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sábado, 7 de julho de 2018

Neymar: pequeno grande vilão?

CRÓNICA

Ruth ManusSeguir

7/7/2018, 10:21

Podemos culpar o Neymar pela queda do Brasil? Não exclusivamente. Mas é evidente que a falta de maturidade do menino-que-já não-é-mais-menino teve um preço alto para toda uma nação.

Quando li a biografia da cantora brasileira Elza Soares, que segue na ativa até hoje com 81 anos e foi casada com Garrincha, um dos maiores ídolos do futebol brasileiro, li uma coisa que nunca mais esqueci. O autor afirmava que a geração de Elza e Garrincha (que, se não tivesse morrido aos 50 anos, hoje teria seus 85) foi a última geração a fazer música e a jogar futebol por paixão. A partir daí, ambas as coisas viraram negócio, deixando de ser arte.

De fato, quando olhamos para essa Copa do Mundo, percebemos que há pouco (quase nenhum) espaço para improviso, instinto ou arte. Tudo é absolutamente profissional, direcionado e previamente estipulado. Também, pudera, tantos patrocinadores gigantescos, tantas câmeras precisas, tanto dinheiro envolvido. Ninguém está ali para qualquer tipo de brincadeira.

Os jogadores tornaram-se máquinas. Treinos quase militares, suplementos alimentares, disciplina rigorosa, comportamento inspecionado. Pensar na seleção brasileira de 94, em Romário e Bebeto, sua indisciplina e seus excessos, é algo quase surreal 14 anos depois. O futebol está ficando chato? Talvez. A qualidade é melhor, mas certamente é um esporte muito pouco humano.

A seleção brasileira cai perante a Bélgica de Lukaku e tantos outros homens imensos e decididos. De quem é a culpa? Gabriel Jesus e sua incapacidade de decidir? Tite e o tempo que levou para mudar o time? Fernandinho e sua falta de solidez? Casemiro e seus dois cartões amarelos? Ou Neymar, pura e simplesmente? Podemos culpar alguém?

Neymar, no meio de um Mundial sério e nada aberto a gracejos e fintas, parece não estar na mesma disputa que os demais. O “menino Ney” é sempre perdoado por sua suposta imaturidade, mesmo que já mais perto dos 30 do que dos 20 anos de idade. Neymar nunca passa despercebido, seja onde for. Causa incômodo, causa furor, causa discussões. Cai no chão, rola, chora, briga, provoca. Destoa de quase todo o resto dos jogadores de 2018.

Ninguém se ilude, pensando que Neymar é um resquício de futebol arte em vez de ser o auge do futebol business. Mas, inegavelmente, Neymar é mais humano e menos máquina do que a média dos grandes jogadores. Menos máquina do que Cristiano Ronaldo, Griezmann, Kane ou Toni Kroos. E é provável que seja exatamente por isso ele nunca vá ser o melhor do mundo.

A humanidade, que tem seu lado positivo por devolver ao futebol um pouco da vida que foi perdida em tempos de VAR, acabou custando muito caro ao Brasil. As quedas, encenações e exageros fizeram, por exemplo, com que Miguel Layún, ao pisar propositalmente no atacante, não fosse expulso do jogo. A fama de simulação instituída por Neymar espalhou-se por todo o time, a ponto do árbitro sérvio não marcar o pênalti claro em cima de Gabriel Jesus no segundo tempo do jogo contra a Bélgica, que poderia ter mantido o Brasil na Copa.

Podemos culpar o Neymar pela queda do Brasil? Não exclusivamente. Mas é evidente que a falta de maturidade do menino-que-já não-é-mais-menino teve um preço alto para toda uma nação      que precisava dessa alegria mais do que nunca. É craque? É. É humano? É. É inconsequente? É. E agora vamos de volta para casa. Temos um país para tentar reerguer.

Equipas de resgate na gruta na Tailândia fizeram mais de 100 furos na montanha

7/7/2018, 9:55

Continua a procura por uma forma exterior de salvar 12 rapazes e o seu treinador, presos numa gruta na Tailândia. Houve um resgate por mergulho previsto para sexta, mas foi adiado.

THAI NAVY SEAL HANDOUT/EPA

Autores
  • Agência Lusa
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Os socorristas que tentam o resgate das 12 crianças e do seu treinador presos numa gruta na Tailândia há duas semanas anunciaram ter feito mais de 100 furos na montanha em busca de alternativa a uma evacuação por mergulho. O resgate que chegou a estar previsto para sexta-feira foi adiado por “não ser oportuno”.

O governador da província tailadesa de Chiang Rai disse aos jornalistas que o adiamento se deve à falta de preparação dos rapazes neste momento. Narongsak Osottanakorn avisa, no entanto, que o tempo para retirar o grupo preso há quase duas semanas está a ficar “limitado”. A equipa está a tentar formas alternativas de fazer o resgate.

“Realizámos mais de 100 furos, mas ainda não localizámos a sua posição”, declarou o líder da equipa de crise, Narongsak Osottanakorn, que é igualmente governador da província Chiang Rai.

Entretanto, especialistas em deteção de ninhos de andorinhas estão a examinar a montanha no norte da Tailândia à procura de uma fissura por onde possam proceder ao resgate das crianças e do seu treinador.

“Resgatar as crianças é importante para as suas famílias, mas também para todo o país”, afirmou Maan, um dos voluntários desta equipa de especialistas, citado pela agência EFE.

A equipa que está a rastrear a montanha é composta por uma dezena de pessoas que chegou no princípio da semana para se voluntariar nas tarefas de resgate.

Estes voluntários são especialistas em pesquisa de ninhos de andorinha, estando habituados a escalar montanhas e a pesquisar nas suas fissuras. Estes ninhos são considerados uma iguaria culinária.

A morte de um mergulhador experimentado da marinha tailandesa, na sexta-feira, durante uma operação para entregar mantimentos ao grupo, veio pôr em causa a viabilidade de uma extração sem riscos do grupo que está há 14 dias bloqueado na gruta de Tham Luang.

Boa parte das crianças, com idades entre os 11 e os 16 anos, não sabe nadar e nenhum fez mergulho, o que complica as operações.

Até ao momento, um mergulhador experimentado demora 11 horas para fazer o trajeto, e voltar, até às crianças: seis horas para ir e cinco para voltar, graças à corrente.

O percurso estende-se por vários quilómetros, em canais acidentados, com passagens difíceis sob água.

Os rapazes, com idades entre 11 e 16 anos, e o seu treinador de 25 anos foram explorar a caverna depois de um jogo de futebol no dia 23 de junho.

As inundações resultantes das monções bloquearam-lhes a saída e impediram que as equipas de resgate os encontrassem durante nove dias, já que a única maneira de chegar até ao local onde se encontram é mergulhando através de túneis escuros e estreitos, cheios de água turva e correntes fortes.

As autoridades têm bombeado a água da caverna antes que as tempestades previstas para os próximos dias aumentem os níveis novamente.

Por que é que a vida política portuguesa está um pântano?

  por estatuadesal

(Pacheco Pereira, in Público, 07/07/2018)

JPP

Pacheco Pereira

No programa de debate que tenho com os meus companheiros na SIC, a Quadratura do Círculo, existe um problema que me leva a protestar (injustamente às vezes), e que se pode definir assim: está-se sempre a discutir as mesmas coisas. Exemplos: a saúde ou falta dela da “geringonça”, “não há dinheiro”, dívida e deficit, há ou não austeridade, etc.

Reconheço que não é por falta de outros temas ou de imaginação em trazer outros menos discutidos, mas sim pela necessidade de discutir os temas da actualidade semanal. Esta necessidade é muitas vezes perversa, porque nos faz depender da muito pobre agenda política ou mediática, embora a ordem correcta seja em primeiro lugar mediática e depois política, ou político-mediática, porque é um conjunto inseparável. Mas a verdade é que o problema está a montante da Quadratura, está na efectiva estagnação da vida política portuguesa, que se encontra num pântano, em que as águas não se mexem, e, quando se mexem, é por formas de vida pouco recomendáveis. É por isso que não saímos do sítio e estamos sempre a falar do mesmo.

A estagnação das águas do pântano vem da conjugação da nossa dívida, do nosso deficit, com os “constrangimentos” europeus, as “regras” europeias”, emanando das obrigações do Tratado Orçamental e das políticas da troika que estão bastante mais vivas do que se pensa. Perguntem a Centeno. O pântano é vigiado pelos seus cães de fila, de dentro e, particularmente, de fora. Esta fonte inquinada, que verdadeiramente nunca se discute a sério, espalha-se pelo PS, pelo BE e pelo PCP, os partidos da “geringonça”  que às claras ou incomodados, aceitam uma governação subordinada ao Tratado, e vai para o PSD e para o PS que igualmente aceitam, com mais gáudio, as mesmas “obrigações”.

Com um parlamento desprovido dos poderes essenciais do orçamento, de cima para baixo, para os partidos e para os eleitores emana uma podridão que infecta toda a vida democrática. No essencial torna-a menos democrática. O resultado é que toda a vida política se desenvolve ao lado e fora do centro dos problemas, na periferia do que é mais importante, adiando quaisquer medidas que nos permitissem, em Portugal e para os portugueses, ter uma política mais conforme com as nossas necessidades e com as nossas possibilidades. Assim, estamos condenados a décadas de estagnação, nem muito mal, nem muito bem, na cauda da Europa.

Para se perceber o marasmo em que estamos, basta ver como foram saudadas as intervenções, no recente congresso do PS, da sua “ala esquerda” sem uma palavra sobre os “constrangimentos” europeus. Nem os que as fizeram, nem os que as comentaram, notaram este simples facto: sem se falar das relações entre Portugal e a União Europeia, o discurso ainda que seja neste caso muito de esquerda, é de um impressionante vazio. O problema que vai mais longe do que considerar existir um tabu para se discutir a Europa, é o de se achar com toda a naturalidade, que a Europa se tornou numa coisa não nomeável, que não precisa de ser discutida no âmago da política portuguesa. Eu percebo que tal é a tradução no discurso político de uma impotência, da absoluta noção de que é uma matéria sobre a qual não temos qualquer poder, nem soberania, e por isso aceita-se como um hábito, um mau hábito. É a interiorização do protectorado, um certificado de castração. E isso é particularmente destrutivo em democracia.

PÚBLICO -

Foto

Pintura de Ivan Ivanovich Shishkin

O argumento mais importante da servidão é sempre a aceitação da força, daquilo que a direita chamava a “realidade” numa demonstração única de arrogância… filosófica. A variante para justificar ter as cabeças dentro do pântano, é da não existência de alternativas. O “não há nada a fazer” é uma espécie de bomba atómica do pensar e do fazer, destrói qualquer impulso para defrontar os problemas de atraso e desenvolvimento do país, que não seja o de obedecer ao que se nos impõe. Quando sequer se suscita esta questão, é ver de imediato uma argumentação de 8 e 80, frases ad terrorem, um efectivo bloqueio da discussão. É aquilo que podemos chamar o “argumento de Vichy”, os alemães ocupam a França, logo é patriótico aceitar essa ocupação porque não há volta a dar.

Infelizmente, vai haver, e não será muito longe no tempo, uma entrada abrupta destes temas, - “constrangimentos” europeus, dos mercados, das agências de rating, dívida e deficit, poderes transnacionais sem controlo democrático, - na discussão pública. Digo infelizmente, porque eles chegarão de repente e de forma dramática, resultado do mundo de tempestades que se estão a alinhar um pouco por todo o lado, entre a América de Trump e a Europa da “união” em decomposição (visto que com a Europa de Salvini e de Orban ele não tem problemas), na Europa entre a Alemanha, a França, a Hungria e a Itália, com o Brexit,  com as “fronteiras” com duas autocracias agressivas, a de Putin e a de Erdogan. A isso se acrescenta a actual política portuguesa, do PSD-CDS ao PS, que é inerentemente instável.

Portugal não conta para nenhuma destas tempestades, mas será atingido e duramente por elas. Então se verá como seria, pelo menos prudente, deslocar a discussão e a política para fora do pântano.

Quando li o título, até pensei que fosse sobre o financiamento partidário

Novo artigo em Aventar


por j. manuel cordeiro

PSD quer transparência sobre donativos

Afinal, é só chicana política quanto aos donativos para os incêndios do Verão passado. Não me interpretem mal, tenho o maior interesse em termos os autarcas a prestar contas, agora ainda mais, face ao regabofe que aí vem. Mas boa ideia, até para dar o exemplo, seria primeiro começarem pela própria casa, em vez de virem para a comunicação social fazerem o número.

Ao que o PÚBLICO apurou, a operação, que recebeu o nome de Tutti-Frutti, centra-se sobretudo num conjunto de suspeitos ligados ao PSD desde os tempos da JSD. Este grupo terá escolhido pessoas da sua confiança para integrarem as listas candidatas às eleições autárquicas de Outubro passado em vários municípios, tendo entrado em negociações com responsáveis do Partido Socialista sobre a composição dos órgãos municipais eleitos. E conseguiram que empresas suas ou as pessoas da sua confiança vendessem serviços a estas autarquias, através de avenças mas também por via da adjudicação de contratos públicos. [Público, 27/06/2018]

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O euro pode ser salvo?

  por estatuadesal

(Joseph E. Stiglitz, in Expresso, 07/07/2018)

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Se um país tem problemas, a culpa é dele; se muitos têm, a culpa é do sistema. É o caso do euro, concebido para falhar e cuja reforma está no impasse.


(Este é o debate que todos temem fazer sobre o futuro da Europa e do Euro. Ninguém se atreve a dizer, ao nível de pensadores económicos, que Stiglitz não tem razão. Contudo os políticos nada fazem. A Europa caminha para o abismo e todos assobiam para o ar. Uma cambada de eunucos. É triste ter de vir um americano vir dizer à Europa e aos europeus o que eles estão fartos de saber mas que teimam em ignorar. Somos uma espécie de doente em estado terminal que rejeita ouvir falar em remédios e se deixa morrer conformado.

Comentário da Estátua, 07/07/2018)


NOVA IORQUE — O euro poderá estar à beira de uma nova crise. A Itália, a terceira maior economia da zona euro, escolheu o que pode ser descrito como, na melhor das hipóteses, um Governo eurocético. Isto não deveria surpreender ninguém. A reação negativa da Itália é outro episódio previsível (e previsto) na longa saga de um acordo monetário deficientemente concebido, no qual a potência dominante, a Alemanha, entrava as reformas necessárias e insiste em políticas que agravam os problemas inerentes, usando uma retórica aparentemente destinada a excitar os ânimos.

A Itália tem tido um fraco desempenho desde o lançamento do euro. O seu PIB real (ajustado pela inflação) em 2016 foi idêntico ao que era em 2001. Mas a zona euro, na sua totalidade, também não tem tido um bom desempenho. Entre 2008 e 2016, o seu PIB real aumentou apenas 3% no total. Em 2000, um ano depois da introdução do euro, a economia dos EUA era apenas 13% maior do que a zona euro; em 2016 já era 26% maior. Depois de um crescimento real de cerca de 2,4% em 2017 — insuficiente para reverter os danos de uma década de mal-estar — a economia da zona euro está novamente a vacilar.

Se um país tem problemas, a culpa é do país; se muitos países têm problemas, a culpa é do sistema. E tal como explico no meu livro “O Euro: Como uma moeda comum ameaça o futuro da Europa” (“The Euro: How a Common Currency Threatens the Future of Europe”), o euro era um sistema quase concebido para falhar. Retirou aos governos os seus principais mecanismos de ajustamento (as taxas de juro e de câmbio); e, em vez de criar novas instituições que ajudassem os países a ultrapassar as várias situações em que hoje se encontram, impôs novas restrições — frequentemente baseadas em teorias económicas e políticas desacreditadas — sobre os défices, a dívida, e mesmo sobre políticas estruturais.

Supunha-se que o euro traria uma prosperidade partilhada, que melhoraria a solidariedade e promoveria o objetivo da integração europeia. Com efeito, fez exatamente o contrário ao retardar o crescimento e semear a discórdia.

O problema não está na falta de ideias para avançar. O Presidente francês, Emmanuel Macron, em dois discursos, na Sorbonne no passado mês de setembro, e quando recebeu o Prémio Carlos Magno para a Unidade Europeia em maio, defendeu uma visão clara para o futuro da Europa. Mas a chanceler alemã, Angela Merkel, acabou por lançar um balde de água fria sobre as propostas de Macron, sugerindo, por exemplo, quantias risivelmente reduzidas para investimento em áreas que dele necessitam urgentemente.

No meu livro, realcei a necessidade urgente de um modelo europeu de garantia de depósitos, para evitar as corridas contra os sistemas bancários dos países mais fracos. A Alemanha parece reconhecer a importância de uma união bancária para o funcionamento da moeda única, mas, tal com Santo Agostinho, a sua resposta tem sido “Senhor, dai-me a pureza, mas não agora”. A união bancária é aparentemente uma reforma a realizar algures no futuro, independentemente dos problemas que ocorram no presente.

O problema central de uma zona monetária reside na correção dos desajustamentos de taxas de câmbio, como o que afeta hoje a Itália. A resposta da Alemanha consiste em colocar o fardo sobre os países mais fracos, que já sofrem com o elevado desemprego e as baixas taxas de crescimento. Sabemos onde é que isto vai levar: mais dor, mais sofrimento, mais desemprego, e um crescimento ainda mais lento. Mesmo que o crescimento acabe por recuperar, o PIB nunca chegará ao nível que poderia atingir se tivesse sido prosseguida uma estratégia mais sensata. A alternativa consiste em transferir uma maior parte do fardo do ajustamento para os países mais fortes, e em programas de investimento governamental que apoiem salários mais elevados e uma procura mais dinâmica.

Já assistimos muitas vezes ao primeiro e segundo atos desta peça. É eleito um novo governo, que promete um melhor desempenho nas negociações com os alemães, para acabar com a austeridade e conceber um programa de reformas estruturais mais razoável. Mesmo se os alemães fizerem alguma concessão, não será suficiente para alterar a orientação da economia. Por isso, o sentimento antialemão aumenta, e qualquer governo que sugira as reformas necessárias, independentemente de ser de centro-esquerda ou de centro-direita, é expulso do poder. Os partidos antissistema ganham terreno. E surge o impasse.

Por toda a zona euro, os líderes políticos estão a entrar num estado de paralisia: os cidadãos querem permanecer na União Europeia (UE), mas também querem o fim da austeridade e o retorno da prosperidade. Dizem-lhes que não podem ter as duas coisas. Sempre na esperança de uma mudança de opinião no norte da Europa, os governos em apuros mantêm a sua rota, e o sofrimento dos seus povos aumenta.

O Governo do primeiro-ministro português, António Costa, liderado pelos socialistas, é a exceção a este padrão. Costa conseguiu conduzir o seu país de volta ao crescimento (2,7% em 2017) e alcançar um elevado grau de popularidade (44% dos portugueses consideraram em abril de 2018 que o desempenho do Governo estava acima das expectativas).

A Itália poderá vir a ser outra exceção — embora de um modo muito diferente. Aí, o sentimento antieuro está presente tanto à esquerda como à direita. Com o seu partido de extrema-direita, a Liga, agora no poder, Matteo Salvini, líder do partido e político experiente, poderá levar a cabo os tipos de ameaças que neófitos de outras paragens recearam implementar. A Itália é suficientemente grande, e com suficientes economistas bons e criativos, para conseguir um afastamento de facto — implementando efetivamente uma moeda dual flexível que ajudasse a restaurar a prosperidade. Isto violaria as regras do euro, mas o fardo de um afastamento de jure, com todas as suas consequências, seria transferido para Bruxelas e Frankfurt, e a Itália contaria com a paralisia da UE para evitar a rutura final. Independentemente do resultado, a zona euro ficaria desfeita.

Não precisaríamos de chegar a esse ponto. A Alemanha e outros países da Europa do norte podem salvar o euro, se demonstrarem mais humanidade e mais flexibilidade. Mas tendo assistido tantas vezes aos primeiros atos desta peça, não conto com eles para uma mudança de enredo.


Prémio Nobel da Economia, professor universitário na Universidade de Columbia. © Project Syndicate 1995–2018