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quinta-feira, 17 de maio de 2018

Costa acusa EUA de darem "contributo negativo" para a paz mundial

António Costa

SOFIA MARTINS SANTOS16/05/2018 21:18

Primeiro-ministro destacou ainda que a Europa deve afirmar-se como “voz alternativa e fator de estabilidade, paz, progresso e solidariedade”

Para António Costa, os EUA não têm contribuído para a paz mundial. Muito pelo contrário. No entender do primeiro-ministro, o que tem sido feito a este nível é “negativo”. E é exatamente por isto que António Costa defende a necessidade de a Europa se assumir como uma voz alternativa e um fator de estabilidade e paz.

“O mundo precisa de uma Europa forte, e que seja uma voz alternativa e um fator de estabilidade, paz, progresso e solidariedade neste mundo onde se vão multiplicando os fatores de crise e de tensão – e onde os EUA não têm dado um bom contributo, para não dizer um contributo negativo”, defendeu António Costa, à saída da reunião do Partido Socialista Europeu, que se realizou em Sófia, Bulgária.

A posição do primeiro-ministro português foi tomada depois de Donald Tusk, Presidente do Conselho Europeu, ter deixado para trás a delicadeza diplomática. “Com amigos destes, quem precisa de inimigos?”, questionou Tusk, fazendo referência ao abandono americano do acordo nuclear com o Irão.

Ao lamentar o fim da ilusão da amizade norte-americana, Donald Tusk aproveitou ainda para dizer que, “além dos tradicionais desafios políticos tais como a ascensão da China ou a postura agressiva da Rússia, assistimos hoje a um novo fenómeno: a assertividade caprichosa da Administração norte-americana”.

Donald Tusk e António Costa reforçaram assim a mais recente postura europeia em relação ao governo norte-americano: a Europa já não pode contar com o velho aliado transatlântico e tem de afirmar-se no plano internacional por si própria.
“Não tenho qualquer dúvida de que no novo tabuleiro global, a Europa será um dos grandes jogadores, ou, então, um peão. Esta é a única alternativa verdadeira. De maneira a ser um sujeito, e não um objeto, das políticas globais, a Europa tem de se unir economicamente, politicamente e militarmente como nunca. Trocando por miúdos: ou estamos juntos, ou não existiremos de todo.”

Recorde-se que era objetivo coletivo desta reunião avaliar as consequências da retirada dos EUA do acordo nuclear internacional com o Irão e ainda os possíveis efeitos da revisão das taxas para a exportação de produtos de aço e alumínio europeus.

Para Tusk e para Costa, o balanço está feito e é negativo. O presidente do Conselho Europeu chegou mesmo a assumir que não há margem para dúvidas: Tornou-se óbvio que a Europa já não voltará a encontrar “uma mão amiga”, caso decida pedir ajuda aos EUA. Uma ideia que já tinha ficado no ar num dos comentários de Angela Merkel ao abandono do acordo nuclear com o Irão. Como defendeu a chanceler alemã, os EUA deixaram de ser um aliado de confiança para a Europa.

Já no início do mês, Costa tinha condenado a saída dos EUA do acordo nuclear por considerar um “retrocesso para as garantias da paz no mundo”.

O Que Nos Diz Merkel

Angela Merkel, tomando a ruptura por Trump do Iran Deal como pretexto, voltou a repetir o que tinha dito em Maio de 2017: “Está na hora da Europa tomar o seu destino em mãos…” Sim, mas que significa realmente isto?

Já senhora e imperadora da economia europeia, a Alemanha prepara-se para um novo “Sacro Império Germânico” (sim, fica mal falar de IV Reich…). Assim sendo, os próximos anos vão ser de rearmamento da Alemanha. Aliás, a campanha de comunicação para viabilizar esse rearmamento já começou há uns largos meses.

Quem está atento aos “sinais fracos” já detectou certamente um fluxo sucessivo de notícias, amplamente distribuídas por tudo quanto é media, a “explicar” o lamentável estado do material ao dispor dos bravos soldados alemães…

Ao mesmo tempo (desculpem lá este uso da expressão favorita do actual presidente de França, Emmanuel Micron), vai subir de tom a velha campanha alemã pela “desnuclearização” da França e da Inglaterra (as únicas potências nucleares da Europa).

Merkel não será um agente “undercover” de Putin, mas se o fosse não faria melhor trabalho para tornar a Europa um impotente “saco de gatos”, agitado e descredibilizado mas, claro, em proveito próprio da Alemanha.

Ah, pois é, a maldição de Bismarck está novamente de volta e Putin (bom conhecedor da Alemanha, onde viveu e trabalhou muitos anos) prepara-se para brincar com essa sociopatia política alemã. Os tempos estão a ficar sombrios! Take care, cuidem-se.

Foto original: John MacDougall/Reuters

Que desculpas esfarrapadas, Augusto!

Ladrões de Bicicletas


Posted: 17 May 2018 02:17 AM PDT

Augusto Santos Silva, Ministro dos Negócios Estrangeiros e número dois na hierarquia do governo, optou por utilizar argumentos muito pouco sustentáveis para justificar a decisão de autorizar o furo para pesquisa de petróleo por parte do consórcio ENI/GALP ao largo de Aljezur, dispensando qualquer estudo de impacto ambiental.
Diz o ministro que “a confirmarem-se reservas de petróleo ao largo de Aljezur, servirão para diminuir a dependência de Portugal das importações do combustível fóssil”. Diz ainda que o Governo "tem interesse em conhecer os recursos petrolíferos na costa portuguesa".
Acontece que o contrato assinado com a ENI/GALP nada diz sobre o destino a dar a eventuais descobertas de petróleo. Como faria qualquer empresa privada, caso descubra petróleo, o consórcio vendê-lo-á nos mercados internacionais a quem pagar mais, guardando para si os lucros e pagando uma miséria ao Estado português (ver mais sobre isto aqui).
Vale a pena também ter presente que o contrato não visa a simples prospecção (para ver se há ou não petróleo no fundo do mar), antes assegura ao consórcio o direito de explorar eventuais descobertas, pagando uma miséria ao Estado português e deixando para este mesmo Estado os custos de eventuais acidentes ambientais de grandes de dimensões (que são raros, mas acontecem).
Não sei se o governo fez tudo o que estava ao seu alcance para cancelar estes contratos lesivos para o interesse público. Se o fez e não foi bem sucedido bastava dizer que os compromissos assumidos têm de ser respeitados. Não precisávamos do resto.

Selvajaria é nome pequeno

por estatuadesal

(Luísa Meireles, in Expresso Diário, 16/05/2018)

bas

Sabe do que estou a falar não sabe? Acertou em cheio: do futebol, do Sporting e da tremenda vergonha de ver uma fotografia destas.

Esta é a cabeça de Bas Dost, o holandês que joga pelo Sporting e que é um dos seus mais famosos marcadores. Disse que se encontrava "vazio". A fotografia foi tirada pouco depois de conhecido o ataque de um bando à Academia do Sporting em Alcochete, ontem, a meio da tarde, espancando com barras de ferro e cintos atletas e equipa técnica, destruindo o balneário e vandalizando a área. Encapuzados, ainda por cima, o pequeno requinte de grandes criminosos. É o quê esta gente: energúmenos, vândalos, arruaceiros, selvagens, ou "casuals", como se designam agora aqueles que só aparecem para as cenas de pancada?

O recinto estava rodeado de jornalistas, já de plantão por causa da verdadeira novela em que se transformou o dia a dia do clube dos leões. Ainda ontem, a notícia era o suposto os jornais titulavam como "terramoto", ou "ponto final" o conflito entre o seu histriónico presidente e o seu (agora) desafortunado treinador, se tal adjetivo é apropriado para quem ganha 7,5 milhões de euros por ano. Mas adiante, que a questão hoje não é essa.

Os comentadores não pararam toda a noite (e eu com eles, ó, logo eu, ironia das ironias!) e hiperbolizaram o relato. Tragédia, ainda vá, mas ato de terrorismo? Enfim, é melhor não perder a dimensão das coisas, se bem que reconheça que o seriado vai cada dia tomando novas e piores tonalidades. Não vou repetir os pormenores, disponíveis, por exemplo, aqui, aqui, e mais aqui (em vídeo) mas o que aconteceu ontem no Sporting, se foi exclusivo do clube, não o é infelizmente no mundo do futebol.

O clube vive momentos de pesadelo, desde que perdeu em Madrid, que custam a crer: eles são as inacreditáveis tiradas de Bruno de Carvalho (que nem os atletas quiseram ver ontem em Alcochete), os tumultos e insultos em Alvalade, num crescendo que foram até ao lançamento de petardos pelos próprios adeptos no jogo com o Benfica, à quase agressão dos jogadores Rui Patrício e William de Carvalho depois da derrota com o Marítimo e, agora, a isto. Já para não falar das suspeitas que impedem sobre o mesmo clube a propósito das suspeitas de suborno dos jogos de andebol e que parece estenderem-se a outras modalidades (e a outros clubes), segundo diz o jornal I.

Os adeptos estão zangados. No restrito mundo em que estou a escrever, há um que diz que pediu as quotas de volta, outro que nem consegue falar e outro ainda que diz, como a direção do clube, "que isto não é o meu Sporting", mas "um bando de selvagens". Quem está por trás disto, perguntam. E com que objetivo? Que vai acontecer a Bruno de Carvalho? E ao Sporting? Os jogadores vão-se embora? Eu não sei, mas há muitos palpites.

Marta Soares, o tão corajoso chefe de bombeiros que ajuda a demitir comandantes da Proteção Civil, ainda ontem dizia que o Sporting não vivia em crise, mas só vai convocar os órgãos sociais do clube para segunda-feira. Houve quem reclamasse que ele devia demitir de imediato a estrutura diretiva, mas nada, aquilo parece uma aliança indestrutível. Quanto ao próprio presidente do clube,leia o que ele disse, para não ter de se beliscar. Eu, que percebo pouco do meio, deixo os comentários para quem sabe e tem opinião - a do Pedro Candeias, por exemplo (Foi chato, Bruno?) ou esta. Só consigo ver de fora.

Por isso pergunto: ninguém pensou quais seriam as consequências de um "presidente-adepto", de fala desbragada e que - como diz - "para ter sucesso, a primeira coisa a fazer é criar fama de maluco"? [para assinantes, lamento] Pois ganhou-a e este é o resultado do populismo no futebol. Mas o pior é o resto. Voando sobre o Sporting, ninguém pensou sobre os efeitos de horas sem fim a falar de futebol, no tempo extravagante que ele tem no espaço público, na televisão e na rádio em especial, a pretexto das audiências, num círculo vicioso de dar circo a quem pede circo porque não lhe dão mais nada?

Ninguém imaginou o poder da linguagem de confronto e espírito de guerra que animam os comentadores profissionais de desporto que pululam em cada horário nas televisões? Do escândalo após escândalo, dos crimes que atravessam este desporto? Da raiva que suscitam nos adeptos e do "mono-papo" que abrange legiões de portugueses? Que se pode esperar senão sangue desta cultura de ódio que parece estender-se à sociedade inteira depois de tudo isto? Por isso, deve ler esta opinião do Daniel Oliveira, escrita ainda antes do que aconteceu em Alcochete.

Desculpem, mas há consequências. A Justiça e o Governo têm o dever de tirá-las e nós todos de refletir sobre elas. Não sei se chegam palavras de repúdio pela violência e de solidariedade para com os agredidos, nem a promessa de que no domingo, no final da Taça, o Jamor será a "festa do futebol". Tem de haver regulação. Lá fora, Portugal continua a ser o campeão europeu e o país de onde saem campeões, entre eles o grande Ronaldo (que por acaso se formou nos primórdios da Academia de Alcochete do Sporting). Eu, por enquanto, só consigo resumir o meu pensamento à mesma palavra com que comecei este texto: vergonha.

quarta-feira, 16 de maio de 2018

Entre o xadrez e o Go

Posted: 16 May 2018 02:52 AM PDT

«Henry Kissinger dizia que havia uma grande diferença entre a China e o Ocidente no que se referia às relações entre Estados. A China utilizava a estratégia do Go, o Ocidente preferia a do xadrez. Não poderia ser mais incisivo. Os dois jogos têm objectivos diferentes. Como se sabe, o Go representa a luta pelo domínio territorial (e, eventualmente, a captura de pedras que podem ser utilizadas a favor do captor). Nele, cerca-se para se tomar o território em disputa. O xadrez, pelo contrário, é um jogo de tomada de poder que é representado pelo xeque-mate ao rei. Mesmo que haja domínio territorial, a partida será perdida se não for possível defender o rei. As duas concepções do jogo, e do mundo, são cada vez mais claras nos dias de hoje. A estratégia do Go vai sendo desenvolvida pela China em todos os territórios do planeta. Frente à debandada ocidental, em que Trump procura desagregar a União Europeia enquanto compra uma carapaça de Ninja Verde para proteger os EUA, Pequim vai ocupando espaço. Por isso, independentemente do preço oferecido na OPA sobre a EDP, o que está aqui em jogo é algo mais vasto. É uma questão de vitória estratégica.

A possibilidade de empresas chinesas, ligadas ao Estado, controlarem totalmente a EDP parece estar a causar um "irritante" nos EUA, em Bruxelas e mesmo na Alemanha. Já se fala na possibilidade de regras mais severas contra a entrada de capitais chineses nas empresas ocidentais. Não se entende o alvoroço destas damas ofendidas. Foi a UE que forçou os países como Portugal e a Grécia a vender ao desbarato sectores estratégicos estatais (já nem se fala da "resolução" do BES) por causa da "necessária" austeridade. Comprou quem tinha capital: os chineses. Azar. Na Grécia, essa política de garrote continua activa e mais empresas estatais irão parar a mãos chinesas. Sem visão de longo prazo, a UE empurrou países devedores como Portugal para todas as soluções de recurso. Agora critica-se Lisboa ou Atenas pelo que fez ou faz. A burrice é a política oficial de Bruxelas.»

Fernando Sobral