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quinta-feira, 12 de abril de 2018

Nove mulheres, seis ex-ministros e uma média de idades de 60 anos: os ministros sombra de Rui Rio

12/4/2018, 17:59

A cúpula nacional do Conselho Estratégico de Rui Rio tem 32 nomes. 60 anos é a média de idades dos coordenadores. Há apenas 9 mulheres, e Rio admite que "nível de êxito" pode ser de apenas "40 ou 50%"

RICARDO CASTELO/LUSA

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Está desvendado o mistério sobre o “governo-sombra” de Rui Rio, que Rui Rio não gosta de chamar de “governo-sombra” por não corresponder ao seu ideal de orgânica de Governo — se não fosse sombra.

Trata-se de 32 nomes, entre 16 coordenadores e 16 porta-vozes, sendo que a média de idades dos coordenadores, mais “experientes”, ronda os 60 anos, e a média de idades dos porta-vozes, mais “jovens e dinâmicos”, ronda os 45, segundo anunciou o próprio Rui Rio numa conferência de imprensa na sede nacional do PSD, em Lisboa. “A ideia é equilibrar a experiência, saber e ponderação, com a vontade e dinâmica de quem é mais jovem”, disse o líder do PSD.

Com oito nomes independentes, sem filiação partidária, Rio fala de “renovação”, mas admite que não foi “fácil” encontrar os nomes certos, dispostos e disponíveis, a assumir funções nos lugares certos. “Hoje em dia não é fácil conjugar estes fatores todos: não é fácil quando queremos arranjar 32 nomes que queremos distribuir geograficamente, que conciliem saber e juventude, e ainda que estejam disponíveis a dar a cara pela vida pública”.

No leque de 32 coordenadores e porta-vozes, seis são ex-ministros de governos ou de Cavaco Silva e de Durão Barroso, incluindo Ângelo Correia, Luís Filipe Pereira, Silva Peneda, Maria da Graça Carvalho e David Justino; nove são mulheres (quatro coordenadoras e cinco porta-vozes); deputados são apenas três (José Matos Correira, Cristóvão Norte e Ricardo Baptista Leite); e membros da direção de Rio são cinco, incluindo os vices Salvador Malheiro (porta-voz para o Ambiente),  Isabel Meirelles (coordenadora dos Assuntos Europeus) e, claro, David Justino que, além da presidência do organismo vai ficar encarregue da coordenação da pasta da Educação, Cultura, Juventude e Desporto.

Também Álvaro Amaro, que faz parte do inner circle de Rio enquanto responsável pelas negociações com o Governo no dossiê da descentralização, será um dos coordenadores, neste caso para a Reforma do Estado, Autonomia e Descentralizção, e Maria da Graça Carvalho, vogal da comissão política de Rio e ex-ministra da Ciência de Durão Barroso, ficará com a coordenação do Ensino Superior, Ciência e Tecnologia.

Questionado sobre se terá tempo de pôr em marcha uma estrutura deste género até às eleições legislativas de 2019, Rio admite que a taxa de sucesso não depende só de si, ou da cúpula nacional de 32 personalidades, mas depende, sobretudo, das “dinâmicas distritais” que deverão ser criadas para interagir com o organismo nacional. Algumas distritais já “estão a trabalhar” na criação dessas secções temáticas, mas Rui Rio admite que, “num tão curto espaço de tempo”, “o nível de êxito pode ficar em 40, 50 ou 60%”.

O presidente do partido sozinho não tem tempo para isso, isto só funcionará de acordo com a dinâmica das distritais. Vamos incentivar as comissões políticas distritais a criar estes setores, mas o nível de êxito não se pode medir entre zero, que seria inadmissível, e 100%, porque isso seria impossível. Vamos ver se, neste curto espaço de tempo, ficamos em 40, 50 ou 60% de êxito”, disse, acrescentando que se correr muito bem, “os outros partidos terão de fazer igual senão ficam atrás”.

A ideia, explicou, é, não só que estes coordenadores e porta-vozes pensem as respetivas áreas temáticas, e apresentem propostas eleitorais nesse sentido, mas também que o CEN seja “desdobrado” à escala distrital — cada distrito, ou conjunto de distritos, deve ter uma equipa específica para cada área (com a obrigatoriedade de incluir pelo menos um deputado). A maior parte das secções nacionais funcionará em Lisboa, explicou Rio, mas duas terão sede em Coimbra – Reforma do Estado e Justiça -, outras duas ficarão no Porto – Infraestruturas e Solidariedade –, uma ficará sediada em Viseu – Agricultura – e uma outra em Aveiro – Ambiente, Energia e Natureza. As Finanças Públicas funcionarão de forma “mista”, tendo o coordenador, Álvaro Almeida, no Porto, e o porta-voz, Joaquim Sarmento, em Lisboa.

A primeira reunião do Conselho Estratégico Nacional vai decorrer já no próximo dia 21 de abril, em Coimbra, mas Rio admite que o CEN não funcionará, por norma, em regime de “plenário aberto”, mas sim em secções temáticas distritais e nacionais. Questionado sobre se a comunicação social se deve dirigir aos porta-vozes quando o tema estiver relacionado com a sua pasta, Rio rejeitou essa ideia — mantendo a centralização em si mesmo. Dirigem-se à dra. Florbela Guedes, que por sua vez indicará quem fala para cada tema“, brincou, referindo-se à assessora de imprensa do partido.

Os ex-ministros (três da década de 80)

Em seis ex-ministros, três são da década de 80 e inícios da década de 90: Ângelo Correia, ex-ministro da Administração Interna de 1981 a 1983, no Governo de Pinto Balsemão (que fica com a pasta da Defesa); Arlindo Cunha, ex-ministro da Agricultura de Cavaco Silva entre 1990 e 1994 (que fica com a pasta da Agricultura); e José Silva Peneda, ex-presidente do Conselho Económico e Social e ex-ministro do Emprego e da Segurança Social de Cavaco Silva (que fica com a pasta da Solidariedade e Sociedade de Bem-Estar).

Além destes três nomes, há ainda dois ex-ministros de Durão Barroso: Maria da Graça Carvalho, ex-ministra da Ciência e Ensino Superior (que fica com a pasta equivalente); Luís Filipe Pereira, ex-ministro da Saúde de Durão Barroso; e o próprio David Justino, ex-ministro da Educação de Durão Barroso e ex-consultor para os Assuntos Sociais de Cavaco Silva em Belém, que além de presidir ao organismo fica também com a coordenação da Educação. Jorge Neto, que vai ser porta-voz da Defesa, foi secretário de Estado da Defesa e Antigos Combatentes entre 2004 e 2005, no governo de Santana Lopes.

Luís Todo Bom, que será porta-voz para a Economia, Trabalho e Inovação, foi também secretário de Estado da Indústria e Energia do governo de Cavaco; e Joaquim Sarmento, que vai ser o porta-voz das Finanças Públicas foi assessor económico de Cavaco na Presidência da República, entre 2012 e 2016.

A quota dos deputados

Entre 16 coordenadores, apenas um é deputado: José Matos Correia, que fica com a coordenação da Segurança Interna e Proteção Civil. Nos porta-vozes há outros dois deputados: Ricardo Baptista Leite, que será porta-voz para a área da Saúde, e Cristóvão Norte, deputado eleito por Faro, que será o porta-voz para os Assuntos do Mar.

Segundo Rio, haverá ainda um espécie de quota para os deputados nas secções temáticas distritais: cada secção distrital formará uma “equipa pequena onde obrigatoriamente estará um deputado”. Ficam de foram desta obrigatoriedade as áreas onde já há representação de deputados ao nível nacional.

Além destes, também os deputados António Leitão Amaro e Bruno Coimbra vão ter lugares de destaque, enquanto “adjuntos” de David Justino na coordenação nacional do organismo.

Os (mais) amigos de Rio

Rio puxou para o Conselho Estratégico Nacional alguns vices e membros da sua comissão política nacional. É o caso dos vices Salvador Malheiro e Isabel Meirelles (além de David Justino), e dos vogais da comissão política: Maria da Graça Carvalho, Álvaro Amaro e Cláudia André (porta-voz na Educação).

Além destes, Rio chamou para o organismo nacional alguns nomes particularmente chegados a si: é o caso de Vladimiro Feliz, que será porta-voz para as Infraestruturas e Coesão do Território, e que tem ligações à câmara do Porto (foi Administrador da Fundação Porto Social, Presidente do Conselho de Administração da Associação Porto Digital, Presidente da Direção da Associação de Turismo do Porto, Presidente do Conselho de Administração da Porto Lazer EM); e de António Tavares, atual provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto, que será o porta-voz da pasta da Solidariedade.

Também Álvaro Almeida, que foi candidato do PSD à câmara do Porto nas últimas eleições e se tornou militante do partido no início do ano pela mão de Rio, será o coordenador da área das Finanças Públicas.

Os independentes (e os que ainda não foram contactados)

Independentes, isto é, sem filiação partidária, há oito, segundo contabilização feita pela assessoria de Rui Rio. São eles: Diana Soller, José Manuel Moura, Rui Vinhas da Silva, Joaquim Sarmento, Licínio Lopes Martins, Mónica Quintela, Regina Salvador e Ana Isabel Miranda.

De acordo com Rui Rio, haverá ainda uma comissão consultiva que funcionará em articulação com as comissões permanentes sectoriais, e que será composta por “personalidades independentes de reconhecido mérito”, mas esses convites ainda não foram feitos. “As pessoas da comissão consultiva ainda não estão convidadas, temos uma lista para contactar mas ainda não está ninguém contactado”, disse Rio aos jornalistas.

Eis os nomes na íntegra, com uma nota biográfica para cada um disponibilizada no site do PSD:

Assuntos Europeus

Coordenador: Isabel Meirelles

Porta-voz: Mara Ribeiro Duarte

Relações Externas

Coordenador: Tiago Moreira de Sá

Porta-voz: Diana Soller

Finanças Públicas

Coordenador: Álvaro Almeida

Porta-voz: Joaquim Sarmento

Reforma do Estado, Autonomias e Descentralização

Coordenador: Álvaro Amaro

Porta-voz: João Paulo Barbosa de Melo

Defesa Nacional

Coordenador: Ângelo Correia

Porta-voz: Jorge Neto

Justiça, Cidadania e Igualdade

Coordenador: Licínio Lopes Martins

Porta-voz: Mónica Quintela

Segurança Interna e Proteção Civil

Coordenador: José Matos Correia

Porta-voz: José Manuel Moura

Agricultura, Alimentação e Florestas

Coordenador: Arlindo Cunha

Porta-voz: João Paulo Gouveia

Infraestruturas e Coesão do Território

Coordenador: Falcão e Cunha

Porta-voz: Vladimiro Feliz

Ambiente, Energia e Natureza

Coordenador: Ana Isabel Miranda

Porta-voz: Salvador Malheiro

Economia, Trabalho e Inovação

Coordenador: Rui Vinhas da Silva

Porta-voz: Luís Todo Bom

Saúde

Coordenador: Luís Filipe Pereira

Porta-voz: Ricardo Baptista Leite

Solidariedade e Sociedade de Bem-Estar

Coordenador: Silva Peneda

Porta-voz: António Tavares

Educação, Cultura, Juventude e Desporto

Coordenador: David Justino

Porta-voz: Cláudia André

Ensino Superior, Ciência e Tecnologia

Coordenador: Maria da Graça Carvalho

Porta-voz: Filipa Roseta

Assuntos do Mar

Coordenador: Regina Salvador

Porta-voz: Cristóvão Norte

O Império Americano do Ocidente em crise

por estatuadesal

(Manlio Dinucci, 11/04/2018)

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Manlio Dinucci interpreta as mentiras britânicas do caso Skripal e da Guta oriental como a contrapartida europeia do que foram as mentiras dos Estados Unidos sobre o Iraque. Nos dois casos, salienta, os Ocidentais esforçam-se por manter o domínio do mundo, perante o aumento de poder da Rússia e da China.

Guerra dos impostos alfandegários dos EUA contra a China e as novas sanções contra a Rússia, são sinais de uma tendência que vai mais além dos acontecimentos actuais. Para compreender qual é, devemos recuar trinta anos.

Em 1991, os Estados Unidos, vencedores da Guerra Fria e da primeira guerra após a Guerra Fria, declararam ser “o único Estado com uma força, um prestígio e uma influência verdadeiramente global, em qualquer esfera - seja ela política, económica e militar” -”e que, no mundo “não existe nenhum substituto para a liderança americana”.

Confiando na hegemonia do dólar, no alcance global das suas multinacionais e dos seus grupos financeiros, sob controlo de organizações internacionais (FMI, Banco Mundial, OMC/WTO), os Estados Unidos promovem o “comércio livre” e a “livre circulação de capitais” à escala global, reduzindo ou eliminando impostos e regulamentações. As outras potências ocidentais movem-se no seu encalço.

A Federação Russa, em profunda crise após a desagregação da URSS, é considerada por Washington como um território fácil de conquistar, para ser desmembrada para melhor controlar seus grandes recursos. A China, que se abre à economia de mercado, também parece estar apta a ser conquistada com capital e produtos dos EUA e explorada como um grande reservatório de mão-de-obra barata. Trinta anos depois, o “sonho americano"”do domínio incontestado do mundo, desvaneceu-se. A Rússia, organizou uma frente interna de defesa da soberania nacional, superou a crise recuperando o estatuto de grande potência. A China, a “fábrica do mundo” na qual produzem, também, as multinacionais dos EUA, tornou-se o maior exportador de mercadorias do mundo e faz, cada vez mais, investimentos no estrangeiro. Hoje desafia a supremacia tecnológica dos Estados Unidos.

O projeto de uma nova Rota da Seda - uma rede rodoviária, ferroviária e marítima entre a China e a Europa, através de 60 países - coloca a China na vanguarda do processo de globalização, enquanto os Estados Unidos se encerram, erguendo barreiras económicas. Washington olha com crescente preocupação, a parceria económica e política entre a Rússia e a China, que desafia a própria hegemonia do dólar.

Não conseguindo opor-se a este processo, apenas com expedientes económicos, os Estados Unidos usam os militares. O golpe na Ucrânia e a consequente escalada nuclear na Europa, a mudança de estratégia na Ásia, as guerras no Afeganistão e na Síria, fazem parte do plano pelo qual os EUA e as outras potências ocidentais tentam manter o domínio unipolar num mundo que se está a tornar multipolar. No entanto, esta técnica está a sofrer uma série de imprevistos como num jogo de xadrez.

A Rússia e a China, submetidas à crescente pressão militar, reagiram fortalecendo a cooperação estratégica. A Rússia não só foi só encostada às cordas, mas, com um movimento de surpresa, interveio militarmente a apoiar o Estado sírio que, nos planos dos EUA/NATO, deveria ter terminado juntamente com o líbio. No Afeganistão, os EUA e a NATO estão atolados numa guerra que dura há mais de 17 anos.

Como reacção a esses fracassos, intensifica-se a campanha para fazer a Rússia parecer um inimigo perigoso, usando também o argumento de falsa bandeira dos ataques químicos na Inglaterra e na Síria. A mesma técnica foi usada em 2003, quando, para justificar a guerra contra o Iraque, o Secretário de Estado, Colin Powell apresentou à ONU, a “evidência” de que o Iraque possuía armas de destruição em massa.

O mesmo Powell, em 2016, teve de admitir a inexistência de tais armas. No entanto, durante 15 anos, a guerra causou mais de um milhão de mortes.


Fonte aqui

Faça e vá, não tem desculpa!

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por Ana Moreno

Digam lá, passa pela cabeça de alguém - a menos que tenha gigantescos cifrões luminosos no lugar das órbitas, com prolongamentos para as circunvoluções cerebrais - nesta altura do campeonato deste massacrado planeta, andar a fazer furos para prospecção de petróleo??? E, neste caso mais imediato (mas estão concessionadas vastas partes da costa e algumas regiões do território terrestre português), em águas profundas a cerca de 46 quilómetros de Aljezur, no Algarve???

Pois é isso que intenta o consórcio internacional ENI/Galp, com o beneplácito do governo português. Um governo português traidor do futuro dos cidadãos e do planeta, enquanto faz, com falinhas mansas, promessas para enganar tolos na Conferência do Clima das Nações Unidas.

Hipocrisia a combinar tão bem com os sinais do tempo.

Há duas coisas urgentes a fazer:

  1. Participar na consulta pública que corre até segunda-feira para decidir se o projecto de sondagem de petróleo ao largo de Aljezur deve ser submetido a procedimento de Avaliação de Impacte Ambiental (AIA)... E como não???     Pode fazê-lo em: participa.pt ou anossavoz.pt.
  2. Ir manifestar-se no sábado, 14 de Abril, na Praça Camões, em Lisboa. “Enterrar de Vez o Furo, Tirar as Petrolíferas do Mar”. Contra a brutalidade das petrolíferas e das energéticas e o servilismo vendido dos governos. Pelo futuro.

É obrigatório.

“Bono”, o cão que “desaparece” para guiar pessoas em pleno Gerês

por admin

“Bono” voltou a “fazer das suas” e desapareceu durante três dias, levando a apelos na redes sociais. À semelhança da última vez, onde nos inícios de Fevereiro de 2016 decidiu orientar o ultramaratonista Carlos Sá ao longo de 55 quilómetros na Serra Amarela, no Parque Nacional Peneda Gerês, Bono voltou aparecer, no sítio do costume para apanhar “boleia” até casa.

Cruzado de labrador com serra-da-estrela, “Bono” não é um cão qualquer. Vive no Parque Campismo de Cerdeira, em Campo de Gerês, concelho de Terras de Bouro, e é conhecido de todos os turistas porque decide acompanhar os montanhistas nos trilhos só acessíveis aos mais corajosos..sem avisar e por vezes levando a alertas de desaparecimento.

Depois de ter andando com Carlos Sá, o conhecido “ultra”, “Bono” decidiu “orientar” dois pedestrianistas que atravessaram a Serra Amarela, até ao Lindoso, entrando noutro distrito via concelho de Ponte da Barca.

«Apesar de chegar cansado, “disse” que desta vez gostou muito da experiência. Que os tipos eram porreiros, deram-lhe da comida deles e nunca o abandonaram. Há noite, dormiu abrigado debaixo de uma capa e que se divertiu muito na neve», revela José Carlos Pires, do Parque de Campismo de Cerdeira.

«Quando chegou a Lindoso, guiou-os até ao Café Restaurante S. Martinho, onde tinha ficado hóspedado da outra vez. Ali foi logo reconhecido por um cliente», acrescenta, dando conta de um novo “final feliz” do cão que “se preocupa com os montanhistas”.

Bono já tinha sido notícia em 2016

Carlos Sá, ultramaratonista português, efectuava um treino 55km nos trilhos do Trail World Championship, no Gerês, quando foi surpreendido por um novo companheiro. De pêlo preto e olhar meigo, o labrador cruzado com serra da estrela percorreu lado a lado com Carlos Sá cerca de 15 km.

“Encontrámos mais um ‘atleta’ que nos acompanhou durante cerca de 15km, encontrou novos amigos na aldeia seguinte e não voltou”, escreveu Carlos no Facebook. Ao Notícias Ao Minuto o atleta conta que é normal encontrar cães na serra que o acompanham, mas este era-lhe ainda desconhecido.

"Desconhecia o cão. Não sabia se estava abandonado ou se não. Ele ouviu-nos a correr e veio atrás de nós", afirma. "Quando aumentei o ritmo, ele ficou para trás e eu pensei que fosse porque estivesse perto de casa", acrescenta.

De regresso a casa, e ao consultar as redes sociais, Carlos jamais imaginara que o animal que o acompanhou estava afinal desaparecido. Nas redes sociais encontrou um pedido de ajuda para encontrar um cão, de nome Bono. E Carlos não teve dúvidas de que o animal da fotografia era o que o acompanhara durante o treino.

“O Bono é um cão de nove meses muito dócil que gosta muito de caminhar e conviver”, contou, por sua vez, o dono do animal ao Notícias ao Minuto. “Ele costuma andar solto e no sábado estava a brincar com outros cães quando mais tarde reparámos que tinha desaparecido”, diz José Carlos Pires, revelando que é normal o cão afastar-se de casa para brincar com outras pessoas. No sábado, contudo, não fez o que era normal: regressar ao lar.

No dia seguinte foi lançado um pedido de ajuda para encontrar Bono, que foi partilhado por centenas de outras pessoas. E os donos “percorreram as aldeias em redor à procura do animal”, nunca suspeitando que este poderia ter ido tão longe - percorreu a distância entre o Campo do Gerês e o Lindoso - apesar de “ser um animal habituado a caminhadas e com um bom treino”

A incessante procura pelo animal acabaria com o telefonema de Carlos Sá, que indicou a José onde tinha encontrado Bono.

“O Bono já apareceu!!!! Um grande obrigada a todas as pessoas que ajudaram a passar a palavra, que fez com que o Bono fosse encontrado e voltasse para a família!”, anunciaram, felizes, os donos do animal no Facebook.

O cão havia sido acolhido, no domingo à noite, pela dona de um restaurante, e conta o dono que quando o viu percebeu que Bono sabia que tinha “feito asneira”. Apesar do susto, o dono, ciente das necessidades do animal, diz que não terá cuidados especiais para impedir novas fugas. “Está habituado a viver em liberdade e assim continuará. Irá aprender a lição por si”, afirma José.

Já para Carlos Sá há uma certeza: “a continuar assim o Bono ainda vai ser apurado para o Campeonato do Mundo de Trail”. Para prová-lo, partilhou no seu Facebook o vídeo que gravou no dia em que Bono 'invadiu' o seu treino.

Fontes: diariodominho.pt e noticiasaominutos.com

Afinal a dívida é sustentável?

por estatuadesal

(Alexandre Abreu, in Expresso Diário, 12/04/2018)

abreu

Os antigos ministros das Finanças Campos e Cunha, Teixeira dos Santos e Maria Luís Albuquerque, em audição parlamentar nesta terça-feira, afirmaram considerar que a dívida pública portuguesa é sustentável e que os desenvolvimentos dos últimos anos vieram desmentir o ‘manifesto dos 74’, que em 2014 afirmava a necessidade de uma reestruturação. Parece-me uma perspectiva bastante míope e até perigosa.

Num qualquer período, a dívida pública em percentagem do PIB aumenta ou reduz-se na medida do défice ou superávite primário, acrescido do produto do stock da dívida existente pela diferença entre a taxa de juro real média da dívida existente e a taxa de crescimento do PIB. Isso implica que quando o stock da dívida é de cerca de 125% do PIB, como é o caso em Portugal, a dinâmica da dívida depende muito fortemente da diferença entre o nível das taxas de juro e o ritmo de crescimento da economia – mais ainda do que do próprio saldo primário.

Com juros historicamente baixos, crescimento robusto, alguma inflação e superávites primários, o stock da dívida pode até reduzir-se nalguns pontos percentuais do PIB ao ano. Mas a probabilidade desta conjugação de circunstâncias se manter tempo suficiente para reduzir significativamente o stock da dívida portuguesa é baixa. Nos anos mais recentes, mesmo com todos estes factores favoráveis, o stock em percentagem do PIB pouco diminuiu. E basta que os juros regressem para níveis mais próximos do que é historicamente normal para que nem estes saldos primários, ainda que prolongados por muito tempo, tenham hipótese de assegurar uma trajectória descendente.

Para além disso, mesmo na actual conjuntura favorável está à vista o que é que superávites primários de 3% ou 4% implicam. Segundo a base de dados AMECO da Comissão Europeia, o investimento público em 2017 foi o mais baixo de toda a União Europeia – menos de um terço do nível de há vinte anos. A cada semana que passa surgem novas demonstrações das graves carências por que passa o Serviço Nacional de Saúde: esta semana foram as condições do serviço de pediatria oncológica do Hospital de S. João e as listas de espera de mais de dois anos para consultas de especialidade em mais de uma dezena de hospitais do país.

A sustentabilidade da dívida pública portuguesa tem por isso dois problemas. O primeiro é que a trajectória de redução do stock actualmente em curso é muito dependente de circunstâncias extraordinárias e vulnerável a um qualquer choque externo ao nivel do abrandamento do crescimento ou do aumento dos juros. O segundo é que mesmo que por milagre tal choque pudesse ser evitado durante uma ou duas décadas, os saldos primários persistentes necessários para trazer o stock da dívida de regresso a níveis de não vulnerabilidade teriam efeitos sociais devastadores. A sustentabilidade da dívida não é um problema meramente matemático, mas político e social.

Portugal não está sozinho neste barco. Os níveis da dívida pública de Itália, Espanha, Grécia e Chipre andam pelos 130%, 100%, 175% e 105% do PIB, mais coisa menos coisa. Este não é um problema de um, é um problema de muitos, esses muitos incluem a Itália e é um problema que se tornará explosivo assim que a conjuntura voltar a mudar. Isso quer dizer que o problema da dívida pública da periferia da zona Euro muito provavelmente não vai ser ultrapassado através de décadas de aperto de cinto em todos estes países, mas por via do reconhecimento político da inevitabilidade de reestruturações.

Portugal deve preparar-se para este debate e, de preferência, procurar antecipá-lo. Agora, o que não faz sentido, e pelo contrário é claramente nefasto, é colocar todas as fichas no cenário improvável da manutenção por tempo suficiente das actuais condições extraordinárias, afirmando a indesejabilidade de uma reestruturação e indo além das exigências de Bruxelas ao nivel da consolidação orçamental. Fazê-lo tem uma reduzida probabilidade de ajudar a resolver o problema no futuro e contribui, no imediato e de forma certa, para a continuada degradação de serviços públicos essenciais.