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terça-feira, 15 de maio de 2018

Ladrões de Bicicletas


Mérito e escolhas colectivas

Posted: 15 May 2018 12:20 AM PDT

Mesmo o mais empedernido liberal reconhece que existe algo de fundamental que distingue bens e serviços como a saúde e a educação da generalidade dos bens de consumo. É essa natureza distinta que fundamenta a provisão pública. Richard Musgrave, um dos fundadores do estudo das finanças públicas, chamou-lhes bens de mérito, e os exemplos que deu, escrevendo em 1959, incluíam os cuidados de saúde, a educação, os almoços escolares e a habitação a baixo custo.

Note-se que não estamos a falar de bens públicos, como a justiça, a segurança pública ou os faróis ao longo da costa, que têm como características a não-rivalidade (o meu benefício pela existência de um farol não reduz o do próximo) e a não-exclusão (a partir do momento em que a sociedade beneficia da existência de segurança pública, ninguém pode ser excluído desse benefício). Este outro tipo de bens, reconhecido pelo menos desde Adam Smith, também justifica a provisão pública, pois o mercado não assegura devidamente a sua provisão. Mas os bens de mérito não são meros bens públicos: o consumo de almoços escolares e da maioria dos cuidados de saúde é rival e perfeitamente passível de exclusão, mas não é por isso que Musgrave – e a maioria de nós – deixa de lhes reconhecer mérito particular.

Os bens de mérito vêm assim criar um desafio à teoria económica. Não se tratando de bens públicos (que são uma chamada ‘imperfeição’ de mercado), como entender então esta natureza fundamentalmente distinta de alguns bens e serviços, reconhecida intuitivamente pela maioria de nós?

A resposta da economia dominante foi apelar a dois outros tipos de ‘imperfeições de mercado’: as externalidades e as falhas de informação. A educação seria um bem de mérito porque o seu ‘consumo’ beneficia não apenas o próprio como também o conjunto da sociedade (a chamada ‘externalidade’ positiva) e porque as vantagens futuras que advêm da decisão de, por exemplo, estudar mais alguns anos não podem ser perfeitamente calculadas e antecipadas (a falha de informação). Estes dois efeitos seriam aquilo que faz com que as decisões ‘de mercado’ de consumidores e produtores se afastem do nível óptimo para a sociedade, justificando a intervenção pública.

Mas existe outra forma de entender os bens de mérito. Trata-se daqueles bens e serviços que, colectivamente, consideramos responderem a necessidades essenciais e serem fundamentais para a dignidade de cada um. A provisão de cuidados de saúde tem um mérito particular que justifica a provisão pública não porque a saúde seja um bem público no sentido económico, não por causa das suas externalidades positivas ou da incerteza dos seus benefícios, mas porque a sociedade como um todo considera que ninguém, independentemente do seu rendimento, deve dela ser excluído. A garantia da satisfação universal dessas necessidades é algo que, colectivamente, esperamos de uma sociedade decente.

Esta abordagem rompe com o pressuposto da soberania das preferências individuais que caracteriza a economia dominante e abraça explicitamente a política. Passamos da soberania do consumidor para a dignidade do cidadão; do individualismo metodológico para a deliberação política. É uma abordagem mais fiel ao espírito original de Musgrave e à percepção intuitiva da maioria de nós: exigimos que o ensino primário seja universal e gratuito por causa do modelo de sociedade em que queremos viver, e não apenas subsidiado a fim de compensar as suas eventuais externalidades positivas e a incerteza dos seus benefícios individuais.

A partir do momento em que reconhecemos que existe uma esfera de necessidades essenciais cuja satisfação universal deve ser assegurada pela sociedade por via não mercantil, a verdadeira discussão política é sobre onde traçar a fronteira dos bens de mérito. Porque é que o ensino superior deve ser encarado, e co-financiado, de forma distinta do ensino básico e secundário? Porque é que a participação do Estado na provisão de habitação, que é uma necessidade absolutamente básica, é tão residual?

A propósito de questões como as taxas moderadoras na saúde, o pagamento de propinas ou a política pública de habitação, devemos pensar nestas questões em termos dos princípios fundamentais que queremos que norteiem a nossa sociedade. Pedindo conselho, mais do que aos economistas, aos poetas que nos falam da paz, do pão, da habitação, da saúde e da educação.

(publicado no Expresso online a 03/05)

Injustiça laboral, injustiça social

Posted: 14 May 2018 02:13 PM PDT

No Expresso Curto, Pedro Santos Guerreiro (PSG) cruza oportunamente duas notícias: “Lemos nas edições de hoje do DN e do JN que a diferença dos salários médios dos administradores das empresas cotadas é 46 vezes superior aos dos seus trabalhadores, pensamos de novo em justiça - em justiça social. Como revelava o Expresso no sábado, três quartos dos quase 530 mil empregos criados em Portugal desde 2013 pagam menos de 900 euros por mês.”
Gosto de ver PSG pensar em justiça social. Agora só falta defender as instituições que podem ajudar a remover alguma das injustiças sociais no capitalismo e isto ainda antes dos necessários impostos progressivos e serviços públicos universais: sindicatos fortes e contratação colectiva tão centralizada quanto possível, por exemplo.
A verdade é que continuamos numa sociedade desigual e sem pressão salarial, fruto de uma economia política medíocre, brutalmente aprofundada no tempo da troika, através da redistribuição regressiva de direitos e obrigações entre patrões e trabalhadores. Foram criados incentivos para nos transformamos ainda mais na Florida da Europa e, tal como do outro lado do Atlântico, o resultado não é famoso para quem trabalha.
O “retrocesso evitável” do tempo da troika e do seu governo, para usar uma expressão de um livro que detalha todas as suas malvadezas anti-laborais e as formas de as superar, foi infelizmente aceite pelo governo do PS no essencial, correndo-se assim o risco de estarmos perante um compasso de espera nesta área. Os enviesamentos políticos de classe da integração europeia são conhecidos. E o retrocesso até foi saudado por demasiados jornalistas económicos no momento da sua instituição, bastando lembrar as narrativas dominantes durante a crise e os seus protagonistas.  

A catástrofe do apartheid israelita

Opinião

A catástrofe do apartheid israelita

Mariana Mortágua

Hoje às 00:05

Os 70 anos da criação do Estado de Israel são também os 70 anos da expulsão de milhões de árabes palestinianos das suas terras. São cinco milhões de refugiados, dos quais quase dois milhões vivem em campos precários, amontoados em pequenas faixas de território, emparedados pelos muros que Israel construiu.

As comemorações israelitas, que culminaram com a instalação ilegal da embaixada dos EUA em Jerusalém, foram marcadas por ataques aéreos a Gaza, e pelo assassinato de dezenas de civis palestinianos desarmados, entre eles crianças, como assinalou o coordenador especial da ONU. Só ontem foram mortas mais de meia centena de pessoas e milhares ficaram feridas. Benjamim Netanyahu, primeiro-ministro israelita, alega legítima defesa.

Sempre em nome da sua defesa, Israel já ocupou 60% do território palestiniano definido em 1967, violando as fronteiras reconhecidas pela ONU e pelos EUA de Obama e que delimitam o Estado da Palestina. Foi também "para se defender" que emparedou os refugiados palestinianos em guetos que são verdadeiras prisões a céu aberto, em Gaza e na Cisjordânia.

Em Gaza vivem 5046 palestinianos por quilómetro quadrado. Não podem sair, porque todas as fronteiras estão fechadas e são controlados pelo Exército israelita, pelos mesmos soldados que vimos num vídeo recente a executar um homem palestiniano desarmado, escolhido ao acaso. Em nome da sua defesa, Israel mantém um boicote a todo o território, onde vivem dois milhões de pessoas. Tudo é racionado, da água ao combustível e, segundo a ONU, 80% da população sobrevive dependente de ajuda humanitária. Foi uma dessas passagens humanitárias que Israel decidiu fechar esta semana, por alegadas questões de segurança.

Na Cisjordânia está o muro que inspirou Trump. Foi Israel que o construiu, 700 quilómetros de cimento e arame farpado, parte dele localizado em território palestiniano. Israel recusa-se a cumprir a sentença do Tribunal de Justiça de Haia que o declarou ilegal e ordenou a sua destruição em 2004. O muro - a que Israel chama "barreira de segurança" - cercou cidades inteiras, asfixiadas economicamente, e eliminou a liberdade de circulação dos palestinianos. Para se deslocarem, são obrigados a passar por mais de 500 chekpoints controlados por soldados israelitas fortemente armados. O acesso a rodovias, a infraestruturas e a serviços básicos é limitado para os palestinianos da Cisjordânia. A humilhação é total.

É preciso ser muito hipócrita para não reconhecer a completa desproporção entre o Estado de Israel e a Palestina. Em nome da sua defesa, Israel invadiu e expulsou, construiu muros, segregou, humilhou e violou a lei internacional. Mas isso não é defesa, é agressão, é ataque, é ocupação, é apartheid.

Em 1948, Israel declarou a criação do seu país em terras da Palestina. O que para os israelitas é comemorado como "a Libertação", para os palestinianos é conhecido como Al-Nakba, "A catástrofe", e ela parece não ter fim. Depois da ocupação do território onde sempre viveram, são eles o povo perseguido e segregado.

* DEPUTADA DO BE

Em defesa do javardo

Novo artigo em BLASFÉMIAS


por vitorcunha

Às vezes, torna-se necessário falar a sério. Regra geral, tal não é necessário, mas, em certos assuntos, exige-se uma seriedade que ajude a balancear tópicos importantes. Sim, vou falar do Eurofestival da Canção.

Circulam aí críticas ao teor político/activista/pró-LGBTiPad2xxxOXOX (é assim, acho) da canção vencedora, a israelita. Meus amigos, nas artes e no entretenimento, uma pessoa deve dizer o que quiser. Deve enaltecer drogas, deve propor a extinção dos coelhos, deve explicar que fought the law and the law won, deve ver a Lucy no céu com diamantes e deve bombardear Londres à vontade. Também deve ter sexo com bitches, com o automóvel e com o patinho. Pode colocar crucifixos em urina, preservativos no nariz do Papa, representar o Maomé com bombas na cabeça, enfiar chicotes por orifícios e walk on the wild side sem medos.

A diluição entre entretenimento e política é que vos deveria preocupar. Já sei que uma canção é uma arma, que esta guitarra mata fascistas e que *uma gaivota voava, voava*: mas isso é o que acontece numa sociedade livre - dizem-se e escrevem-se coisas. Numa sociedade pouco livre, não se distingue o cantor do político, o escritor do deputado. Por isso, vendo as vossas críticas ao teor da canção israelita, o que concluo é que o problema não são as canções e sim a política tornada em espectáculo dos que artisticamente enchem a boca contra o populismo.

Se queremos seriedade, comecemos por enaltecer o javardo no local que lhe é destinado: no entretenimento e na arte.

segunda-feira, 14 de maio de 2018

Equipa técnica do Sporting foi suspensa

14/5/2018, 16:52

O presidente do Sporting convocou uma reunião de emergência com Jorge Jesus e o restante staff leonino: incluindo os jogadores. Equipa técnica foi suspensa.

NUNO FOX/LUSA

Autor
  • Mariana Fernandes
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Bruno de Carvalho suspendeu a equipa técnica do Sporting, depois de uma reunião de emergência convocada para esta segunda-feira em Alvalade. O presidente leonino falou primeiro com os treinadores e grande parte do staff do futebol do Sporting: Jorge Jesus, os treinadores adjuntos, o scouting e o departamento médico. Depois conversou com os jogadores, que se encontraram com a SAD depois da reunião com o treinador. No final das reuniões, a equipa técnica leonina foi suspensa e não deve orientar a equipa na final da Taça, no Jamor, frente ao Desportivo das Aves, segundo avançaram a TVI 24 e a Bola TV.

Segundo o DN, os capitães mostraram-se depois solidários com Jesus e os seus adjuntos. E admitem também não comparecer ao jogo.

A reunião surge no seguimento da derrota do Sporting frente ao Marítimo, este domingo, que provocou a queda dos verde e brancos para o terceiro lugar e a consequente ausência da fase de acesso à Liga dos Campeões. Os adeptos leoninos receberam a equipa com assobios e insultos no Aeroporto Cristiano Ronaldo, no Funchal, e, já em Alvalade, um grupo de indivíduos tentou agredir Rui Patrício e William Carvalho dentro das garagens do estádio.

De recordar que a época do Sporting ainda não terminou: a equipa de Jorge Jesus defronta o Desportivo das Aves no próximo domingo, dia 20, na final da Taça de Portugal. O treinador tem contrato válido por mais um ano e não assinou qualquer cláusula anti-rivais. Rescindir contrato com Jesus poderia obrigar o Sporting a pagar ao técnico sete milhões de euros, correspondentes aos salários do ano que não iria cumprir.

O ambiente tenso entre Bruno de Carvalho, Jorge Jesus e os jogadores arrasta-se desde o início de abril, depois da derrota com o Atlético de Madrid. Depois de suspensões, posts inflamados nas redes sociais e críticas de parte a parte, a equipa leonina respondeu dentro de campo e venceu por seis ocasiões consecutivas: incluindo o próprio Atlético de Madrid (ainda que perdendo a eliminatória) e o FC Porto, na meia-final da Taça de Portugal.

A tensão foi agora reavivada – e não só pela derrota na Madeira e consequente ausência da Liga dos Campeões. No sábado, o Expresso publicou uma entrevista com Bruno de Carvalho onde o presidente do Sporting comentou o período de turbulência em Alvalade e a relação com Jorge Jesus.

“Uma pergunta mais inteligente seria: quem é o líder do balneário? Então acha que um treinador permitiria que os jogadores fizessem aquilo que se escreveu ao seu presidente? Que os jogadores tinham virado as costas ao presidente, que se tinham recusado a treinar, e por aí fora. Só pode ser invenção da comunicação social, não é? Porque se fosse verdade era gravíssimo. Tem tudo de ser invenções, não é? Porque senão era mau sinal haver um líder de balneário assim. E o líder de balneário é o treinador (…) Se geriu bem todo esse processo? Partindo do princípio de que é tudo mentira, menos o post, sim, geriu bem”, comentou sobre o técnico leonino. “Você acredita que alguma coisa acontece no balneário sem o OK do líder? Um líder lidera. Imagine que no meu Conselho de Administração acontecia uma série de coisas e atitudes para as quais eu não tinha dado o meu OK. Se isso acontecesse, eu não era líder algum”, rematou.

Resta agora saber se, depois da reunião desta segunda-feira, Bruno de Carvalho e Jorge Jesus vão continuar a preparar a próxima época, tal como o presidente leonino garantiu na entrevista. Além da eventual saída do treinador, o Sporting pode ainda perder quatro jogadores do onze titular durante a janela de transferências de verão: Rui Patrício, William Carvalho, Gelson Martins e Bas Dost.

PENSAR E FAZER COMO A DIREITA

por estatuadesal

(In Blog O Jumento, 14/05/2018)

costa4

“Se pensarmos como a direita pensa,

acabamos a governar como a direita governou”

(António Costa em 6 de Junho de 2016
durante a apresentação da candidatura às primária do PS )


A relação de Passos Coelho e do seu governo com os funcionários públicos era marcado por um ódio ideológico e quase pessoal, o ex-primeiro-ministro elegeu-os como culpados da crise, tratou-os como mera despesa inútil, espoliou-os, forçou-os a aumentos de horas de trabalho forçado e na hora de justificar tudo isto fê-lo atribuindo-lhes a culpa da crise e apontando-os como privilegiados, uma espécie de oportunista da sociedade.

Não é a primeira vez que um grupo étnico, religioso ou profissional foi tratado desta forma, nem é preciso um grande exercício de memória para encontrarmos tratamentos idênticos, as semelhanças são tantas que quase parece sabermos onde Passos Coelho se inspirou.

Não bastou todos os cortes e perdas de rendimentos, Passos Coelho também sentiu necessidade de difamar, apontar o dedo como se dissesse quem eram os culpados e num momento em que o país se afundava numa crise que o próprio Passos desejou os funcionários públicos eram acusados de ganhar acima da média, por isso seriam eles a pagar a crise. Sofreram todos os cortes e em cima destes ainda tiveram de suportar todas as medidas de austeridade que se aplicavam a todos.

Nunca alguém reconheceu os seus sacrifícios, apesar de declarados inconstitucionais os cortes subsistiram ainda durante algum tempo, ajudando ao conforto financeiro do Estado e ao sucesso governamental. O mínimo que um Presidente da República ou um primeiro-ministro poderia fazer era reconhecer os sacrifícios que lhes foram impostos, agradecer-lhes terem-nos suportado continuando a assegurar a qualidade dos serviços públicos e a dedicação aos seus utentes, mesmo quando foi a esposa de Passos Coelho a precisar deles, porque na hora da verdade esse traste de Massamá não procurou um hospital privado.

É lamentável que depois de tudo isto os governantes considerem que os vencimentos dos funcionários públicos devem continuar a sofrer cortes, ainda que de forma subtil, recorrendo à desvalorização continua resultante da inflação. É vergonhoso que uma reposição do horário de trabalho seja referido como uma benesse resultante da generosidade governamental ou que a eliminação de cortes nos vencimentos deva ser motivo de gratidão. Se António Costa tivesse reembolsado os cortes inconstitucionais e, portanto, ilegais, se tivesse pago as horas de trabalho escravo decididas por Passos Coelho, poderia agora esperar gratidão.

Mas apresentar tudo isto como benesses e achar que a contratação de mais funcionários públicos justifica que estes devem continuar a ser tratados como gente sem direitos é inaceitável, é pensar como a pior das direitas. Quem pensa assim acabará por se confundir com a direita e governar como esta, foi o próprio Costa que o disse em junho de 2016 e é bom que não se esqueça, porque foi uma das suas melhores frases.

Sugiro a António Costa que pergunte a um patrão sem princípios e a um com princípios se preferiam aumentar os trabalhadores ou aumentar os salários, o primeiro-ministro perceberá melhor o alcance político das suas declarações. A seguir o que vai dizer, que prefere cortar nos vencimentos para aumentar nos médicos e nos bombeiros?