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domingo, 15 de abril de 2018

Informação aos media do chefe do Directório Operacional Principal do Estado Maior russo Informação aos media do chefe do Directório Operacional Principal do Estado Maior russo

por estatuadesal

(Sergei Rudskoy, in Resistir, 14/04/2018)

rudskoy

(Eu sei que Justiça parece ser uma palavra cada vez mais desgastada. Um dos princípios da Justiça é ouvir ambas as partes. Sobre o ataque à Síria a comunicação social só nos transmite a versão dos EUA e de quem atacou. Que foi um ataque cirúrgico de alcance limitado, dirigido a instalações de armas químicas. Eu achei desde logo estranho gastarem-se 109 mísseis para destruir 3 locais. Um desperdício...

Afinal, segundo o General russo, nada mais falso: foram lançados mísseis sobre aeroportos e instalações militares sírias, só que grande parte foi rechaçada pela defesa russa. A ser verdade - e tal tem alguma lógica -, tratou-se de um ataque falhado, que os media ocidentais tentam transformar num grande sucesso.

Sempre me pareceu estranho que Trump tivesse tanto ânimo e preocupação com o uso de armas químicas e fosse só isso o que queria destruir. Não estou a ver Trump assim tão preocupado com o destino das gentes supostamente atingida por tais armas.

Comentário da Estátua de Sal, 15/04/2018)


Os EUA juntamente com seus aliados efectuaram um ataque de mísseis através de meios aéreos e navais a instalações militares e civis da República Árabe Síria em 14 de Abril no período das 3h42 até às 5h10 (hora de Moscovo).

Os sistemas de defesa aérea russos nas bases aéreas Khmeimim e Tartus localizaram e controlaram em tempo hábil todos os lançamentos aéreos efectuados pelos EUA e pelo Reino Unido.

O anunciado avião francês não foi registado pelos sistemas de defesa aérea russos.

Foi relatado que foram utilizados durante a operação aviões B-1B, F-15 e F-16 da USAF, assim como aviões Tornado da RAF britânica sobre o Mar Mediterrâneo, e os [navios] USS Laboon e USS Monterey localizados no Mar Vermelho.

Os bombardeiros estratégicos B-1B aproximaram-se de instalações sobre o território sírio perto de al-Tarif, ilegalmente tomada pelos EUA.

Um certo número de campos aéreos militares, instalações industriais e de investigação sofreram o ataque com bombas-mísseis.

Como informação preliminar, não há baixas civis nem perdas entre o Exército Árabe Sírio (EAS). Nova informação será especificada e tornada pública.

Como é evidente pelos dados disponíveis, 103 mísseis de cruzeiro foram lançados, incluindo mísseis de base naval Tomahawk bem como bombas aéreas guiadas GBU-38 disparadas dos aviões B-1B; os aviões F-15 e F-16 lançaram mísseis ar-superfície.

Os aviões Tornado da RAF britânica lançaram oito mísseis Scalp EG.

Os sistema de defesa aérea sírios, os quais são primariamente os sistemas AD fabricados pela URSS, contiveram com êxito os ataques aéreos e navais.

No total, 71 mísseis de cruzeiro foram interceptados. Os sistemas AD sírios S-125, S-200, Buk, Kvadrat e Osa estiveram envolvidos para repelir o ataque.

Isto prova a alta eficiência do armamento sírio e as qualificações profissionais do pessoal sírio treinado pelos especialistas russos.

Ao longo dos últimos dezoito meses, a Rússia recuperou completamente os sistemas de defesa aérea sírios e continua o seu desenvolvimento.

Deve ser enfatizado que vários anos atrás, devido a fortes instâncias dos nossos parceiros ocidentais, a Rússia optou por não fornecer os sistemas AD S-300 à Síria. Considerando o incidente recente, a Rússia acredita possível reconsiderar esta questão não só em relação à Síria como também a outros países.

O ataque alvejou também bases aéreas sírias. A Rússia registou os seguintes dados:

Quatro mísseis tiveram como alvo o Aeroporto Internacional de Damasco; 12 mísseis – o aeródromo Al-Dumayr, todos os mísseis foram derrubados.

18 mísseis tiveram como alvo o aeródromo Blai, todos os mísseis foram derrubados.

12 mísseis tiveram como alvo a base aérea Shayrat, todos os mísseis foram derrubados. Nenhuma base aérea foi afectada pelo ataque.

Cinco de nove mísseis destinados ao não ocupado aeródromo Mazzeh foram derrubados.

Treze dos dezasseis destinados ao aeródromo de Homs foram derrubados. Não há destruições pesadas.

No total, 30 mísseis tiveram como alvo instalações próximas de Barzah e Jaramana. Sete deles foram derrubados. Estas instalações, alegadamente relacionadas com o chamado "programa militar químico de Damasco" foram parcialmente destruídas. Contudo, tais objectos não eram utilizados desde há muito, de modo que não havia nem pessoas nem equipamento ali.

Os sistemas de defesa aérea russos foram alertados. Caças a jactos de combate agora patrulham o ar.

Não houve mísseis de cruzeiro a entrarem na área AD de responsabilidade russa. Os sistemas de defesa aérea russos não foram empregues.

A Rússia considera que ataque como uma resposta ao êxito das Forças Armadas Sírias no combate ao terrorismo internacional e na libertação do seu território, ao invés de uma resposta ao alegado ataque químico.

Além disso, o ataque verificou-se no dia em que a missão especial da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPCW) devia começar a trabalhar na investigação do incidente na cidade de Duma onde alegadamente o ataque químico teria ocorrido.

Deve ser enfatizado que não há instalações de produção de armas químicas na Síria e isto tem sido documentado pela OPCW.

A agressão americana prova que os EUA não estão interessados na objectividade das investigações em curso, procuram arruinar o acordo pacífico na Síria e desestabilizar o ambiente no Médio Oriente – e tudo isto nada tem a ver com declarados objectivos de contenção do terrorismo internacional.

Actualmente a situação em Damasco e outras zonas povoadas é avaliada como estável. O ambiente está a ser monitorado.

No prelúdio de um novo eixo do mal?

No prelúdio de um novo eixo do mal?

por estatuadesal

(Major-General Carlos Branco, in Expresso Diário, 15/04/2018)

CBRANCO

Encontramo-nos no limiar de uma nova era nas relações internacionais cujos contornos ainda não conhecemos, em que o caso Skripal funcionou como um “catalisador específico”, recorrendo ao léxico da geoestratégia. Por falta de nome chamamos-lhe nova guerra fria, mas na realidade é algo diferente e seguramente muito mais perigoso e instável do que a guerra fria que vivemos e que conhecemos, ao que se deve adicionar a (i)maturidade de alguns dos protagonistas envolvidos, com poder para decidir sobre o nosso futuro coletivo. Nada será como dantes.

Ao ter servido para desencadear uma campanha global anti-Rússia, conduzindo-nos para uma crise sem precedentes, o caso Skripal irá provavelmente ter um efeito nas relações internacionais de proporções semelhantes às do 11 de Setembro. Esta nova situação caracteriza-se por uma hostilidade contra a Rússia e a China substituindo a hostilidade contra o terrorismo islâmico radical, assim como pela subversão das regras reguladoras das relações internacionais. Os desenvolvimentos recentes refletem, em parte, a nova prioridade de desafios definida na Estratégia Nacional de Segurança dos Estados Unidos adotada em dezembro de 2017, que considera a China e a Rússia – apelidadas “potências revisionistas” – os principais desafios – leia-se ameaças – dos Estados Unidos, as quais pretendem construir um mundo antiético que choca com os interesses e valores norte-americanos. O terrorismo aparece agora em último lugar no ordenamento dos desafios, atrás dos Estados párias (Irão e Coreia do Norte).

Devemos adicionar a esta equação outros dados igualmente preocupantes. Um deles será seguramente a nova postura nuclear norte-americana e a convicção dentro de determinados círculos que é possível conduzir uma guerra convencional ou nuclear tática com a China ou com a Rússia sem escalar para o patamar estratégico. Para lhe aumentar a complexidade, o ministro da Defesa chinês afirmou que a China está do lado da Rússia na questão Síria. Faz portanto sentido perceber não só a ligação entre o caso Skripal e a crise provocada pelo emprego de armas químicas na Síria, como a possibilidade de ser inserirem neste novo “paradigma”, se a expressão se aplica. Ambos os acontecimentos parecem enquadrar-se numa estratégia de isolamento global da Rússia. Claro que nos centramos apenas numa faceta do problema, que se desenrola em várias frentes, nomeadamente na económica através das sanções, que se têm vindo a agravar e a causar mossa nas empresas e na economia russa, cujo objetivo final é fazer soçobrar a Rússia.

Um ataque à Síria – dependendo dos objetivos e dimensão – pode colocar a Rússia numa situação difícil, entre a espada e a parede. Numa posição incomportável. Em resposta às declarações de Alexander Zasypkin, o enviado russo a Beirut, sobre a reação russa a um ataque americano à Síria - as forças russas abaterão os misseis e atacarão as posições de onde forem lançados -, recorrendo ao Twitter, Trump avisou os russos para se prepararem, porque os misseis americanos irão seguir, “nice, and new and “smart”.

Como referiu Staffan de Mistura, o enviado especial das Nações Unidas para a Síria, a guerra na Síria evoluiu de uma crise nacional e regional para uma ameaça à paz internacional, cujos efeitos podem ter consequências devastadoras e inimagináveis. Se calhar fazia sentido, antes de se carregar no botão, fazer-se uma investigação independente e urgente aos alegados ataques químicos na Síria. É tecnicamente possível fazê-lo se houver vontade política. Parece que começa a haver.

O confronto entre o Ocidente e a Rússia (e China) produziu já uma vítima: comprometeu a ideia de Europa e da sua autonomia estratégica. Os EUA tornaram-se o elemento central e aglutinador de uma entidade difusa chamada Ocidente que lidera uma cruzada contra o novo eixo do mal composto pela China e pela Rússia, na qual a União Europeia sem voz e sem liderança se esvaiu, comportando-se como um ator secundário de menor importância.

A França contribuiu decisivamente para isso colocando, como é seu hábito, o seu interesse nacional à frente do interesse europeu, procurando substituir-se à Alemanha como o interlocutor privilegiado dos Estados Unidos em matéria de assuntos europeus. Por seu lado, o Reino Unido beneficiou destas crises, compensando assim a perda de capacidade para influenciar as decisões europeias no capítulo da Política Comum de Segurança e Defesa resultante do “Brexit”.

O caso Skripal, além das evidentes fragilidades do álibi, tem de ser analisado numa perspetiva política e sobretudo geoestratégica. Em última análise, esta última é a que conta se pretendermos perceber o seu alcance. Este tipo de acontecimentos não ocorre no vácuo político. Acontecem em momentos escolhidos e subordinados a uma estratégia, e pretendem produzir um “efeito”, utilizando a linguagem própria das operações psicológicas.

É hoje irrelevante saber se o principal objetivo desta crise diplomática era cancelar a realização do campeonato mundial de futebol (o que não significa que não possa vir a ser um dano colateral) ou a necessidade de Theresa May ganhar o apoio da população e do parlamento para a contenção da Rússia, desviando a atenção da sua calamitosa situação interna, ou se a Rússia é o único produtor de Novitchok. Outros valores se sobrepõem a estas discussões que passaram para segundo plano.

É sobejamente conhecida a célebre expressão do congressista norte-americano que afirmou ser “a verdade a primeira vítima da guerra”. Apesar da concordância, estamos sempre disponíveis para embarcar num novo engodo, porque nem sempre é fácil identificar o genocídio da verdade, dado o poder das narrativas. Os factos e as evidências na realidade pouco importam. Os pretextos prevalecem sobre a verificação de culpabilidade. O importante é a narrativa, e a consumação dos factos resultantes dessa narrativa. Parece ter sido este o raciocínio que prevaleceu no caso Skripal, razão da vaga de solidariedade conhecida.

Moldar as opiniões públicas e torná-las recetivas a políticas belicistas com base numa justificação ética insere-se igualmente nos “efeitos” a produzir. É insuficiente ficar-se pelo facto consumado. Há que dar o passo seguinte, subir de tom e envolver o emprego do elemento militar. Trata-se agora de alterar a correlação de forças no terreno através do uso da força. É aqui que se encaixa a utilização das armas químicas na Síria, invariavelmente atribuída ao Governo sírio pelo “independente” Observatório Sírio para os Direitos Humanos sediado em Londres.

Debates de suprema importância são sistematicamente sonegados, como seja a descoberta pelas forças sírias de dois laboratórios de armas químicas na posse dos rebeldes a 12 e 13 de março, respetivamente em Aftris e Chifonya, ambos na zona leste de Ghouta, ou a reflexão sobre a coincidência das acusações de emprego de armas químicas surgir sempre quando as forças rebeldes estão em vias de serem derrotadas, o que contraria frontalmente o seu emprego tático.

Em última análise, cento e cinquenta anos depois, as dissertações de Clausewitz sobre o princípio da incerteza e da atrição permanecem válidas. Serve pouco evocar com pompa e circunstância os 100 anos do fim de uma guerra que se supunha durar algumas semanas, se não houver uma mudança radical na forma de encarar a gestão e a resolução de conflitos nas relações internacionais, passando a adotar uma abordagem de soma positiva em detrimento da soma nula. Enquanto não se mudar de paradigma, a humanidade continuará com a espada a zurzir sobre a cabeça.

Segredo Desvendado?

Segredo Desvendado?

por estatuadesal

(Dieter Dillinger, 14/04/2018)

incendio

Parece que a Justiça ou o Cartel da Comunicação levantou o eventual segredo sobre os INCENDIÁRIOS que nada nos diz ser verdadeiro.

Assim, o Expresso de hoje vem com a notícia que 309 INCENDIÁRIOS foram detidos (+165% que no ano anterior) e constituídos arguidos 1099 pessoas (+532%) e aplicadas 7766 contraordenações (+162%).

Ao todo estiveram na origem dos 11.221 incêndios, segundo o Expresso, e 16.450 de acordo com as estatísticas dos bombeiros, um total de umas 9.174 pessoas.

Será pois fácil saber quem foram os grandes empresários mdeireiros que pagaram e mandaram incendiar o Pinhal de Leiria e um total de 500 mil hectres de floresta que representa mais de 5% do território pátrio.

Nenhum país do Mundo pode apagar mais de 500 incêndios por dia num total entre 11.000 e 16.550 causados por 9.174 pessoas.

Os bombeiros fazem a diferença entre fogachos que são rapidamente apagados, fogos que atingem alguma dimensão, mas não muito, e INCÊNDIOS que foram os gigantescos que vimos nas televisões e estes é que foram mais de 11.000.

Que venha o palerma do Viegas e outros dizer onde é que é possível enfrentar tão gigantesco TERRORISMO. A condenação dos detidos e arguidos deve ser por TERRORISMO INCENDIÁRIO.

Dá a impressão que a Joana Marques Vidal sentiu-se com o rabo preso pela reportagem da TVI e resolveu lançar os números para fora.

Segundo um amigo que trabalha na TVI, o assunto da reportagem era conhecido entre os jornalistas pois a autora levou bastante tempo a investigar acompanhada de pessoal com câmaras.

Aparentemente, a PGR escutava os telefonemas, incluindo os que ameaçavam de morte a jornalista e outras pessoas daquela estação. Também da parte da IURD houve muitas ameaças.

A Justiça também disse que 253 reclusos cumpriam pena por crime de incêndio em Junho de 2017, mas nada transpirou para fora ou os meios de comunicação não quiseram publicar.

Toda a gente sabe que uma condenação não serve só para castigar, mas mais para dissuadir outras pessoas a cometerem o crime em causa e o próprio condenado não sair para voltar a fazer o mesmo. Sim, terão sido detidos 110 reincidentes.

Mantiveram tudo no segredo e foram milhares de CRIMES que causaram prejuízos de milhares de milhões de euros aos CONTRIBUINTES. E ainda querem os magistrados mais gente a trabalhar nos tribunais e ordenados mais elevados. Que sejam mais sérios com a PÁTRIA e a Joana deve compenetrar-se que o papel dela é a defesa da PÁTRIA e não as suas eventuais ideias de direita.

Ao contrário disso denunciaram presumíveis crimes de Sócrates sem qualquer prova.

Dois pesos e duas medidas.

Perguntas que não levam a parte nenhuma por causa das respostas

por estatuadesal

(José Pacheco Pereira, in Público, 15/04/2018)

JPP

Pacheco Pereira

Centeno quer matar a “geringonça”? Quer. A “geringonça” quer matar Centeno? Quer.


Centeno quer matar a “geringonça”? Quer.

Podia dizer-se de Centeno que está sentado em duas cadeiras ao mesmo tempo, mas não está. Quem está sentado em duas cadeiras, uma ao lado da outra, dividindo a sua anatomia pelas duas é António Costa e o PS. Parece que o espaço duplo é reconfortante, mas a prazo ver-se-á que não é. Centeno já está noutra, os resultados portugueses que vier a obter dentro da ortodoxia do Eurogrupo destinam-se essencialmente a reforçá-lo nas suas novas funções. Por isso está a ser excessivo com o défice, mesmo com o risco de ajudar a derrubar o Governo, e isso está a trazer-lhe vários apoios e não são dos socialistas.

A verdade é que alguns dos compromissos do acordo entre PS-BE-PCP não estão a ser cumpridos. Há alguns socialistas mais ingénuos e outros de má-fé que pensam que se o Governo cair o caminho para uma maioria absoluta está garantido. Não está e uma queda do Governo, mesmo por aquilo que alguns podem considerar benéfico com a nova ideologia do défice, é sempre má para o PS ir para eleições, e ainda pior, se depois delas ficar com maioria simples. Não se iludam que o caminho com o PSD é muito mais complicado do que se pode imaginar nestes dias, apesar de tudo, de calmaria antes da tempestade.

A “geringonça” quer matar Centeno? Quer.

PCP e BE, se tivessem a campainha do mandarim, há muito a tinham tocado para pôr Centeno definitivamente em Bruxelas.

Quer o Presidente ver o Governo cair? Já estive mais certo de que não queria...

... e não lhe vão faltar pretextos. É que ele já está a definir casos que servem de pretextos, condições, para preparar o terreno. Não estou inteiramente certo, presumo que nem o Presidente, mas a tentação começa a ser muito visível. E ele é um homem de tentações.

Um dia o turismo diminui ou acaba. O que é que vai sobrar nas cidades de Lisboa e Porto? Imensos estragos.

Eu percebo que enquanto dura se aproveite a benesse. O boom do turismo é positivo em muitos aspectos para as duas cidades em que ele tem tido imenso impacto, Lisboa e Porto. Tem havido alguma remodelação urbana em centros que estavam degradados, e há alguma vida de dia e de noite em cidades que pareciam adormecidas.

Mas se há casos em que a palavra conjuntura é bem aplicada é para o actual boom turístico. Tudo ajudou, a insegurança de muitos destinos, as qualidades do clima português, a facilidade de adaptação de muita gente que rapidamente criou empresas turísticas para responder à pressão, o efeito de “estar na moda” alimentado por operadores e por jornalistas de viagens, os preços baratos, mesmo quando subiram muito, a facilidade de acesso ao país, tudo mesmo. Só que “não há bem que sempre dure”.

Lembram-se do boom das lojas que compravam ouro? Convém lembrar.

Se passarmos os olhos sem qualquer ilusão e auto-engano, nem complacência escapistas, sobre o que realmente está a “mudar”, em particular nas cidades, deveríamos assustar-nos. Estão-se fazer hotéis, hostels, restaurantes a mais e tudo isso vai ficar um dia, que pode não ser muito longínquo, vazio, falido, a estragar-se. Faz-me lembrar um outro boom dos anos da crise, quando abriam lojas de compra de ouro por tudo quanto é esquina. Vejam lá as que sobram.

E pelo caminho, por muito brilhantes que sejam as suas fachadas — e, se virem bem, poucas o são, e percebe-se que para andar depressa os projectos arquitectónicos, as obras de remodelação, os interiores são pouco cuidados e muito estereotipados, feitos para um turismo barato e pouco exigente —, estão a criar problemas na cidade a montante e a jusante que muitas vezes não ligamos directamente ao boom dos hotéis. Por exemplo, o crescente tráfego em ruas pouco preparadas de veículos de serviços e distribuição, que servem a qualquer hora lavandarias, bares, restaurantes, reparações, que a pressão hoteleira fez aumentar consideravelmente. Já para não falar dos tuk-tuk.

E não só, olhem para muitas lojas em pleno centro que substituíram o comércio mais antigo, acabando no centro das cidades, por exemplo, com livrarias, alfarrabistas, e outras indústrias “culturais”, para venderem literalmente pechisbeque e bugigangas para turistas que compram souvenirs, que não são eles mesmos muito qualificados. Alguém tem alguma dúvida que nada daquilo tem qualquer capacidade para sobreviver, nem sequer agora, quanto mais depois. Subam, por exemplo, a Rua 31 de Janeiro no Porto e olhem para as lojas. Ao lado daquilo prefiro mil vezes as mercearias paquistanesas, que são mais úteis e certamente mais sustentáveis.

As cidades vão ficar muito estragadas e não vai ser fácil recuperar. É verdade que já estavam, mas não é a mesma coisa, porque entretanto muita coisa foi destruída pelo caminho.

O que se passa no Sporting é divertido? É.

Porque não é sério. Não dou um átomo de interesse e relevância às cenas absurdas que se passam num clube desportivo, que são tão ridículas que não podem ser tomadas a sério. O que seria, se as tomássemos a sério? Um homem entre o vociferante e o esquisito preside ao clube. Alguém o pós lá, alguém o mantém, e gente da mesma natureza dos dois “alguéns”, nalguns casos os mesmos, vai acabar por o tirar de lá. Mas quem é que quer saber disso? Os sportinguistas, claro. Não têm mesmo mais nada para fazer?

Os jogadores protestam, são suspensos, são readmitidos. Mas quem é que quer saber disso? Os sportinguistas, claro. Não têm mesmo mais nada para fazer?

Há mais duzentas perguntas destas que se podem fazer. Mas não vale a pena. Mas quem é que quer saber disso? Os sportinguistas, claro. Não têm mesmo mais nada para fazer?

O que se passa na comunicação social com histórias como as do Sporting é sério? É.

O país encontra no futebol a sua fábrica de irrelevância e distracção barata, e também uma cultura de violência consentida e sobre a qual há enorme complacência. Não é bom. Mas encontra uma outra coisa mais séria — uma comunicação social em crise que se agarra ao futebol como tábua de salvação, varrendo todos os outros interesses, todas as outras preocupações, todos os outros temas. É bom para o poder, é mau para as pessoas e é péssimo para a comunicação social cuja degradação se acentua à medida que a tabloidização cresce e as notícias e o jornalismo perdem relevância.

Veja-se o caso do cabo. Os canais de cabo era suposto serem canais especializados em notícias e haver uma panóplia de canais dedicados a públicos muito especiais, a quem gosta de “memória”, de filmes e séries, quem gosta de touradas, de vida na natureza, antiguidades, certos desportos, religião, ocultismo, arranjos caseiros, culinária, etc. Estes últimos estão lá, mas são os canais de notícias, os que foram mais importantes no cabo, que estão a passar a ser canais de futebol. Era suposto haver canais específicos para futebol e há, só que todos os outros dedicam horas a jogos e à logomaquia que se lhes segue. E é isso que as farsas como a do Sporting mostram à evidência. Partilham com os crimes, as histórias de mães criminosas e filhos abandonados as luzes da ribalta, porque o nada tem um especial atracção pela televisão.

O Bloco transformou Centeno no novo Vítor Gaspar

FINANÇAS PÚBLICAS

João Marques de AlmeidaSeguir

15/4/2018, 0:06

As funções europeias de Centeno revelaram o seu real pensamento: ele está muito mais próximo de Vítor Gaspar do que da escola de Louçã que manda no Bloco. Não há ninguém nas esquerdas que não o saiba.

Um dos fenómenos mais bizarros da vida política portuguesa é a existência de duas Catarinas Martins (como se uma não chegasse). A ‘Catarina Martins I’vota a favor dos orçamentos deste governo. E já votou a favor de três, todos eles da responsabilidade do ministro das Finanças. Mas, depois, a ‘Catarina Martins II’ anda pelas ruas das nossas cidades, com as televisões atrás, a protestar contra o orçamento que a versão número um da senhora aprovou. A nossa Catarina Martins deve achar que os portugueses são estúpidos ou então julga que a política não é mais do que um palco de teatro. Em Portugal, o populismo, a demagogia e o oportunismo juntaram-se no Bloco de Esquerda e são levados ao palco pela Catarina.

Mas, como se aproximam as eleições, o Bloco decidiu aumentar os protestos, começando a atacar Mário Centeno com uma violência verbal nunca vista nos últimos três anos. Aliás, os termos usados fazem-nos recuar a 2012 e a 2013, aos anos de Vítor Gaspar à frente das Finanças. O Bloco tem que se distanciar do governo para conseguir um resultado eleitoral que permita manter a sua influência política. Simultaneamente, fará tudo para impedir a maioria absoluta do PS, o que o condenaria ao regresso a uma oposição sem qualquer poder. A senhora Catarina Martins está farta do papel de ‘Catarina Martins II’, e de andar pelas ruas acompanhada por meia dúzia de gatos pingados, e quer ser a ‘Catarina Martins I’ a tempo inteiro para partilhar os orçamentos socialistas após 2019.

A ida de Centeno para presidente do Eurogrupo agravou o conflito. Na altura, muitos dos nossos ‘especialistas’ em política europeia desvalorizaram o impacto das novas funções de Centeno, com o argumento extraordinário de que a Europa estava fora do acordo da geringonça. No meio de tanta ‘sabedoria’, não entendem o fundamental. A Europa tem um lugar central em tudo o que esteja ligado a recursos financeiros no nosso país.

Ao contrário do que acontece com a líder do Bloco, o ministro das Finanças sabe que não podem existir um ‘Mário Centeno I’ e um ‘Mário Centeno II’. As suas funções em Bruxelas não permitem que isso aconteça. É simplesmente impensável que o país do líder do Euro grupo possa arriscar um processo por incumprimento das regras do défice. Aliás, o PM também sabe isso, e sabia-o quando tudo fez para que Centeno conseguisse o lugar, por isso apoiará o seu ministro até ao fim da legislatura. As funções europeias de Centeno também revelaram o seu verdadeiro pensamento. Centeno está muito mais próximo de Vítor Gaspar do que da escola de Louçã que prevalece no Bloco. Não há ninguém nas esquerdas que não o saiba.

O conflito com Centeno não significa o fim da geringonça nem sequer que o Bloco não aprove o orçamento para o próximo ano. Mas as relações entre as esquerdas serão mais tumultuosas e a política nacional será mais incerta daqui até ao fim do ano. Veremos muito mais a Catarina Martins das ruas do que a Catarina Martins deputada. Mas, apesar dos protestos, o verdadeiro sonho da líder do Bloco é ser um dia Catarina Martins a ministra da Cultura, para poder beneficiar dos orçamentos aprovados em Lisboa e em Bruxelas.

Notas de rodapé

1. O Bloco e os sectores mais radicais do PS transformaram o Parlamento na sua sala de festas para onde convidam os seus amigos para celebrarem a aprovação de leis patéticas que na prática muito pouco mudarão. São sobretudo uma justificação para folclores parlamentares. Apenas se lamenta que deputados experientes e responsáveis do PS participem nessa farsa. É o preço a pagar pela geringonça. Pelo meio, a qualidade da nossa democracia diminui.

2. Foram necessários bombardeamentos pelos americanos, britânicos e franceses, para o PCP e o Bloco acordarem para a guerra da Síria, apesar desta ter começado há mais de cinco anos. Assad, Putin e Erdogan podem fazer os ataques que quiserem, e as nossas extremas esquerdas nem reparam. Aparecem os americanos e os seus aliados europeus em cena, e os nossos neo-marxistas ficam logo indignados. No fundo, nunca deixaram de ser os idiotas úteis das ditaduras de Moscovo. Mesmo quando a Mãe Rússia está mais próxima do fascismo do que do comunismo. Mas, para as esquerdas radicais, isso não passa de um pormenor. O que interessa é atacar o Ocidente e os seus regimes capitalistas e liberais.