houve momentos muito mais tensos em termos geopolíticos entre Estados Unidos e Rússia (por exemplo o episódio da Bahia dos Porcos, que terminou com a Rússia retirando seus mísseis de Cuba, ou a invasão do Afeganistão pela União Soviética, que os EUA responderam dando armas aos Talibãs, causando drásticas consequências que ecoam até hoje no país do Oriente Médio), mas que mesmo assim ambos os países nunca entraram em um confronto direto; dessa vez não seria diferente.

Segundo o professor, não teria chances dos Estados Unidos atacarem a Rússia com mísseis, e muito menos o Irã, a quem o presidente Donald Trump acusa de estar envolvido com terrorismo. “As acusações dos Estados Unidos contra o Irã são completamente infundadas. O país não está envolvido com terrorismo, pelo contrário, ele foi alvo de terroristas. Não existem fatos objetivos contra o Irã”, lembra Nasser.

As chances dos Estados Unidos entrarem em um confronto em solo iraniano é baixo, uma vez que o Irã não é o Iraque desmantelado da época da Guerra no Iraque, e sim uma potência”

Diz o professor. Ele explica a situação, isto é, o proque dos EUA ameaçarem tanto Teerã: o Irã incomoda, e muito, Israel, o aliado de uma vida toda dos Estados Unidos e que antes era a única potência na região.

“O Irã é pragmático e não causa danos diretos aos EUA, mas é uma pedra no sapato de Israel por ser outra potência na região; além disso, o Irã apoia o Hamas, o Hezbollah e confronta a Arábia Saudita, país árabe que sempre foi parceiro de Israel. O lobby nos EUA é poderoso, e Israel pressiona os norte-americanos para que enfrentem o Irã” explica Nasser, sem deixar de lembrar a crise interna vivida pelo país israelita. “Isso porque Israel já passa por uma crise moral, um porque Benjamin Netanyahu está sendo acusado de corrupção, e dois porque a violência dos israelenses contra os palestinos está chocando o mundo, incluindo países que antes não se envolviam no conflito”, conta.

O que pode acontecer, conclui Nasser, é a continuidade e o agravamento dos confrontos violentos, mas sempre em território sírio que, segundo o professor, não seria uma mudança, uma vez que estes embates já estão acontecendo. Os EUA já estão financiando terroristas e já estão bombardeando a síria; o que pode acontecer é o aumento desses ataques sustentados por uma nova justificativa.

Por Alessandra Monterastelli | Texto original em português do Brasil

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