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terça-feira, 8 de maio de 2018

Depois do vexame internacional, Boff é autorizado a visitar Lula

Diante da flagrante violação aos direitos e garantias individuais, denunciada por diversas lideranças políticas, nacionais e internacionais, a 12ª Vara da Justiça do Paraná autorizou o teólogo e escritor Leonardo Boff a vistar o amigo e ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta segunda-feira (7).

Leonardo foi barrado no mesmo dia em que o Prêmio Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel esteve na sede da PF para vistoria a prisão onde Lula se encontra. Uma comitiva de deputados federais também foi barrada pela juíza, apesar da lei dar garantia aos parlamentares para vistoriar o local mesmo sem autorização judicial.

Ao sair, Boff conversou com os jornalistas e os manifestantes acampados em vigília. Disse que Lula está forte, mas que “vive numa solitária”.

Ele tem dois sentimos que mexem muito com ele. O primeiro é a quantidadade de mentiras que o juiz Moro divulga diarimanete. O segundo ponto é que ele é candidatíssimo e só renuncia quando o Moro apresentar uma única prova contra ele”

Leonardo Boff

O frei disse ainda que o ex-presidente reafirmou a sua disposição de lutar. “O sentido da minha vida é luta, disse Lula”, contou.

A autorização da entrada de Boff foi acertada pela defesa de Lula, que enfatizou que o ex-presidente poderia receber a visita do teólogo como uma “assistência religiosa”.

Texto original em português do Brasil

Exclusivo Editorial PV  / Tornado

RTP - O Essencial

O Essencial

8 Maio, 2018

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Carlos Santos Neves
Coordenador Multimédia
Carlos Santos Neves

Bem-vindo

Este é o primeiro de três dias de greve nacional dos médicos. É também dia de recolher reações à demissão do comandante nacional da Proteção Civil. Lá fora, o foco vai do Médio Oriente, onde o Hezbollah, secundado pelo Irão, está a celebrar uma “enorme vitória” nas legislativas libanesas, à Casa Branca de Donald Trump. Espera-se que o Presidente dos Estados Unidos revele hoje o que vai fazer ao acordo nuclear de 2015.


Médicos no primeiro de três dias de greve

Médicos no primeiro de três dias de greve

Convocada pelo Sindicato Independente dos Médicos e pela Federação Nacional dos Médicos, a paralisação começou às 0h00 desta terça-feira. Trata-se, segundo as estruturas sindicais, de defender um Serviço Nacional de Saúde à beira da rutura. “Fizemos todos os possíveis para que esta greve não ocorresse. Os doentes que não vou ver estes três dias no meu Centro de Saúde sabem que vou ter de os ver nos próximos 15 dias ou três semanas”, afirmou à RTP Jorge Roque da Cunha, do SIM. Já o ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, refere-se ao protesto como um processo de afirmação de vontades e expectativas, que a tutela respeita.


Os ecos da demissão do comandante da Proteção Civil

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Em rota de colisão com a estratégia do Governo, ao cabo de cinco meses em funções, António Paixão demitiu-se do cargo de comandante nacional da Proteção Civil. Para a substituição foi nomeado o coronel do exército José Manuel Duarte da Costa. A Associação Portuguesa de Técnicos de Segurança e Proteção Civil admite que o atual contexto, com o verão à porta, não é o melhor. Mas entende também que “seria pior” enfrentar a época de incêndios “numa situação que não era a mais confortável”.


Hezbollah festeja vitória eleitoral. O Irão também

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“A participação nas eleições legislativas libanesas deste domingo fixou-se nos 49,2 por cento, abaixo dos 54 por cento das últimas eleições legislativas, há nove anos. E os resultados comprovam o avanço significativo do movimento xiita Hezbollah, apesar de o seu número específico de deputados – cerca de 13 – ter permanecido virtualmente igual”, começa por escrever a Graça Andrade Ramos. Quando só faltava apurar a votação no distrito de Akkar, a aliança encabeçada pelo Partido de Deus garantia 65 assentos, quase metade de um Parlamento de 128 lugares. Sayyed Hassan Nasrallah, o líder da força mais votada, considerou o resultado “uma enorme vitória política, parlamentar e moral pela escolha da resistência”. Em Teerão, Ali Akbar Velayati, conselheiro do Presidente, saudou “esta grande vitória que acompanha outras da nação libanesa contra Israel”.


Trump e o acordo com o Irão. Dia D de "decisão"

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Donald Trump antecipou para esta terça-feira o anúncio da sua decisão quanto ao acordo de 2015 sobre o programa nuclear iraniano. O Presidente norte-americano tinha dado aos aliados ocidentais até 12 de maio para persuadirem a República Islâmica a aceitar salvaguardas no documento, que a Casa Branca considera essenciais. Como habitualmente, foi ao Twitter que o sucessor de Barack Obama recorreu para falar ao mundo. A comunicação oficial está marcada para as 14h00 em Washington, final da tarde em Lisboa.


Mourinho paga 800 mil euros ao fisco espanhol

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De acordo com a imprensa espanhola desta terça-feira, o atual técnico do Manchester United, que é acusado de não ter declarado a verba recebida pelos direitos de imagem relativa aos anos de 2011 e 2012, quando treinava o Real Madrid, estará prestes a chegar a acordo com o fisco de Espanha. Admitida a falta, José Mourinho terá de pagar uma multa de 800 mil euros. Livra-se assim de uma possível pena de prisão de 12 meses.


Campeonato em fecho de contas

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A uma jornada do cair do pano sobre o campeonato da I Liga, conquistado pelo Futebol Clube do Porto, há ainda cinco equipas “a lutar pela fuga à descida de divisão”, como se lê neste artigo do Mário Aleixo. Por outro lado, Benfica e Sporting ainda tentam garantir o segundo lugar, que dá acesso à terceira pré-eliminatória da Liga dos Campeões.


Mundial. Nove dias para decidir

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É o tempo à disposição de Fernando Santos para fazer as opções definitivas e formar o lote de 23 jogadores que representarão este ano Portugal no Mundial de Futebol da Rússia. Os nomes vão ser anunciados a 17 de maio a partir da Cidade do Futebol, em Oeiras. Avançamos aqui com o cenário mais provável.


A NÃO PERDER

Subsídios inflacionados com moradas fora de Lisboa

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Prossegue a investigação jornalística da RTP sobre as moradas indicadas pelos deputados à Assembleia da República. Alguns estão a facultar dados diferentes ao Parlamento e ao Tribunal Constitucional. Foram detetados pelo menos seis casos de discrepância. Para a Secretaria-Geral do Parlamento, não há quaisquer dúvidas: os deputados residentes em Lisboa devem indicar essa morada como residência oficial, mesmo que tenham sido eleitos ou votem noutro círculo eleitoral.

Quem são os gestores mais bem pagos em Portugal. E quanto ganharam no último ano

7/5/2018, 19:35107

Pelo menos 14 executivos das grandes empresas em Portugal receberam mais de um milhão de euros em 2017. Um clube onde os banqueiros passaram a ser raros - e onde mulheres não entram. Saiba quem são.


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Pelo menos 14 gestores das maiores empresas portuguesas ganharam mais de um milhão de euros brutos no último ano. Quase todos são presidentes do conselho de administração ou presidentes executivos da empresa, mas nenhum deles é mulher, de acordo com o levantamento feito pelo Observador a partir dos relatórios de governo das sociedades que negoceiam títulos em bolsa.

António Mexia surge, sem surpresa, a liderar a lista dos mais bem pagos por cargo, com uma remuneração bruta anual de quase 2,3 milhões de euros, o que inclui prémios de gestão atribuídos no ano passado pelos resultados de 2016, mas também bónus de anos anteriores. A EDP é a única empresa onde é possível encontrar administradores que não são presidentes com remunerações brutas anuais superiores a um milhão de euros. Mas o gestor que mais ganhou em remunerações pagas por empresas da bolsa no ano foi Pedro Queiroz Pereira. O presidente do conselho de administração da Semapa e da Navigator — e também maior acionista — recebeu de empresas participadas da Navigator 1,8 milhões de euros, a qual se somam 1,3 milhões de euros pela presidência da Semapa. Soma feita, são mais de três milhões de euros em valores brutos incluindo prémios.

Galp, Sonae SGPS, Semapa, Navigator e Jerónimo Martins, Santander e BPI, são outras sociedades que pagaram mais de um milhão de euros a gestores, mas neste caso apenas a presidentes do conselho de administração ou presidentes executivos. Na maioria dos casos analisados, os prémios de gestão atribuídos pelo desempenho da empresa representam mais de metade das remunerações brutas, ainda que o pagamento destas parcelas seja muitas vezes diluído ao longo do tempo. Os bónus pagos em 2017 premeiam os resultados obtidos pelas empresas em 2016, mas também podem recuar aos resultados de anos anteriores, por causa do diferimento no seu pagamento, uma regra que procura alinhar os interesses dos gestores com os interesse de médio e longo prazo da empresa, desincentivando atos de gestão que tragam lucros no curto prazo, mas que podem custar no futuro.

Os grupo de administradores que está acima da fasquia do um milhão de euros é ainda um clube restrito, onde não entrou nenhuma mulher em 2017. A principal explicação é a escassez e mulheres nos cargos de topo das grandes empresas, sobretudo das que pagam melhor. Paula Amorim poderia ser uma exceção, uma vez que é presidente não executiva da Galp, mas à semelhança do seu pai, abdica do vencimento. Fica com os dividendos, o que no caso da petrolífera são relevantes.

Só em empresas de menor dimensão, mas ainda líderes no seu setor, é que encontramos presidentes executivas com remunerações comparáveis às dos pares masculinos. Isabel Vaz, na Luz Saúde levou para a casa 682 mil euros brutos, incluindo prémios, e terá direito a um bónus de 850 mil euros quando abandonar o cargo. Na Media Capital, a administradora-delegada, Rosa Cullel recebeu 618 mil euros, também com remuneração variável.

Mulheres fora do clube “um milhão”

O atual panorama de ausência de mulheres vai começar mudar já este ano, uma vez que a empresa que mais bem paga na bolsa portuguesa — a EDP — contratou duas mulheres como administradoras executivas, para cumprir as recomendações do governo da sociedade. Também a banca tem vindo a abrir as portas da administração a elas, muito por imposição dos reguladores.

Em entrevista ao Observador, o diretor-geral da empresa de recursos humanos Mercer, reconhece que a disparidade salarial de género é um tema relevante em Portugal. Por um lado, as diferenças salariais entre eles e elas tendem a esbater-se quanto mais se sobe na escada da carreira empresária. Uma administradora ganha o mesmo que um administrador, diz Diogo Alarcão. Mas se ganham o mesmo, também são muito menos. O especialista destaca ainda outro fenómeno: há menos mulheres a chegar aos cargos de chefia, mas depois saem mais. Ou seja, as mulheres sobem nas empresas, mas as empresas não as retêem.

Entre as grandes empresas analisadas pelo Observador — EDP, Galp, Sonae SGPS, Nos, Navigator, Semapa, Mota-Engil, BPI, BCP, Jerónimo Martins, CTT e Novo Banco –, quase todas pagaram mais às suas administrações no ano passado. Também os presidentes-executivos viram os seus salários crescer, sobretudo por via da atribuição de remuneração variável. Os CTT foram uma exceção. Há outros casos como o Novo Banco ou a Caixa Geral de Depósitos onde a comparação é mais difícil de fazer porque houve mudanças nas regras ou na composição dos órgãos sociais.

Outra ausência destacada na lista dos mais bem pagos são os gestores da banca. Apenas no BPI e no Santander, bancos controlados por capital espanhol, se encontram dois gestores a ganhar mais de um milhão de euros, e com prémios de gestão, ambos portugueses. Fernando Ulrich ainda foi o mais bem pago na administração do BPI no último ano, incluindo remuneração variável do tempo em que foi executivo. Pablo Forero, que assumiu as funções de presidente executivo no ano passado, ainda não aparece com remuneração variável. No Santander, António Vieira da Silva ganhou cerca de 1,1 milhões de euros, o que abrange remuneração variável paga em dinheiro, mas também em ações.

No BCP, o único banco que resta no índice PSI 20, que reúne as maiores empresas cotadas na bolsa portuguesa, as remunerações dos gestores estão muito longe dos valores milionários do passado. Apesar de se ter libertado do limite imposto aos bancos que receberam ajudas públicas, e de ter subido 80%, o vencimento de Nuno Amado foi de 631 mil euros brutos, com o BCP a fazer questão de informar que deste montante, foram retidos 288.218 euros para IRS.

O novo presidente da Caixa Geral de Depósitos (CGD) beneficiou da mudança de regras salariais no banco do Estado que acompanhou a contratação de António Domingues. A remuneração bruta anual de Paulo Macedo ficou-se pelos 387,7 mil euros em 2017. Fica um pouco aquém do vencimento bruto fixado para o presidente do banco no valor de 423 mil euros, na medida em que Macedo só entrou no final de janeiro. Não houve pagamento de prémios.

Ainda mais modestos são os salários no Novo Banco. A remuneração total da comissão executiva foi de 1,3 milhões de euros, abaixo do vencimento bruto individual de alguns dos gestores mais bem pagos. E o salário de António Ramalho foi de 330 mil euros brutos.

E há uma explicação para isso. Depois da crise financeira, os salários da banca estão cada vez mais condicionados pela supervisão, nacional e europeia, destaca Diogo Alarcão, diretor-geral da consultora Mercer. Há limites à percentagem da remuneração que pode resultar da atribuição de prémios, o ideal será 50%, e existe ainda a imposição de diluir no tempo uma parcela desses bónus. São regras que limitam os acionistas, mas que, para o responsável da Mercer em Portugal, também os protege dos excessos do passado. E realça que, quando o mercado se sente demasiado espartilhado, reage e a reação tem sido a de aumentar remuneração fixa.

Os gestores portugueses ganham muito?

A resposta a esta pergunta varia. Voltando ao exemplo da EDP, o ex-presidente não executivo da elétrica, Eduardo Catroga, aproveitou uma conferência sobre a remuneração dos gestores para responder aos que atacam os salários pagos à gestão da elétrica. Defendendo a necessidade de atrair talento numa empresa que se move à escala global, Catroga diz que a remuneração do “gestor A” (leia-se António Mexia) chega a ser um terço da do gestor que trabalha no país ao lado, uma assimetria que não é apenas explicada pela dimensão do país.

A comparação entre a remuneração bruta anual de António Mexia e de Sanchés Galan confirma esta relação. O presidente-executivo da Iberdrola ganhou cerca de 9,5 milhões de euros brutos no ano passado, contra os 2,3 milhões de euros atribuídos em 2017 ao líder da EDP. A elétrica espanhola vale quase três vezes mais do que a portuguesa na bolsa, mas teve menos que o triplo dos lucros no ano passado.

Da informação pública e das referências internacionais disponíveis, o diretor da Mercer defende que os salários estão alinhados com os seus pares no mercado, considerando também a dimensão do mercado e das empresas. E explica que quando as empresas querem atrair talento pagam acima do mercado, quando estão em crise podem pagar abaixo.

A sombra do «Espírito Santo» em Portugal

Fazer de José Sócrates o bodo expiatório de tudo o que há de podre no nosso sistema político é obviamente a melhor forma de preservar esse sistema tão intocado quanto possível.

Não há nada de mais originalmente português – e no meu modesto entendimento, de mais belo no que há de espiritual na religião – do que o “culto do Espírito Santo” que praticamente se confina hoje em dia aos Açores.

Ironicamente, quis a história fazer do “Espírito Santo” o nome da mais importante casa financeira da história contemporânea de Portugal, símbolo da confusão de interesses e do “complexo financeiro” que domina a vida económica, social e política portuguesa, e que não podia simbolizar de forma mais perfeita a antítese ao “Espírito Santo” tradicional português.

Como revela o biógrafo oficial mais conhecido do regime, Franco Nogueira, o “Espírito Santo” é uma presença constante na vida política portuguesa e muito em especial de Salazar, tendo inclusivamente financiado a vinda do casal Garnier e a encenação de um pseudorromance entre a jornalista do casal e o nosso ditador.

E se a revolução desestabilizou por alguns anos a sombra do “Espírito Santo” entre nós – mas não outros negócios que se vieram a revelar fundamentais na evolução do regime – em breve o temos de volta a ele e literalmente, ao seu espírito, ou seja, uma pletora de casas financeiras vivendo em conúbio mais ou menos óbvio com o Estado e a política que prosperaram durante décadas à custa do erário público nacional.

Portugal tornou-se campeão na falta de transparência nas relações entre a sua classe política e financeira, instituindo uma passadeira rolante entre membros do governo e da finança e uma teia de interesses, negócios e cumplicidades entre eles.

Será necessário lembrar Cavaco Silva e a transformação do seu núcleo duro político financeiro no BPN ou as aventuras do principal grupo de comunicação social-democrata na banca, nomeadamente através do BPP? E o financiamento descarado do BPN/SLN a Cavaco Silva antes de falir?

Os socialistas foram tão ou mais longe que a direita na teia de compadrios e negócios no universo “Espírito Santo” nas PPP ou em tudo o resto, com a agravante, no caso de José Sócrates, de ter tido o desplante de acabar com as férias judiciais, atitude que lhe valeu o ódio corporativo da classe e que explica em certa medida o empenho desta em o perseguir.

  1. Reforma política ou encontrar o bode expiatório?

Poderia o poder judicial e político adoptar em Portugal o que é a regra da generalidade do funcionamento das democracias (excepção feita aos vários abrigos fiscais) de submeter o segredo bancário ao interesse público. Para que isso acontecesse, teria de ter algum interesse genuíno na reforma do nosso sistema político-financeiro e na perseguição do negócio privado à custa do erário público, o que não creio ser o caso.

É incompreensível que entre nós os agentes económicos, políticos e sociais, nomeadamente os que giram à volta do Estado (e isto inclui toda a banca) não sejam obrigados a documentar todos os pagamentos que fazem, e que naturalmente sejam considerados culpados de crime se não souberem explicar a origem e o destino de milhões que transacionam.

Na verdade, não parece que as intenções estivessem para além de cilindrar José Sócrates. No entretanto, o Banco Central Europeu forçou a falência do Grupo Espírito Santo, e a perseguição a José Sócrates tornou inevitável a investigação dos negócios do Espírito Santo e dos grandes grupos como a EDP ou a antiga Telecom, com apreciáveis danos colaterais.

Os “Panama Papers” acabaram por revelar muito do segredo bancário tão incensado entre nós, com a irónica peculiaridade de o consórcio de jornalistas que administra o sistema ter como parceiro português o maior grupo de imprensa, e justamente o que mais enfeudado esteve ao apadrinhamento do “grupo Espírito Santo”. Ou seja, confiou à raposa a tarefa de guardar o galinheiro.

Depois de manter um embaraçado silêncio sobre as revelações dos Panama Papers sobre si, eis que o cartel de silêncio começa a soçobrar com um dos seus membros a dar à estampa um livro onde confessa os lautos presentes que recebeu do Grupo Espírito Santo e dá algumas pistas sobre a participação dos seus colegas na rede de afilhados do “Espírito Santo”.

Entre as inúmeras questões que este novo desenvolvimento coloca, duas há que são neste momento incontornáveis.

O que se passa com a plêiade de comentadores televisivos que fizeram ou fazem a ponte entre os canais de televisão e os partidos políticos, lote que inclui personalidades tão importantes como Marques Mendes ou Marcelo Rebelo de Sousa?

O problema não é só nem fundamentalmente julgar sobre a sua honestidade, mas antes entender até que ponto não pode informação privilegiada sobre eles estar a ser utilizada para os condicionar politicamente.

A segunda questão é a de saber a razão da urgência em eliminar o ex-Primeiro Ministro José Sócrates. Será que há quem receie que o que ele tem a contar possa causar estragos dificilmente reparáveis?

Fazer de José Sócrates o bodo expiatório de tudo o que há de podre no nosso sistema político é obviamente a melhor forma de preservar esse sistema tão intocado quanto possível.

  1. A dimensão internacional da crise

Durante todos estes anos, Angola serviu como bombo da festa e razão de ser de tudo o que de mau aconteceu entre nós, sem que aparentemente ninguém tivesse o bom senso de se perguntar como era possível que se tivessem assim invertido as posições, a ponto de a ex-colónia portuguesa ser responsável por tudo o que de mau se passava entre nós.

Angola e a sua elite (com a excepção de Cabo Verde) têm uma relação longa e profunda com Portugal, e sofrem naturalmente dos mesmos vícios, assim como também partilham das suas qualidades. Qualquer análise objectiva tem de reconhecer que, no quadro das potências petrolíferas africanas, a antiga colónia portuguesa se destaca pela positiva.

A verdade é que Angola desempenhou por um lado o papel de testa de ferro da República Popular da China em Portugal, e por outro foi também vítima das burlas protagonizadas por portugueses e angolanos, mas não tem qualquer papel estratégico na determinação do que se passou em Portugal. É mais cómodo e menos arriscado dizer mal de Angola do que da China, e só assim podemos compreender a obsessão da imprensa portuguesa com Angola.

Para além da China, a fonte internacional de corrupção mais importante entre nós foi o eixo irano-venezuelano, e é curiosíssima a forma como se procura esconder essa verdade dos portugueses.

Faz-se um ensurdecedor barulho sobre os contratos de contrapartidas pela compra de submarinos, mas deixa-se de fora o único contrato que não é relativo a sucata, comissões ou contrapartidas fictícias; a colaboração da Ferrostaal com as autoridades portuguesas no torpedear das sanções internacionais ao Irão e no iniciar dos contratos luso-venezuelanos.

Fala-se do apagão fiscal de muitos milhares de milhões de euros de fundos saídos de Portugal. São fundamentalmente fundos da petrolífera venezuelana que saíram silenciosamente do BES por responsabilidade política de um membro do governo que, coincidência, tinha sido consultor, exactamente, da petrolífera venezuelana. A Inspecção Geral das Finanças conclui ser impossível que o apagão tivesse mão humana, sendo tudo uma infeliz coincidência.

Fala-se de cem milhões de Euros saídos do Grupo Espírito Santo só em presentes a dirigentes venezuelanos, mas nada se investiga a esse propósito.

A imprensa espanhola e internacional publicitam largamente uma operação das autoridades judiciais portuguesas em Madrid e Andorra para detectar cinco mil milhões de euros da petrolífera venezuelana em contas do BES, mas há um sepulcral silêncio sobre a mesma entre nós.

Será que é aqui que está o nó górdio da questão? Será que é sobre isto que se quer manter um pesado véu de silêncio?

No bicentenário do nascimento de Karl Marx

por estatuadesal

(Guilherme da Fonseca Statter, 07/05/2018)

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Em que estou a pensar?... Na eventual inutilidade de anos de estudo.

Ao longo dos últimos dias têm aparecido, um pouco por todo o lado, umas referências ao bicentenário do nascimento de Karl Marx. Não me lembro se quando foi o centenário no nascimento de Albert Einstein terá havido igual comoção pública. Um foi um génio das ciências «histórico-sociais», outro foi um génio das ciências «físicas».

Também por isso Karl Marx pode – com toda a justiça – ser considerado o Einstein das ditas ciências «histórico-sociais». A grande – enorme - diferença é que um mexe com um ramo do conhecimento que os «donos disto tudo» ou a alta burguesia, facilmente controla e de que até se aproveita com toda a naturalidade. A Física e a Química são fundamentais para a produção e controle das riquezas. Enquanto que o outro mexe directamente com um ramo do conhecimento que põe directamente em causa a sustentabilidade lógica do sistema de produção e distribuição de riqueza a que chamamos Capitalismo.

Já nem falo da Ética, pois que essa faceta não tem a ver com «ciência» pura e dura...
Entretanto tal como Einstein cometeu alguns erros, e em relação a um deles (a famigerada «constante cosmológica») o próprio afirmou ter cometido a maior asneira da sua vida, sendo que afinal parece que nem terá sido uma asneira.

Mas adiante. Pois se Einstein (e também Newton já agora...) cometeu erros, nada de mais natural que, no meio de milhares de páginas escritas, também Karl Marx tenha cometido alguns erros. Designadamente na forma como se exprimiu relativamente a alguns temas e problemas mais bicudos e, sobretudo, com as várias mudanças de formato com que queria apresentar (sublinho o apresentar!...) as suas teses.

Mas continuemos.
Na minha assumidamente imodesta opinião, o comportamento evolutivo da taxa de lucro é o elemento crucial que ajuda a compreender a lógica e a dinâmica profunda do sistema capitalista, com reflexos indirectos, mas fortíssimos, na nossa vida diária. Desde a corrupção com que nos bomdardeiam todos os dias, até às guerras por causa dos combustíveis fósseis e das tentativas de manter uma hegemonia politico-militar a todo o custo, passando pelas privatizações de tudo e mais alguma coisa.

Entretanto, o fenómeno recorrente da tendência para a queda da taxa de lucro era (e é!...) um fenómeno empiricamente constatado. Essa constatação já vem desde pelo menos os tempo de Adam Smith. A noção de que é preciso provar (ou demonstrar...) essa queda tendencial da taxa de lucro é uma noção profundamente errada. Repito e sublinho: é uma noção profundamente errada. Seria como se fosse necessário demonstrar a força da gravidade. Um tal «erro» só se pode explicar por enviesamento ideológico. E no entanto são aos milhares as páginas publicadas a esse respeito. Para provar, confirmar ou infirmar se de facto existe, ou não, uma tal tendência.

Ficamos com a sensação de que depois de os clássicos – e mesmo Keynes nos tempos mais recentes – terem constatado, observado e relatado a referida tendência para a queda da taxa de lucro (e lembremos que a maximização do lucro é o farol que orienta toda a actividade das empresas...), por artes mágicas da «Natureza», essa tendência evaporou-se... Saiu do planeta Terra e foi dar uma volta por outra galáxia.

A esse respeito veja-se a incontornável Wikipedia:
«A tendência para a queda da taxa de lucro é uma hipótese (note-se bem, digo eu, uma «hipótese»), em teoria económica e economia politica, famosamente exposta por Karl Marx no capítulo 13 de O Capital, Volume III.»
Uma hipótese... Pois... O autor daquelas linhas que se atire de uma janela abaixo e logo vê se a tendência da força da gravidade para atrair os corpos pesados também precisa de ser «demonstrada».

Mais adiante, na mesma Wikipedia, vem:
«No seu manuscrito de 1857 «Grundrisse», Karl Marx considerou a tendência para a queda da taxa de lucro, «a mais importante lei da economia política» e procurou dar-lhe uma explicação causal, nos termos da sua teoria da acumulação de capital. A tendência vinha já pressagiada no capítulo 25 d'«O Capital», Volume I (Da “lei geral da acumulação de capital“), mas na Parte 3 do manuscrito do Volume III, editado postumamente por Friedrich Engels, vem uma extensa análise dessa tendência. Marx considerava a tendência para a queda da taxa de lucro como prova de que o capitalismo não poderia durar para sempre como modo de produção dado que no fim se esgotaria o próprio princípio do lucro. No entanto, porque o próprio Marx nunca publicou qualquer manuscrito definitivo sobre a tendência para queda da taxa de lucro, porque a tendência é difícil de provar ou infirmar teoricamente, e porque é difícil testar e medir a taxa de lucro, a teoria de Marx da tendência para a queda da taxa de lucro tem sido um tópico de controvérsia ao longo de mais de um século».

É o que nos diz o repositório do conhecimento politicamente correcto que é suposto ser toda e qualquer enciclopédia. Para o caso a Wikipedia.
A questão que aqui importa sublinhar é que, relativamente à «lei da queda tendêncial da taxa de lucro» o que se tem que fazer não é demonstrar. Trata-se sim de explicar... Sublinho: explicar!...

Mas no que diz respeito às homenagens, publicações e reflexões sobre o bicentenário do nascimento de Karl Marx, sobre estas questões – cruciais para entender o Mundo – quase nada, perto de «nicles»...

Pela minha parte (a imodéstia é muito feia, não é?...), já re-escrevi o livro «Os “Erros” de Marx e os Disparates dos Outros» (alterei o título do anterior livro que aproveitei em grande parte).
Editores?... «Está difícil»... «É complicado»... «Talvez pró ano»...

Depois desta «posta de pescada» tenho a impressão que vou emigrar para outras paragens internéticas. É que, apesar das muitas centenas de “amigos” e “seguidores” (diz aqui o «feicebuque»...) tenho que reconhecer que recebo muito mais «feedback» noutros locais da Internet do que aqui.