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segunda-feira, 14 de maio de 2018

A voz do dono e os eufemismos do DN

Novo artigo em Aventar


por Bruno Santos

Diário de Notícias, 14 de Maio de 2018

O Diário de Notícias, assim como uma grande parte da comunicação social portuguesa, fala em "confrontos" entre palestinianos e o exército israelita. "Confronto" seria se o embate se desse entre dois exércitos, ou entre dois grupos militares com o mesmo poder de fogo. Mas não é disso que se trata. Trata-se de mais um massacre, um acto bárbaro que fecha com chave de ouro o Festival da Canção. O director do Diário de Notíciascostumava ser mais incisivo - e verdadeiro - com as palavras.

Imagem: The Guardian

ASSIM, NEM PEÇAM OPINIÃO

por estatuadesal

(Virgínia da Silva Veiga, 14/05/2018)

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Vamos agora de novo às parcerias público-privadas e, logo, ouvir todos os pontos de vista. Repesquei a entrevista da SIC a Paulo Campos, (Ver aqui ), que não tinha visto e cuja notícia circulou pelo Facebook. Porque sim, para saber mais, por não estar por dentro do assunto a fundo. Acho mesmo que ninguém está.

Queria poder dizer da equidistância dos jornalistas, da acuidade das perguntas e dou connosco – sim, foi connosco – a registar um episódio onde nada é tranquilo e, logo, não se pode pedir ao entrevistado que o esteja. Não houve ali um pedido de esclarecimento sobre o que quer que fosse, onde a tónica se desse à versão do convidado, como se este não tivesse ido ao estúdio para esclarecer uma posição, mas sim para confirmar aspectos da que conhecemos não ser a sua.

“Vamos então esperar pelo resultado do Inquérito” – concluíram em jeito de contraponto.  Os jornalistas têm à sua frente uma pessoa disposta a dar-lhes uma versão directa de factos e, no entanto, toda a preocupação das perguntas é a opinião propalada por outros, particularmente a de quem tem em mãos uma fase acusatória. Impressiona.

Querendo acreditar na seriedade dos profissionais, a pergunta que nos fica é se se terão dado conta de si próprios, e dou comigo a crer que não, que se instalou de tal ordem a filosofia da culpabilidade antecipada que já se não dão conta do que é fazer uma entrevista onde o jornalista não é parte, e menos tem atitudes de opinião preconceituosa.

Ficámos a saber haver um Inquérito a decorrer há anos sem que o visado tivesse ainda sequer sido chamado a depor. Isso em nada espanta, em nada interroga. Importa sublinhar-lhe terem-lhe feito buscas à residência. Os resultados dessa e de outras buscas, que o convidado referiu, isso nem chega a ser assunto.

O pior disto tudo é que a culpa será cada vez mais nossa. A dos que, por igual pré-juízo ou pura inércia, calam o espanto e o medo que assim, paulatinamente, se instala.

Que opinião tenho eu sobre a actuação de Paulo Campos? Como formar alguma? Não lhe ofereceram ambiente, também não o contraditaram, quase não lhe conseguimos ouvir um raciocínio completo e calmo, como pode quem quer que seja ter opinião?

Mas tenho uma, de há muito tempo, sobre outro assunto que paira no cenário envolvente, espelhado nos gráficos que Paulo Campos apresentou, dados ali como certos: boa ou má, desde quando uma decisão política, ainda que seja causadora de prejuízo, pode ser escrutinada pelo Ministério Público e não por todos nós, em eleições livres, quando antecipadamente não haja prova concludente de qualquer crime?

Não me revejo num País onde todos encontram culpados antes de procurar onde possam estar inocentes.

Plausibilidades e evidências

por estatuadesal

(Joseph Praetorius, 14/05/2018)

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Joseph Praetorius

Não é irrazoável pensar que o império fez o capitalismo e não o contrário, porque a economia é matéria de decisão política.

E porque a economia é matéria de decisão, os especuladores podem ignorar - e até fazer ignorar - por intoxicação informativa, reserva, ou oposição política, as perspectivas de negócios abertas pelos efeitos de outras direcções de outros estados.

Aqui está a Ásia, notada pela imprensa económica da Suiça (Ver aqui)

Duas conclusões se retiram imediatamente daqui; a primeira das quais é que os países do trajecto que assegure a ligação do novo pólo económico com as outras regiões do mundo participarão de modo privilegiado na correspondente distribuição da riqueza.

A outra conclusão é que se a Rússia é o país das estradas e das rotas marítimas do Ártico, a Península Ibérica é um lugar privilegiado para o fim e início de todas as linhas férreas da Eurásia. Os portos e as linhas férreas estão no centro das decisões políticas locais (por tomar, em Portugal, uma vez que se abateu o único Chefe do Governo a perspectivar tais coisas em tempo útil, tanto do ponto de vista da política externa relativamente à América Latina, como do ponto de vista dos necessários investimentos locais).

Dominadas as "direitas" peninsulares por serventuários do repulsivo e declinante império americano, a plausibilidade da Península Ibérica perder a sua posição em favor de outros portos - que ficam mais longe, têm menos afinidades, mas são dirigidos por gente que sabe o que faz e o que fazer - é perfeitamente evidente.

Em contexto peninsular, a perda de posição de Portugal em favor da voraz Castela - se esta não perder o domínio dos povos de Espanha que ainda controla - é também plausível, porque a corja dos serventuários, que faz a vida nesta terra correr em circunstâncias repulsivas, projectará outra vez a sombra da sua própria e corruptíssima subalternidade no Estado, obrigando-o a assumi-la como se sua fosse, ou pudesse ser.

Espero que os eleitorados peninsulares acordem e remetam tal gente ao destino que deve caber-lhes. E este será o que Deus quiser, depois do Direito os fazer passar pelo cárcere expiatório. A lição da Catalunha dá as proporções do combate a travar. O estrangulamento político e económico tentado da América Latina, também.

Quanto a África, os países da costa oriental têm o Iémen e o Omã como portos de escala. Os da África Ocidental, deveriam preferir a Península, mas nada é obrigatório e África está submetida a uma política genocidária que ainda não teve reacção à altura da solução necessária. Mas vai ter.

A diplomacia portuguesa está de parabéns!

Novo artigo em Aventar


por João Mendes

Fotografia: Gil Cohen-Magan/AFP@Middle East Eye

Hoje é um daqueles dias em que me sinto verdadeiramente orgulhoso por ser português e europeu . No dia em que os EUA trumpizados exibem ao mundo a sua mais recente canalhice pirómana, a União Europeia em peso não se fará representar na inauguração da embaixada americana em Jerusalém. Só mesmo alguma tralha fascista que por cá temos, residual e pouco representativa dos valores fundadores da União, marcará presença neste momento de radicalismo populista e incitação à violência. O KKK europeu a ser igual a si próprio.

Ainda que simbólico, este acto de rebeldia agrada-me. Como me agrada que os signatários europeus do acordo nuclear com o Irão não tenham cedido à chantagem do Adolfo nazi de cabelo laranja. Não sou antissemita, não embarco no radicalismo de culpar todos os israelitas pelos erros e abusos dos políticos corruptos e dos banqueiros terroristas que efectivamente mandam em Israel (e nos EUA), mas estarei sempre do lado do boicote a governos fascistas, belicistas, fanáticos e racistas, que não respeitam direitos humanos e que usam a tortura e o sofrimento de inocentes para impor a sua agenda política.

Por tudo isto, que não é pouco, quero endereçar os meus sentidos parabéns à diplomacia portuguesa, por, uma vez mais, optar por não fazer fretes a tiranetes.

Os Mistérios de Pedrógão Grande

Novo artigo em BLASFÉMIAS


por Cristina Miranda

Os fogos de Pedrógão Grande nunca foram contados com a verdade. Desde o primeiro dia, 17 de Junho de 2017, que o Estado faz uma ginástica acrobática para suprimir factos, suprimir prova, silenciar bombeiros, silenciar INEM, silenciar as vítimas dos fogos. Porquê? O que esconde de tão grave esta tragédia que não pode ser contada exactamente como ocorreu sem invenções de factos alternativos como por exemplo aquele raio  que caiu numa árvore sem trovoada descoberto imediatamente nos dias a seguir pela PJ e já desmentido?

Volvido quase um ano depois da maior tragédia mortal em fogos jamais vista em Portugal, os mistérios adensam-se. À medida que os relatórios técnicos foram saindo, mais dúvidas, mais incertezas vão surgindo. E curiosamente com a complacência da oposição e dos média que pouco ou nada fazem para desmascarar esta manipulação clara do governo. Não é normal.  Estamos em ditadura?

O primeiro mistério começa com o início do fogo. Disseram que o combate foi desigual devido a uma natureza em fúria - o tal downburst - o fenómeno que "inviabilizou" todos os esforços, da seca extrema e do material combustível em muita quantidade que provocou o inferno e que encurralou tanta gente. Mas, esqueceram-se de referir que o alerta foi dado às 14h45 em Escalos Fundeiros por um cidadão, quando o fogo era apenas um pequeno foco e  que às 15h17, antes de abandonar o local, tira a seguinte foto. Aqui na imagem vemos um fogo perfeitamente dominável mas nenhum bombeiro a apagá-lo. Esses tinham lá estado. Tinham. Porque abandonaram o local? Porque não se juntaram imediatamente reforços sem sair do terreno? No relatório de 6 de Julho da ANPC, diz que foram despachados para o ataque 3 corpos de bombeiros:  VFCI de Pedrogão Grande, VFCI de Castanheiro de Pera e VFCI de Figueiró dos Vinhos e 1 helicóptero ligeiro ( este chegou às 15.05). Que às 14.54 é recebido o primeiro ponto da situação onde são pedidos mais meios. Dizem que foram accionadas mais viaturas do CBV anteriores e do CBV de Ansião. Que às 14.43 foram 75 operacionais e 22 meios -  1 helicóptero ligeiro, 6 operacionais, 61 bombeiros, 17 viaturas, 2 equipas de sapadores com 6 operacionais, 1 patrulha GNR com 2 militares . Que às 15.02 fora accionada brigada de combate ao CODIS de Castelo Branco (3 veículos com 12 bombeiros) e um Heli-bombardeiro pesado,  Kamov (HESA02), às 15.08. Consegue ver este aparato todo de meios no testemunho e foto tirada no local às 15h17???? Pois. Eu também não. O resto da história já sabemos. O fogo lavrou sem oposição tudo o que apanhou pela frente. E cresceu, cresceu, cresceu até ficar incontrolável.

Depois vem o mistério das mortes. Ao segundo dia, sem se saber do paradeiro dos desaparecidos, sem ter ainda contabilizado todos os feridos, com milhares de hectares queimados ainda por investigar, o Governo já sabia que eram 64. Nem mais um nem menos um. O cronómetro dos óbitos trancou. Foi preciso uma cidadã corajosa não se calar e afirmar haver mais, a partir de uma lista de levantamento de óbitos no terreno - que quiseram abafar e descredibilizar -  para o caso dar uma reviravolta e MP ter de actualizar para 74, dando razão à empresária. Afinal havia mesmo mais gente. Mais há mais: em directo na SIC  Júlia Pinheiro e Hernâni Carvalho, juntos a fazer a cobertura do fogo, revelavam que eram muito mais de uma centena. Veja este vídeo. Mas isto não fica por aqui. Ao consultar o site do Ministério da Saúde, nossa equipa do #NaoNosCalamos verificou o seguinte: No quadro abaixo podemos constatar um pico anormal de óbitos registados a 18 de Junho 2017. Com umas contas simples podemos verificar que se formos ao mês de Junho de 2017, e fizermos a soma dos óbitos entre dia 1 e dia 16 e seguidamente dividirmos por 16, temos a média diária.  Podemos fazer o mesmo entre o dia 24 e 31 e dividindo neste caso por 7, veremos que obtemos resultados similares. Vamos multiplicar o número que dá (260) por 7 o que dá 1820 óbitos em média por 7 dias. Agora fazemos a soma do dia 17 a 23. O resultado é 2287. A este resultado vamos retirar os 1820 óbitos de média e obtemos o número de óbitos acima da média (ver folha cálculo anexa). Estas 467 mortes são as vítimas de Pedrogão. A este número temos que adicionar os corpos que foram encontrados à posteriori, assim como as pessoas que foram morrendo nos hospitais. Simples e transparente com base nos dados oficiais disponíveis para todos.

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Mas há mais mistérios. De acordo com o  relatório da ANPC, ficamos a saber que: Só às 19:55 o comando foi passado do Comandante dos Bombeiros Pedrógão Grande para o Comandante Distrital, quando a situação já estava completamente fora de controlo e várias medidas de combate e coordenação tinham sido atrasadas irrecuperavelmente;  O Plano Municipal de Emergência não foi accionado, mais de 5h depois do primeiro alerta, de facto só o foi às 20:45;   O CODIS esteve somente 2 horas no comando, saindo para outra missão, e transitou-o para o 2º Comando Nacional, conforme explicito no relatório da ANPC;  A partir das 22h, o 2º CONAC que assumiu funções, até às 20:50 do dia seguinte,  foi quem às 4:56 de dia 18 ordenou o 112 das salas de operações dos CDOS, a deixarem de registar no sistema informático os pedidos de socorro, sendo prejudicial para a percepção posterior na fita do tempo sobre os acontecimentos. Porquê?

Outros mistérios prendem-se com o SIRESP e os Kamov. Alguém aí no seu perfeito juízo consegue compreender porque não foi imediatamente rescindido o contrato mais absurdo e criminoso com  o sistema de comunicações que matou e feriu gravemente centenas de pessoas? Um sistema que provou falhar SEMPRE em situações de emergência, que é caríssimo, arcaico, e cujas cláusulas protege só quem o criou em vez das vítimas?? E os Kamov, essas "pérolas" do combate aos incêndios que nunca funcionaram em condições, que já antes de os adquirir eram obsoletos, cuja maioria nunca saiu do chão, virem agora inviabilizar os existentes alegando falta de peças e manutenção, rescindindo contrato com indemnizações milionária à Everjets, para adquirir mais três por adjudicação directa?!!!

Ah! e o mistério dos donativos desaparecidos? Alguém sabe onde param?

Como se isto tudo já não bastasse, junta-se ainda o mistério de, depois das conclusões do Relatório Técnico Independente e denúncia de destruição de prova, o Estado não ter sido ainda constituído arguido quando já não há dúvida alguma de ser o principal culpado da tragédia.

Mistérios e mais mistérios... É o país desgraçado que temos.