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sexta-feira, 27 de abril de 2018

Entre as brumas da memória


Dica (750)

Posted: 27 Apr 2018 02:22 PM PDT

O 25 de Abril não é só português, é africano. Muito por agradecer, por saber (Alexandra Lucas Coelho)

«A cada ano, a desvalorização que muitos fazem do 25 de Abril mostra como as cabeças não foram descolonizadas. E enquanto não forem continuará a ser muito difícil travar alguns debates em Portugal. Continua a ser possível, por exemplo, falar-se em Museus dos Descobrimentos e outras pérolas.»

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27.04.1974 – Caxias com novos «hóspedes»: os pides

Posted: 27 Apr 2018 09:27 AM PDT

O Diário de Lisboa de 27 de Abril relata que, na madrugada desse dia, 170 agentes da PIDE foram levados da António Maria Cardoso para a prisão de Caxias, depois de cerca de outros 200 terem fugido por uma passagem subterrânea que ligava a sede daquela polícia a um outro prédio. 24 horas depois da saída dos presos, Caxias teve novos «hóspedes».

Além disso:

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A democracia portuguesa teve um fundador?

Posted: 27 Apr 2018 06:24 AM PDT

Sempre a ter surpresas. E vergonha também.
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44 x 25 do 4

Posted: 27 Apr 2018 02:45 AM PDT

«Na passada quarta-feira, o país comemorou o quadragésimo quarto ano da Revolução de Abril. Foi bonito. Durante um dia, o número quarenta e quatro não foi associado a velhacarias.

Na habitual cerimónia na Assembleia da República, o Presidente da República chamou a atenção para os perigos do populismo, enquanto tirava uma selfie com cravos. Marcelo Rebelo de Sousa, talvez por respeito para com o padrinho (que teve de ir para a Madeira quando nem hotel tinha marcado), na cerimónia do 25 de Abril, voltou a repetir o que tinha feito no ano passado: não usou o cravo vermelho na lapela, mas levou-o na mão. Apesar de tudo, sempre é um avanço em relação a Aníbal Cavaco, que nunca usou um cravo vermelho. Suponho que por opção, ou porque qualquer símbolo da revolução posto ao peito de Aníbal, de imediato, murcha.

Quando eu era pequeno e vi aquele cartaz do miúdo a pôr o cravo no cano da G-3, achava que ele trabalhava para a PIDE e que aquilo tinha sido uma tentativa de entupir as metralhadoras para os fascistas se safarem. Depois o meu pai lá me explicou que era um símbolo da revolução. Achei estranho uma flor ser um símbolo revolucionário e, durante algum tempo, achava que MFA queria dizer Movimento dos Floristas Armados... Desculpem.

Há que reconhecer que o 25 de Abril tinha uma boa banda sonora. Muito melhor do que, por exemplo, a revolução francesa, que era muito à base de marchas e tambores, e a revolução industrial, que era, quase, só barulho. Para mim, a nível de banda sonora, o 25 de Abril está em segundo, logo a seguir ao 26 de Julho de Cuba.

Outro argumento a favor do 25 Abril é o facto de ter sido uma revolução sem sangue. Os capitães de Abril reuniram-se para fazer uma revolução, e penso que foi o Salgueiro Maia que disse - "Tudo bem. Mas desde que não meta sangue, que a mim o sangue faz-me muita impressão. Não posso ver sangue." E o Otelo concordou: - "Tens toda a razão, camarada, eu sei o que é isso. Tenho pavor de agulhas. Ainda ontem fui levar uma vacina e ia desmaiando. Portanto, fica decidido. O 25 de Abril vai ser uma revolução sem sangue, nem agulhas… nem baratas; que me arrepiam todo."

Voltemos ao presente. Este ano, tivemos uma comemoração quase tão calma e pacífica como a própria revolução. Para celebrar a data da liberdade, António Costa convidou quem quisesse a ir visitar os Jardins da Residência Oficial de São Bento, onde estavam alguns dos mais emblemáticos símbolos de Abril. De destacar, a chaimite, onde foi transportado Marcelo Caetano, que esteve exposta em São Bento e a seguir foi alugada pela Remax a um casal de franceses - "Aluga-se chaimite com muito cachet a São Bento, mil e quinhentos euros/mês - foi um instante."

Para terminar, alguma direita ficou chateada com a inauguração do Jardim Mário Soares, outrora conhecido como Jardim do Campo Grande. Não fiquem chateados. Imaginem que aproveitavam o 25 de Abril para inaugurar a Praça Otelo Saraiva, onde está agora a Praça de Touros do Campo Pequeno.»

João Quadros

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Dica (749)

Posted: 26 Apr 2018 02:06 PM PDT

New Tax Paradigm In The Digital Age (Charles Enoch)

«Much of the western world is experiencing a social crisis. Basic public services—in the UK, for instance, the National Health Service—are set at unsustainably low levels of funding. Unemployment, already high amongst the young, is set to rise rapidly as workers may be replaced by machines powered with artificial intelligence (AI).»

Investigadores criam polímero idêntico ao plástico e facilmente reciclável

Investigadores criam polímero idêntico ao plástico e facilmente reciclável

27/4/2018, 17:22

Investigadores da Universidade do Colorado, Estados Unidos, criaram um polímero com as mesmas características do plástico, mas que pode ser convertido ao estado original e facilmente reciclado.

BARBARA WALTON/EPA

Investigadores da Universidade do Colorado, Estados Unidos, criaram um polímero com as mesmas características do plástico, mas que pode ser convertido ao estado original e facilmente reciclado. Químicos da Universidade do Colorado acreditam ter dado um passo importante no uso de materiais sustentáveis, que não deixam resíduos e que podem competir com os convencionais plásticos.

Os investigadores, liderados por Eugene Chen, professor do departamento de Química, descobriram um polímero que tal como o plástico é leve, resistente, nomeadamente ao calor, e durável. E pode converter-se de novo ao estado original de pequena molécula e ser quimicamente reciclado, sem o uso de produtos tóxicos ou procedimentos laboratoriais intensos.

A descoberta é publicada na revista Science, num artigo no qual se lembra a importância dos plásticos, que são baratos, leves e duradouros, características que os tornaram indispensáveis, mas que por isso também estão a poluir o planeta. Os polímeros são grandes moléculas, formadas por moléculas mais pequenas chamadas monómetros. Podem ser plásticos mas também cerâmicas, borrachas e muitos produtos comerciais, e são encontrados em materiais que vão dos sacos de plástico aos brinquedos, às roupas ou mesmo coletes à prova de bala.

O polímero agora anunciado baseou-se num quimicamente reciclável que o laboratório de Chen criou em 2015. Segundo Chen, o novo material tem um peso molecular elevado, estabilidade térmica e cristalinidade, além de propriedades mecânicas com um comportamento semelhante ao plástico. E além de reciclado pode ser re-polimerizado, entrando na chamada economia circular. “Os polímeros podem ser quimicamente reciclados e reutilizados, em princípio, infinitamente”, disse Chen.

Kim Jong-un e Moon Jae-in anunciam “uma nova era de paz” e prometem “desnuclearização da Península da Coreia”

ATUALIZADO

A cimeira arrancou com um longo aperto de mão entre os dois líderes, que no final anunciaram a chegada de "uma nova era de paz". "Não vamos voltar atrás no tempo", garantiu Moon Jae-in.

KOREA SUMMIT PRESS POOL/AFP/Getty Images

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Começou com um longo aperto de mão e terminou com um abraço caloroso. A cimeira entre as duas Coreias arrancou na madrugada desta sexta-feira no lado sul-coreano da Zona Desmilitarizada da Coreia (ZDC), culminando na assinatura de um acordo onde os líderes dos dois países firmaram o seu compromisso com “uma nova era de paz” e com a “desnuclearização da Península da Coreia.

“Vamos transformar as relações da Península da Coreia em terra, no mar e no ar. Vamos suspender todas as formas de hostilidades”, disse o líder da Coreia do Sul, que sublinhou que “não vamos voltar atrás no tempo”. Moon Jae-in anunciou ainda que vai haver, ao longo deste ano, novos encontros entre os dois países para que se chegue a um acordo de paz formal (para o qual terá de haver o consentimento da China e dos EUA, que também combateram na guerra de 1950-53) ainda em 2018.

Moon Jae-in disse também que, entre os pontos acordados, está a desnuclearização da Península da Coreia”. Na declaração assinada por ambas as partes, é explicado a desnuclearização que será feita de forma “faseada” e “à medida que for aliviada a tensão e forem feitos progressos substanciais na construção de confiança mútua militar”. Este é um detalhe que está a ser referido por vários analistas como um entrave a um possível entendimento entre Donald Trump e Kim Jong-un, que estarão reunidos numa cimeira inédita no final de maio. Da perspetiva de Washington D.C., parece haver pouca flexibilidade para lá de uma desnuclearização que não seja imediata e efetiva.

[Veja no vídeo os detalhes, pensados ao pormenor, do encontro das duas Coreias]

Kim Jong-un falou depois do Presidente da Coreia do Sul, deixando uma mensagem de união — mas não necessariamente de reunificação — entre os dois países. “O mesmo sangue, a mesma cultura e a mesma nação não pode estar separada. Nós somos irmãos. Esperamos unir esforços e abrir caminho para um novo futuro. Por isso é que eu atravessei a fronteira e vim à Coreia do Sul”, disse o ditador norte-coreano.

Apesar de estar escrito preto no branco no acordo que ambos os líderes assinaram, Kim Jong-un não fez referências à “desnuclearização” anunciada. Ainda assim, deixou uma garantia: “Vamos poder desfrutar da paz e prosperidade na Península da Coreia sem ter medo da guerra”.

Outros pontos do acordo incluem:

  • Uma cerimónia de reunião de famílias separadas pela guerra a 15 de agosto;
  • O estabelecimento de um “centro de contacto” entre os dois países em Kaesong, a cidade norte-coreana onde, entre 2002 e 2016, funcionou um complexo industrial financiado pela Coreia do Sul;
  • Os dois países vão competir juntos em eventos desportivos internacionais, como os Jogos Asiáticos, para demonstrar “sabedoria e conhecimentos coletivos” e “solidariedade”;
  • Serão dados “passos práticos” para estabelecer a “ligação” e “modernização das ferrovias e estradas” entre os dois países, de Seul (capital da Coreia do Sul) a Sinuiji (cidade no Noroeste da Coreia do Norte);
  • Moon Jae-in irá visitar Pyongyang no outono.

Dia marcado pela boa disposição

O encontro da manhã entre os dois líderes parece ter sido marcado pela cordialidade e até pelo humor. Ao fazer conversa sobre a viagem até à ZDC, Kim disse “vou fazer por não interromper o seu sono mais nenhuma vez”, numa frase que vários analistas interpretaram como sendo uma piada sobre os lançamentos de mísseis norte-coreanos, que costumam ocorrer de manhã cedo. E Moon referiu-se à irmã de Kim, Kim Yo-jong, que está presente nas reuniões, como uma “celebridade” na Coreia do Sul — o que, de acordo com Seul, fez com que Yo-jong corasse.

A reunião entre os líderes das duas Coreias desta sexta-feira foi sem dúvida histórica. Não só este é apenas o terceiro encontro entre os dois países desde a guerra que separou a península em 1953 — depois de reuniões no ano 2000 e em 2007 — como a viagem é apenas a segunda deslocação internacional de Kim Jong-un (a primeira foi à China, em março deste ano).

Os líderes seguiram depois para a cerimónia da guarda de honra na praça principal de Panmunjom, a chamada “Aldeia da Trégua” que está no centro da Zona Desmilitarizada da Coreia (ZDC) e que se considera ser “terra de ninguém”. Os chefes de Estado de ambas as Coreias caminharam até por breves momentos de mãos dadas.

Antes de entrar para a primeira reunião, Kim Jong-un ainda teve tempo de assinar o livro de visitas da “Casa da Paz”: “Uma nova História começa agora. No começo da História e da era da paz”, escreveu.

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Hawon Jung@allyjung

Here's a message Kim Jong Un wrote on the guestbook at the Peace House summit venue, which reads "A new history begins now - at the starting point of history and the era of peace." #interkoreasummit

02:05 - 27 de abr de 2018

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Nas primeiras declarações dos líderes que foram televisionadas, Kim Jong-un disse-se disponível para uma conversa “franca” e deixou um pedido: “Não regressemos aonde estávamos. Consigamos desenvolvimentos“. “Demorámos 11 anos. Enquanto caminhava para aqui, perguntava-me ‘por que demorámos tanto?'”, disse Kim. Quanto a Moon, o Presidente sul-coreano mostrou-se otimista: “Espero que todo o mundo esteja a prestar atenção à primavera que se está a espalhar por toda a península coreana.” A reunião prosseguiu depois à porta fechada, com 100 minutos marcados por “conversações sinceras e honestas”, de acordo com Seul.

As autoridades sul-coreanas destacaram também dois momentos que classificaram como “inesperados”. O primeiro já tinha sido óbvio nas imagens dos apertos de mão, quando Kim Jong-un parecia ter quase arrastado Moon Jae-in para o lado Norte da linha de demarcação: de acordo com Seul, Moon terá dito que gostava de poder visitar a Coreia do Norte e Kim terá respondido “Por que não vamos agora?”. O segundo momento foi uma sugestão do Presidente sul-coreano para que fosse tirada uma foto de grupo com todos os dignatários dos dois países.

Depois do almoço, um momento simbólico com um pinheiro

Na pausa para almoço, Kim Jong-un regressou ao lado Norte da fronteira para comer com a sua comitiva. Depois da refeição, tornou a reunir-se com Moon Jae-in, por volta de 30 minutos. Quando saíram da “Casa da Paz”, protagonizaram um dos momentos mais simbólicos deste dia que, já por si, foi altamente simbólico: plantaram um pinheiro em conjunto.

CNN International

@cnni

JUST IN: Kim Jong Un and Moon Jae-in take part in a tree-planting ceremony using soil and water from both Koreas https://cnn.it/2FjfQOY

08:36 - 27 de abr de 2018

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Os dois líderes juntaram-se à frente de um pinheiro recentemente plantado. Ali chegados, cada um pegou numa pá e lançou solo da montanha Hallasan (no Sul) e do Monte Baekdu (no Norte), os picos mais altos dos dois países, aos pés daquele pinheiro. De seguida, regaram a árvore com água proveniente de dois rios, cada um do seu lado da fronteira. Ao lado, foi desvendada uma placa onde, sobre a assinatura dos dois líderes, se pode ler: “Plantamos a paz e a prosperidade”.

Este episódio contrasta com um incidente que envolveu outra árvore na Zona Desmilitarizada, em 1976, mas esse bem mais violento: resultou na morte de dois soldados norte-americanos à machadada e por pouco não provocou uma nova guerra.

A seguir à cerimónia de plantação do pinheiro, os dois líderes fizeram uma curta caminhada antes de se sentarem para uma conversa privada — mas à vista de todos, à distância — ao ar livre que durou cerca de 30 minutos, terminando às 16h13 locais (9h13 de Lisboa). Só depois deste momento foram assinados os acordos e o seu conteúdo foi anunciado.

O banquete simbólico

Depois das reuniões, os dois líderes partilharam um banquete às 18h30 (10h30 em Lisboa) onde todo o menu foi planeado ao pormenor. As primeiras-damas dos dois países também estiveram presentes. Houve pratos das cidades-natal dos três presidentes da Coreia do Sul que participaram em cimeiras com a Coreia do Norte e comida tanto do Norte como do Sul da Península.

De Pyongyang, por exemplo, virá Naengmyun, um prato de noodlesfamoso da capital norte-coreana, segundo a CNN. Mas o cardápio também contou com uma influência internacional: é o caso do sti de batata, um prato da Suíça, país onde Kim Jong-un estudou.

Cada prato tem um peso simbólico, como o de peixe-gato, comido dos dois lados da fronteira e por isso apresentado como representação das semelhanças entre os dois países. Já a sobremesa causou algum desconforto, ou não fosse a mousse de manga servida num mapa que inclui ilhas disputadas por ambas as Coreias e pelo Japão — o que levou inclusivamente a um protesto formal dos nipónicos.

Após a refeição, as delegações assistiram a um filme intitulado “Uma Nova Primavera Desfrutada em Conjunto”. No final da projeção, Kim Jong-un regressou à Coreia do Norte, pondo fim a um encontro que começou com simbolismo e terminou com uma declaração de intenções para atingir a paz e a desnuclearização — mas onde os pormenores escasseiam.

Quem participou na cimeira?

Os líderes dos dois países, naturalmente, mas não só. Pela primeira vez numa cimeira das duas Coreias, explica a BBC, a delegação do Norte incluiu representantes militares e diplomatas.

Do lado de Pyongyang, esteve presente o vice-presidente do Comité Central, Ri Su Yong, que a NBC descreve como influente na política internacional do país. Outro nome de destaque é o ministro dos Negócios Estrangeiros, Ri Yong-hog, ex-embaixador no Reino Unido que ainda no ano passado foi às Nações Unidas classificar Donald Trump como “Presidente Maléfico”. Uma das presenças mais polémicas foi a de Kim Yong-chol, chefe das secretas e um nome odiado na Coreia do Sul por ter ordenado a morte de 46 marinheiros do país.

Do lado de Seul, Moon contou com os representantes das secretas e da Defesa, entre eles Moon Chung-in, que estudou vários anos nos Estados Unidos, e Suh Hoon, que chegou a viver dois anos na Coreia do Norte, durante os anos 90.

Como foi possível chegar aqui?

As expectativas para a cimeira eram elevadas, mas até recentemente poucos esperavam que algo do género pudesse acontecer. Depois de momentos de tensão — como os dos testes nucleares norte-coreanos —, o gelo parece ter começado a derreter em janeiro, quando Kim se disse “aberto ao diálogo” com a Coreia do Sul. Do lado de Seul, Moon é um Presidente que, ao contrário de alguns antecessores, tem defendido uma política de negociação com Pyongyang.

Os Jogos Olímpicos de Inverno cimentaram esta aproximação, com as equipas de ambos os países a marcharem na cerimónia de abertura sob a mesma bandeira e com a diplomacia desportiva a dar frutos.

Resta saber quais as motivações de Pyongyang para se mostrar agora disponível ao diálogo, depois de anos de desafio. Os resultados da cimeira desta sexta-feira pode ajudar a entender o que devemos esperar do encontro marcado com o Presidente norte-americano, Donald Trump, que há alguns meses ainda prometia “fogo e fúria” aos norte-coreanos, mas que agora se irá sentar à mesa com Kim.

E se o Benfica não for pentacampeão?

Novo artigo em Aventar


 

por António Fernando Nabais

Confesso: tenho muito medo de que o Futebol Clube do Porto seja campeão nacional. Esse medo não nasce do meu já lendário benfiquismo, sendo antes resultado da minha profunda amizade por alguns portistas.

Na verdade, alguns dos meus amigos adeptos do extraordinário clube que é o Futebol Clube do Porto cultivam uma fé cega (o que é, talvez, uma redundância) na certeza de que os sucessos do Benfica assentam exclusivamente na corrupção, num domínio absoluto da arbitragem, através de uma multiplicidade de meios e de uma rede tentacular – mesmo octópode. Esses meus amigos têm, desde o início do campeonato, a certeza absoluta de que o Benfica será campeão nacional, ao contrário de mim, que acredito sempre que, enquanto for matematicamente possível, está-se sempre a tempo de não ficar em primeiro lugar. Isto quer dizer que, apesar da minha natureza essencialmente corrupta, tenho pouca fé na corrupção e chego, até, a duvidar de Jonas. Ler mais deste artigo

Carta a Amadeu Guerra

por estatuadesal

(Por Ricardo Marques, in Expresso Diário, 27/04/2018)

amadeu_guerra

Exmo. Senhor Diretor do DCIAP

DR. AMADEU GUERRA (PROCURADOR GERAL ADJUNTO)

Departamento Central de Investigação e Ação Penal

Rua Gomes Freire n.º 213, 1150-178 Lisboa

Excelência,

Espero que esta o encontre bem, assim como aos que consigo trabalham — e que, não obstante as mais diversas tentativas, não consegui vislumbrar na mais recente produção cinematográfica com que nos brindou o departamento que superiormente dirige.

Assisti com algum desconforto à discussão que se instalou nos últimos dias acerca da obra, principalmente porque me parece que é absolutamente lateral. Lemos e ouvimos incontáveis opiniões acerca do segredo de justiça e do direito à informação, mas nem uma linha, nem uma palavra sobre a questão realmente decisiva. Como tantas vezes sucede, enredados que estamos a analisar o fotograma, acabamos por perder uma excelente oportunidade para discutir o filme.

Não encontrará nestas linhas, Excelência, uma palavra que seja sobre o acessório. Cingir-me-ei ao essencial. E o essencial, senhor procurador-geral-adjunto, é a opção estética feita pelo DCIAP ao nível da realização do filme dos interrogatórios da denominada Operação Marquês. Em especial, o recurso à câmara estática e ao plano picado.

Rendi-me ao fim de apenas alguns segundos e, admito-o sem pingo de vergonha, terei mesmo exclamado, aos gritos numa sala vazia, algo como: "Génio! Puro génio!" Hoje percebo melhor o meu próprio entusiasmo. Naqueles instantes primevos de exposição à obra fui transportado à Paris de 1895 e dei por mim sentado a assistir ao histórico filme de Louis Lumière, "L'Arrivé d'un Train". Literalmente, senti-me como se um enorme comboio viesse na minha direção e não houvesse fuga possível. E fiquei ali.

George Sadul, na sua "História do Cinema Mundial", um livrinho que tenho aqui guardado, nota que se trata de uma espécie de 'travelling' invertido. "A câmara não se desloca", diz ele, "mas os objetos ou as personagens aproximam-se ou afastam-se constantemente dela". "Esta perpétua variação do ponto de vista permite extrair do filme toda uma série de imagens tão diferentes com os sucessivos planos de uma montagem moderna", conclui o Sadul, incapaz de adivinhar que 123 anos volvidos, numa sequência de balanços na cadeira e de gestos intensos personagens, voltaria a fazer-se história.

O génio da obra do departamento que dirige vai muito além da câmara estática, dessa homenagem aos dias do cinematógrafo. A aposta no plano picado coloca-nos como que sentados numa nuvem, como anjos, a assistir à história a acontecer diante dos nossos olhos. E nem sequer estamos sempre na mesma nuvem, embora não nos livremos de uma estranha sensação de fim do regime. Do mundo, digo. "Na 'chegada do comboio', a locomotiva vinha do fundo da tela e avançava para os espectadores, fazendo-os estremecer com o medo de ficarem esmagados. Identificavam, assim, a sua visão com a da máquina: a câmara era, pela primeira vez, um personagem do drama", resume o Sadul.

Ora, como se tudo isto não fosse suficiente, optaram os senhores por introduzir uma dimensão ainda mais extraordinária na vossa produção. Uma espécie de presença na ausência. Falo, como Vossa Excelência já deve ter adivinhado, das vozes que inquirem, das perguntas que surgem de nenhures para interpelar os personagens. No fundo, somos nós, do alto das nossas nuvens, que lhes falamos. Queremos saber, queremos saber – e não é o horário do comboio que queremos saber. As vozes exigem mais.

O modo desconfiado com que, a dado momento do filme, um dos advogados nos contempla leva-me inapelavelmente para as derradeiras linhas da humilde carta que lhe dirijo. Há no olhar daquele homem um misto de surpresa e resignação, como se reconhecesse, ali e então, estar em presença de uma obra seminal da cinematografia nacional e, em simultâneo, nos rogasse para que nada volte a ser como já foi.

Aqui chegados, e porque sei bem como são ocupados os seus dias, permita-me senhor procurador-geral-adjunto algumas sugestões. Não se trata de comprometer a integridade artística em obras futuras. Já ouvi dizer que o departamento que dirige não faz justiça ao cinema; que trata a imagem como se fosse apenas uma versão melhor das velhas cassetes em que se gravavam os interrogatórios. São os mesmos que, se levados diante de uma pirâmide, provavelmente iriam queixar-se de que a porta é pequena. São vozes, mas daquelas que não chegam ao céu.

Como lhe digo, não se trata de mudar por mudar. Ainda assim, creio que muito havia a ganhar se as próximas obras do DCIAP apresentassem, digamos, uma estética renovada. Imagine uma pequena câmara colocada na gravata dos procuradores? Há anos que os americanos o fazem com os polícias. Ou um plano fechado apenas nas mãos de quem está à mesa? Quem sabe apostar em grandes planos dos intervenientes, em momentos-chave da história, ou colocar uma câmara no teto, para obter planos de ambiente e, mais fechados, dos apontamentos... Estaríamos, bem sei, perante um novo paradigma ao nível da realização, mas é um erro ignorar os tempos em que vivemos.

Lembre-se: o comboio da vida anda sempre à tabela. Nós é que nos atrasamos.

Com os melhores cumprimentos,