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terça-feira, 8 de maio de 2018

A sombra do «Espírito Santo» em Portugal

Fazer de José Sócrates o bodo expiatório de tudo o que há de podre no nosso sistema político é obviamente a melhor forma de preservar esse sistema tão intocado quanto possível.

Não há nada de mais originalmente português – e no meu modesto entendimento, de mais belo no que há de espiritual na religião – do que o “culto do Espírito Santo” que praticamente se confina hoje em dia aos Açores.

Ironicamente, quis a história fazer do “Espírito Santo” o nome da mais importante casa financeira da história contemporânea de Portugal, símbolo da confusão de interesses e do “complexo financeiro” que domina a vida económica, social e política portuguesa, e que não podia simbolizar de forma mais perfeita a antítese ao “Espírito Santo” tradicional português.

Como revela o biógrafo oficial mais conhecido do regime, Franco Nogueira, o “Espírito Santo” é uma presença constante na vida política portuguesa e muito em especial de Salazar, tendo inclusivamente financiado a vinda do casal Garnier e a encenação de um pseudorromance entre a jornalista do casal e o nosso ditador.

E se a revolução desestabilizou por alguns anos a sombra do “Espírito Santo” entre nós – mas não outros negócios que se vieram a revelar fundamentais na evolução do regime – em breve o temos de volta a ele e literalmente, ao seu espírito, ou seja, uma pletora de casas financeiras vivendo em conúbio mais ou menos óbvio com o Estado e a política que prosperaram durante décadas à custa do erário público nacional.

Portugal tornou-se campeão na falta de transparência nas relações entre a sua classe política e financeira, instituindo uma passadeira rolante entre membros do governo e da finança e uma teia de interesses, negócios e cumplicidades entre eles.

Será necessário lembrar Cavaco Silva e a transformação do seu núcleo duro político financeiro no BPN ou as aventuras do principal grupo de comunicação social-democrata na banca, nomeadamente através do BPP? E o financiamento descarado do BPN/SLN a Cavaco Silva antes de falir?

Os socialistas foram tão ou mais longe que a direita na teia de compadrios e negócios no universo “Espírito Santo” nas PPP ou em tudo o resto, com a agravante, no caso de José Sócrates, de ter tido o desplante de acabar com as férias judiciais, atitude que lhe valeu o ódio corporativo da classe e que explica em certa medida o empenho desta em o perseguir.

  1. Reforma política ou encontrar o bode expiatório?

Poderia o poder judicial e político adoptar em Portugal o que é a regra da generalidade do funcionamento das democracias (excepção feita aos vários abrigos fiscais) de submeter o segredo bancário ao interesse público. Para que isso acontecesse, teria de ter algum interesse genuíno na reforma do nosso sistema político-financeiro e na perseguição do negócio privado à custa do erário público, o que não creio ser o caso.

É incompreensível que entre nós os agentes económicos, políticos e sociais, nomeadamente os que giram à volta do Estado (e isto inclui toda a banca) não sejam obrigados a documentar todos os pagamentos que fazem, e que naturalmente sejam considerados culpados de crime se não souberem explicar a origem e o destino de milhões que transacionam.

Na verdade, não parece que as intenções estivessem para além de cilindrar José Sócrates. No entretanto, o Banco Central Europeu forçou a falência do Grupo Espírito Santo, e a perseguição a José Sócrates tornou inevitável a investigação dos negócios do Espírito Santo e dos grandes grupos como a EDP ou a antiga Telecom, com apreciáveis danos colaterais.

Os “Panama Papers” acabaram por revelar muito do segredo bancário tão incensado entre nós, com a irónica peculiaridade de o consórcio de jornalistas que administra o sistema ter como parceiro português o maior grupo de imprensa, e justamente o que mais enfeudado esteve ao apadrinhamento do “grupo Espírito Santo”. Ou seja, confiou à raposa a tarefa de guardar o galinheiro.

Depois de manter um embaraçado silêncio sobre as revelações dos Panama Papers sobre si, eis que o cartel de silêncio começa a soçobrar com um dos seus membros a dar à estampa um livro onde confessa os lautos presentes que recebeu do Grupo Espírito Santo e dá algumas pistas sobre a participação dos seus colegas na rede de afilhados do “Espírito Santo”.

Entre as inúmeras questões que este novo desenvolvimento coloca, duas há que são neste momento incontornáveis.

O que se passa com a plêiade de comentadores televisivos que fizeram ou fazem a ponte entre os canais de televisão e os partidos políticos, lote que inclui personalidades tão importantes como Marques Mendes ou Marcelo Rebelo de Sousa?

O problema não é só nem fundamentalmente julgar sobre a sua honestidade, mas antes entender até que ponto não pode informação privilegiada sobre eles estar a ser utilizada para os condicionar politicamente.

A segunda questão é a de saber a razão da urgência em eliminar o ex-Primeiro Ministro José Sócrates. Será que há quem receie que o que ele tem a contar possa causar estragos dificilmente reparáveis?

Fazer de José Sócrates o bodo expiatório de tudo o que há de podre no nosso sistema político é obviamente a melhor forma de preservar esse sistema tão intocado quanto possível.

  1. A dimensão internacional da crise

Durante todos estes anos, Angola serviu como bombo da festa e razão de ser de tudo o que de mau aconteceu entre nós, sem que aparentemente ninguém tivesse o bom senso de se perguntar como era possível que se tivessem assim invertido as posições, a ponto de a ex-colónia portuguesa ser responsável por tudo o que de mau se passava entre nós.

Angola e a sua elite (com a excepção de Cabo Verde) têm uma relação longa e profunda com Portugal, e sofrem naturalmente dos mesmos vícios, assim como também partilham das suas qualidades. Qualquer análise objectiva tem de reconhecer que, no quadro das potências petrolíferas africanas, a antiga colónia portuguesa se destaca pela positiva.

A verdade é que Angola desempenhou por um lado o papel de testa de ferro da República Popular da China em Portugal, e por outro foi também vítima das burlas protagonizadas por portugueses e angolanos, mas não tem qualquer papel estratégico na determinação do que se passou em Portugal. É mais cómodo e menos arriscado dizer mal de Angola do que da China, e só assim podemos compreender a obsessão da imprensa portuguesa com Angola.

Para além da China, a fonte internacional de corrupção mais importante entre nós foi o eixo irano-venezuelano, e é curiosíssima a forma como se procura esconder essa verdade dos portugueses.

Faz-se um ensurdecedor barulho sobre os contratos de contrapartidas pela compra de submarinos, mas deixa-se de fora o único contrato que não é relativo a sucata, comissões ou contrapartidas fictícias; a colaboração da Ferrostaal com as autoridades portuguesas no torpedear das sanções internacionais ao Irão e no iniciar dos contratos luso-venezuelanos.

Fala-se do apagão fiscal de muitos milhares de milhões de euros de fundos saídos de Portugal. São fundamentalmente fundos da petrolífera venezuelana que saíram silenciosamente do BES por responsabilidade política de um membro do governo que, coincidência, tinha sido consultor, exactamente, da petrolífera venezuelana. A Inspecção Geral das Finanças conclui ser impossível que o apagão tivesse mão humana, sendo tudo uma infeliz coincidência.

Fala-se de cem milhões de Euros saídos do Grupo Espírito Santo só em presentes a dirigentes venezuelanos, mas nada se investiga a esse propósito.

A imprensa espanhola e internacional publicitam largamente uma operação das autoridades judiciais portuguesas em Madrid e Andorra para detectar cinco mil milhões de euros da petrolífera venezuelana em contas do BES, mas há um sepulcral silêncio sobre a mesma entre nós.

Será que é aqui que está o nó górdio da questão? Será que é sobre isto que se quer manter um pesado véu de silêncio?

No bicentenário do nascimento de Karl Marx

por estatuadesal

(Guilherme da Fonseca Statter, 07/05/2018)

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Em que estou a pensar?... Na eventual inutilidade de anos de estudo.

Ao longo dos últimos dias têm aparecido, um pouco por todo o lado, umas referências ao bicentenário do nascimento de Karl Marx. Não me lembro se quando foi o centenário no nascimento de Albert Einstein terá havido igual comoção pública. Um foi um génio das ciências «histórico-sociais», outro foi um génio das ciências «físicas».

Também por isso Karl Marx pode – com toda a justiça – ser considerado o Einstein das ditas ciências «histórico-sociais». A grande – enorme - diferença é que um mexe com um ramo do conhecimento que os «donos disto tudo» ou a alta burguesia, facilmente controla e de que até se aproveita com toda a naturalidade. A Física e a Química são fundamentais para a produção e controle das riquezas. Enquanto que o outro mexe directamente com um ramo do conhecimento que põe directamente em causa a sustentabilidade lógica do sistema de produção e distribuição de riqueza a que chamamos Capitalismo.

Já nem falo da Ética, pois que essa faceta não tem a ver com «ciência» pura e dura...
Entretanto tal como Einstein cometeu alguns erros, e em relação a um deles (a famigerada «constante cosmológica») o próprio afirmou ter cometido a maior asneira da sua vida, sendo que afinal parece que nem terá sido uma asneira.

Mas adiante. Pois se Einstein (e também Newton já agora...) cometeu erros, nada de mais natural que, no meio de milhares de páginas escritas, também Karl Marx tenha cometido alguns erros. Designadamente na forma como se exprimiu relativamente a alguns temas e problemas mais bicudos e, sobretudo, com as várias mudanças de formato com que queria apresentar (sublinho o apresentar!...) as suas teses.

Mas continuemos.
Na minha assumidamente imodesta opinião, o comportamento evolutivo da taxa de lucro é o elemento crucial que ajuda a compreender a lógica e a dinâmica profunda do sistema capitalista, com reflexos indirectos, mas fortíssimos, na nossa vida diária. Desde a corrupção com que nos bomdardeiam todos os dias, até às guerras por causa dos combustíveis fósseis e das tentativas de manter uma hegemonia politico-militar a todo o custo, passando pelas privatizações de tudo e mais alguma coisa.

Entretanto, o fenómeno recorrente da tendência para a queda da taxa de lucro era (e é!...) um fenómeno empiricamente constatado. Essa constatação já vem desde pelo menos os tempo de Adam Smith. A noção de que é preciso provar (ou demonstrar...) essa queda tendencial da taxa de lucro é uma noção profundamente errada. Repito e sublinho: é uma noção profundamente errada. Seria como se fosse necessário demonstrar a força da gravidade. Um tal «erro» só se pode explicar por enviesamento ideológico. E no entanto são aos milhares as páginas publicadas a esse respeito. Para provar, confirmar ou infirmar se de facto existe, ou não, uma tal tendência.

Ficamos com a sensação de que depois de os clássicos – e mesmo Keynes nos tempos mais recentes – terem constatado, observado e relatado a referida tendência para a queda da taxa de lucro (e lembremos que a maximização do lucro é o farol que orienta toda a actividade das empresas...), por artes mágicas da «Natureza», essa tendência evaporou-se... Saiu do planeta Terra e foi dar uma volta por outra galáxia.

A esse respeito veja-se a incontornável Wikipedia:
«A tendência para a queda da taxa de lucro é uma hipótese (note-se bem, digo eu, uma «hipótese»), em teoria económica e economia politica, famosamente exposta por Karl Marx no capítulo 13 de O Capital, Volume III.»
Uma hipótese... Pois... O autor daquelas linhas que se atire de uma janela abaixo e logo vê se a tendência da força da gravidade para atrair os corpos pesados também precisa de ser «demonstrada».

Mais adiante, na mesma Wikipedia, vem:
«No seu manuscrito de 1857 «Grundrisse», Karl Marx considerou a tendência para a queda da taxa de lucro, «a mais importante lei da economia política» e procurou dar-lhe uma explicação causal, nos termos da sua teoria da acumulação de capital. A tendência vinha já pressagiada no capítulo 25 d'«O Capital», Volume I (Da “lei geral da acumulação de capital“), mas na Parte 3 do manuscrito do Volume III, editado postumamente por Friedrich Engels, vem uma extensa análise dessa tendência. Marx considerava a tendência para a queda da taxa de lucro como prova de que o capitalismo não poderia durar para sempre como modo de produção dado que no fim se esgotaria o próprio princípio do lucro. No entanto, porque o próprio Marx nunca publicou qualquer manuscrito definitivo sobre a tendência para queda da taxa de lucro, porque a tendência é difícil de provar ou infirmar teoricamente, e porque é difícil testar e medir a taxa de lucro, a teoria de Marx da tendência para a queda da taxa de lucro tem sido um tópico de controvérsia ao longo de mais de um século».

É o que nos diz o repositório do conhecimento politicamente correcto que é suposto ser toda e qualquer enciclopédia. Para o caso a Wikipedia.
A questão que aqui importa sublinhar é que, relativamente à «lei da queda tendêncial da taxa de lucro» o que se tem que fazer não é demonstrar. Trata-se sim de explicar... Sublinho: explicar!...

Mas no que diz respeito às homenagens, publicações e reflexões sobre o bicentenário do nascimento de Karl Marx, sobre estas questões – cruciais para entender o Mundo – quase nada, perto de «nicles»...

Pela minha parte (a imodéstia é muito feia, não é?...), já re-escrevi o livro «Os “Erros” de Marx e os Disparates dos Outros» (alterei o título do anterior livro que aproveitei em grande parte).
Editores?... «Está difícil»... «É complicado»... «Talvez pró ano»...

Depois desta «posta de pescada» tenho a impressão que vou emigrar para outras paragens internéticas. É que, apesar das muitas centenas de “amigos” e “seguidores” (diz aqui o «feicebuque»...) tenho que reconhecer que recebo muito mais «feedback» noutros locais da Internet do que aqui.

Corrupção, ideologia e ética

por estatuadesal

(Carlos Esperança, 08/05/2018)

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A corrupção é suscetível de atravessar todo o espetro partidário, mas a sua incidência é mais marcada em partidos que ocupam o poder, dependendo a perceção da liberdade de informação, que só os regimes pluripartidários consentem, enquanto a ética assume um carácter mais pessoal, havendo, em qualquer partido, pessoas impolutas e venais.

As necessidades de financiamento partidário e a proximidade dos grupos económicos, com porta giratória entre os governos e as empresas, promovem a corrupção, enquanto a perceção depende da comunicação social e, sobretudo, dos interesses que ela defende.

O poder judicial devia ser o garante da investigação imparcial e do julgamento isento de todos os crimes, sem prejuízo do julgamento político que cabe à AR e aos cidadãos, mas a promiscuidade que parece haver entre alguns agentes e a comunicação social tem sido motivo de preocupação com a eventual politização da Justiça.

O que não se pode aceitar é a colossal campanha de intoxicação desta direita, que deseja decidir quem deve governar. Pode a pressão mediática amedrontar o próprio PS, este a quem a direita não perdoa o apoio do BE, PCP e PEV, pode o ‘bullying’ atemorizar os próprios dirigentes, pode a direita enredada nos maiores escândalos do regime esconder os seus com o ruído, o que a esquerda não pode é pactuar com a campanha dos adversários que chamam a si os piores trânsfugas e os maiores oportunistas, desde António Barreto, a Zita Seabra de calças que não foi a cursos de cristandade do Opus Dei, até aos antigos militantes do MRPP que cumpriram o papel provocatório e hoje, como então, estão ao seu serviço.

Basta ver os rostos dos grandes corruptores, que aqui deixo, e saber quem são, ou eram, os seus amigos. É preciso topete para a D. Cristas exigir desculpas por quem ainda não foi julgado, numa atitude que se compreende em quem ignora como tem sido financiado o seu partido e o mal que fez em assinar a resolução do BES na mais pura ignorância e a pedido de uma colega de Governo.

Esta direita prenhe de virtude, que julga que a esquerda necessita de nascer duas vezes para ser mais séria de que ela, é incapaz de autocrítica.

Quando um cidadão admitiu que ganhou de um banco aldrabão um lucro de 132%, com ações não cotadas em Bolsa, se as pagou, e ocupou os mais altos cargos da República; quando o gestor de uma empresa falida que recebeu mais de 6 milhões de euros que, por comprovada burla, a UE viria a exigir a devolução, e ignorava que era preciso pagar à Segurança Social, se tornou PM; quando um gestor de uma empresa de sondagens falida fraudulentamente admitiu, com candura, que não tinha recibos porque eram estudantes os assalariados, e chegou a vice-primeiro-ministro; quando o banqueiro do PSD chegou a líder do BPN e o do regime, dono do BES, ajudou a preparar em sua casa a primeira candidatura vitoriosa de Cavaco a PR, reunindo aos dois casais o do ex-PM cúmplice da invasão do Iraque e o do PR seguinte, há coincidências a mais num país a menos.

E há, como se vê, descaramento em excesso.

Amigos, amigos da onça, ratos de porão e outras ratas…

por estatuadesal

(Por Dinis Jesus, 07/05/2018)

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Quase me tinha imposto não escrever nada acerca do caso de José Sócrates por achar que é, pelo voyeurismo, um enxovalho á sã convivência numa civilização que se quer apresentar como razoável, mas eis que surge um gatilho que se mostra impossível de não ser acionado… chama-se tal “trigger” Fernanda Câncio.

O mediatismo do caso Sócrates é uma indecência à luz do direito e uma condenação na praça publica. A praça publica sabemos até, que crucificou Jesus Cristo, por isso bem sabemos da sua histeria e vontade de sangue. Portanto quanto a isso não há muito a dizer, todos os que têm dois palmos de testa sabem que é assim, como sabem também quão errada foi a crucificação de Jesus Cristo, segundo a Bíblia, para os que nele ainda hoje acreditam.

Desde já faço uma declaração de interesses, eu esquerdista convicto, acho que só houve um primeiro ministro pior que Sócrates, que foi Passos Coelho, não pelo que fizeram como primeiro-ministro, por estranho que pareça… mas pelas ideias que subjazem à sua filosofia politica, muito mas muito à direita para o meu gosto.

Como tal este texto não é uma defesa de Sócrates, acerca do qual não sei se é culpado ou inocente do que o acusam, nem isso me interessa para já, porque apenas depois de saber o que quem o acusa é capaz de provar ou não, terei opinião sobre tal assunto.

Sei é de fonte segura, que o que eu sei sobre Sócrates não daria para acusá-lo e ainda menos para julgá-lo. Não sei se tal desconhecimento advém de eu ser muito burro quando me comparo com quem sabe tudo sobre ele, apesar de com os mesmos meios que eu, ou se por ser apenas prudente e  mais avisado que os absolutamente sabedores.

Escalpelizemos, pois, as palavras que escolhemos para título…

Amigos:

Segundo o dicionário é, de entre muitas coisas outras, mais especificas, aquele que inspira simpatia, amizade ou confiança ou aquele que ajuda e favorece.

Diz-nos a nossa cultura judaico-cristã que amigo é aquele que ajuda sem querer nada em troca, diz mesmo que quem ajuda com o fito no recebimento de ganho futuro não é amigo e é um grande interesseiro. Isto para dizer que tendo uma pessoa possibilidades e outra pessoa necessidades não vejo, nem vê o catecismo católico que inspira tanta gente, essa abnegada ajuda sem querer nada em troca de uma pessoa a outra com maus olhos, menos ainda se são amigos de longa data e relações muito próximas.

Errado até perverso e éticamente condenável é todos julgarem que não há amigos que ajudam sem querer nada em troca e que a busca do beneficio próprio é única constante nas relações.

Mas se assim é, para que se fala de ética ou moral? Eu já tive, perante a dificuldade, a ajuda financeira de muitos amigos, acredito que quem me ajudou não esperava nada em troca que não a devolução, sendo-me ela possível, dos montantes que me emprestaram… a alguns ainda não devolvi e eles mantém-se meus amigos e eu mantenho-me com a vontade ética de devolver os valores e de ser seu amigo.

Sobre a medida das necessidades, que é outra faceta da critica a Sócrates,  direi que cada um terá a sua, para uns será o suficiente para comida e para outros o suficiente para usar fatos Armani e viver e estudar em Paris… não quero ter superioridades morais miserabilistas e achar que ajuda digna é só a que tira da miséria ou da fome.

Deixo uma frase de Séneca para enquadrar o que eu digo, imaginando que todos os pobres merecerão ajuda:

“Pobre não é aquele que tem pouco é aquele que precisa muito”.

Amigos da onça:

Sobre estes amigos, reza também o dicionário que são aqueles que parecem amigos, mas não são,  querendo, ainda assim, aproveitar-se do que a aparente amizade, que propalam aos sete ventos, pode aportar de ganhos para si. Mas quando essa relação os pode beliscar, aos olhos de outros, querem apagar todo o envolvimento anterior e até acusar de falhas morais e éticas os que antes bajulavam como amigos, dizendo-se agora enganados.

Este grupinho de indigentes da moral e da ética são, digo eu, uns MERDAS. Não sei se Sócrates terá lidado com alguns destes ou não, mas parece-me que sim.

Ratos de porão:

Como não encontro uma definição nos dicionários para este nome, socorro-me do que ouço do povo quando diz que os ratos são os primeiros a abandonar o barco quando este se afunda.

Estão neste caso, em relação a José Sócrates, muitos dos que foram seus correlegionários e até ajudantes de campo (ministros) que nunca saíram em sua defesa, mesmo quando aquilo a que foi sujeito o justificava largamente, já que era também a defesa do estado de direito que estariam a promover.

Sim, eu acho e achará todo o cidadão não movido por ódios a Sócrates, que o comportamento aberrante do MP, do Juiz Carlos Alexandre e de muitos comentadores nos meios de comunicação social, teriam justificado um manifestar de opinião, sobre os procedimentos processuais, por parte do partido socialista, de que Sócrates era destacado militante, mesmo por parte dos membros do governo com responsabilidades nas áreas da justiça envolvidas (ministro da administração interna, ministro das finanças, ministra da justiça e primeiro ministro) e não o costumeiro refugiar na frase batida de “ à politica o que é da politica e à justiça o que é da justiça”.

Sim, tem de ser a política a balizar, é-o quando legisla, os limites/comportamentos dos aplicadores/promotores da justiça. Ficar calado perante a indignidade é ajudar o mais forte quando este se constitui como Juíz e Carrasco e atira um presumível inocente para as garras e dentes do povo.

O que defendo não é que viessem dizer que ele não é culpado, não é dessa defesa que eu falo, embora até a compreenda em amigos e familiares, porque essa inocência ou culpa cabe aos Tribunais apurar e só conta quando das sentenças já não houver mais possibilidade de recurso.

Sei que a inocência até transito em julgado é também uma frase batida, mas nenhum estado de direito pode, em nenhuma altura, afastar-se deste preceito fundador do direito que subjaz à nossa civilização/justiça.

Então como ratos do porão classifico todos os que de forma mais clara ou mais velada foram abandonando José Sócrates à sua sorte numa luta tão desigual como aquela a que qualquer cidadão é sujeito quando tem de enfrentar a máquina judicial do estado, quase sem limite de meios para acusar, quando comparada com um qualquer cidadão no que toca a defender-se. Falamos de meios humanos, financeiros e prazos, o que configura um claro inclinar do campo em benefício do acusador.

Como não me tenho por covarde digo nomes, nestes de quem falo incluo António Costa, Carlos César, Santos Silva, João Galamba e a guerrilheira Ana Gomes com as suas lutas de guerrilha umas vezes justas outras completamente alucinadas e sem nexo. Depois há mais uns coios  d`indigentes que gravitam pelo partido, dentro e fora dele, mas que não contam para o totobola.

Outras ratas:

Chegamos por fim às outras ratas, perdoe-se-me a brejeirice, sim é com o significado popular que uso o termo rata porque ele define um sexo e no caso o do tal gatilho que despoletou esta minha vontade de escrever este texto, a Fernanda Câncio .

Tudo porque a Fernanda Câncio, pessoa de quem costumo ler as opiniões e até maioritariamente concordar, além de ser mulher é também das que perante o eventual naufrágio do barco de Sócrates se mostra agora disposta a abandonar, como os ratos, esse mesmo barco.

Esse abandonar do barco podia apenas fazer dela uma simples rata de porão, não tivesse ela sido beneficiária liquida dos gastos de José Sócrates, coisa indesmentível quando sabemos, por ela, que nunca pagou nenhuma das suas férias, das que fizeram em conjunto, que nunca se preocupou, nessa altura, com a ética que agora parece exigir ao antigo namorado ou amante, ou lá o que teriam sido, ao não questionar a origem de tais fundos ou até mesmo do beneficio em si… pois este beneficio resulta de uma ligação emocional que não será muito diferente da amizade.

Sim, o dicionário, numa das definições de amigo, daquelas mais especificas, encontra nos namorados, amantes e amásios sinónimos .

Uma pessoa tão adepta da igualdade de direitos entre géneros, até feminista e articulista virtual nesse grupo de senhoras feministas que se chama Maria Capaz, como se acomoda sem questionar a tal boa vida?

Sim, essa boa vida que ela agora questiona em Sócrates por uma parte dessa vida ter sido feita em cima de empréstimo ou doações do amigo Carlos Santos Silva, quando a boa vida dela, Fernanda, era também doada por José Sócrates.

Não se me consta que ambos alguma vez tivessem tido contas conjuntas e mesmo que as tivessem tido então seria igualzinha a Sócrates, no que é éticamente reprovável, ao aceitar de Sócrates o que este aceitava do amigo, para tais ajudas ao bem-estar de ambos.

Entendo, com tolerância, que alguém que é intelectualmente e psicologicamente menos resistente do que José Sócrates, quando visada, perante a novela indecente que nos foi colocada diante pelas miseráveis televisões e seus miseráveis jornalistas, não tenha a capacidade de resistir ao esforço e queira por todos os meios desculpar-se por ter sido beneficiária líquida do que ora critica. É típico dos fracos emocionalmente e nos de ética questionável.

Usando um calão de aldeia recomendado na minha juventude, nas discussões entre vizinhas desavindas é o chama-lhe PUTA antes que ela te chame a TI.

A Sócrates deixo um conselho: escolha mais amigos e menos amigos da onça, selecione melhor os ratos que leva para o barco e sobretudo escolha bem as ratas da vida.

segunda-feira, 7 de maio de 2018

Entre as brumas da memória


Robôs de todo o mundo, uni-vos?

Posted: 07 May 2018 12:31 PM PDT

AI will spell the end of capitalismo.

Um texto a ler muito atentamente. O que virá a acontecer é questão para um milhão de dólares, mas quanto a saber que aquilo que a China quer é isto não há nenhuma dúvida.

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07.05.1974 – A absolvição das três Marias

Posted: 07 May 2018 09:24 AM PDT

Não tivessem os capitães acabado com a ditadura duas semanas antes e Maria Velho da Costa, Maria Isabel Barreno e Maria Teresa Horta teriam vivido um desfecho bem diferente do julgamento que decorria no Tribunal da Boa-Hora, em que eram rés, e que terminou em 7 de Maio de 1974 com a absolvição das três.

Continuar a ler AQUI.

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Marcelo: ele é que é o Presidente da Junta

Posted: 07 May 2018 06:00 AM PDT


Tanto faz, não é, é igual ao litro, desde que ele fique bem na selfie?

P - Para o Presidente, tanto faz que o próximo OE seja viabilizado de uma maneira ou de outra?

R - A posição do Presidente é que é fundamental para o país que haja orçamento aprovado, de modo a entrar em vigor a 1 de Janeiro de 2019.

Público de 07.05.2018
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07.05.1925 - Luiz Pacheco

Posted: 07 May 2018 03:28 AM PDT

Faria hoje 93 anos e, se ainda por cá andasse, o Luiz Pacheco seria certamente tão irreverente como sempre foi – o que daria muito jeito.

Para compreender melhor a sua pessoa e a sua obra, a leitura de Puta que os pariu! – A biografia de Luiz Pacheco, de João Pedro George, é absolutamente obrigatória.

Texto de uma intervenção pública de Luiz Pacheco:

O QUE É O NEO-ABJECCIONISMO

Chamo-me Luiz José Machado Gomes Guerreiro Pacheco, ou só Luiz Pacheco, se preferem. Tenho trinta e sete anos, casado, lisboeta, português. Estou na cama de uma camarata, a seis paus a dormida. É asseado, mas não recebo visitas. Também não me apetece fazer visitas. A Ninguém. Estou bastante só. Perdi muito. Perdi quase tudo.

Perdi mãe e perdi pai, que estão no cemitério de Bucelas. Perdi três filhos – a Maria Luísa, o João Miguel, o Fernando António –, que estão vivos, mas me desprezam (e eu dou-lhes razão). Perdi amigos. Perdi o Lisboa; a mulher, a Amada, nunca mais a vi. Perdi os meus livros todos! Perdi muito tempo, já. Se querem saber mais, perdi o gosto da virilidade; se querem saber tudo, perdi a honra. Roubei. Sou o que se chama, na mais profunda baixeza da palavra, um desgraçado. Sou, e sei que sou.

Mas, alto lá! sou um tipo livre, intensamente livre, livre até ser libertino (que é uma forma real e corporal de liberdade), livre até à abjecção, que é o resultado de querer ser livre em português.

Até aos trinta e sete anos, até há bem pouco tempo ainda, portanto, julguei que podia, era possível, ser livre e salvar-me sozinho, no meio de gente que perdeu a força de ser (livre e sozinha), e já não quer (ou mui pouca quer) salvar-se de maneira nenhuma. Julgava isto, creiam, e joguei-me todo e joguei tudo nisto. Enganava-me. Estou arrependido. Fui duro, fui cruel, fui audaz, fui desumano. Fui pior, porque fui (muitas vezes) injusto e nem sei bem ao certo quando o fui. Fui, o que vulgarmente se chama, um tipo bera, um sacana. Não peço que me perdoem. Não quero que me perdoem nada. Aconteceu assim.

Eu para mim já não quero nada, não desejo nada. Tenho tido quase tudo que tenho querido, lutei por isso (talvez o merecesse). Agora, já não quero nada, nada. Já tudo, tanto me faz; tanto faz.

Agora, oiçam: tenho dois filhos pequenos, o Luis José, que é o meu nome, e a Adelina Maria, que era o nome de minha Mãe. O mais velho tem 4, a pequenita dois, feitos em Fevereiro, a 8. Durmo com uma rapariga de 15 anos, grávida de sete meses, e sei que ela passa fome. É natural que alguns de vocês tenham filhos. Que haja, talvez, talvez por certo, mães e pais nesta sala. Não sei se já ouviram os vossos filhos dizerem, a sério, que estão com fome. É natural que não. Mas eu digo-lhes: é essa uma música horrível, uma música que nos entra pelos ouvidos e me endoidece. Crianças que pedem pão (pão sem literatura, ó senhores!) pão, pãozinho, pão seco ou duro, mas pão, senhores do surrealismo, e do abjeccionismo, e do neo-realismo e mesmo do abstraccionismo! Este mês de Março que vai acabar ou já acabou, pela primeira vez, eu ouvi os meus filhos com fome. E pela primeira vez, não tive que lhes dar. Perdi a cabeça, para lhes dar pão (ainda esta semana). Já não tenho que vender, empenhei dois cobertores, e um nem era meu. Tenho uma máquina de escrever, que é a minha charrua, e não a posso empenhar porque não a paguei; e tenho uma samarra, que no prego não aceitam porque agora vai haver calor e a traça também vai ao prego… Já não tenho mais nada. Tenho pedido trabalho a amigos e a inimigos. Humilhei-me, fiz sorrisos. Senti na face, expelido com boas palavras e sorrisos, o bafo da esperança, da venenosa esperança; promessas; risinhos pelas costas. Pedi trabalho aos meus amigos: Luís Amaro, da Portugália Editora; Rogério Fernandes, de Livros do Brasil; Artur Ramos; Eduardo Salgueiro, da Inquérito; dr. Magalhães, da Ulisseia; e Bruno da Ponte, da Minotauro, aqui presente, decerto. Alguns têm-me ajudado; mas tão devagarinho! tão poucochinho!

Sim, porque eu não faço (já agora, na minha idade!) todos os trabalhos que vocês querem! Só faço, já agora, coisas que sei e gosto: escrever umas larachas; traduzir o melhor que posso; mexer em livros, a vendê-los ou a fazê-los.

Nem quero vê-los a vocês, todos os dias! Ah! Não! Era o que me faltava! Vocês têm uma caras! Meu Deus, que caras que nós temos! Conhecem a minha? Vão vê-la ali ao canto, na folha rasgada do meu passaporte (sim, porque viagens ao estrangeiro (uma…) também já por cá passaram…) Viram? É horrível!… A mim, mete-me medo! Mas é uma cara de gente. E isso não é fácil.

Dizia eu: eu quero trabalhar na minha máquina, sozinho, ou rodeado da minha Tribo: os miúdos, uma mulher-criança, grávida. E, às tardes, ir passear pela Avenida Luísa Todi ou na ribeira do Sado. Acho que nem era pedir muito. E para mim, é tudo.

Já pedi trabalho a tanta gente, que já não me custa (envergonha) pedir esmola. Confesso-lhes: até já o fiz, estendi a mão à caridade pública, recebi tostões de mãos desconhecidas, de gente talvez pobre. E tenho pedido emprestado, com a convicção feita que não o poderei pagar. É assim.

Eu para o Luiz Pacheco, repito, não quero nada, não desejo nada, não preciso de nada; mas para os bambinos! E para o bebé que vai nascer! Roupas; leite; pão; um brinquedo velho… Dêem-me trabalho! Ou: dêem-me mais trabalho.

E para findar esta Comunicação, remato já depressa:

Peço uma esmola.