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quarta-feira, 16 de maio de 2018

Al’Nakba: A ferida que sangra e a profecia que não se cumprirá

Nesta terça-feira (15) os palestinos registram a passagem do 70º aniversário do episódio fatídico em sua histórica, por eles chamado de “A Catástrofe” (Al’Nakba).

  • 16 Maio, 2018
  • No dia 15 de maio de 1948, um dia depois da proclamação oficial da criação de Israel, os sionistas iniciaram uma cruel limpeza étnica contra o povo que habitava, há séculos, aquela região, chamada por todos, inclusive pelos sionistas, de Palestina.

Nesta segunda-feira (14), apenas um dia antes do Al’Nakba, os EUA inauguram sua embaixada em Jerusalém, de maneira ilegal e unilateral, desprezando inúmeras resoluções da ONU sobre a questão.

Tal ato representa uma clara provocação e um escárnio contra o sofrido, mas indômito, povo palestino, que mais uma vez protestou com destemor enfrentando a máquina de morte sionista. Franco-atiradores de Israel abateram, nesta segunda-feira, 58 pessoas que protestavam pacificamente em defesa da sua terra ancestral. Já são 111 mortos desde 30 de março, quando os palestinos iniciaram as manifestações.

Al’Nakba

A aprovação, pela ONU, da partilha da Palestina, em 29 de novembro de 1947, entregando boa parte do território palestino aos sionistas para a fundação de Israel, aconteceu em um contexto fortemente influenciado pelo genocídio contra os judeus, cometido pelo nazismo durante a 2ª guerra mundial, que recém terminara, tornando a causa da criação de um “Estado Judeu” quase que em uma obrigação moral da humanidade.

A URSS, que além disso também considerava a criação de Israel como um sinal de decadência do colonialismo britânico (cujas forças ocupavam territórios palestinos) e, portanto, um fato positivo, foi a primeira nação a reconhecer Israel depois de sua proclamação como Estado em 14/05/1948. Contudo, menos de dois anos depois, em 1950, Stálin rompe politicamente com o Estado sionista, que caminhava claramente para se tornar, como de fato se tornou, um protetorado do imperialismo estadunidense no Oriente Médio. De 1950 até o fim da URSS esta nação foi uma firme e constante aliada da causa palestina.

De qualquer maneira, o povo palestino, que não tinha nada a ver com o genocídio sofrido pelos judeus, pagou um preço incalculável de dor e sofrimento pela criação do Estado de Israel em suas terras. Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Nacional Palestina, relata assim a Nakba:

A Palestina e nós, sua gente (…) sofremos nossa maior catástrofe, em árabe al Nakba. Em 1948, as milícias sionistas expulsaram pela força mais de 800 mil homens, mulheres e crianças de sua terra natal, perpetrando massacres horríveis e destruindo centenas de aldeias no processo. Eu tinha 13 anos no momento da expulsão de Safad. A ocasião em que Israel celebra sua criação como Estado, os palestinos o recordamos como o dia mais sombrio de nossa história (…) hoje em dia os palestinos somam mais de 12 milhões e estão espalhados por todo o mundo. Alguns foram expulsos de sua pátria em 1948, com mais de 6 milhões vivendo no exílio até hoje. Aqueles que conseguiram permanecer em suas casas são aproximadamente 1,75 milhões e vivem em um sistema de discriminação institucionalizada no que é hoje o Estado de Israel. Aproximadamente 2,9 milhões de pessoas vivem na Cisjordânia sob uma ocupação militar – convertida em colonização, dos quais 300 mil são os habitantes nativos de Jerusalém, que até agora têm resistido às políticas destinadas a expulsá-los da cidade. Dois milhões vivem na Faixa de Gaza, uma prisão a céu aberto sujeita a uma destruição regular através da força total do aparelho militar de Israel.”

O Sionismo e a desculpa do antissemitismo

As constantes violações de resoluções da ONU por parte do Estado de Israel e seus repetidos crimes contra o povo palestino são turvados por uma milionária e eficaz máquina de propaganda que confunde ou coopta inclusive setores da esquerda, assacando contra qualquer denúncia destes crimes e violações a pecha de “antissemitismo”.

O judeu alemão Hajo Meyer, falecido em 2014, foi um dos poucos sobreviventes do campo de concentração nazista de Aushwitz. Membro da organização “Rede Internacional de Judeus Antissionistas”, em 2012 Meyer declarou que era possível traçar paralelos entre o tratamento recebido pelos judeus na 2ª Guerra Mundial e a situação atual dos palestinos nas mãos dos israelenses.

“Os israelenses desumanizam os palestinos, tal como os nazistas tentaram me desumanizar. Ninguém deveria desumanizar o outro (Opera Mundi, 2012)”, disse Meyer, que passou dez meses em Aushwitz em 1944. Meyer afirmava também que o significado do termo “antissemita” mudou. “Antes, antissemita era alguém que odiava os judeus, por eles serem judeus. Hoje, antissemita é alguém que é odiado pelos judeus.”

De fato, a acusação de antissemitismo é um escudo usado pelos sionistas contra qualquer crítica aos crimes de Israel. “Antissemita!” bradam indignados, esquecendo-se de duas coisas: 1) Nem todos os judeus, como mostra o caso de Hajo Meyer, são sionistas ou defensores do Estado de Israel e 2) O povo árabe também é semita, partilhando com os judeus as mesmas origens étnicas e culturais. O hebraico, o aramaico e o árabe são línguas semíticas. Assim, não tem sentido acusar de antissemita quem defende o justo direito do povo semita árabe palestino a sua independência e liberdade.

Crimes impunes

O alto-comissário da ONU para os direitos humanos, Zeid Ra’ad Al Hussein, provavelmente receberá o título de antissemita pois no início de maio já havia alertado: “Toda semana, testemunhamos casos de uso de força letal por Israel contra manifestantes desarmados”. Nesta segunda-feira, o representante da Palestina perante a ONU, Riad Mansur, considerou que este foi um dia trágico, quando ocorre a abertura da Embaixada dos EUA em Jerusalém e ao mesmo tempo as forças israelenses continuam o massacre em Gaza. “Mais de 50 mortos e 2.000 feridos na fronteira entre Gaza e Israel. É muito trágico que eles celebrem essa ação ilegal (abertura da embaixada dos EUA em Jerusalém), enquanto os ocupantes israelenses continuam a matar civis inocentes. Devemos assegurar que os culpados por estes crimes respondam perante a justiça, pois a Palestina não pode ser uma exceção diante do direito internacional (Prensa Latina, 14/05)”, ressaltou.

Heroísmo indômito

Fadi Abu Salah, depois de uma luta desesperada contra os opressores sionistas, tomba morto nesta segunda-feira (14) véspera da Nakba. Fadi Abu Salah, deficiente físico, depois de uma luta desesperada contra os opressores sionistas, tomba morto nesta segunda-feira (14) véspera da Nakba.

Em plena Nakba, há 7 décadas, o então primeiro-ministro israelense, David Ben-Gurion, explicitou um plano: segundo ele, o conflito árabe-israelense não duraria mais de 20 anos. Depois deste tempo, dizia, quem conheceu a Palestina terá morrido, e quem nascer depois não lutará por uma terra da qual não guarda recordação.

Os sionistas se esforçaram por fazer valer a tétrica previsão, que condenava todo um povo ao desaparecimento, com doses fartas de repressão e assassinatos.

É de fato impressionante como o povo palestino, mal armado, sem infraestrutura, sem exército, teima em resistir. O símbolo de sua valentia sem limites pode ser encarnado por Fadi Abu Salah. Em 2014 este palestino perdeu as duas pernas durante um ataque israelense. Nesta segunda-feira, mesmo de cadeiras de rodas e portando apenas uma funda com uma pedra, enfrentou forças dotadas do que existe de mais moderno em termos de armas de guerra e tombou morto pelo exército sionista, assim como já morreram dezenas de milhares de palestinos desde Al’Nakba.

Apesar deste constante terror e morte, os palestinos insistem em sobreviver como povo, carregando chagas que sangram há 70 anos, chagas que clamam para que a consciência humana dê um basta nestes crimes e exija as reparações adequadas. De qualquer maneira uma coisa o povo palestino já deixou provado: a profecia de David Ben-Gurion jamais irá se cumprir.

Texto original em português do Brasil

Exclusivo Editorial Brasil247 – com Resistência, por Wevergton Brito Lima / Tornado

Haja coragem!

Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

  • Eduardo Louro
  • 15.05.18

O que hoje se passou na Academia do Sporting, em Alcochete, pode querer dizer que a loucura em que se transformou o futebol em Portugal bateu no fundo.

Espero que sim. E que sirva, desde logo e em primeira instância, para que o Sporting resolva os seus problemas, a começar por se livrar do clima insustentável que o seu presidente instalou. E inevitavelmente do próprio presidente. Depois, para que o poder político enfrente de vez as coisas do futebol, sancionando severamente todos os comportamentos socialmente inaceitáveis: impedindo o acesso aos estádios a todos os adeptos que façam da violência um modo de estar; não fechando os olhos nem os ouvidos às declarações de incitamento à violência dos dirigentes; deixando de ignorar a promiscuidade entre a política e o futebol e, finalmente, passando a actuar, através da regulação, sobre as televisões no que respeita à pouca vergonha dos programas de suposto debate do futebol, que transmitem a toda a hora, pondo em causa, se necessário for, as licenças que lhes estão atribuídas.

Se o que hoje se passou em Alcochete servir para isto, em vez do dia mais negro da história do Sporting, este poderá ser um dos dias mais importantes da história do futebol português. O desafio é grande. Haja coragem!

O brunodecarvalhização do Sporting

Novo artigo em Aventar


por João Mendes

Fotografia: Miguel A. Lopes/EPA

Olhando para aquilo que foi a época futebolística do Sporting, a coisa não correu assim tão mal. Os leões ganharam a Taça da Liga, estão na final da Taça de Portugal, fizeram uma campanha muito digna na Liga dos Campeões, apesar do fosso que existe entre o Sporting (e qualquer equipa portuguesa) e equipas como o Barcelona ou Juventus, e por pouco não conseguiu o segundo lugar da Liga Portuguesa. Apesar de Bruno de Carvalho.

Para quem quer ser campeão, claro, tudo isto poderá saber a pouco. Ou a nada. Mas também podia ter sido muito pior. Não obstante, estes resultados não justificam, nem de perto, aquilo que ontem se passou. Nada justifica. Por isso é que o lugar das pessoas que ontem invadiram a academia de Alcochete, armados como criminosos que são, e que agrediram técnicos e jogadores, é a prisão. Algo que, muito provavelmente, não irá acontecer. O que é uma pena. O lugar dos delinquentes é na cadeia, para bem dos restantes, aqueles que vivem dentro de certos limites de civilidade, e que têm o direito a viver sem o medo constante de ser aterrorizado e espancado por grunhos acéfalos. Ler mais deste artigo

Ladrões de Bicicletas


Notas soltas ainda a propósito do artigo de Centeno III

Posted: 16 May 2018 12:21 AM PDT

Para finalizar esta curta série de notas a propósito do artigo de opinião que Centeno publicou no jornal Público no passado dia 9 de Abril, comecemos por recordar, para nos situarmos, da sua afirmação: “Podemos tomar como exemplo a experiência da Bélgica que reduziu o rácio da dívida pública de 130,5% em 1995, um valor próximo do registado em Portugal em 2016, para 94,7% em 2005”. Ou seja, um recuo da dívida pública em 35,8 pontos percentuais concretizado num período de 10 anos.
A partir daqui, deixo um par de observações a propósito das implicações para o resto da economia belga desta trajetória do seu défice público.
Comecemos por referir que a evolução da poupança e do investimento está estreitamente relacionada com a interação de uma economia com o resto do mundo. De acordo com a aritmética da contabilidade nacional, a diferença entre poupança bruta interna e investimento total do sector público e do sector privado é igual à capacidade/necessidade de financiamento de um país relativamente ao resto do mundo, ou seja, é igual ao saldo do sector externo.
Assim, de forma abreviada, pode dizer-se que isto acontece porque, se numa economia a despesa de uns é necessariamente a receita de outros, então, em termos agregados, a despesa total é igual à receita total.
Usando uma linguagem mais próxima da análise dos saldos financeiros sectoriais, pode dizer-se que, se um sector melhora o seu saldo financeiro, ou seja, se aumenta a poupança líquida (saldo entre total do rendimento e total da despesa ou saldo entre poupança bruta e investimento), um ou mais sectores têm de a diminuir no mesmo montante, ou seja, não podem todos poupar simultaneamente, dado que a poupança de uns é a despesa de outros. A lógica impõe que o contrário também seja verdadeiro.
À luz deste quadro conceptual, vejamos então o que aconteceu na Bélgica no período 1995-2005, o intervalo de tempo que Centeno oferece como referência.

Vejamos mais de perto, agora com números do gráfico acima. O que podemos observar?

Em 1995, o défice público era de 4,4% e, no período subsequente (1996-2005), em média anual, desceu para 1,2%; ou seja, o Estado Belga poupou e melhorou a sua posição orçamental em 3,2%. De onde surgiu esta poupança? Como a balança de pagamentos contribuiu com apenas 0,1%, o sector privado viu-se forçado a diminuir a sua poupança nos restantes 3,1%, passando de um saldo anual, em 1995, de 8,8% para um saldo anual médio de 5,7%.
Conclusão: a redução do défice do sector público fez-se à custa do sector privado; dado que a posição do sector externo se manteve praticamente inalterada, o aumento da poupança líquida do sector público resultou quase inteiramente da diminuição da poupança líquida do sector privado. Adicionalmente, esta diminuição da poupança líquida do sector privado não por acaso coincidiu com um aumento do endividamento deste sector em cerca de 29,2 pontos percentuais (91,5% do PIB em 1995 e 120,7 em 2005) o que compara, recorde-se, com recuo da dívida pública em 35,8 pontos percentuais.
Chegados aqui, pergunto-me: É isto que Centeno quer para Portugal? Parece que sim. Por um lado, não pode ser por acaso que a Bélgica é oferecida como exemplo. Por outro, os números apresentados no Programa de Estabilidade 2018-2022 (PEC) apontam para uma forma de comprimir o défice público que, se descontarmos a ainda maior intensidade do esforço exigido è economia portuguesa, se assemelha muitíssimo ao que foi feito no país dado como referência. Senão vejamos:

Repitamos o processo e vejamos mais de perto, agora com números do gráfico acima. O que podemos observar?

Em 2017, tivemos um défice público de 3% e, para o período subsequente (2018-2022), em média anual, projeta-se um superávite de 0,5%; ou seja, o Estado português planeia poupar e melhorar a sua posição orçamental em 3,5%. De onde surgirá esta poupança? Como a balança de pagamentos contribuirá com apenas 0,3%, o sector privado ver-se-á forçado a diminuir a sua poupança nos restantes 3,2%, passando de um saldo anual, em 2017, de 4,4% para um saldo anual médio de 1,2%.
Conclusão: se tudo correr como Centeno planeia, a transformação do défice do sector público em superávite far-se-á à custa do sector privado; dado que se prevê que a posição do sector externo se mantenha praticamente inalterada, o aumento da poupança líquida do sector público resultará quase inteiramente da diminuição da poupança líquida do sector privado.
Resumindo, para um governo diminuir o défice rumo a um orçamento equilibrado ou superavitário, tem de cobrar mais dinheiro em impostos do que aquele que devolve na forma de despesa ou investimento públicos. Onde vai o sector privado obter esse dinheiro dado que está legalmente impedido de o imprimir?
Teoricamente, de um de três modos: ou esse dinheiro resulta de uma economia que cresce apesar de dispor de menos dinheiro, e/ou obtêm-no, sobretudo, a partir de mais exportações líquidas de importações, e/ou pede-o emprestado à banca.
A primeira opção é improvável dado que a velocidade de circulação do dinheiro, embora volátil, tende a decrescer com o tempo.
A segunda opção não se materializou na economia belga no período analisado e é também descartada por Centeno: o PEC prevê uma ligeira deterioração da balança comercial ao longo do horizonte de projeção e, por isso, uma igualmente marginal melhoria da balança de pagamentos que, prevê-se, resultará da manutenção dos magros saldos positivos da balança corrente e de capital; como vimos acima, a previsão é que o sector externo compense a drenagem de recursos financeiros que a redução em 3,5% do défice público representará para a economia com apenas 0,3%. Coloca-se a questão de saber se mesmo assim não há aqui algum optimismo: os sinais que começamos a ter não são animadores.
Esta segunda opção é difícil, entre outras razões, porque pressupõe investimento continuado na mudança estrutural da economia e se materializa apenas no médio e longo prazo. No caso de Portugal a dificuldade é acentuada pelo facto do investimento ter estado em queda mais ou menos acentuada durante todo o período 1999-2013 e da inversão registada a partir de 2014 ser muito incipiente; acresce que também não ajuda, muitíssimo pelo contrário, que a zona euro no seu conjunto, e a Alemanha em particular (desconte-se a apologia dos gastos militares e atente-se na análise do centrista Wolfgang Münchau), procure resolver o lastro de endividamento deixado pela Grande Crise Financeira de 2007/8 e pelos subsequentes desenvolvimentos europeus através de estratégias de simultânea contenção da procura interna porque, lá está, dado que a despesa de uns é a receita de outros, as exportações de uns têm de ser as importações de outros.
Chegados aqui, resta-nos a terceira opção. Tal como aconteceu na Bélgica, em Portugal, o sector privado, confrontado com uma redução da sua poupança líquida, para manter níveis de consumo e investimento compatíveis com o crescimento da economia vai ter de aumentar o seu endividamento.
É isto que uma parte daqueles que no debate público clamam por menos défice público têm em mente?
Será esta estratégia de ‘consolidação’ orçamental uma boa ideia quando o endividamento privado ainda representa 171,4% do PIB e o crédito malparado 13,3% do total do crédito concedido?
“O problema”, como diz Steve Keen, “em depender de níveis sempre crescentes de endividamento privado devia ser óbvio: esta dependência não pode acontecer porque a dada altura o sector privado se recusará a aceitar mais dívida. É o que em grande medida aconteceu em 2008 e originou a crise económica em resultado da contração da quantidade de dinheiro na economia e da própria economia”.

A impunidade cria o monstro

Posted: 15 May 2018 04:42 AM PDT

«Israel é uma sociedade cada vez menos critica, pluralista e aberta ao diálogo e à diferença. O cerco que fez aos palestinianos acabou por cercar os israelitas. Foram Hannah Arendt, Albert Einstein e Sidney Hook que em 1948 escreveram que o partido que deu origem ao Likud era próximo, “na sua organização, métodos, filosofia política e apelo social, dos partidos nazis e fascistas”. E foi o Likud e forças ainda mais extremistas que acabaram por determinar o que Israel é hoje. O Estado de Israel nasceu com o apoio das forças mais progressistas no mundo, dirigido por homens e mulheres que sonharam viver numa pátria de liberdade e segurança. O sonho era legitimo e o nascimento do Estado não o discuto. Nenhum teve o direito natural a nascer e todos eles se afirmaram com guerras, crimes e ocupações. O problema é que o objetivo de expulsar os palestinianos da sua terra passou a ser constitutivo da identidade do país. O sonho de liberdade acabou num estado xenófobo, militarista e profundamente corrupto. “Os nossos corações endureceram e os nossos olhos enublaram-se”, escreveu o jornalista israelita Gideon Levy. Israel morreu. Foram os seus muros, os seus guetos e as suas purgas que o mataram. Com todas as suas contradições, o sionismo era um projeto emancipador. Hoje é uma tenebrosa prisão em que a vitima envelhecida repete muito do que aprendeu com o seu carrasco, na juventude. Israel era a esperança da humanidade. É a tragédia que nos lembra que qualquer pessoa, povo ou Estado cometerá os piores crimes se nada fizermos para o impedir. Que a impunidade cria o monstro. Israel é uma das maiores decepções da humanidade.»
Daniel Oliveira, Israel morreu

Aquilo que os professores não reivindicam

Novo artigo em Aventar


por António Fernando Nabais

Sempre que os professores reclamam, o espaço da opinião pública e publicada incendeia-se, chamando privilégios a direitos, anunciando ao mundo a incompetência docente ou lembrando que há quem esteja pior, numa mistela de afirmações sem provas ou vazias de argumentação.

Por variadíssimas razões, que vão de um estranho complexo de inferioridade ao excesso de trabalho, os professores são pouco reivindicativos ou, no mínimo, mal reivindicativos, porque ou aceitam com demasiada facilidade factos consumados ou porque escolhem mal o momento de algumas batalhas (normalmente, desistem).

A mais recente reclamação dos professores refere-se ao tempo de serviço que este governo, alegadamente socialista, não quer repor na totalidade, depois de os professores terem trabalhado todo o tempo. É como se, no final de um dia de trabalho, dissessem ao leitor que só lhe pagariam uma das oito horas que já tinha trabalhado. A comparação, de qualquer modo, peca por defeito, porque os professores nem sequer exigem o dinheiro que perderam.

O mundo dos comentadores, dos célebres aos anónimos, dizia eu, indigna-se facilmente com os protestos docentes. Gostaria de aproveitar o dia de hoje para fazer uma pequena lista de reivindicações que os professores não fazem, mesmo que defendam a sua justeza. Se deveriam reivindicar? Com certeza, mas isso é outra questão. Ler mais deste artigo