(Joaquim Vassalo Abreu, 08/06/2018)
(Publiquei aqui no dia 06 um artigo de Francisco Louçã (Duas parece coincidência, três parece intenção) que, no essencial, antevê e tenta desmontar uma estratégia do PS para se livrar dos seus parceiros da Geringonça, julgando ser essa a forma de almejar obter a maioria absoluta em próximas eleições legislativas - antecipadas ou não. Tal análise é polémica para muita gente de esquerda, mesmo não sendo do PS.
É esse o enquadramento que me leva a trazer este novo texto do Vassalo Abreu. O debate é sempre bem vindo e cada um acolherá certamente os argumentos da parte com quem mais se sintonize. Ou mesmo de ambas as partes, digo eu, já agora para tornar o tema ainda mais complexo.
Comentário da Estátua, 08/06/2018)
O Senhor Professor é um distinto catedrático de Ciências Económicas, todos sabemos, um experiente político, todos sabemos também, um Conselheiro de Estado desta nobre Nação Lusitana e, como tal, uma espécie de seu Senador.
Digamos ter o Senhor Professor um curriculum de fazer inveja e, tendo em consideração nunca ter passado por nenhum cargo governativo, não que para isso não tivesse bagagem de sobeja, é de louvar que, mesmo pertencendo a uma franja mais à esquerda do nosso espectro político, mesmo assim se consiga notoriamente afirmar.
Mas sempre foi, à imagem de um PCP que sempre abjurou, um seguidor daquela máxima que sempre considerou de ruptura, a do “quanto pior melhor”! Estarei errado?
Vamos ver: porque terá V.Exª, naquele célebre dia 23 de Março de 2011, votado, juntamente com o PCP e toda a Direita, contra o PEC 4, quando sabia que isso seria um estender de uma passadeira dourada à Direita e à PAF? Consegue explicar-nos?
O que veio a seguir você sabe e todos sabemos: a subida ao poder daquelas sinistras figuras todas: do Passos Coelho, do Paulo Portas, do seu primo, da Marilu, do Relvas, da Teixeira da Cruz, da pia Cristas e uma cambada tal que…eu achava que quem o permitiu se deveria para sempre penitenciar!
De certo modo ter-se-à arrependido e até foi um dos promotores dos primeiros diálogos, assim como um derreter do gelo, que desaguaram na chamada “Geringonça”, este Governo, do qual agora veemente discorda. E, acusando como acusa este Governo de se distanciar dos seus aliados, de se entregar à Direita com o intuito de conseguir uma maioria absoluta. E aqui divergimos completamente!
Naquele seu texto de há dias (dia 5 do corrente mês) a que deu o título de “Duas parece coincidência, três parece intenção”,o Sr. Prof. emite afirmações para si tão conclusivas que eu não resisto à tentação de as reproduzir, para depois as contrapor:
–O Governo está a provocar, por estratégia premeditada, crises e crispações…
-Tanta confiança que o Congresso ignorou o irritante, como agora se diz, de o Governo depender de um acordo com outros partidos…
– O Governo quer um verão e um outono de conflitos sociais…porque essa estratégia renderá votos…
– Na Educação (leia-se progressão nas carreiras) é o Ministro das Finanças quem mais ordena…e, por último,
– Exigiu aos Sindicatos dos Professores/as que façam greve…
Eu, meu caro Prof. Dr. em Ciências Económicas, Conselheiro de Estado e agora também Senador da Nação, li , fiquei perplexo e até me perguntei: mas como é que este indivíduo, um académico, de quem livros até já li, tão estudioso, minucioso e parcimonioso, austero e cauteloso nas suas análises até, consegue reduzir a isto uma situação politica, esquecendo-se do tal “antes” que atrás referi e que, deste modo, se poderá repetir?
Mas, Sr. Prof. Dr, e mais não enumero, não é apenas por isso: é pela ligeireza de um qualquer aprendiz de jornalista com que o Sr. Prof. emite tais afirmações. Pois vejamos:
– O Sr. Prof. acredita mesmo naquilo que escreve e diz? Então é o Governo que está a provocar crises e crispações? Lamento Sr. Prof., mas isso é de todo inverosímil, passa-me ao lado e não sou propriamente um destituído!
– Então acha mesmo que o Governo se esqueceu de que depende na Assembleia de outros partidos? Mas porque será? Porque não está, em nome da responsabilidade pública, a ceder a chantagens despesistas e inapropriadas? Não lhe ocorre pensar?
– Ó Sr. Prof. Dr.: como é possível V.Exª, com a educação e estatuto que tem, proferir essa afirmação, uma afirmação que nenhum membro da direita desdenharia, de que o Governo quer um verão e um outono de conflitos sociais…O Governo quer? Ó Sr. Prof. Louçã, com franqueza…
– Que em qualquer área em que exija mais despesa o Sr. sabe e todos sabemos que é do Ministro das Finanças a última palavra, mas essa do…
-Exigiu aos Sindicatos dos Professores/as que façam greve…esta eleva o Sr. Prof. Dr. a um cargo que eu acho que não ocupa, mas poderia vir a ocupar: o de oráculo mor do Reino, por destituição de outros…
O Sr. Prof. sabe que aquela tal exigência sua e dos seus, dos Mários Nogueiras e do PCP e todos os que durante quase cinco anos, durante o governo da PAF, estiveram quedos e mudos, tudo aceitaram e nada fizeram, custa 600 milhões?
Claro que sabe e aquilo que eu acho, Sr. Prof. Dr., é que o Sr. Prof. Dr. em Ciências Económicas, em nome não sei de que propósito, esquece e abjura tudo aquilo que sobejamente sabe e quer que o Governo pague os tais 600 milhões, os tais que antes nunca exigiu e faça explodir o défice!
Mas o Sr. Prof. defende mais défice das contas públicas? Se defende diga-o sem sofismas e, mais, diga também aonde vai buscar o dinheiro. A mais impostos? Já sei: aos os ricos! É o que sempre dizem…Mas, desculpe Sr. Prof. Dr., o Senhor é Mestre, é Doutorado e é Catedrático em Ciências Económicas e sabe como as coisas funcionam, ainda para mais num país dependente como o nosso. Olhe que eu tenho na minha mesinha de cabeceira aquele livro que escreveu juntamente com a Mariana Mortágua, a “DIVIDADURA”, e apetece-me perguntar-lhe: revê-se no que escreveu?
Mas eu percebo, já tenho idade para isso, como funcionam estas coisas da política e por isso sempre me recusei a nela entrar. Coisa minha, claro!E sabe porquê? Porque, inevitavelmente, perdemos sempre liberdade e lucidez, contradizendo mesmo os nossos mais básicos princípios, e somos quase que intuídos a deles prescindir em nome de uma estratégia…Não será o seu caso?
Porque repare, para finalizar: o Sr. Prof. acusa este Governo, um Governo que ajudou a formar, de estar a “recusar” o apoio das Esquerdas para a aprovação do Orçamento e, consequentemente, de se “entregar” `Direita!
Acho que fui suficiente claro e não preciso de lhe dizer que isso tem um nome: chantagem!
Será que V. Exª, Sr. Prof. Dr., já se esqueceu daquele célebre dia 23 de Março de 2011? É que nesse preciso dia o Sr. Prof. Dr. mais outros que também disso não se deveriam orgulhar, escancararam as portas à Direita mais reaccionária e sádica que Portugal já teve.
Quer voltar ao mesmo, ou será que acha este Governo mesmo irresponsável? Certamente que terá lá um cargo nas Finanças à sua disposição! Mas não quer, pois não?!!!
Pois é…Mas eu continuo a preferir um Governo PS a uma nova PAF! O Sr. Prof. Dr. não?