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sexta-feira, 20 de abril de 2018

Diminuir a democracia*

Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

  • Eduardo Louro
  • 20.04.18

Resultado de imagem para diminuir a democracia

A história é apenas mais uma, e é conhecida - os deputados com residência nos arquipélagos da Madeira e dos Açores, que a pretexto da insularidade recebem todos os meses no seu salário 500 euros destinados a pagar-lhes a viagem semanal de avião, apresentam, depois, o respectivo bilhete para receberem, também, o subsídio que o Estado paga a todos os cidadãos insulares.

Ou seja, como foi primeira página no semanário que no sábado passado deu a notícia, os deputados insulares vão cobrar do Estado aquilo que não pagaram.

Nada que deixe ninguém surpreendido, tal é a habituação que já temos a estas coisas. Foram as viagens falsas, aqui há uns anos, são as residências do avô ou de um tio distante que dão jeito para mais um subsídio, são as deslocações aos círculos que os elegeram, mas onde nunca põem os pés se não em campanha…

Tudo isto porque ganham mal. Não é por não terem vergonha. Se toda a gente que ganha mal em Portugal se portasse dessa maneira, queria ver onde é que parávamos…

Como se essa justificação não fosse suficientemente abjecta, arranjaram-lhe ainda um complemento, ou não estivéssemos em pleno território de complementos. E, então, falar destas coisas com que os senhores deputados se complementam, é alimentar o populismo, e matar a democracia.

Não são os deputados, e os políticos em geral que, usando e abusando de estratagemas para tratar da sua vidinha, e da dos seus, à margem dos mais elementares princípios da ética, da vergonha e até em muitos casos da lei, ludibriando a eito nos seus graus académicos, atropelam e destroem a democracia?

Pelos vistos, não. Pelos vistos, como se viu pelas palavras do Presidente da Assembleia da República, àqueles deputados nem ilegalidade nem falta de ética, não há nada a apontar. Apontar-lhes o dedo é que é diminuir a democracia!

Depois, admirem-se…

* A minha crónica de hoje na Cister FM

    Jornais do Dia

    Capa do Correio da Manhã

    Correio da Manhã  | CAPA E PRINCIPAIS NOTÍCIAS
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    Amizade improvável entre raposa e texugos
    Bolsa de Xangai recua 0,38% nas primeiras transações
    Encontra mulher nua na banheira
    Gabinetes políticos gastam mais dois milhões de euros

    Capa do Público

    Público  | CAPA E PRINCIPAIS NOTÍCIAS
    Num antigo quartel da ditadura "o futuro de Cuba está assegurado"
    Uma Cultura para todos
    Cartas ao director
    Vídeo viral leva homem a reencontrar irmão 40 anos depois
    David Copperfield obrigado a revelar truque em tribunal
    Giuliani reforça equipa que defende Trump no inquérito da Rússia
    António Costa anuncia aumento do salário mínimo em 2019

    Capa do i

    i  | CAPA E PRINCIPAIS NOTÍCIAS
    Jesus, Ricciardi e Paulo Abreu em almoço no Ritz
    Síria. Ainda sem cientistas, Assad volta à vitória
    Concorrência. Guerra nos transportes por abuso de posição dominante
    Turquia. Fenerbahce-Besiktas suspenso | VÍDEO
    Coreias. Seul diz que Kim oferece condições aceitáveis
    Ex-coelhinha da Playboy já pode falar sobre caso que manteve com Trump
    Câmara de Setúbal aprova estacionamento pago na praia da Figueirinha

    Capa do Expresso

    Expresso  | CAPA E PRINCIPAIS NOTÍCIAS
    “A guerra da esquerda contra a ciência”, por Henrique Raposo
    Puigdemont e os seus aliados não usaram dinheiro público no referendo
    Ferreira Leite sobre acordos PS-PSD: “É uma forma diferente de fazer política e os tiffosi do PSD não gostam”
    Costa anuncia aumento do salário mínimo em 2019
    Lesados do BES: “Surpresa” e “sucesso”. Mais de 99% aderiram ao fundo

    Capa do Jornal Económico

    Jornal Económico  | CAPA E PRINCIPAIS NOTÍCIAS
    Síria, um cocktail de terrorismo e interesses
    Ética e legalidade não são sinónimos
    Avaliação do ‘stock’ da sardinha não avança e Portugal pode perder quota de pesca, diz a Federação Sindical
    PS e PSD à conquista do centro
    Reforço do apoio social para trabalhadores independentes em breve no Conselho de Ministros
    Crónicas da resistência em Portugal
    Quando a Justiça entra na política

    Capa do Jornal Negócios

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    Portugal ainda tem margem para reduzir prémio de risco
    Costa afirma que todos os antigos líderes honraram o PS. Desde Soares a Seguro
    Honda Civic Type R #18 Tiago Monteiro
    Honda Civic: Novo motor 1.6 i-DTEC Turbo
    Costa define PS como a força do "equilíbrio" e do "diálogo" em Portugal
    Ministra do Mar defende aposta na navegabilidade dos rios em Portugal
    Bloco lança repto ao PS para mudança profunda nas rendas

    Capa do Diário de Notícias

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    Cinco mil auxiliares precários sem luz verde para entrar nos quadros
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    Party-Sleep-Repeat. Um festival que transformou a morte do Luís em vida
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    Quantos são ao todo, quantos podem entrar?
    "Os nossos bairros são campos de treino de polícias"

    Capa do Jornal de Notícias

    Jornal de Notícias  | CAPA E PRINCIPAIS NOTÍCIAS
    Centrais portistas de olhos postos na Europa
    Senadora leva filha de dez dias para votação após alteração das regras
    Fêmea de lince-ibérico morreu atropelada na A22
    Primeira Página em 60 segundos: Milhares de precários não docentes sem concurso à vista
    Corrupção na A32 e A41 deu lucro de 12 milhões
    Vítimas perdoam burlão das notas de 50
    Corte total de linhas no Metro do Porto na próxima semana

    Capa do Destak

    Destak  | CAPA E PRINCIPAIS NOTÍCIAS
    Primeiro-ministro aceita debate sobre fronteiras após voto
    Caracas pede à UE que desbloqueie fundos e transações do Estado
    Taxa de inflação em Macau sobe em março
    Xanana Gusmão em reunião na ONU a meio da campanha
    Tribunal de Chicago rejeita medidas de Trump contra "cidades santuário"
    Bolsa de Xangai recua 0,38% nas primeiras transações
    Bolsa de Tóquio desce 0,2% na abertura

    Capa do Expresso Economia

    Expresso Economia  | CAPA E PRINCIPAIS NOTÍCIAS
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    “O novo Centeno sempre existiu”, por Ricardo Costa
    O homem que vai ter de provar que não é invisível
    “Quando sabes que não fizeste nada de errado como é que é suposto reagires?”
    Michael Phelps e a luta contra a depressão: “Chegou a um ponto em que não queria estar vivo”

    Capa do A Bola

    A Bola  | CAPA E PRINCIPAIS NOTÍCIAS
    «Quando do outro lado está o Benfica...»
    «Deve ser este tipo de rivais bons e fortes que Vieira quer»
    «Diziam que Guardiola só teria sucesso no Barcelona…»
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    «De Gea é fantástico, mas Ederson…»
    Presidente do Estoril lança visita do Benfica à Amoreira n’A BOLA DO MEIO-DIA (11h55)
    «Ronaldo pediu-nos para irmos para o United»

    Capa do Record

    Record  | CAPA E PRINCIPAIS NOTÍCIAS
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    Ricardo na mira che
    Os casos clínicos do leão
    Antigo técnico de Marco Túlio e a mudança do jogador para Alvalade: «Ele está muito animado»
    Bilhetes à venda para o dérbi com o Benfica
    Chiquinho: Um médio criativo com tiques de Deco
    Nova academia tem a bênção da Câmara

    Capa do O Jogo

    O Jogo  | CAPA E PRINCIPAIS NOTÍCIAS
    Timor-Leste/Eleições: Primeiro-ministro aceita debate sobre fronteiras após voto
    ONG moçambicana lança hoje manual sobre projetos mineiros no país
    Vasco Cordeiro quer política a acompanhar a identidade no reforço de laços entre os Açores e Santa Catarina
    Venezuela: Caracas pede à UE que desbloqueie fundos e transações do Estado
    PSD quer parlamento a pronunciar-se sobre reprogramação dos fundos comunitários
    Governo apresenta hoje Programa Nacional de Reformas aos parceiros sociais
    BPI reúne hoje acionistas para aprovar contas e apresenta resultados até março

    O eterno pára-arranca da Educação

    Novo artigo em Aventar


    por Autor Convidado

    Santana Castilho*

    1 . Como é sabido, está a ser testado em 235 escolas, desde Setembro transacto, um projecto de autonomia que lhes permite definirem estratégias diferentes de ensino em 25% da carga curricular. Não se conhece qualquer avaliação consistente sobre a experiência. Mas o Governo aprovou a generalização da autonomia e flexibilidade curricular a todas as escolas do ensino básico e secundário. E para completar o quadro surreal de tudo isto, a generalização é … facultativa.

    Do mesmo passo, foi igualmente aprovada a reintrodução no currículo oficial da área de Cidadania e Desenvolvimento, que Nuno Crato, sob a designação de Formação Cívica, havia abolido em 2012. E foram definitivamente extintos os cursos vocacionais, a partir do 5º ano, igualmente instituídos por Nuno Crato, para alunos que manifestavam repetidos insucessos em sede de currículo regular.

    Finalmente, o quadro de mudanças eliminou aquilo a que o Governo chamou “requisitos discriminatórios” para acesso ao ensino superior dos alunos dos cursos profissionais e artísticos (dois exames nacionais, um dos quais de Português). Recorde-se que, até agora, apenas 16% dos alunos desta via prosseguiram estudos superiores: 10% em cursos de especialização tecnológica ou cursos de técnicos superiores profissionais, que não outorgam o grau de licenciado, e apenas 6% em cursos de licenciatura.

    2 . O Governo nomeou Jaime Carvalho e Silva, da Universidade de Coimbra, para dirigir um grupo de trabalho que deverá mudar os programas de Matemática introduzidos por Nuno Crato. Está reaberta a discórdia entre a Sociedade Portuguesa de Matemática e a Associação de Professores de Matemática. Jorge Buescu, presidente da primeira, perguntou (Público de 10.4.18):

    “Não tem sido, afinal, opinião unânime dos agentes do sistema educativo que todos os indicadores de sucesso em Matemática têm vindo a melhorar, alguns deles espectacularmente, na última década e meia? Como é possível que, da noite para o dia, se descubra que afinal se vive um estado de emergência e que, mais uma vez, é preciso mudar tudo?”

    Lurdes Figueiral, presidente da segunda, lamentou (Correio da Manhã de 5.4.18) o "tempo perdido", defendendo que os programas já deviam ter mudado.

    Ora, para além do anterior, que é essencial, há o complementar, que torna o problema algo caricato. Admitem os intervenientes (e o próprio secretário de Estado também o afirmou) que não haverá novos programas para 2018/19. Sendo assim, só em Setembro de 2019 qualquer alteração poderá ser operada, donde a pergunta óbvia: admite-se que uma mudança deste tipo, com a polémica que lhe está associada, seja decidida por um Governo em final de mandato?

    3 . A incompetência, que virou obstinação, de Alexandra Leitão, foi corrigida pelo Parlamento (votos a favor do PSD, CDS-PP, PCP, PEV e BE, abstenção do PAN e voto contra do PS), ao decidir realizar este ano um concurso de mobilidade para os docentes dos quadros, por ela grosseiramente prejudicados em Agosto de 2017. Perdeu-se um ano para corrigir os danos causados a, pelo menos, 799 professores. Mas desmentiu-se o ministério, que sempre afirmou tratar-se de um conjunto residual de docentes. Entretanto, o tempo que decorreu para corrigir o erro provocou e vai provocar prejuízos graves. Quem os compensará?

    4 . Falta-me espaço para falar sobre o monumento ao “eduquês” que é o Parecer do CNE sobre o Regime Jurídico de Educação Inclusiva. De todas as tolices que aí estão impressas, retiro a paradigmática substituição da velha sigla NEE (Necessidades Educativas Especiais) pela ultra moderna CJNMMASAI (Crianças e Jovens com Necessidades de Mobilização de Medidas Adicionais de Suporte à Aprendizagem e à Inclusão). É de tirar o folego a qualquer. Mas é útil para alimentar o caos da gestão pedagógica do ministério, preparar para o que se seguirá e desviar as atenções, como convém, do reposicionamento e recuperação do tempo de serviço dos professores.

    *Professor do ensino superior (s.castilho@netcabo.pt)

    quinta-feira, 19 de abril de 2018

    Entre as brumas da memória


    25 Abril – Faltam 6 dias

    Posted: 19 Apr 2018 02:04 PM PDT

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    Mistificações e rigor no debate sobre a despenalização da eutanásia

    Posted: 19 Apr 2018 09:42 AM PDT

    «A primeira [mistificação] é a de que, havendo despenalização da eutanásia, virá aí uma vaga de eutanásias involuntárias, de eutanásias de crianças, de eutanásias de doentes mentais, de eutanásias por motivos fúteis. É o conhecido argumento da rampa deslizante: começado o caminho, a descida é imparável. É o argumento do medo: o receio de descontrolo deveria impedir a despenalização, mantendo tudo como está. Sejamos, porém, claros: em todos os projetos de lei até agora apresentados, a eutanásia involuntária, a eutanásia de crianças, a eutanásia de doentes mentais ou a eutanásia por motivos fúteis são pura e simplesmente crimes. Porque todas essas situações são claramente excluídas do elenco de casos em que os projetos admitem despenalização.»

    José Manuel Pureza

    Ler também: Eutanásia: É tempo de respeitar a autonomia de todos nós.

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    TV: o serviço público que temos

    Posted: 19 Apr 2018 07:00 AM PDT

    No telejornal das 20:00 de ontem, na RTP1, este senhor anunciou nos seguintes termos a sucessão de Raul Castro em Cuba: «O novo DITADOR deverá ser agora o actual vice-presidente, Miguel Diaz-Canel».

    Que o cidadão José Rodrigues dos Santos use os termos que quiser nos seus romances de sucesso é lá com ele. Que use os microfones que nós pagamos para o fazer, é inadmissível. Fico à espera de que um dia destes se refira ao «LOUCO que é presidente dos EUA», ou ao «BEIJOQUEIRO de Belém».

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    E a ala esquerda do PS onde está?

    Posted: 19 Apr 2018 02:58 AM PDT

    «Ontem António Costa e Rui Rio assinaram dois acordos. Na substância, não há muito de novo: PS e PSD sempre se entenderam sobre as prioridades a dar aos fundos europeus (e a reclamar que o país não perca dinheiro). Na forma, é uma viragem de 90 graus, porque António Costa só chegou a primeiro-ministro porque teve o acordo da esquerda, mas agora encontrou um parceiro para aplicar o que à esquerda não lhe interessa discutir.

    A viragem ao centro não chega em momento neutro — porque Mário Centeno fez uma revisão do défice que a esquerda não queria, porque catalogou a receita da esquerda como um regresso “ao pesadelo”.

    Por outro lado, a viragem ao centro chega no momento certo, porque o PS está prestes a ir para um congresso, no qual lançará as bases para o seu próximo programa eleitoral — e a estratégia para todas as próximas eleições. É o momento certo, portanto, porque é altura de ouvir o Partido Socialista, para saber onde está e para onde quer ir.

    Não é segredo para ninguém que o PS não é um, alberga dois. E que cada vez tem nele maior peso uma ala esquerda que já não é só dos históricos Manuel Alegre e António Arnaut — é também de jovens que ambicionam um dia comandar o partido que tantas vezes governa Portugal. Hoje, esses dois partidos convivem num só barco, liderado pelo que alguém chamava “o último dos moderados no PS”, António Costa.

    Para a ala esquerda, Costa tem a autoridade de quem chegou e derrubou um muro, levando o Bloco e PCP para a responsabilidade da governação. Mas autoridade não é unanimidade — sobretudo não, se ficar aberta no congresso uma porta, mesmo que só uma janela, para governar com o apoio do PSD.

    Os caminhos não são neutros. Costa, por exemplo, assumiu ontem com clareza que a sua prioridade é reduzir a dívida. E ala esquerda deixou cair a reestruturação?

    Costa assumiu que falará com o PSD onde a esquerda não colabora — e o seu Governo pediu a Maria de Belém uma lei de bases da Saúde. E a ala esquerda? Prefere essa ou a do Bloco, que António Arnaut está a preparar?

    Costa já abriu a porta, com o acordo de ontem, para ter um programa comum com o PSD, nas próximas legislativas, sobre a segunda fase da descentralização — que já inclui novos poderes e a eleição de líderes supramunicipais. E a ala esquerda o que acha disso?

    Na moção ao congresso, Costa promete outros temas: a nova economia, as mudanças nas relações de trabalho, o desafio demográfico. Em tudo isto, há dois caminhos. A dúvida é se a ala esquerda aparece no congresso — ou deixa Costa fazer como mais gosta: navegar ao meio, para depois escolher.»

    David Dinis

    Nos centros históricos: «entram os ricos e saem os mais pobres e vulneráveis»

    A gentrificação, “uma palavra suja” que agrava o desalojamento e a segregação residencial, é retratada ao Tornado pelo geógrafo Luís Mendes, investigador do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território (IGOT) da Universidade de Lisboa. “A habitação não é hoje vista como um direito do Estado Social mas como mero activo financeiro”, diz. O académico e coordenador do movimento “Morar em Lisboa” fala da viragem neoliberal nas políticas urbanas e recorda os últimos dados do Banco Nacional de Arrendamento: “em média, são despejadas por dia cerca de 5,5 famílias, em todo o país”

    Luís Mendes: Lisboa está a viver um pico de projecção internacional enquanto destino turístico, ao mesmo tempo que o seu mercado de habitação adquire formatos de activo financeiro e atrai dinâmicas globais de procura e de investimento estrangeiro. Este processo foi alavancado por programas governamentais do anterior governo durante o período da austeridade e pela viragem neoliberal na política urbana, esta última desde já o início do século XXI. Estes factores fomentaram a atracção de uma procura global e transnacional, colocaram o mercado de habitação lisboeta no mapa-mundo e favoreceram a financeirização do imobiliário e a reestruturação urbana na capital portuguesa. A habitação não é hoje vista como um direito do Estado Social mas como mero activo financeiro que serve a reprodução de capital através da especulação imobiliária e produção de mais-valias.

    O processo de gentrificação em curso…

    Sim, assiste-se também a uma gentrificação turística, mediante a transformação dos bairros populares e históricos da cidade centro em locais de consumo e turismo, pela expansão da função de recreação, lazer ou alojamento turístico/arrendamento de curta duração que começa a substituir gradualmente as funções tradicionais da habitação para uso permanente, arrendamento a longo prazo e o comércio local tradicional de proximidade, agravando tendências de desalojamento e segregação residencial.

    Os bairros são esvaziados da sua população original ou impede-se a população de baixo estatuto socioeconómico de aceder à habitação nessas áreas, colocando em risco a resiliência do centro histórico. Contudo, o turismo e a expansão do alojamento local parecem-me agora factores secundários e conjunturais face a factores mais estruturais como as forças globais das geografias do investimento de capital.

    A habitação não é hoje vista como um direito do Estado Social mas como mero activo financeiro que serve a reprodução de capital através da especulação imobiliária e produção de mais-valias”

    Luís Mendes

    Explique-nos como surgiu o termo gentrificação.

    Gentrificação que é uma buzzword recente em Portugal, na verdade, é uma palavra suja e tem já meio século noutras cidades do mundo desenvolvido como Londres, Paris ou Nova Iorque e designa um processo de atracção de capital privado e novas populações endinheiradas para bairros tradicionais dos centros históricos, durante muito tempo alvo de desinvestimento e de avançado estado de degradação e conservação. Esse investimento requalifica os bairros produzindo uma regeneração urbana a nível económico, cultural e ambiental, o que acaba por encarecer os preços fundiários e imobiliários. Perante esta subida dos preços de arrendamento e para habitação de casa própria, as classes populares, que residem nestes bairros inicialmente, vêem-se incapazes de suportar estes custos e são obrigadas a sair. Falando de uma forma simplificada e genérica: entram os ricos e saem os mais pobres e vulneráveis destes bairros populares.

    Quando começou o fenómeno em Portugal?

    A gentrificação é um dos processos mais fortes de mudança urbana no mundo actual e tem-se agudizado nos anos recentes, sobretudo em Lisboa e Porto. Em Portugal, começou nos anos 80 por ser um processo local e relativamente marginal que afectava apenas alguns fogos ou imóveis (se tanto) isolados e dispersos no centro histórico. Geograficamente, era um processo fragmentado. Os novos moradores apreciavam o património, a arquitectura, o ambiente cosmopolita e diverso dos bairros históricos, sendo estes os principais factores para a tomada de decisão de residência no centro da cidade, a par, obviamente, da excelente localização e da proximidade de serviços e oferta cultural. Não existia desalojamento com os contornos a que hoje se assiste, pois muitos dos imóveis renovados já se encontravam vazios ou em avançado estado de degradação, e o congelamento das rendas não permitia a expulsão dos inquilinos. Falava-se de gentrificação marginal. Designei-a de “gentrificação embrionária” para o caso português.

    Entretanto, alastrou e agigantou-se.

    Actualmente, e a partir do início do século XXI, o processo de gentrificação em Lisboa expandiu as suas fronteiras. A escala e extensão, as modalidades de oferta, os agentes e protagonistas do processo, em tudo mudaram. A gentrificação tornou-se madura e afigura-se com contornos mais agressivos, o que implica desalojamento dos mais pobres e uma perspectiva da habitação esvaziada da noção de direito, para ganhar o estatuto de mero activo financeiro para atracção de investimento estrangeiro.

    Tendo-se sobretudo a cidade de Lisboa tornado num destino de procura internacional do imobiliário, a subida dos preços acompanha os rendimentos médios dessa procura que são muito elevados comparativamente aos nacionais e excluem o português médio da possibilidade de aquisição de habitação em Lisboa. Portanto, a questão já não é apenas a do desalojamento directo, que implica expulsão das pessoas das suas casas e bairros, negando-lhes o direito à habitação e ao lugar, mas é também uma questão de desalojamento indirecto, porque se está a impedir ou a negar o acesso dos grupos mais vulneráveis a esse lugar, ao mesmo tempo que se abre o caminho para permitir que os grupos mais favorecidos o possam fazer.

    A gentrificação tornou-se madura e afigura-se com contornos mais agressivos, o que implica desalojamento dos mais pobres e uma perspectiva da habitação esvaziada da noção de direito”

    Luís Mendes

    As 1100 casas anunciadas pela CML a preços acessíveis são uma medida importante, mas não trava os despejos que todos os dias ocorrem”

    Luís Mendes

    A lei do arrendamento urbano é uma das causas directa desse processo?

    Comumente tem-se considerado que a gentrificação que se verifica no centro histórico da cidade de Lisboa resulta directamente da expansão do Alojamento Local e que reside na conjugação de uma série de elementos decisivos. Contudo, em boa verdade, esta mudança revela causas mais profundas e estruturais do que as que têm sido divulgadas.

    Tais como?

    Começou com uma viragem neoliberal nas políticas urbanas desde 2004 (criação das sociedades de reabilitação urbana), com a aprovação de uma série de pacotes de leis que foram surgindo sucessivamente defendendo uma visão pró-mercado no que respeita à habitação, favorecendo a iniciativa privada, as parcerias públicas-privadas e a competitividade no sector. Esta viragem neoliberal culminou com a aprovação da Nova Lei do Arrendamento Urbano em 2012, em conjunto com a simplificação da Lei do Alojamento Local em 2014, com os pacotes para atracção de investimento estrangeiro, tais como o regime fiscal muito favorável para os Residentes Não Habituais (já desde 2009) e para os Fundos de Investimento Imobiliário, bem como com o programa dos Golden Visa ou Autorização de Residência para Actividade de Investimento, e ainda com o regime excepcional e temporário da reabilitação urbana de 2014, no sentido da agilização e dinamização, flexibilizando e simplificando os procedimentos de criação de áreas de reabilitação urbana e de controlo prévio das operações urbanísticas. Acrescente-se ainda a liberalização dos usos do solo operada pela Câmara Municipal de Lisboa em 2012 durante a revisão Plano Director Municipal de Lisboa.

    Todo este quadro criou um contexto fiscal e legal que facilitou imenso a financeirização do imobiliário, forma acabada de acumulação e reprodução do capital no ambiente construído; bem como os despejos, tendo agravado o desalojamento e a segregação residencial.

    Não há aqui nenhuma teoria da conspiração! O governo anterior deu um impulso forte à gentrificação, mesmo que de forma, a meu ver, não intencional, pois, em pleno período de crise económica e de forte austeridade, e na necessidade urgente de atracção de investimento internacional, promoveu leis que são responsáveis pelo avanço do processo.

    Especificamente, o que desencadeou o Novo Regime de Arrendamento, apelidado por alguns inquilinos, por “lei dos despejos”?

    O Novo Regime de Arrendamento, promulgado em 2012, imposto pela Troika e subordinado aos interesses da propriedade, veio liberalizar ainda mais o arrendamento, aumentar o poder dos senhorios, actualizar excessivamente as rendas e facilitar os despejos, levando à expulsão de muitos habitantes e ao encerramento de actividades económicas, sociais e culturais, como o comércio tradicional, associações e colectividades.

    O direito à cidade

    Como classifica as actuais políticas de gestão da capital e dos seus espaços urbanos no momento em que o turismo é a “galinha dos ovos de ouro”?

    Quer a Câmara Municipal de Lisboa (CML), quer o actual Governo Central, que durante muito tempo pareceram dormentes, têm-se, finalmente, demonstrado atentos ao que se está a passar no centro histórico de Lisboa, até porque diversos movimentos locais, como as comissões de moradores, associações de bairro, organizações não governamentais, meio universitário, assim como a sociedade civil e a opinião pública, com o apoio da comunicação social, se têm manifestado, de forma a que se comecem a tomar medidas que mitiguem a intensa turistificação e os despejos que se registam.

    Mas os despejos continuam a aumentar.

    As várias medidas até agora tomadas são uma condição importante para manter uma estrutura residencial e comercial sustentável e resiliente nos bairros históricos, mas não suficientes se não forem articuladas estruturalmente com uma política de habitação justa que garanta o direito à cidade. Só por via da fixação da população nos bairros, valorizando a função de residência permanente e não a de alojamento turístico ou short-rental e apenas apartamentos de luxo, estaremos a garantir uma procura constante que mantenha vivo o comércio local e a própria vida social nestes bairros. Os bairros devem ser espaços de mistura social e funcional! As 1100 casas anunciadas pela CML a preços acessíveis são uma medida importante, mas não trava os despejos que todos os dias ocorrem.

    O que propõe como medidas urgentes?

    A CML devia agilizar o desbloqueio das casas vazias, com penalização fiscal dos proprietários que as mantenham desabitadas e devolutas e penalizar o investimento especulativo, criando novos impostos de propriedade que agravem punições sobre os espaços desocupados.

    Existem várias medidas que devem ser adoptadas neste momento para mitigar os impactos de uma gentrificação pelo turismo e que passam por adoptar uma política de cidade que se faça de uma reabilitação urbana para e pelas pessoas, ao mesmo tempo que se combate a especulação imobiliária e promove o mercado social de arrendamento; ao invés do investimento em edifícios emblemáticos de grande projecção internacional ou de uma política de regeneração urbana única e exclusivamente cativa das dinâmicas predatórias do grande capital imobiliário, ao abrigo da contínua financeirização do mercado de habitação.

    O município, que dispõe de um vasto património imobiliário em toda a cidade, deve requalificá-lo e mobilizá-lo para uso afecto de bolsas de arrendamento a custos controlados, regulando o mercado imobiliário, limitando os custos do arrendamento residencial tradicional, garantindo uma oferta habitacional a preços acessíveis, sobretudo para os mais vulneráveis.

    Tudo isto na linha do projecto já existente da criação de bolsas territoriais – conjuntos de fogos municipais todos localizados numa mesma área ou bairro, aos quais se podem candidatar os interessados em residir nessa zona da cidade, no âmbito do Regulamento do Regime de Acesso à Habitação Municipal, mas privilegiando o realojamento local dos moradores expulsos ou alvo de desalojamento, todavia, oriundos do bairro em questão. Assim, podia-se intensificar a reabilitação urbana de propriedades/edifícios de propriedade municipal ou estatal para uso como residência temporária para populações vulneráveis ou entretanto desalojadas.

    Se a expropriação é ainda uma questão tabu em Lisboa, o exercício do direito de preferência já não parece ser. Deste modo, devia-se averiguar a possibilidade de exercício de “direito de preferência” da CML que, nos termos da lei, tem preferência na aquisição de alguns imóveis.

    A “disneyficação” dos bairros históricos

    De acordo com os últimos dados do Banco Nacional de Arrendamento, os despejos duplicaram desde 2013 e, em média, são despejadas por dia cerca de 5,5 famílias, em todo o país”

    Luís Mendes

    A turismofobia alastra por várias cidades europeias. As manifestações anti-turistas correm o risco de se intensificar em Lisboa?

    Percorrendo as ruas de Lisboa deparamo-nos pontualmente com alguns slogans ou frases feitas mas repara-se que as mensagens dirigem-se sobretudo aos grandes grupos e agentes com responsabilidade na gentrificação e turistificação da cidade, como as agências imobiliárias, plataformas de alojamento turístico como o “airbnb”, ou até a autarquia de Lisboa, entre outros.

    Considero que não existe turismofobia nem risco de tal acontecer em Lisboa ou Portugal. As frases e expressões grafitadas nas paredes de Lisboa revelam na verdade algum tipo de xenofobia dirigida ao turista, mas dizem respeito sobretudo aos impactos que o excesso turístico provoca na vida das comunidades dos bairros históricos e não apresentam nenhum princípio de causar terror ou amedrontar, mas sensibilizar a opinião pública e a sociedade civil. São sintomáticas de algum mal-estar social que se vive, porque, na opinião de activistas e habitantes destes bairros, o fenómeno parece estar a atingir limites que comprometem a carga turística destes espaços e a sustentabilidade da qualidade de vida urbana.

    A descaracterização do centro histórico é cada vez mais intensa, com a “disneyficação” dos bairros históricos e a destruição e desmembramento de relações sociais entre antigos moradores da comunidade”

    Luís Mendes

    “Lisboa menina e moça menina/Da luz que os meus olhos vêm tão pura”. E vista pelos seus olhos, a capital está a perder autenticidade, pureza, identidade?

    A questão da genuinidade e autenticidade dos bairros tradicionais é polémica, porque parece que sempre que se invoca a identidade e memória urbanas destes espaços se está a defender um saudosismo e regresso ao passado e uma aversão à modernização e ao progresso, o que de todo não é verdade. O que se defende é que a relação entre modernidade e tradição que tão bem sempre caracterizou Lisboa se mantenha equilibrada. A observação empírica revela, contudo, que a descaracterização do centro histórico é cada vez mais intensa, com a “disneyficação” dos bairros históricos e a destruição e desmembramento de relações sociais entre antigos moradores da comunidade, atingindo a identidade e memória destes espaços, aspectos que são, por sua vez, um dos fortes atractivos para a chamada dos turistas a Lisboa. A proliferação de serviços e comércio sofisticado, única e exclusivamente para agradar ao turista, “urbanaliza”, porque massifica e torna igual, o que acaba por tornar indistintas as características tipicamente associadas ao comércio local. Deixa de ser distinto e portanto de valor como factor de atractividade turística. Era importante que certos políticos na CML e na Assembleia da República descessem à realidade e falassem com moradores e com os próprios turistas para lhes sentirem o pulso…

    OS NÚMEROS INVISÍVEIS DAS PESSOAS DEJALOJADAS

    • Nos últimos 6 anos, os preços da habitação para arrendamento aumentaram entre 13% e 36%, e para aquisição subiram até 46%, consoante as áreas da cidade, de que resulta, estima-se, uma taxa de esforço com a habitação situada entre 40% e 60% do rendimento familiar, quando os padrões comuns aconselham uma taxa de esforço até 30%.
    • Na capital, desde 2013, a freguesia de Santa Maria Maior perdeu quase dois mil habitantes. Isto dá mais de um habitante por dia, nos 4 anos que vão de 2013 a 2017. O despovoamento não é um fenómeno recente no centro histórico de Lisboa, sendo que os registos estatísticos do INE indicam que esta sangria demográfica se iniciou nos anos 40 do século XX, onde residiam 160 mil habitantes, residem agora 40 mil. Este processo durante o século passado relacionou-se sobretudo com a expansão da suburbanização e consequente formação da Área Metropolitana de Lisboa.
    • O último recenseamento populacional de 2011 não capta a perda populacional nos últimos anos agravada pelos despejos da nova lei das rendas de 2012 nem o impacto do Alojamento Local no mercado de habitação local. O número de desalojamentos recentes no centro histórico de Lisboa é desconhecido, até pela falta de estudos de diagnóstico que comprovem o que parece ser uma evidência clara para o investigador Luís Mendes, mas invisível aos olhos da opinião pública e sociedade civil. Várias associações falam no conhecimento de centenas de casos nos últimos anos, sobretudo nas freguesias centrais de Santa Maria Maior, Misericórdia e São Vicente, o que num universo de residentes de alguns milhares é bastante significativo, tratando-se, ainda para mais, de populações vulneráveis e em risco social.
    • Perante um cenário de rendas cada vez mais altas, aliado ao facto de os salários serem baixos para a maioria dos portugueses, o número de despejos disparou. De acordo com os últimos dados do Banco Nacional de Arrendamento (BNA), os despejos duplicaram desde 2013 e, em média, são despejadas por dia cerca de 5,5 famílias, em todo o país.
    • Segundo os dados do Ministério da Justiça, o número de pessoas despejadas em 2016 foi 91,7% superior ao número contabilizado três anos antes, o que pode sugerir evidência das dinâmicas descritas. Nesta matéria, este fenómeno continua a ser um buraco negro em Lisboa. O geólogo defende que as Juntas de Freguesia, com a ajuda de recursos técnicos, humanos e financeiros da Câmara Municipal, podiam avançar com um cadastro de levantamento aproximado do número de desalojados, bem como dos edifícios devolutos, com apoio das redes de vizinhança.