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sábado, 2 de junho de 2018

A cidade do Porto não tem piorio?

por estatuadesal

(José Pacheco Pereira, in Público, 02/06/2018)

JPP

Pacheco Pereira

De há mais de um ano para cá, quando ia à minha terra, ao Porto, arranjava maneira de parar em S. Lázaro para fotografar e documentar o Quiosque dos Worst Tours, também conhecido como o “Quiosque do Piorio”. Numa última vez pude falar com alguns dos seus animadores. No Ephemera encontram-se muitas fotografias do quiosque, que são bastante esclarecedoras do que é (ou era, porque não sei se à data em que este artigo sairá o quiosque não está já fechado), esse pequeno espaço de liberdade na cidade do Porto.

O quiosque, um quiosque tradicional e bastante antigo, encontra-se num sítio emblemático da cidade. É por isso que o pior argumento para fechar o Quiosque do Piorio é este:

“Naquele local não deve haver um equipamento daquele género e formato, face ao conceito que [a câmara] tem para aquele espaço.”

Se há exemplos de explicações esfarrapadas está é uma delas. Estamos a ser vítimas do terrível “conceito”. Aquele “local” está na intercepção do edifício da Biblioteca Municipal, do jardim romântico de S. Lázaro, da Escola Superior de Belas-Artes e do Café S. Lázaro, ponto de reunião das vanguardas artísticas dos anos 60 e 70. Para um lado, caminha-se para o infame edifício da PIDE, para o outro vai-se para a antiga zona de “ilhas” de S. Vítor e Fontainhas, coração do S. João, a festa democrática e única da cidade. Para cima, começa o Porto oitocentista e novecentista até ao monte onde estiveram colocadas em muitas revoltas as baterias de artilharia. O quiosque é um ponto nesta geografia, mas está lá no sítio certo, numa cidade que à sua volta está ainda viva e na zona limítrofe do Porto turístico, ou melhor, do Porto dos turistas. Talvez seja aí que entra o “conceito”.

PÚBLICO -

O Quiosque do Piorio era um dos animadores da contestação à “gentrificação” do Porto. O Dicionário da Priberam explica a palavra nestes termos:

“Processo de valorização imobiliária de uma zona urbana, geralmente acompanhada da deslocação dos residentes com menor poder económico para outro local e da entrada de residentes com maior poder económico.”

Ou seja, aquilo que se está a passar no Porto e em Lisboa. Na verdade, estão-se a passar muito mais coisas, algumas positivas, como seja a reabilitação de zonas muito degradadas das cidades e um impulso económico muito significativo, mas também um efeito de deterioração que está a fazer estragos nas cidades antigas e que não é sustentável. Quando a onda de turismo diminuir, como naturalmente acontecerá na lógica das modas, vai haver outro tipo de ruínas por tudo o que não foi acautelado pelo deslumbramento destes anos.

A palavra de ordem de “Make Porto podre again” pode ser excessiva, mas há lá uma verdade e um alerta que valia a pena serem ouvidos, antes que seja tarde. Por isso, o Quiosque do Piorio pode ser excessivo, esquerdista, nostálgico de um Porto que não era lá grande coisa, mas uma câmara adulta não só deveria conviver bem com esta contestação, como a deveria considerar boa para cidade, onde fazem falta estas vozes.

Até porque o Porto tinha outra coisa que Lisboa não tinha: uma genuína tradição liberal, burguesa, inscrita nas suas instituições e nas suas práticas. Do 24 de Agosto às lutas liberais, do 31 de Janeiro à revolta de 1927, a mais mortífera rebelião contra a Ditadura, o Porto era mais liberal e democrático do que jacobino, mais socialista do que anarco-sindicalista, e nele o 5 de Outubro não chegou pelo telégrafo, visto que os mortos da República já tinham morrido na Rua 31 de Janeiro, a que a Ditadura chamava, num último insulto, de S. António.

Foi no Porto que se realizaram os maiores comícios e reuniões da oposição a Salazar, o comício de Norton de Matos e a recepção a Humberto Delgado, o ponto de viragem da sua campanha presidencial, com toda a cidade na rua com epicentro na Estação de S. Bento. Nunca houve nada disto antes e nunca houve nada de parecido depois.

E outra coisa que explica esta história é que estamos numa cidade onde a sua “burguesia” pouco se vendeu ao salazarismo, participava nas causas liberais, apoiava a oposição e interessava-se pela arquitectura moderna, pelas artes, pelo teatro, que ajudava a existir, do Teatro Experimental à Cooperativa Árvore. Donos de indústrias, banqueiros, famílias ricas pagavam no Porto aquilo que fora da cidade era muito raro de existir.

Se ainda for a tempo, vale a pena salvar o Quiosque do Piorio da ameaça do “conceito”.

Corbyn pressionado para pedir novo referendo ao Brexit

2/6/2018, 12:43

O líder do Partido Trabalhista britânico, Jeremy Corbyn, está a ser pressionado no interior do próprio partido para levar a votos o acordo que baliza a saída do Reino Unido da União Europeia.

Dan Kitwood/Getty Images

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Jeremy Corbyn, líder do Partido Trabalhista, está a ser pressionado por uma ala do próprio partido para apoiar um novo referendo à permanência do Reino Unido na União Europeia, depois de um grupo de 18 deputados ter publicado uma carta aberta onde exige uma consulta popular ao acordo negociado para o Brexit.

A informação é avançada pelo The Independent, que dá eco às palavras dos 18 parlamentares do Labour, todos eles eleitos por Londres — a base onde reside o poder de Corbyn, como recorda o mesmo jornal. Na carta, os deputados não podiam ser mais claros: “Quando a primeira-ministra apresentar o seu acordo para o Brexit, vamos saber finalmente o que representa este acordo. E teremos de decidir se o queremos aceitar ou não”, escrevem.

“Não pode estar correto que apenas 650 deputados decidam se aceitam o acordo, sem dizer nada aos londrinos e às pessoas de todo o país. Achamos essencial que haja uma votação do povo sobre o acordo final do Brexit”, notam.

Uma posição de rutura que vem a somar-se a manifestações idênticas de outros deputados trabalhistas. Até ao momento, Corbyn tem resistido em juntar-se aos que exigem uma nova consulta popular aos termos do acordo para o Brexit, dizendo que os britânicos deviam “respeitar” o resultado do referendo de junho de 2016. As pressões à esquerda, no entanto, são cada vez mais evidentes, com o líder do Labour a ficar cada vez mais isolado. Espera-se que Theresa May apresente o acordo final para o Brexit ainda este ano.

Puidgemont afirma que novo Governo da Catalunha está “em boas mãos”

2/6/2018, 14:46

Puigdemont aplaudiu o respeito do novo Governo pelas "ideologias, línguas, culturas e crenças" e que este se comprometa a ser "fiel ao mandato popular" que é a "base da democracia".

MARTA PEREZ/EPA

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  • Agência Lusa
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O ex-presidente da Generalitat, Carles Puigdemont, afirmou hoje, após a tomada de posse do novo Governo catalão, que está “em boas mãos”, celebrando que o executivo se comprometa com o “mandato popular” que é “base da democracia”.

Numa mensagem publicada na sua conta de Twitter, Puigdemont celebra a tomada de posse do Governo de Quim Torra, 218 dias depois de ter terminado o seu devido à aplicação do artigo 155 da Constituição como resposta à declaração unilateral de independência.

“O caminho continua, e em boas mãos. Um Governo de mulheres e homens comprometidos com a liberdade: a do país, que quer dizer necessariamente a das pessoas que o conformam”, escreveu o líder da coligação Junts per Catalunya.

Puigdemont aplaudiu o respeito do novo Governo pelas “ideologias, línguas, culturas e crenças” e que este se comprometa a ser “fiel ao mandato popular” que é a “base da democracia”.

O primeiro vice-preidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans, apelou hoje, em Barcelona a “mais diálogo” entre o Governo pesanhol e a Generalitat (governo da Catalunha) para resolver o conflito catalão.

O representante europeu, que participava na sessã de encerramento das jornadas do Círculo de Economía de Sitges, mostrou-se convito de que os políticos espanhóis são “suficientemente capazes” de resolver esta questão através da negociação e do diálogo.

Jorge Costa: “Manuel Pinho deve importantes explicações, mas não é o único”

Gustavo Sampaio

15:30

O deputado bloquista Jorge Costa quer inquirir outros responsáveis políticos e empresariais, como José Sócrates e Ricardo Salgado, pelas rendas excessivas do setor elétrico. “O Grupo Espírito Santo não é um ex-acionista qualquer da EDP”, sublinha.

O Bloco de Esquerda (BE) quer inquirir José Sócrates, antigo primeiro-ministro, e Ricardo Salgado, ex-presidente do GES, no âmbito da Comissão Parlamentar de Inquérito ao Pagamento de Rendas Excessivas aos Produtores de Eletricidade, a qual vai analisar os contratos inerentes aos Custos de Manutenção do Equilíbrio Contratual (CMEC), a par de outras formas de “rendas excessivas”.

Nesse sentido, o BE já entregou na Assembleia da República uma lista de entidades a ouvir, documentos a consultar e nomes a convocar. Além de Sócrates e Salgado, os bloquistas pretendem chamar todos os ex-primeiros-ministros desde o Governo de José Manuel Durão Barroso (2002-2004).

António Costa combinou encontro para breve com Pedro Sánchez

O primeiro-ministro, António Costa, falou hoje de manhã por telefone com o novo presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez, e ambos combinaram um encontro para breve, disse hoje à Lusa fonte do gabinete do governante português.

António Costa combinou encontro para breve com Pedro Sánchez

Paulo Cunha/Lusa

Lusa

02 de junho de 2018 às 14:16

Segundo a mesma fonte, o encontro entre os dois líderes socialistas deverá acontecer depois da formação do Governo de Madrid e do regresso de António Costa da deslocação que tem este mês aos Açores e aos Estados Unidos.

Já na sexta-feira, António Costa felicitou Pedro Sánchez pela sua indigitação como presidente do Governo, após a aprovação de uma moção de censura ao executivo de Mariano Rajoy, dizendo esperar que com o novo Governo espanhol as relações entre Portugal e Espanha "continuem a melhorar", no seguimento dos projetos que os dois países têm em curso.

"Quero desejar ao novo presidente do Governo, Pedro Sánchez, as maiores felicidades e que, com o seu Governo, as relações entre Portugal e Espanha continuem a melhorar e na senda que temos vindo a desenvolver".

Em declarações aos jornalistas, em Loulé, António Costa sublinhou a importância da continuidade dos projetos que unem os dois países "quer do ponto vista bilateral, quer no âmbito da União Europeia, em particular, o projeto das interconexões energéticas que são absolutamente fundamentais".

O primeiro-ministro aproveitou ainda a ocasião para "enviar um abraço de muita amizade" a Mariano Rajoy, referindo que "foi um gosto trabalhar com ele novamente", depois de já o ter feito há uns anos, quando ambos eram ministros.

O parlamento espanhol aprovou na sexta-feira uma moção de censura que afastou o executivo de direita liderado por Mariano Rajoy e ao mesmo tempo elegeu o novo presidente do Governo, Pedro Sánchez, líder do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), que promoveu essa proposta.

Pedro Sánchez prestou hoje juramento como chefe do executivo espanhol e tem agora de apresentar a composição do seu executivo, o que deverá acontecer nos próximos dias.

António Costa desloca-se aos Açores e aos Estados Unidos entre 09 e 12 de junho para as comemorações do Dia de Portugal.