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segunda-feira, 28 de maio de 2018

A Viagem

Novo artigo em Aventar




por Bruno Santos

Parece que o presidente da Câmara Municipal de Lisboa decidiu mudar o nome ao futuro “Museu dos Descobrimentos”, rebaptizando-o como “A Viagem”. Diz-se - mas nada que tu digas acredito - que esta mudança se deve a um conjunto de pressões por parte de um grupo de iluminados que considera que as expressões “Descobertas” ou “Descobrimentos” são obsoletas, incorrectas e carregadas de sentidos equívocos.
Para que nada falte a estes argonautas de água doce, segue-se uma lista com outras expressões que devem também ser alteradas, sugestões que, uma vez adoptadas, acabarão de vez com essa coisa obsoleta, incorrecta e carregada de equívocos, chamada História de Portugal.
A bem da Nação.

Morte assistida: Respeito pela dignidade implica que respeitemos opções de cada um

Catarina Martins espera que na terça-feira o Parlamento aprove na generalidade a despenalização da morte assistida, para posteriormente se encontrar, na discussão na especialidade, “a melhor solução técnica e jurídica” para a concretizar.

27 de Maio, 2018 - 18:53h

Catarina Martins, foto de Miguel Lopes. Lusa.

“A discussão sobre a morte assistida não começou agora nem acaba na terça-feira. Esta discussão e este debate enorme que o país tem feito já tem mais de dois anos e meio”, afirmou Catarina Martins em declarações aos jornalistas, à margem de uma visita às festas do Senhor de Matosinhos.

“Foi há dois anos e meio que foi criado um movimento cívico muito amplo pela despenalização da morte assistida e que diz algo tão simples como quando uma pessoa está perante um sofrimento intolerável e tem uma doença fatal, uma lesão definitiva, e pede ajuda a um médico, o médico possa dar essa ajuda sem ir preso”, acrescentou a coordenadora bloquista.

Segundo Catarina Martins, “o respeito pela dignidade implica que respeitemos as opções diferentes de cada um e de cada uma”, sendo que, “como o próprio presidente da República reconheceu, este é um dos temas que mais profundamente foi discutido na sociedade”.

“O que esperamos na terça-feira é que o Parlamento possa fazer o passo de aprovar na generalidade os vários projetos que estão em cima da mesa, e que já tiveram este período tão grande de debate, para depois podermos fazer na especialidade um melhor trabalho ainda”, frisou.

“O que é importante esta terça-feira é reconhecermos que as pessoas têm a liberdade de decidir no fim de vida e que depois se faça o melhor dos trabalhos de especialidade para se saber que a lei que sai é tecnicamente mais competente. É isso que é pedido agora aos deputados e deputadas”, reforçou a dirigente do Bloco de Esquerda.

De acordo com Catarina Martins, “o Bloco fez tudo para levar este debate a todo o país”.

“O João Semedo, que tem estado neste debate desde o início, como o José Manuel Pureza, que é agora deputado, fizeram debates em todo o país, em todos os distritos, amplamente participados. Pela nossa parte, fizemos, ao longo de dois anos e meio, um debate consequente, aprofundado, com gente que pensa de várias formas, com gente da esquerda e gente da direita, com gente que tantas visões tem da vida para encontrarmos esta solução”, assinalou.

A coordenadora bloquista referiu que “o Parlamento é agora chamado para dar este passo: respeitar a dignidade”.

“Não dizemos que escolha a pessoa tem de tomar, dizemos é que a escolha que a pessoa faz tem de ser respeitada. Não impomos nenhuma escolha, respeitamos as escolhas que um e cada uma fazem”, realçou.

“Este não é um problema de religião contra não religião, não é um problema de esquerda contra direita, não é dizer que há entendimentos na vida que são melhores que os outros. É dizermos que todos os entendimentos da vida são igualmente respeitáveis, e que cada um deve ter a liberdade para, no final da sua vida, decidir e ter o apoio que decidir ter com toda a dignidade”, rematou.

Ladrões de Bicicletas


Cantar de galo

Posted: 27 May 2018 06:32 PM PDT

Terminou o congresso do PS. Retive estas duas frases do discurso final de António Costa (ler aqui)

Hoje podemos dizer a quem duvidava há 2 anos e meio, que era impossível virar a página da austeridade sem sair do euro. Nós provamos que era possível sair da austeridade sem sair do euro.

Se há algo que nos devemos orgulhar nestes dois anos e meio é que acabámos com o mito de que em Portugal é a direita que sabe governar a economia e as finanças públicas.

António Costa tem razão. Provou que “era possível sair da austeridade sem sair do euro”. Porém, é importante lembrar que, para que assim tenha sido, recebeu uma preciosa ajuda da UE já que a conjuntura em que começou a governar era de crise política, ascensão dos partidos da extrema-direita e infração nos défices por parte da França, Itália e Espanha. Após a carnificina a que foi sujeita a Grécia, Angela Merkel e a Comissão Europeia perceberam (a custo) que não era sustentável acirrar ainda mais os ânimos contra a política ordoliberal dos Tratados. Já tinham tirado o pé do acelerador da austeridade para permitir a Passos Coelho deixar derrapar o défice, aliviando o garrote à economia, para apresentar algum crescimento e tentar ganhar as eleições. A solução “geringonça” – envolvendo a esquerda que está banida dos governos da UE –, tendo sido mal recebida, acabou por ser tolerada porque também não havia clima para mais “austeridade expansionista”. Sabendo muito bem do que a casa gasta, António Costa também teve a inteligência de escolher um economista neoliberal e, dessa forma, deu garantias de que o essencial seria salvaguardado em diálogo cooperante com quem manda. Uma inteligência submissa.
Sim, António Costa seguiu um caminho social-liberal para lidar com as exigências dos Tratados e a sua alternativa teve condições para ser bem sucedida. Mas só o foi porque ainda fumegava a terra queimada na Grécia e porque, com toda a frieza da ‘realpolitik’, nunca reprovou a prepotência da UE, primeiro, no derrube do governo italiano através do BCE em 2011, depois, no derrube do governo grego também pelo BCE em 2015. Agora não nos venha falar de política socialista porque isso está proibido na UE e António Costa bem o sabe.
Aliás, António Costa também podia ter-nos poupado à fanfarronice de que governa tão bem como a direita no que toca à economia e finanças. Orgulhar-se de défices, dentro em breve de excedentes, numa economia longe do pleno emprego e com serviços e equipamentos públicos em erosão, é orgulhar-se de cumprir regras absurdas que nenhuma teoria económica sustenta e, pior ainda, é mostrar sem qualquer pudor a inculturação neoliberal do “socialismo-terceira-via” que o PS julga não praticar. Tenho cá para mim que os economistas dignos desse nome que rodeiam António Costa ficaram constrangidos ao ouvir tal afirmação. É o preço que têm de pagar enquanto permanecem agarrados à fé numa futura, mas inverosímil, viragem do PS à esquerda. Tenho pena que, no final do Congresso, nenhum representante dos partidos da esquerda ali presentes tenha comentado esta afirmação. Sinais dos tempos.

Björk - Pagan poetry

Posted: 27 May 2018 09:57 AM PDT

Under Pressure

Novo artigo em BLASFÉMIAS


por Sérgio Barreto Costa

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O Parlamento vai debater a despenalização da eutanásia, e Rui Rio, um defensor dessa ideia, já veio lamentar a pressão que está a ser exercida sobre os deputados por parte de pessoas que a ela se opõem. O Presidente do PSD tem a razão do seu lado. O povo, como se sabe, nunca está satisfeito. Antigamente queixava-se por viver em ditadura; agora, que já tem a oportunidade de eleger e pagar o salário a deputados, acha-se com o direito de ser por eles representado. É gente muito chata e exigente, às tantas pensam que isto é alguma democracia representativa.

Esta atitude dos eleitores, profundamente desagradável, revela-se também nas críticas que fazem à ausência de debate sobre o assunto durante a campanha eleitoral e à omissão do tema nos respectivos programas. Como se fosse possível abordar tudo em textos que não ultrapassam as 92 páginas, no caso do PS, e as 148, no caso do PSD. Deixemos esse espaço nobre e reduzido para as questões verdadeiramente importantes. Ainda para mais, essa lacuna servirá para promover a igualdade na sociedade portuguesa: tínhamos os cidadãos que ignoram as propostas partidárias por não se darem ao trabalho de ler os programas eleitorais, e agora também temos os cidadãos que ignoram as propostas partidárias apesar de se darem ao trabalho de ler os programas eleitorais; e tínhamos os cidadãos que não liam os programas eleitorais por estarem divorciados da política, e agora também temos cidadãos que se vão divorciar da política por lerem os programas eleitorais. É um grande avanço para Portugal: antes uma ignorância informada do que uma simples ignorância.

Note-se que a posição de Rui Rio tem sido devidamente apreciada e elogiada por várias pessoas. Para grande azar são pessoas de esquerda, que nunca na vida nele irão votar. Mas é um bom começo. Um dia destes, quando tiver disponibilidade, talvez Rui Rio possa começar a agradar ao seu próprio eleitorado.

Em relação ao tema propriamente dito, só tenho um reparo a fazer. Aparentemente, as pessoas vão poder ser eutanasiadas nos hospitais públicos, mas apenas na modalidade a pronto. Quem se quiser eutanasiar a prestações, através, por exemplo, do consumo de croquetes, chamuças, croissants e refrigerantes, terá de continuar a recorrer a serviços de saúde privados. Penso que devemos rever este aspecto. A eutanásia a prestações, apesar de mais demorada, também acaba por ser eficaz. É o método que Rui Rio está a aplicar ao PSD e os resultados estão a ser bastante positivos.

Notas soltas sobre a eutanásia

Novo artigo em BLASFÉMIAS


por CGP

1. No Oregon, a eutanásia é legal há 20 anos. Há cerca de 40 casos por ano. Na Holanda, com uma população apenas 4 vezes maior, houve mais de 6 mil em 2017, incluindo crianças com menos de 16 anos. Eu não aprovaria nada sem perceber o que causou a slippery slope num caso e não noutro.

2. Ramon Sampedro ficou tetraplégico aos 25 anos. Se a eutanásia fosse legal, teria morrido aos 26. Nos 29 anos seguintes escreveu um livro, defendeu uma causa (por acaso, a eutanásia) e deu inúmeras entrevistas. Viveu.

3. Muitas pessoas compram sepulturas e deixam dinheiro alocado para o seu funeral muito antes de morrerem. Fazem partilhas em vida ou deixam testamentos para que a sua morte não cause desavenças familiares. Aquelas que sabem que vão morrer uns meses antes procuram fazer as pazes com amigos e familiares, resolver inimizades e deixar conselhos aos filhos. A maioria das pessoas gosta de morrer no conforto de saber que deixou tudo tratado. Ramon Sampedro morreu sem saber se os seus amigos mais próximos seriam presos depois da sua morte por o terem ajudado a suicidar-se.

4. Não foram.

5. Há uma tendência a “fazer equipas” cada vez que se fala em assuntos fracturantes, como se fossem todos iguais. Como se o direito a casar, a abortar, utilizar técnicas de PMA ou a ser eutanasiado fossem tudo uma e a mesma coisa, com o mesmo tipo de considerações. Quem assume por defeito a posição progressista ou conservadora qualquer que seja a questão merece zero credibilidade, por muito atractiva que seja a retórica de trincheira.

6. Quantas pessoas foram condenadas por praticar a eutanásia em Portugal? Zero? Será que nunca houve eutanásia em Portugal ou vamos despenalizar algo que nunca foi penalizado? Será a hipocrisia marcelista do "É ilegal, mas pode-se fazer" um mal menor em relação ao risco de dar ao estado o poder de matar?