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quarta-feira, 4 de julho de 2018

CIENTISTAS CONSEGUIRAM PÔR SISTEMA IMUNITÁRIO A DEVORAR TUMORES ONCOLÓGICOS

4 jul 2018 14:40

Nuno de Noronha

Atualidade

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Tratamentos que exploram as potencialidades do sistema imunitário para combater o cancro - a chamada imunoterapia - são uma aposta em expansão em todo o mundo. Agora, uma equipa de cientistas dos Estados Unidos desenvolveu uma forma de colocar o organismo a "comer" e a destruir as células cancerígenas. Saiba como.

Cientistas conseguiram pôr sistema imunitário a devorar tumores oncológicosMacrófagos a devorarem bactérias DR

O novo tratamento aumenta a capacidade de ação dos glóbulos brancos, os macrófagos, que o sistema imunitário utiliza para aniquilar invasores indesejados como vírus e bactérias.

Os primeiros testes em ratinhos mostraram que a terapia funciona em tumores agressivos de mama e pele, lê-se no estudo publicado na revista científica Nature Biomedical Engineering.

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Segundo a BBC, a equipe norte-americana responsável pelo estudo quer iniciar testes em humanos dentro de poucos anos. O facto deste novo mecanismo já possuir licença de utilização - dizem os investigadores -  pode acelerar o processo de aprovação para estudos de fase clínica, fase 2 e fase 3.

Macrófagos destruídores

Sabe-se que os macrófagos ajudam a aniquilar infeções bacterianas e virais porque podem reconhecer e atacar os "corpos invasores". São, porém, incapazes de combater o cancro, uma vez que os tumores crescem a partir de células do ser humano que têm mecanismos inteligentes para se esconderem dos ataques do sistema imunitário.

Agora, a equipa do médico Ashish Kulkarni, da Universidade de Massachusetts e da Faculdade de Medicina da Universidade de Harvard, conseguiu inibir uma proteína que impede os macrófagos de destruírem alguns tipos de tumores oncológicos.

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Ou seja, o mecanismo utilizado por Ashish Kulkarni impede as células cancerígenas de se esconderem dos macrófagos. Por outro lado, impede que o tumor anule a ação devoradora dos macrófagos.

Esta técnica desenvolvida por Harvard implica que os macrófagos depositem ainda uma droga nas células cancerígenas, destruindo-as. Em ratinhos, a terapia impediu que melanomas e cancro de mama crescessem e metastizassem.

"Percebemos que, se conseguirmos reeducar os macrófagos e inibir a proteína (...), poderíamos estimular o equilíbrio dos dois tipos de macrófagos [que temos], aumentando a sua proporção dentro do tumor e inibindo o crescimento do mesmo", esclarece o autor principal do estudo numa nota publicada no site da universidade.

A morte do SNS: como desmontar um mito

Durante meses ouviram-se, a partir de casos particulares e concretos, asserções de duvidosa qualidade técnica sobre cativações e como estas estavam a “matar” o Serviço Nacional de Saúde. Enfim. Um colapso eminente do sistema, exatamente o tipo de notícias em que alguns procuram rendimento sob a forma de votos, enquanto promovem objetivamente a venda de seguros privados de saúde.
No caso dos partidos mais à direita, compreende-se. Afinal, por eles o SNS devia ceder lugar à iniciativa privada, e isso dos cuidados de saúde de qualidade passar a depender do poder económico de cada um. À esquerda, esta propaganda objetiva em prol de interesses privados já é um nadinha contranatura.
O que verificamos, lá perdido na página 256 da Conta Geral do Estado para 2017 é que o Orçamento Consolidado do Programa da Saúde no ano de 2017 totalizou 10 334,2 milhões de euros, valor que compara com 9 788,4 milhões em 2016.
No indicador mais apto a demonstrar o que se está a gastar com o funcionamento do sistema (a despesa total consolidada) o valor é de 9.959 milhões em 2017. Vejamos como esse indicador evolui no passado recente, recorrendo sempre ao mesmo mapa da Conta geral do Estado:
Portanto, a despesa em Saúde aumentou. E aumentou umas centenas de milhões de euros nos últimos anos. Podemos sempre ambicionar melhor – devemos sempre ambicionar melhor – mas não vale dizer que estamos a matar o SNS quando não estamos.
Isso pode servir para o jogo partidário, mas interessa pouco ao País.
Mas e então, como estamos de prestação de serviços à população? Bom, a rede de cuidados primários cresceu, e nunca foi tão grande. Devemos ambicionar mais? Com certeza. Mas não quer dizer que não se tenha feito nada. Aliás, nunca tivemos tantas unidades de saúde de proximidade.
E médicos de família? Ainda há pessoas sem médico de família? Há, e são 711 mil. Então é isso, andamos a tirar o médico de família às pessoas? Não, em 2014 o número de pessoas sem médico de família era o dobro, 1 milhão e 478 mil. Cortámos o número para metade. Vamos na direção certa.
E consultas nos hospitais? Aumentaram. E cirurgias programadas? Aumentaram. O que diminuiu? Cirurgias contratadas no privado, urgências e internamentos de longa duração. E ainda bem.
Portanto, é um mar de rosas?
É claro que não.
Há investimentos adiados há anos que não podemos continuar a adiar.
A execução da despesa de investimento em 2017 foi vergonhosamente baixa e o Governo devia pensar no que anda a fazer.
O prazo médio de pagamento a fornecedores aumentou muito ligeiramente, o que nos deve deixar preocupados – e atentos - embora o prazo máximo tenha caído bastante.
E ainda há pessoas que esperam primeiras consultas, cujo desempenho foi inferior ao das consultas em geral, e isso é um aspecto que devemos melhorar.
Mas não vamos matar o SNS à força de falsos alertas de que estamos a matar o SNS. Pode ser?
Fonte: Aventar

O muro da hipocrisia


… O que é incompreensível é que a opinião pública europeia (e aqui as redes sociais reflectiram integralmente a comunicação social profissional) se multiplique em inúmeras declarações sobre o folhetim mexicano e faça um total silêncio sobre o muro pago pelo orçamento europeu e feito pela Turquia.

  1. Do drama à realidade

A notícia merece um diminuto espaço no Diário de Notícias de dia 2 de Julho e, curiosamente, tem como fonte a “Organização Internacional das Migrações” que até à recente eleição de Portugal para a sua direcção geral era relativamente pouco conhecida entre nós: duzentos e quatro emigrantes morreram afogados ao tentar atravessar o Mediterrâneo para a Europa só neste fim-de-semana.

São centenas que se juntam a muitos milhares que soçobraram nesta travessia nas últimas décadas, e que se juntam a um número não contabilizado mas que tudo indica que é superior dos que morrem na travessia do deserto, dos que são mortos em inúmeras fronteiras – como no enorme muro turco junto à fronteira com a Síria financiado pelo orçamento europeu – dos que são presos antes de atravessar ou mesmo dos que são remetidos à escravidão num negócio que se tornou cada vez mais importante em países como a Líbia.

Na verdade o drama não é novo nem se limita às fronteiras marítimas europeias. O fenómeno foi especialmente agudo na segunda guerra mundial e manifesta-se um pouco por todo o mundo, desde as costas da Austrália onde iranianos e outros refugiados são remetidos a campos de concentração em ilhas afastadas, às vagas de fugitivos do Sudeste asiático e aos que fogem sobretudo da América Central para os EUA através do México.

As guerras, por vezes catástrofes naturais, a ditadura e perseguição de opositores ou de etnias e religiões, a miséria e por vezes a simples vontade de ascender a um mundo melhor, levam as populações a fugir.

É claro também que muitas migrações se fazem de forma agressiva e com o espírito de ocupação, como também é verdade que outras se fazem por puro espírito de aventura e de descoberta de novos horizontes.

A realidade é normalmente feita de uma composição de vários destes elementos, não sendo aconselhável metê-los a todos no mesmo caldeirão.

Os portugueses têm sido particularmente activos no domínio migratório, e por motivações diversas, como têm também sido resultado de múltiplas migrações, desde as do tempo da “reconquista” e das cruzadas aos do Império, até mesmo aos da actualidade em que por razões diversas acolhemos significativas comunidades estrangeiras, por exemplo, de ucranianos ou de bengalis.

  1. Como olhar para o fenómeno?

Começando pelo fim, creio que seria dramático que ninguém quisesse imigrar para o nosso país, e o mesmo princípio de resto se aplica – com naturais diferenças – às deslocalizações internas, porque isso quereria dizer que a nossa realidade não despertaria nenhum interesse ao resto da humanidade.

Posto isto, é natural que tão pouco queiramos ser invadidos, ou que se possam vislumbrar limites à capacidade de integração. Sendo certo que estamos perante realidades propícias à cultura de psicoses colectivas, temos de ter em conta que não temos todos de ter a mesma atitude perante o fenómeno, em especial uma atitude dogmaticamente ditada por cartilhas de correcção social,

Para o entender, nem é necessário olharmos para o movimento “populista” que varre o Ocidente, basta vermos o que se diz a propósito de uma pretensa invasão da baixa lisboeta pelos turistas que teriam levado ao êxodo dos alfacinhas, que reflecte a mesma obsessão xenófoba que procura ver noutros as razões dos nossos problemas.

Citando de cor as estatísticas, Lisboa perdeu quase metade dos seus habitantes em menos de cinquenta anos, a partir de meados do século XX. Eu, com os meus 4 a 5 anos, no princípio da década de sessenta, acompanhava semanalmente a minha mãe a uns chás em que ela participava com umas senhoras mais idosas do que ela que viviam na Rua da Conceição. Era assim que eu ia regularmente à baixa lisboeta e ficava horrorizado com aqueles vetustos prédios, vários em ruínas, todos a precisar de remodelação urgente, aquelas lojas que pareciam doutro tempo e as gentes que eram quase todas idosas.

A velha Lisboa desertificou-se por razões que nada têm a ver com o turismo e bem pelo contrário foi o turismo que a fez rejuvenescer.

Posto isto, é claro que as coisas não são sempre iguais independentemente do ponto em que são vistas. Para quem quiser morar em Lisboa, mesmo se é verdade que a baixa da cidade se encontra renovada, é claro que agora se paga muito mais do que se pagava antes. Terminou o regime de condicionamento das rendas, feito pelo salazarismo mas continuado pela democracia, enquanto os poderes públicos não respondem ao incremento da procura com um urgente programa de construção de habitação.

Para a economia nacional, a chegada de imigrantes vindos de ambientes de grande pobreza e dispostos a trabalhar duramente por remunerações que são para nós miseráveis mas para ele muito superiores ao que conheciam, pode ser um grande estímulo, mas é evidente que para um trabalhador indiferenciado, isto se repercute numa ameaça clara aos seus rendimentos.

Quer portanto isto dizer que não é boa política ignorar as razões subjectivas ou objectivas que podem estar por trás da resistência à migração – seja por turistas seja por trabalhadores – e pior ainda é juntar a indiferença à arrogância das lições de moral de quem por uma razão ou outra não é afectado pelos fenómenos sobre os quais prega.

Acima de tudo, e para quem quer que tenha um mínimo de valores humanistas, é absolutamente intolerável que se ergam muros, se dispare, se deixe morrer quem foge da guerra da perseguição e da fome e é fundamental não deixar que este estado de coisas se torne na regra. Pior do que isso, é fazer de conta que o problema não é nosso mas é só dos outros, e é isto que me parece especialmente lamentável no que se passa entre nós.

  1. A projecção no outro

O actual Presidente norte-americano faz parte da mesma onda populista que é hoje claramente maioritária no Leste da EU; que fez o Brexit; que ganhou as eleições italianas e que pode fazer cair o governo alemão a qualquer momento.

Num estilo vernáculo típico do populismo, o presidente norte-americano tem-se esforçado por dar uma imagem de grande dureza em relação à migração, imagem que foi crucial para a sua vitória eleitoral.

Por essa razão, não só não se demarcou, mas chamou mesmo a si os louros de políticas como as da proibição genérica de vistos a naturais de países onde floresce o jihadismo (ou mesmo a quem passe por esses países) ou as da prisão automática de quem tenta passar ilegalmente a fronteira (e com a separação dos progenitores dos menores para estes não ficarem sob prisão) apesar de se tratar de iniciativas do poderoso departamento do interior e segurança que já existiam na administração anterior.

Na verdade, acabou por ter de recuar no seu apoio explícito a essa política, dando uma ordem executiva para acabar com essa separação das crianças dos seus pais pelo facto de mesmo a primeira-dama ter vindo a público condenar essa separação.

O mesmo acontece em relação ao muro com o México, que como qualquer pessoa minimamente informada sabe, existe há já muitos anos em grande parte da fronteira. Donald Trump, em vez de discretamente ter deixado que continuasse a sua construção, como fizeram os seus antecessores, resolveu reclamar a sua construção e pagamento pelos vizinhos mexicanos, e agora pelas autoridades federais supostamente equilibrando as contas com supostos lucros da política comercial proteccionista com o México.

Tudo isto é interessante, sobretudo do ponto de vista da comunicação política, agora o que é incompreensível é que a opinião pública europeia (e aqui as redes sociais reflectiram integralmente a comunicação social profissional) se multiplique em inúmeras declarações sobre o folhetim mexicano e faça um total silêncio sobre o muro pago pelo orçamento europeu e feito pela Turquia.

Enquanto no México há problemas graves mas não há um governo que bombardeie populações civis – incluindo com armas químicas – e os guardas fronteiriços americanos, por piores que sejam, têm instruções estritas de não disparar sobre civis desarmados, é isso o que se passa na Síria e na fronteira desse país com a Turquia.

Com a comédia mexicana, trata-se de utilizar os problemas dos outros para esconder os que se têm; trata-se de pura hipocrisia política; trata-se ainda de pensar que a retórica pode substituir a realidade ultrapassando os problemas, quando a primeira condição para que os problemas possam ser resolvidos é assumir que eles existem.

O resultado da ausência de estratégia política para os nossos vizinhos do Sul, da política de apaziguamento com ditadores sanguinários e com a teocracia iraniana que alimenta as várias guerras civis na região, traduz-se em refugiados que as nossas instituições europeias apenas procuram que se mantenham longe, atrás de muros, gaseados, baleados ou afogados, pouco interessa.

Não haverá solução duradoura para esta crise que salvaguarde os nossos valores humanistas sem fazer frente às limpezas étnicas, sociais ou religiosas e sem investir no desenvolvimento sustentável que mitigue os enormes desequilíbrios humanos que nos rodeiam e, sobretudo, sem acabar com a hipocrisia como guia de acção política.

É isto que temos de entender aqui e agora.

Aquelas coincidências do camandro

Novo artigo em Aventar


por j. manuel cordeiro

perto de 8000 milhões correspondem a operações ordenadas a partir do colapsado Banco Espírito Santo (BES), sendo que 98% dos fluxos de capital colocados em offshores em 2014 (o ano da derrocada do banco) ficaram omissos da base de dados.

As coincidências começam logo aqui. Havia um banco em vias de ser intervencionado e 98% das transferências do BES para offshores caíram no apagão. Sendo que 80% do apagão corresponde ao BES.

O “apagão” que se verificou no registo das transferências realizadas de 2011 a 2014 só ocorreu consecutivamente em três dos quatro anos nos ficheiros informáticos XML submetidos por dois bancos, o BES e o Montepio. O relatório de auditoria elaborado pela Inspecção-Geral de Finanças (IGF) – que atribui os erros a uma “combinação complexa de factores tecnológicos” e considerou “improvável” ter existido mão humana no processamento parcial dos dados – referiu que os problemas aconteceram em três anos apenas em duas entidades financeiras.

Eis a coincidência explicada. Uma "combinação complexa de factores tecnológicos". Com improvável intervenção de mão humana. Será, então, à mão divina a quem devemos apontar culpas? Na minha terra, o software ainda não nasce sozinho e há erros que vêm mesmo a calhar.

E o fisco, tão eficaz a lembrar-me que tenho uma factura para confirmar se o soro que comprei no supermercado tem receita médica ou não, deixa passar um buracão destes em três anos consecutivos?

Só tenho pena que estas coincidências tenham apenas incidência em possuidores de contas em offshores. Espero que o Bloco de Esquerda detecte esta desigualdade e que, prontamente, proponha uma lei para todos terem a sua conta fora de terra.

As citações são de uma notícia do Público.

Ladrões de Bicicletas


A «bolha do insucesso» de Nuno Crato (I)

Posted: 03 Jul 2018 06:30 PM PDT

Foram há dias divulgados os valores de retenção e desistência no ensino básico e secundário relativos a 2016/17. Os progressos registados, em todos os anos e ciclos de ensino, tornam hoje mais nítida a inversão da tendência de redução do insucesso escolar ocorrida durante o consulado de Nuno Crato. De facto, de taxas a rondar em 2001 os 18% (total), 13% (ensino básico) e 40% (secundário) passou-se, respetivamente, para valores na ordem dos 11%, 8% e 21% entre 2008 e 2011, voltando a retenção e desistência a subir nos anos seguintes (em particular no básico), já com Crato na 5 de outubro. Desde 2015, contudo, foi retomada a trajetória de diminuição do insucesso, atingindo-se em 2016/17 os valores mais baixos de retenção e desistência registados desde 2001 (8% no total, 6% no básico e 15% no secundário).

Torna-se portanto hoje mais difícil a José Manuel Fernandes alegar, de novo, que «Nuno Crato entregou» em 2015, ao atual Governo, «um sistema com menos retenções do que aquele que herdou em 2011» (como se nada se tivesse passado entre essas duas datas). E por isso também já não será necessário pedir à atual maioria que «não estrague», com um «ataque (...) suicida e criminoso», as políticas do Governo anterior. Pode ficar descansado, José Manuel. Como vê, a bolha de insucesso que a direita gerou já faz parte do passado.
É claro que nós sabemos de onde vem tanta (e tão indisfarçável) revolta: acabou-se com a «jóia da coroa» do Cratismo, os exames finais do 4º e 6º ano. Isto é, uma decisão que consagrou, entre outras, a rutura com uma conceção retrógrada de ensino e aprendizagem - como era a do anterior Governo - orientada para a memorização e para o empobrecimento curricular e que desvaloriza a prioridade à compreensão e a aquisição de competências. Dirão que é o regresso do «eduquês», do «facilitismo» e da «década perdida». Sim, da tal «década perdida» que conduziu aos muito bons resultados do PISA em 2015, obtidos por alunos que, manifestamente, não frequentaram a escola de Crato.

Urgente clarificação

Posted: 03 Jul 2018 06:52 AM PDT

Todos os temas são justos de ser debatidos.
Mas há uns mais importantes e mais urgentes do que outros. E nesses nem sempre a clivagem se faz entre a esquerda e a direita, mas colocando certa direita do lado de certa esquerda e certa esquerda do lado de certa direita, o que revela que essa clivagem passa por outras razões.
Refiro-me à discussão da sustentabilidade da dívida pública.
Por proposta do PCP, foi criado um grupo de trabalho no seio do Parlamento sobre a sustenbilidade da dívida pública e externa. Foram ouvidas diversas entidades e até era importante tentar realizar uma compilação de tudo o que foi dito. Mas para já, refira-se apenas duas audições realizadas no mesmo dia, a 26/6/2018.
Uma, com Manuela Ferreira Leite, militante do PSD, ex-secretária de Estado do Orçamento de Cavaco Silva, uma polémica ministra das Finanças de Durão Barroso (foi ela quem assinou o contratro com o Citigroup para a titularização das receitas fiscais e aceitou as acções do SL Benfica como garante da dívida do clube).
Outra, com Carlos Costa, que como se pode ver no CV oficial, esteve na base da desregulação do sector financeiro nos anos 80, foi coordenador económico do governo Cavaco Silva em Bruxelas quando Ferreira Leite era secretária de Estado, foi chefe de gabinete do comissário João de Deus Pinheiro, foi um polémico director-geral do BCP durante 4 anos, foi contratado por outros bancos, e finalmente nomeado governador do Banco de Portugal, onde teve um desempenho polémico.
Pois, estas duas pessoas que vêm do mesmo quadro partidário, têm - vá-se lá saber porquê – opiniões diferentes sobe o tema.
Ferreira Leite - subscritora do Manifesto dos 70 - afirma claramente que “não é possível pagar a dívida” pública. “Porque todos os cálculos se baseiam em taxas de juro, défices primários e taxas de crescimento que dificilmente se verificarão. Mas se tudo se mantiver, vamos precisar de 30 e tal anos. Não é projecto que se apresente a uma sociedade”. “Não é possivel estar assim nos próximos 30 anos”. “Apesar dos beneficios de haver uma situação orçamental mais equilibrada, não poderemos deixar de excluir que tem custos bastantes para a sociedade e para as pessoas”. É o caso da “degradação dos serviços públicos”, disse ela. “Como vamos resolver o assunto? Com o aumento de impostos? Isso é contrário ao crescimento. O crescimento é absolutamente essencial para a redução da dívida (...), mas é uma quadratura do circulo que não vejo, não sei como se resolve”.
Carlos Costa recusa-se a responder a essa pergunta directa dos deputados. Diz apenas que, em última instância, a disciplina orçamental "é essencial". À pergunta, como se paga com este Tratado Orçamental, responde: “Cumprir o Tratado é uma recomendação que reforça a credibilidade no mercado, mas não podemos pensar que os mercados não possam ter volatilidades superiores daquelas que resultam do cumprimento do Tratado”...

Disse Ferreira Leite: Para poder lidar com o problema, “faltam instrumentos, acho que faltam, como é óbvio” e essa responsabilidade é da União Europeia. "Se me perguntam sobre o tempo em que estava no Ministério das Finanças, havia já uma consciêcia muito forte e que era resultante da nossa entrada no euro”. Um dos seus efeitos “foi a redução drástica da taxas de juro” que “só poderia levar ao endividamento. Foi das empresas e das familias. Era a consequencia natural do embaratecimento do dinheiro. Teve efeitos nefastos porque não foi controlado. Nem houve alertas”. Nomeadamente do Banco de Portugal. “Havia solicitações das instituições financeiras para o crédito. Essa foi a causa.”
Carlos Costa lembra – naquele seu tom arredondado e pouco frontal - que fez umas intervenções... E quanto a responsabilidades, é tudo muito sem alternativas, como se tudo fosse assim, pronto. “Pensar que há uma alternativa aos mercados para o financiamento da dívida pública é pensar naquilo que não existe. E as instituições não se podem substituir aos mercados.”
“Quer queiramos quer não, os mercados estarão sempre presentes, de forma directa ou através de instituições internacionais ou europeias". Mas essas instituições só aceitarão "esse papel de avalista, de garante porque exigem programas de ajustamento e de redução do défice e de sustentabilidade da dívida. Vai haver programas no futuro – se houver um Fundo Monetário Europeu – tal como tivemos nos 3 anos em que estivemos submetidos. Não tenhamos dúvidas disso.”
“Era desejável que houvesse uma instituição que fizesse de avalista e não exigisse programas de ajustamento e de disciplina orçamental e da dívida? Bom, se era desejável, não sei se seria: porque seria alimentar um comportamento que mais tarde ou mais cedo se torna explosivo. Não é desejável. Alguém está disponível para fazer esse papel? Ninguém está".
"Há uma solução que é a emissão de dívida nacional, mas isso implica ter um nível superior de poupança que não existe”. E depois desencadear uma hiper-inflação. Mas os aforradores sentir-se-ão lesados e isso apenas “se faz uma vez”.
Portanto, tem de haver uma saída, diz ela. Mas não há saída, diz ele. Algo que já se antevia em 2014, com o  Governo Passos Coelho.
Estranhamente o posicionamento actual dos deputados do CDS e do PSD é - ainda - o mesmo do do governador do banco central e de Passos Coelho, embora agora clamam por menos austeridade...