Translate

sexta-feira, 20 de abril de 2018

O regime da irresponsabilidade

Rui Ramos

20/4/2018, 6:38162

Tal como o PS apagou as suas responsabilidades na bancarrota de 2011, o PSD pretende apagar as suas responsabilidades na saída limpa de 2014. Daí os "acordos" desta semana.

Os acordos do PSD com o PS são um dos factos mais bizarros da política portuguesa, não em si, mas pelo realce que o PSD decidiu dar-lhes. Entendimento para subtrair dinheiro aos alemães e intenções sobre a “descentralização” sempre houve. Porquê esta encenação? Percebemos para que serviu ao PS, ao PCP, ao BE e até ao CDS. Mas para que serviu ao PSD? O PS, com acordos à direita e à esquerda, é agora a “força de equilíbrio”; o PCP e o BE provaram que só eles impedem uma recaída direitista no PS; o CDS, claro, é a única alternativa. E o PSD? Só estava a pensar em Portugal, como jurou Rui Rio?

Não, não estava. Para compreender isso, é preciso compreender a grande questão do regime. Chamemos-lhe a “questão da responsabilidade”. Há quase vinte anos que o país diverge da Europa, arrastando-se entre austeridades maiores e menores. De quem é a responsabilidade? O Partido Socialista é o suspeito mais evidente: governou a maior parte do tempo, e quando não governou, condicionou a governação, quer com as dificuldades que legou em 2002 e em 2011, quer com a oposição aos ajustamentos de Ferreira Leite e de Vítor Gaspar. Mas eis o mesmo pessoal político que chegou com Guterres e esteve com Sócrates outra vez no governo, e de que se fala? Do tamanho da sua maioria no próximo ano. Alguém lhes pergunta pelos PEC de 2010 e 2011? Não. Em contrapartida, toda a gente sabe que o PSD cortou pensões e aumentou impostos. O PS nunca deu “más notícias”: Guterres saiu antes de o país perceber o que se passava, e o memorando da troika, quando José Sócrates teve de o apresentar, era “um bom acordo”. Passos Coelho, pelo contrário, fez questão de não criar ilusões. Quis ser responsável – e foi responsabilizado. Porque houve austeridade em Portugal? Por causa do PSD.

A preocupação de Rui Rio não é recuperar a “social democracia”, que foi sempre o que pôde ser, ou fazer o Bloco Central, que ficará para o próximo resgate. É outra coisa: tal como o PS apagou as suas responsabilidades na bancarrota de 2011, o PSD pretende apagar as suas responsabilidades na saída limpa de 2014. Ter poupado o país ao fado da Grécia é bom, mas melhor ainda será fazer esquecer o que teve de ser feito para conseguir isso. E para mudar de marca, não haverá melhor truque do que tornar-se mais um conviva na comédia de “acordos” e de “distribuições” do actual governo. É preferível passar por “muleta do PS”, do que carregar o “odioso” das últimas décadas.

Mas Mário Centeno? Não está ele, com as suas resistências orçamentais, a dar um sinal de “responsabilidade”? Não, não se trata de responsabilidade, mas apenas de medo. Centeno, que teve esta semana o cuidado de se apresentar como um simples “agregador” das decisões dos outros,  sabe que a prosperidade, pelo que deve à conjuntura, não pode continuar a ser “distribuída”, sem o risco de catástrofes quando a conjuntura virar. Mas tendo medo, também Centeno não deseja ter responsabilidade. Daí a austeridade dissimulada e indirecta, aproveitando a hipocrisia de Catarina Martins e de Jerónimo de Sousa, decididos desta vez a não reparar na “destruição do Estado social”.

A economia portuguesa é uma das que menos cresce na Europa, apesar dos juros baixos, do petróleo barato e da enchente de turistas. Mas a oligarquia prefere fingir que “reformas” querem dizer “salários baixos”, e dar assim à inércia uma boa consciência (quando é precisamente a falta de reformas que obriga o país a competir com baixos salários). A lição foi sempre clara: nunca tomes para ti as responsabilidades que podes deixar para os outros. O PSD julga que já aprendeu.

Banqueiros filhos da puta

Novo artigo em Aventar


por João Mendes

GS.jpg

A organização terrorista Goldman Sachs, que entre outros fundamentalistas emprega o mordomo-lobista Durão Barroso, elaborou um estudo onde conclui que "as curas de doenças podem ser más para negócios no longo prazo". O documento, sugestivamente intitulado "Curar os pacientes é um modelo de negócios sustentável?", é todo um hino à lógica predatória que assiste ao capitalismo selvagem, onde o lucro se sobrepõe à dignidade do ser humano, pedra basilar do doentio liberal-fascismo.

Eis o mais perigoso inimigo de uma humanidade livre e emancipada. Não mata como Assad, Putin, Salman ou qualquer presidente norte-americano, mas tem um projecto esclavagista a longo prazo, infinitamente mais perigoso e melhor elaborado que qualquer estratagema saído da cabeça de um político corrupto ou tirano sanguinário. Até porque são estes tipos que compram políticos corruptos e tiranos sanguinários, não o contrário. Não, Pedro Pinheiro Augusto, não podemos confiar nestes banqueiros filhos da puta.

Portugal à venda

Novo artigo em Aventar

por Ana Moreno

Diz assim o anúncio:

Quer residir ou investir em Portugal? Nos dias 15 e 18 de Maio, vamos ter duas sessões de apresentação exclusivas sobre o mercado imobiliário em Portugal, os regimes de incentivo ao investimento (Visto Gold e Residentes Não-Habituais) e reuniões individuais para esclarecimento de dúvidas.

e é da empresa JLL:

uma consultora internacional especializada na prestação de serviços de imobiliário para clientes que procuram obter valor acrescentado na promoção, na ocupação ou no investimento imobiliário. Com mais de 300 escritórios em 80 países, servimos as necessidades locais, regionais e mundiais de clientes, fazendo crescer a nossa empresa ao longo do processo.

Impacto disto, já real, é:

"Fundos imobiliários, bancos e seguradoras compraram ruas inteiras e as consequências são desastrosas".

E o resultado, também já real ou a caminho disso, é este:

Quando se olha para o que se está a passar em Lisboa (e no Porto) percebe-se essa tendência. Os centros das cidades estão a ser ocupados por quem tem dinheiro para investir e isso vai conduzir à desertificação dos cidadãos locais, mesmo daqueles que, como classe média, ainda tentavam resistir. E Portugal, nesse aspecto, surge como um lugar seguro para elites francesas ou brasileiras. O centro das cidades começa a parecer-se com enormes condomínios privados. Um dia destes os presidentes das juntas de freguesia da parte central de Lisboa serão eleitos por eles próprios, porque não haverá eleitores. Ou seja, a democracia está a suicidar-se com esta aparente "economia de mercado".

Tudo, mas TUDO, se transforma em mercadoria. Vencem os poderosos. É uma história muito simples. Tão simples e que tanto dói.

Ditadores sofisticados

Novo artigo em Aventar


por João Mendes

BAAJC.jpg

Bashar al-Assad devolveu a condecoração que lhe foi atribuída pelo estado francês em 2001. Sim, é verdade: os nossos moralíssimos lideres ocidentais têm esse estranho vício de condecorar qualquer merda que lhes apareça à frente, democrata ou ditador, desde que sirva, ainda que momentaneamente, os seus interesses políticos e pessoais. Ou os interesses económicos de quem lhes paga as campanhas e lhes garante as reformas douradas.

Daí não admirar que Kadhafi tenha financiado a campanha de 2007 de Sarkozy, que os EUA armem a Arábia Saudita até aos dentes ou que o polidos britânicos sejam os banqueiros preferenciais dos oligarcas russos, com a sua City repleta de lavandarias de Vladimir Putin. Porque, por trás do falso moralismo e da preocupação fingida com a democracia e com o bem-estar da humanidade, estão quase sempre prostitutas políticas sem escrúpulos. Ditadores mais sofisticados, portanto.

BAAQE.jpg

João Mendes | 20 de Abril de 2018 às 14:39 | Etiquetas: Bashar al-Assad, condecoração, frança, jacques chirac, UMP | Categorias: política internacional, vária | URL: https://wp.me/p1qajf-5pvo

Comentar
Ver todos os comentários

A origem do nome Lisboa

A origem do nome Lisboa

por admin

Porque razão Lisboa se chama Lisboa? Diz a lenda popular e romântica que a cidade de Lisboa foi fundada pelo herói mítico Ulisses. Recentemente foram feitas descobertas arqueológicas perto do Castelo de São Jorge e da Sé de Lisboa que comprovam que a cidade terá sido fundada pelos Fenícios cerca de 1200 a.C.. Nessa época os fenícios viajavam até às Ilhas Sorlingas e à Cornualha, na Grã-Bretanha, para comprar estanho. Foi fundada uma colónia, chamada Alis Ubba, que significa "enseada amena" em fenício, provavelmente afilhada à grande cidade de Tiro, hoje no Líbano.

filmes estrangeiros rodados em lisboaLisboa

Essa colónia estendia-se na colina onde hoje estão o Castelo e a Sé, até ao rio, que chamavam Daghi ou Taghi, significando "boa pescaria" em fenício. Com o desenvolvimento de Cartago, também ela uma colónia fenícia, o controlo de Alis Ubba passou para essa cidade. Com a chegada dos Celtas, estes misturaram-se com os Iberos locais, dando origem às tribos de lingua celta da região, os Conni e os Cempsi.

LisboaLisboa

Os Gregos antigos tiveram provavelmente na foz do Tejo um posto de comércio durante algum tempo, mas os seus conflitos com os Cartagineses por todo o Mediterrâneo levaram sem dúvida ao seu abandono devido ao maior poderio de Cartago na região nessa época. Após a conquista a Cartago do oriente peninsular, os romanos iniciam as guerras de pacificação do Ocidente.

Casa mais antiga de LisboaCasa mais antiga de Lisboa (Foto: Daniel Jorge)

Cerca 205 a.C. Olissipo alia-se aos Romanos, lutando os seus habitantes ao lado das Legiões. É absorvida no Império e recompensada pela atribuição da Cidadania Romana aos seus habitantes, um privilégio raríssimo na altura para os povos não italianos. Felicitas Julia, como a cidade viria a ser reconhecida, beneficia do estatuto de Municipium, juntamente com os territórios em redor, até uma distância de 50 quilómetros, e não paga impostos a Roma, ao contrário de quase todos os outros castros e povoados autóctones, conquistados. É incluída com larga autonomia na província da Lusitânia, cuja capital é Eméritas Augusta, a actual Mérida (na Extremadura Espanhola).

LisboaLisboa

No tempo dos Romanos, a cidade era famosa pelo garum, um molho de luxo feito à base de peixe, exportado em ânforas para Roma e para todo o Império, assim como algum vinho, sal e cavalos da região. No fim do domínio romano, Olissipo seria uma dos primeiros núcleos a acolher o Cristianismo. O primeiro bispo da cidade foi São Gens. Sofreu invasões bárbaras, Alanos, Vândalos e depois fez parte do Reino dos Suevos antes de ser tomada pelos Visigodos de Toledo.

LisboaLisboa

Lisboa foi então tomada no ano 719 pelos mouros provenientes do norte de África. Em árabe chamavam-lhe Aschbouna, Al-Ushbuna ou Al-Lishbuna. Construiu-se neste período a cerca moura. Só mais de 400 anos depois os cristãos a reconquistariam graças ao primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques e ao seu exército de cruzados, em 1147. O primeiro rei português concedeu-lhe foral em 1179. A cidade tornou-se capital do Reino em 1255 devido à sua localização estratégica.

cidade mais bonita do MundoPadrão dos Descobrimentos - Joe Price

Resumindo: por volta de 1200 a.c., os Fenícios fundaram uma povoação a que deram o nome de Alis Ubbo («enseada amena»). Olisippo Felicitas Júlia, era o nome da cidade de Lisboa na época dos romanos. No século I antes da nossa era, foi concedido a Olisippo o estatuto de municipium civium romanorum. Os habitantes da cidade passaram a usufruir dos mesmos direitos que os cidadãos de Roma e tinham grande autonomia. Depois vieram as invasões bárbaras, a partir do século V da nossa era. Alanos, Vândalos, Suevos e os Visigodos. Os Visigodos, já no século VI, alteraram o nome da cidade para Ulixbuna ou Ulixbona. Com a vinda dos árabes, no século VIII, veio também a mudança (mais uma vez) do nome da cidade para Al-Usbuna.