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sábado, 16 de junho de 2018

Donald Trump e o IV Reich

Novo artigo em Aventar


por João Mendes

Fotografia: John Moore/Getty Images@Vox

O mundo dito democrático, e os americanos em particular, estão a condescender em demasia com o governo fascista liderado por Donald Trump. Paralelamente, a nova extrema-direita ocidental, camuflada sob vestes liberais e conservadoras, começa a sair do armário, a ganhar terreno no Velho Continente e a mobilizar-se pela segregação, aproveitando o advento do trumpismo para revelar a sua verdadeira face, racista, xenófoba, persecutória e apologista da violência. Não é preciso ir muito longe para ver isso, bastando para tal passar em algumas colunas de opinião de "jornais" como o Observador ou o Correio da Manhã, ou em blogues bem conhecidos, onde felizmente ainda escrevem autores sérios, como o Blasfémias ou o Insurgente. 

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Aqueles gajos do Macinhatense que não pensem que me enganam

por CGP


Falemos então de futebol. E falar de futebol é, inevitavelmente, falar do Associação Atlética Macinhatense. Enquanto projectos como o Macinhatense existirem, nada mudará no futebol português. Em primeiro lugar dizem que são são uma Associação Atlética, mas não têm atletismo. Uma vergonha. Depois, apesar de dizerem representar Macinhata do Vouga, têm dois jogadores de Macieira de Cambra e três de Pessegueira do Vouga. Dizem que são um clube de futebol, mas eu não vejo em lado nenhum a sua política de transferências nem a táctica para as transições defensivas defesa-ataque. O que é que têm a esconder? Dizem ser amadores, mas eu estou em condições de assegurar que o presidente recebeu 50 euros e duas sandes de presunto da Câmara Municipal. E mais, e mais: asseguraram-me que um dos jogadores é primo de um antigo treinador adjunto que chegou a jogar nas camadas jovens do Benfica quando aquele corrupto lá estava. É com este tipo de mentiras que esperam mudar o futebol português?
Está-se mesmo a ver qual é a ideia deles. Como qualquer clube de futebol são apenas mais um dispositivo de assalto à Liga dos Campeões. Eles dizem que gostam é de futebol e umas tainadas, mas na verdade têm é os olhos postos nas comissões milionárias das transferências de jogadores e nos direitos das transmissões televisivas. Enfim, não passam de mais uns corruptos benfiquistas. Bandidos! Ladrões! Eu bem sei que há dirigentes do Benfica acusados de crimes graves, que o presidente do Sporting é maluco e que há corrupção generalizada no futebol português ao mais alto nível, mas não há nada mais prioritário nesta altura do que desmascarar os gajos do Macinhatense. Eles pensam que me enganam, mas não. Os bandidos.

Das causas dos fogos

Ladrões de Bicicletas


Das causas dos fogos

Posted: 15 Jun 2018 06:00 AM PDT

Persiste na opinião pública a noção de que a generalidade dos incêndios tem origem criminosa, sendo este contudo «um mito profusamente difundido pela comunicação social» e que contribui para uma «desresponsabilização da sociedade» (como assinalou em momento oportuno o relatório da Comissão Técnica Independente que analisou os fogos de junho de 2017). Aliás, uma recente reportagem sobre o incêndio do Pinhal de Leiria empenhou-se em potenciar esta ideia, explorando de forma fantasiosa (como demonstraria um exercício de desconstrução dessa tese) o achismo de que a maioria dos incêndios resulta de «fogo posto».
Deve sublinhar-se, desde logo, que a investigação das causas dos incêndios tem melhorado de modo muito significativo nos últimos anos. De facto, não só aumentou de forma exponencial a percentagem de ocorrências averiguadas no total de ocorrências registadas (de valores inferiores a 10%, até 2007, passa-se para níveis a rondar os 76%, no triénio 2013/15), como o peso percentual de incêndios averiguados e com causa apurada denota um incremento semelhante (se até 2007 apenas era identificada a causa de 3% dos incêndios ocorridos, em 2013/15 esse valor ascende a quase metade do total de ocorrências registadas).

Assim, de acordo com os dados do ICNF para os anos entre 2001 e 2015 - e considerando apenas o universo de incêndios com causa apurada (excluindo portanto as ocorrências não averiguadas e as ocorrências com causa indeterminada) - constata-se que as queimadas (45%) e queimas de lixo (1%) constituem no seu conjunto a principal causa dos incêndios (explicando 46% das ocorrências com causa apurada), situando-se os casos de «incendiarismo» (nas situações de imputabilidade) em apenas 30% do total de ocorrências. Globalmente, estas duas causas explicam 75% do total de incêndios com causa apurada, registados nos últimos quinze anos.

Por último, e mesmo admitindo que a melhoria da capacidade técnica e científica de investigação dos incêndios possa interferir na quantificação das diferentes causas, não deixa de ser interessante constatar a estabilidade, em termos relativos, da preponderância que estes dois fatores (queimadas e «fogo posto») assumem ao longo do período considerado. Ou seja, sim é verdade que a maior parte das ignições têm origem humana. Contudo, uma coisa é reconhecer que se trata, fundamentalmente, de negligência e irresponsabilidade e outra, bem diferente, é apontar o dedo ao «fogo posto» (esvaindo-se assim a converseta de senso comum em torno da «mão criminosa» que supostamente está por detrás dos incêndios).

Sob a condição humana

por estatuadesal

(Miguel Sousa Tavares, in Expresso, 16/06/2018)

mst

Miguel Sousa Tavares

(Caro MST. Este texto, presume-se, foi escrito com raiva, a raiva que qualquer alma bem formada sente perante a resposta que a Europa, mormente a Itália, está a dar ao problema dos emigrantes e refugiados. E, quando a razão se combina com a emoção na dose certa, as palavras podem ganhar a acutilância de pequenos punhais. E aqui assim sucedeu. Que não te doa a pena porque ainda há muita gente viva que te lê, e que mais viva ainda fica quando assim esceves.

Comentário da Estátua, 16/06/2018


Matteo Salvini, novo vice-primeiro-ministro e ministro do Interior de Itália, fascista, xenófobo, líder da Liga Norte, que em tempos defendeu a separação do norte italiano rico do sul subsidio-dependente e que agora recolheu abundantes votos no sul, prometeu e cumpriu: fechou os portos de Itália ao “Aquarius”, o navio de uma ONG transportando a bordo 629 refugiados africanos recolhidos à beira do naufrágio no Mediterrâneo. Malta acompanhou a Itália na mesma decisão e, sem condições de sobrevivência a bordo do “Aquarius”, os 629 emigrantes — homens, mulheres e crianças, seres humanos, com nomes, vidas, projectos, tal qual como nós — só não foram abandonados à morte no mar porque Espanha e o novo primeiro-ministro, Pedro Sánchez, chamaram a si o resgate do que resta de dignidade europeia. O seu homólogo italiano, Giuseppe Conte, um fantoche nas mãos de Salvini, lavou as suas mãos do assunto e olhou para o lado, como se não avistasse o mar do Palácio do Quirinale. E, todavia, Conte é professor de Direito, herdeiro longínquo do mais extraordinário império que a Humanidade já conheceu, pois que fundado pela espada, como todos os impérios, estabeleceu-se pela superioridade e justiça da sua lei, sob cuja alçada os povos conquistados preferiam viver. Tudo isso acabou no dia em que o Governo de Itália, em perfeita consciência do alcance do seu gesto, decidiu abandonar em alto-mar 629 almas à sua sorte, coisa só antes vista por parte de piratas ou de animais disfarçados de homens. Ninguém pode contestar que a Itália, juntamente com a Grécia, tem suportado quase sozinha o esforço de acolher a vaga de refugidos africanos que atravessam o Mediterrâneo em direcção às suas costas, apenas porque ficam mais perto. E tem-no feito perante o alheamento dos seus parceiros europeus, que, com excepção da Alemanha, por estrita vontade pessoal de Angela Merkel, preferem fazer de conta que, estando longe, o problema não lhes diz respeito. Não impede que na passada segunda-feira, a Itália, a Europa e a Humanidade dita civilizada tenham ultrapassado uma fronteira sem retorno: perante um SOS lançado por 629 seres humanos à deriva no mar, responderam-lhes que não queriam saber do assunto.

Mas não ficaram sós, os italianos. Em seu apoio e aplauso vieram as sombras negras que pairam sobre a Europa nos dias que correm. Os polacos, esse país tantas vezes invadido, pelo Ocidente e pelo Leste, pelo Norte e pelo Sul, e por todos odiado, mas protegido pelos franceses — talvez porque Napoleão se tenha apaixonado por uma rapariga polaca encontrada na estrada a caminho de Moscovo ou porque Frederic Chopin, a única grandiosa contribuição da Polónia para a história da Humanidade, esteja intimamente ligado a França. E a Eslováquia e a República Checa, herdeiras do Império Austro-Húngaro e tal como a Polónia, das primeiras vítimas de Hitler e de Estaline, mas a quem a longa privação da liberdade não ensinou nada de definitivo. Ou a minúscula Eslovénia, com dois milhões de habitantes, um crescimento de 5% ao ano e apenas 200 emigrantes recenseados, que acaba de eleger um governo com um programa anti-emigrantes. Ou o bávaro Horst Seehofer, da CSU, os aliados da CDU de Merkel, que contestam a sua política de acolhimento de emigrantes, agora praticamente extinta, e o jovem chanceler austríaco, Sebastian Kurtz, o outro berço do nazismo, e, tal como Salvini, grande admirador de Donald Trump, xenófobo, racista e nacionalista de extrema-direita. Ou essa besta do húngaro Viktor Orbán, um fascista sem disfarce, representando a primeira nação a revoltar-se contra a ocupação soviética em 56, e que agora construiu um novo muro de Berlim contra os emigrantes e instituiu sem disfarce uma ditadura contra tudo o que reza a carta dos direitos europeus. Todos eles representam países-membros da UE, todos eles, não apenas se recusam a adoptar qualquer política solidária em matéria de absorção de emigrantes vindos de África, como ainda irão, na cimeira europeia de 28 e 29 deste mês, impor à UE a sua visão da Fortaleza Europa. Mas se a Europa se fundou justamente na ideia da dignidade da pessoa humana, o que resta da Europa quando os povos europeus escolhem livremente líderes para quem essa dignidade não significa nada?

Olhem para a célebre fotografia da Cimeira do G7 em Charlevoix, no Canadá. É daquelas fotografias que ficarão para a História. Um contra todos. Um, Donald Trump, que nem sequer se digna levantar-se para enfrentar os outros seis, que estão de pé, à roda da mesa, tentando em vão demovê-lo de partir para uma guerra comercial contra dois terços da população mundial. Trump nem se levanta, nem responde, nem contesta, nem sequer os olha. Parece um menino mimado, a fazer uma birra. Um menino mal-educado, que chegou tarde ao encontro e partiu antes de todos, despedindo-se à francesa e insultando o seu anfitrião depois de partir e mais uma vez rasgando o mísero acordo, só de palavras, que havia assinado. Acham que ele se preocupou? Não, com aquela fotografia ganhou a reeleição e nem vai precisar da ajuda dos russos nem da batota da Cambridge Analytica para ser reeleito. O comum dos americanos gosta daquela pose — “America first”. O comum dos americanos não vê além do próprio umbigo, são medíocres, ignorantes e arrogantes, como o seu Presidente. E o comum dos americanos é a maioria. Antes, Obama ganhou porque o seu adversário, McCain, não era suficientemente mau, antes pelo contrário, para atrair o comum dos americanos. Pela democracia se destrói a democracia: Trump é a demonstração perfeita. Mas também o ‘Brexit’, Kurtz, Orbán, Salvini e tutti quanti.

Ao contrário do que sucedeu no Canadá, não sei por que razão a maior parte dos analistas não anteviu que o encontro Trump-Kim Jung-un ia ser um sucesso. Dois iguais reconhecem-se quando se encontram e têm tudo para se entenderem por instinto, tal como Trump previra. Encontraram-se dois aldrabões de feira, dois despenteados mentais, dois tresloucados nucleares ao estilo “Dr. Strangelove” do Kubrick, dois vaidosos compulsivos que primeiro satisfizeram os respectivos egos a ameaçar o mundo com uma destruição apocalíptica e depois se rebolaram de puro prazer autocontemplando-se perante 2000 jornalistas como os anjos milagreiros que tinham salvo a Humanidade da guerra que eles próprios iam lançar. No seu íntimo, já se imaginam em Estocolmo, a receber a meias o Prémio Nobel da Paz — e não é sonho fora do alcance. Se tudo isto acabará, de facto, no desarmamento nuclear da Coreia do Norte ou com Kim a comer um McDonald’s na Casa Branca, ninguém sabe ao certo. Tudo é feito de aparências, de egoísmos, de muros, de fachadas, de fake news e tweets no lugar onde antes estava a informação, das redes sociais onde antes estavam os livros, dos aldrabões e demagogos onde antes estavam os líderes.

Talvez no fim reste apenas a música e a música será aquilo que nos permitirá não endoidecer, à medida que vemos tudo o resto perder o sentido. E esperaremos, quietos, indefesos, impotentes. Assistiremos ao triunfo dos porcos, à morte acelerada da natureza — até à morte da natureza humana. Talvez tenha sido disto que Anthony Bourdain quis fugir. Ou talvez já não haja fuga, apenas espera. Talvez, como escreveu Cesare Pavese, já estejamos mortos, mas não sabemos.


Miguel Sousa Tavares escreve de acordo com a antiga ortografia

sexta-feira, 15 de junho de 2018

Entre as brumas da memória


Ronaldo

Posted: 15 Jun 2018 01:22 PM PDT

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Futebol: Nação valente que somos

Posted: 15 Jun 2018 08:34 AM PDT

Até isto aguentamos.
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Dica (771)

Posted: 15 Jun 2018 06:47 AM PDT

Vague on Details, Trump Is Betting on ‘Special Bond’ With Kim to Deliver Deal (David E. Sanger)

«On paper, there is nothing President Trump extracted from North Korea’s leader, Kim Jong-un, in their summit meeting that Mr. Kim’s father and grandfather had not already given to past American presidents.

In fact, he got less, at least for now. But as Mr. Trump made clear in a lengthy but vaguely worded reconstruction of their five hours of talks, none of that really matters to him.»

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O eixo da ignorância

Posted: 15 Jun 2018 02:54 AM PDT

«Os líderes europeus não conseguem resolver os problemas com os refugiados. Agora há um eixo voluntarista de nações que quer banir os imigrantes e que nos devia envergonhar a todos.

Angela Merkel tem a autoridade posta em causa: não só não consegue convencer o parceiro de coligação como está em risco de perder a confiança da população alemã, que se entrega cada vez mais aos interesses extremistas da AfD. Mas não é a única a sofrer dos males provocados pela crise de migrantes, que está desde 2014 a ajudar à fogueira populista que consome os ideais europeus.

Quando a discussão está neste ponto, não vale sequer a pena ser racional. Aliás, racionalidade é coisa que não existe neste debate: a crise humanitária é real e ninguém a questiona; a Europa tem a ganhar com a entrada de migrantes, especialmente em países como Portugal, que estão carentes de famílias jovens e que têm um historial de integração; o dinheiro que custam estes migrantes é absolutamente irrisório face ao manto protector da União Europeia ou mesmo ao orçamento de países como a Alemanha.

O número de migrantes a entrar na Europa com as crises mediterrânicas é tão irrelevante em termos populacionais que a questão se torna ridícula — se 500 milhões dos cidadãos mais prósperos do planeta não conseguem absorver dois milhões de refugiados, mal vai o mundo.

Ainda assim, a União está completamente dividida em dois campos: de um lado os que pregam a tolerância e a integração, onde quase só se inclui Angela Merkel; do outro estão os populistas do Sul que usam os migrantes para diabolizar o estrangeiro e que ficam bem acompanhados na xenofobia mal disfarçada dos riquíssimos parceiros a norte.

O verdadeiro problema não é que Merkel seja incapaz de defender as suas ideias dentro do próprio Governo. Ou que os italianos se disponham a levar uma bofetada de luva branca do Governo espanhol que está a prazo. O problema é a incapacidade da UE em decidir uma política coerente para todo o território, capaz de enterrar esta questão de uma vez por todas.

Sim, a França tem um problema sério de integração de imigrantes. Sim, o caso italiano foi extremamente mal gerido e ajudou à tomada de poder em Roma pelos populistas. Sim, a relação com a Turquia recuou dezenas de anos, em parte porque o problema dos refugiados ocorreu quando Erdogan quis avançar no processo ditatorial em Ancara. Mas isto é incompetência política, pouco tem que ver com a questão de fundo. A razão para não querer migrantes é epidérmica, daquelas que são motivadas apenas pelo medo face a quem desconhecemos. Vem do mesmo sítio que o racismo, a misoginia e o puro ódio. Vem do triunfo absoluto da ignorância.»

Diogo Queiroz de Andrade