Translate

domingo, 21 de junho de 2020

Não podem estar bons da cabeça

Posted: 20 Jun 2020 03:31 AM PDT

«Esta semana, o assunto natural seria o Orçamento do Estado. Porém, do Palácio de Belém veio outro magno assunto: Lisboa vai ser palco de sete jogos de futebol. As imagens que de lá nos chegaram esclareceram o mistério do paradeiro do ministro da Educação.

Por toda a Europa, gizam-se planos e estratégias para a retoma das aulas. Em muitos países, as aulas já funcionam. Encontraram-se várias soluções. Nuns países, são ao ar livre; noutros, são em dias alternados; há ainda os que recorreram às universidades e estádios de futebol. No caso de França, as aulas funcionarão em pleno já a partir de segunda-feira. Uma preocupação constante é, obviamente, a de recuperar os alunos que ficaram para trás. Como escreve Susana Peralta no “Público”, em Inglaterra haverá programas de recuperação no verão e já se anunciou um plano de contratação de explicadores para os alunos mais atrasados. Na Bélgica, as aulas recomeçaram para os que em fevereiro mostravam ter mais dificuldades.

E em Portugal?! Nada. Na semana passada, o Conselho de Ministros aprovou um Programa de Estabilização Económica e Social (PEES) sem uma linha sobre retorno às aulas. Aprovou-se um Orçamento sem uma linha dedicada ao reforço de recursos humanos nas escolas, que facilitassem a transição e ajudassem estudantes que precisem. O diretor de turma da minha filha nem sabe se, em setembro, as aulas serão presenciais ou não. Como diz Susana Peralta, o ministro da Educação finge que nada disto é com ele. O que já é do domínio do ministro é dar uma prenda aos profissionais de saúde portugueses. E que prenda!: garantir que a Final Eight da principal competição de futebol da UEFA se realiza em Lisboa. Vemos na fotografia que ilustra o artigo como Tiago Brandão Rodrigues estava empenhado nesta magnífica oferenda. É como se, em vez de um ministro da Educação, tivéssemos um organizador de eventos, provavelmente na dependência orgânica da Secretaria de Estado do Turismo (porque organizar o evento da abertura das escolas parece que não).

A hipótese de não haver ninguém a trabalhar no Ministério da Educação ganhou consistência quando a minha mulher me disse que as escolas estavam a pedir aos alunos que devolvessem os manuais escolares. Vamos lá ver. Este ano as aulas só funcionaram no 1º período e numa parte do segundo e há dezenas de milhares de alunos sem apoio dos professores. É capaz de ser um pouco óbvio que os alunos vão precisar dos manuais durante as férias. Pelo menos os que quiserem estudar. Mesmo que não estudem, no próximo ano letivo, os professores terão de cobrir parte da matéria que ficou por dar este ano. Portanto, pensei que as escolas estivessem simplesmente a aplicar os procedimentos dos anos anteriores, sem terem sequer refletido no assunto. Não liguei muito e disse à minha mulher que ficasse tranquila, que era engano e que a nossa filha não devolveria manuais nenhuns.

Mas não ficou tranquila. Teimosa, insistiu que havia um despacho exigindo a devolução dos livros. E mandou-mo. Não é que há mesmo um despacho?! Foi assinado a 9 de junho, pela secretária de Estado da Educação, Susana de Fátima Carvalho Amador, publicado a 16 de junho, e diz que os manuais têm de ser devolvidos até 14 de julho.

Não se trata de esquecimento. Num ano no qual a escola não funcionou durante mais de um período e em que dezenas de milhares de alunos perderam o contacto com os professores, há mesmo alguém na equipa do ministro da Educação que considera que os alunos têm as matérias consolidadas e não precisam mais dos manuais escolares. Imagino que, no próximo ano letivo, quando os professores quiserem ensinar a matéria que ficou para trás, os alunos deverão procurá-la na internet. Se calhar é por isso que os 400 milhões previstos no PEES para a Educação estão destinados à Escola Digital.

Lamento, mas a incompetência não explica tudo. Simplesmente, naquele ministério, não podem estar bons da cabeça.»

Luís Aguiar-Conraria

sábado, 20 de junho de 2020

O martelo de Thor

por estatuadesal

(José Pacheco Pereira, in Público, 20/06/2020)

Pacheco Pereira

Eu gosto muito do meu país, mas não tenho muitas ilusões sobre ele. É um país atrasado, pouco desenvolvido, sem massa crítica, pouco culto, sem grande qualificação da mão-de-obra, muito dependente de vagas de superficialidade, onde a maioria das pessoas trabalha duramente para não receber sequer o mínimo vital, sem vida cívica autónoma do Estado, com uma economia débil, desindustrializado, com uma agricultura desigual, pouco cosmopolita, com muitos aproveitadores e alguns bandidos, mas aí como os outros.

É um país que cada vez menos tem autonomia política, dependente da transferência dos centros de decisão para Bruxelas. Aquilo em que somos melhores não coloca o pão no prato ao fim do dia, como agora se diz. Temos uma língua e uma literatura de valor universal, a melhor obra dos portugueses, mas ninguém come literatura. E temos uma democracia que é um valor que só quem sabe o que é ditadura percebe qual é. É mau? Não é mau, há muito pior, mas é sofrível, e sofrível não permite andar por aí a bater em pandeiretas.

A pandemia de covid-19 funcionou como um martelo de Thor, mandou-nos uma pancada que ajudou a perceber melhor o que já cá estava antes. Anos de ostracismo dos velhos fez crescer lares por todo o lado, frágeis e sem defesas, em muitas zonas suburbanas, vive-se miseravelmente, trabalhadores estrangeiros como os nepaleses, africanos, ciganos, com formas diferentes de marginalidade e exclusão, vivem em guetos onde pouco mais do que a Igreja penetra, e a disciplina do confinamento foi facilmente substituída por actos como o daqueles imbecis que resolveram fazer uma festa em Lagos e infectar-se colectivamente.

Quando se vê a geografia dos últimos surtos na região de Lisboa, percebe-se esse mapa social.

O problema é que, mesmo quando podíamos pensar em aproveitar esta oportunidade para consertar ou melhorar alguma coisa do que está estragado, mais uma vez a ajuda europeia é ao lado, mais preocupada em manter a procura de sectores económicos da Europa do Norte do que em corresponder às nossas necessidades.

Diz-se que o dinheiro tem como objectivo a “transição digital” e a “economia verde”. A “economia verde” percebe-se, mas servirá apenas uma pequena parte das nossas actividades produtivas. A “transição digital”, para além de um slogan da moda, estou para saber o que é, e o que sei, principalmente na educação, deixa-me de pé atrás. Se se trata de transformar as nossas mercearias em mini-mini-Amazons, muito bem, como é muito bem que tudo o que possa ser tratado digitalmente na nossa pequena economia faça essa transição. Temos aí muito que andar, mas os negócios onde há baixa qualificação da mão-de-obra e péssima gestão não vão mudar pela “transição digital”.

Muitos dos nossos problemas são de natureza social, dependem de reacções entre pessoas, grupos e da distribuição de poder e, contrariamente ao deslumbramento tecnológico que por aí anda, isso não muda no mundo digital. Pelo contrário, o mundo digital revela uma grande capacidade de reproduzir as exclusões e de as transportar “de fora” para “dentro”.

As minhas dúvidas no mundo da educação são de outra natureza, e aí são mais graves. A pandemia e as aulas à distância revelaram uma enorme percentagem de estudantes sem acesso à Internet, e sem acesso a computadores, e aí a “transição digital” é um enorme benefício. Mas se se começar a entender que a comunicação digital e o acesso digital se farão pela retirada do ensino da relação com um mundo em que somos analógicos, e pensamos de forma analógica, e os nossos sentidos são analógicos, então, com muitas luzinhas e animações e virtualidades, entramos numa nova forma de escolástica muito pobre. Escrevo isto porque é um processo já em curso, com “gerações mais educadas” bastante incultas e ignorantes.

Ninguém liga nenhuma ao facto de uma certa forma de ignorância agressiva estar a crescer, e a como isso se está a tornar um grave problema social, e político.

Numa sociedade como a portuguesa, será um retrocesso civilizacional e um risco para a democracia. A dificuldade de separar a verdade da mentira, o crescimento das teorias conspirativas, as ideias contra a ciência, tudo isto está a ganhar terreno. O populismo moderno dá-lhes uma expressão política eficaz.

O meu retrato de Portugal é pessimista? Já era assim antes e não está pior. Nunca me iludi por nenhuma das coisas que andaram a deslumbrar-nos nos últimos anos, start-ups, turismo, todas as coisas em que éramos os “melhores do mundo”. Qual a utilidade de o dizer nestes tempos? Talvez se façam duas ou três coisas em que não se possa voltar para trás: um robusto sistema universal e gratuito de saúde, acesso universal à Internet, comboios que sirvam Portugal, o fim do “Jamaica” com casas decentes, etc.. Vão querer fazer cinco mil coisas, mas, se fizerem cinco, já valeu a pena a martelada do Thor.

Vaidade e leviandade

por estatuadesal

(Miguel Sousa Tavares, in Expresso, 20/06/2020)

Miguel Sousa Tavares

Levo tantos anos a olhar para a política portuguesa quantos ela tem de existência democrática. E em todos estes anos vi, como em todas as outras áreas, políticos bons, maus ou péssimos, honestos e desonestos, verdadeiros servidores públicos ou servidores de si mesmos. Avaliando-os não apenas ou necessariamente pelas suas características pessoais mas também pelos resultados da sua acção, coloco à cabeça do ranking daqueles que em minha opinião foram os piores de sempre dois nomes: Aníbal Cavaco Silva e José Manuel Durão Barroso.

Ambos têm algumas coisas em comum, além de terem pertencido ao PSD e terem sido primeiros-ministros. O principal em comum foi o facto de se terem elevado, por um conjunto excepcional de circunstâncias, até onde os seus dotes jamais fariam prever, e de o terem feito tudo devendo à democracia e nada tendo contribuído para ela, antes pelo contrário. Mas uma coisa, em minha opinião, os distingue de forma clara: enquanto Cavaco Silva, embora nunca tendo sido propriamente alguém desinteressado da sua sorte, tinha, apesar disso, uma ideia, certa ou errada, de missão para o país, Durão Barroso passou sempre os seus interesses próprios à frente de tudo o resto. Como exuberantemente se provou quando a meio do mandato como primeiro-ministro e após uma derrota nas europeias, tendo acabado de prometer solenemente aos portugueses que entendera a mensagem, não hesitou em abandonar o barco mal lhe caiu do céu o convite para presidir à Comissão Europeia — o que até o primeiro-ministro de um país tão irrelevante como o Luxemburgo, convidado antes dele, tinha recusado, exactamente porque entendeu que o seu dever era o de cumprir o mandato que lhe haviam confiado os seus eleitores nacionais.

<span class="creditofoto">ILUSTRAÇÃO HUGO PINTO</span>ILUSTRAÇÃO HUGO PINTO

A propósito da célebre Cimeira das Lajes, que deu luz verde à segunda guerra do Iraque, e que deve ficar a constar dos anais como um dos episódios mais vergonhosos da nossa diplomacia, veio agora Durão Barroso, ressalvando que “não gosta de julgamentos retroactivos”, reconhecer que se fosse hoje, com o que se sabe, “provavelmente, teria feito diferente”. Mente: o que se sabe hoje já se sabia na altura. Ou, pelo menos, o que Durão Barroso garantiu na altura que sabia — que tinha visto com os seus olhos as “provas” da existência de armas de destruição maciça no Iraque — era mentira. Não havia provas algumas, porque não havia armas. No Conselho de Segurança da ONU, o MNE francês, Dominique de Villepin, desfez na cara do secretário de Estado, Colin Powell, as supostas provas, em termos que se tornaram humilhantes para os americanos e evidentes para quem quer que não fosse idiota ou desonesto. E, no terreno, a Agência de Energia Atómica, por mais que procurasse, não encontrava quaisquer vestígios do tal armamento nuclear que Washington e Barroso garantiam existir. Foi então, exactamente porque se estava a tornar óbvio para todos que não tinha provas, que George W. Bush tomou a decisão de invadir. Ou, citando as inesquecíveis palavras do ex-director do Expresso, José António Saraiva, porque só invadindo é que se podia saber se havia ou não armas. Sem provas que não umas ridículas montagens fotográficas, com a oposição do Conselho de Segurança e da maioria dos seus aliados, restava a Bush o apoio dos Governos de Aznar e de Tony Blair. Mas chamá-los a Washington para decidir a guerra numa cimeira a três pareceria às divididas opiniões públicas de Espanha e Inglaterra um acto de vassalagem, e pior ainda se fosse em Espanha ou no Reino Unido. E foi então que Barroso cheirou a oportunidade e ofereceu o apoio de Portugal e a Base das Lajes, com a justificação simplista de que “não podíamos ficar neutros” quando o nosso “aliado” resolvia invadir um país só para satisfazer o desejo pavloviano de glória militar do seu Presidente. É claro que Bush teria invadido o Iraque com ou sem a Cimeira das Lajes, pois tinha isso decidido desde o primeiro dia em que tomou posse. Portugal é que não precisava de ficar ligado a esse triste episódio de uma mentira orquestrada que conduziu a uma guerra que custou directamente 100 mil mortos, fora os que resultaram e ainda resultam indirectamente do terrorismo do Daesh, nascido dessa invasão. Hoje, George W. Bush dedica-se à pintura no seu rancho do Texas, e Durão Barroso, além de trabalhar para o Goldman Sachs — os consultores que aconselharam os gregos a ocultarem dívida da UE, cuja implacável cobrança a UE, depois presidida por Durão Barroso, exigiria —, dedica-se também a conferências ou palestras onde deixa cair, em tom sábio e diletante, tiradas como as que acima citei. Não gosta de julgamentos retroactivos. Eu também não, mas não estamos a falar do século XVII nem do padre António Vieira. Estamos a falar de 100 mil mortos, há 17 anos. Em nome de uma mentira.

Suponho que para os playmakers do mundo esses mortos sejam uma abstracção. “Danos colaterais” que apenas se tornam um pouco mais visíveis quando vemos os corpos mutilados dos clientes do Bataclan parisiense mortos num atentado do Daesh. Mas aí Durão Barroso poderá justificar-se garantindo que perguntou várias vezes a Bush: “E o after?” Ele não terá respondido, porque não fazia ideia, mas tal não impediu o primeiro-ministro português de dividir o palco de guerra com ele, por um breve e intenso momento de vaidade planetária. Os mortos, se acontecessem, viriam depois, num after que já seria história acessória.

As Lajes, o silêncio sobre o massacre de Luanda, a diplomacia conivente com a Indonésia são três episódios da nossa política externa de que devemos ter sincera vergonha. E todos eles tiveram a assinatura de Durão Barroso

Hoje, somos muitos rápidos e muito voluntaristas a julgar os responsáveis de séculos passados ou a julgar estrangeiros, mas muito cerimoniosos com os nossos e actuais responsáveis. Desfilamos indignados com o assassínio do negro George Floyd, asfixiado às mãos de um polícia americano, que está preso, mas ninguém se manifesta contra o assassínio à pancada durante dois dias de um emigrante ucraniano às mãos de três agentes do SEF, os quais a juíza de instrução manteve em liberdade e cujos nomes nem sequer foram revelados. Estamos ansiosos para não ficar atrás de outros que derrubam estátuas de descobridores ou missionários que dizem que afinal não passavam de esclavagistas, mas assistimos tranquilamente às palestras de Durão Barroso, no seu papel de sábio da política internacional, sem lhe perguntar nada sobre o Iraque ou sobre o massacre de Luanda, quando os responsáveis da UNITA que lá estavam ao abrigo dos Acordos de Bicesse, negociados por Durão Barroso, foram chacinados e perseguidos sem aviso pelo Governo do MPLA, perante o silêncio absoluto do Governo português e do seu MNE (Durão Barroso), a quem cabia a responsabilidade moral da sua protecção, ou, ao menos, da denúncia do que se tinha passado. Ou sobre Timor, quando o mesmo Durão Barroso, como MNE, se encontrava, ano após ano na ONU, com o MNE indonésio, Ali Alatas, e gentilmente, com um ar de quem tinha despachado o frete constitucional, dizia infalivelmente: “Concordámos em continuar a discordar e em encontrarmo-nos outra vez para o ano.” Entretanto, Portugal perdia cada vez mais apoios internacionais para a questão, e os timorenses continuavam a ser ocupados e esmagados pelos indonésios. No espírito de Barroso, o assunto estava resolvido por si, de facto, e não havia nada a fazer, era um aborrecimento todos os anos ter de pedir um encontro com Alatas. Mas Guterres e Bill Clinton provaram depois que não era assim: era só uma questão de acreditar que na política externa também é possível bater-se por princípios. (Mas como a hipocrisia dos políticos pode ser infinita, anos depois e já independente graças a Guterres, quando Barroso era presidente da Comissão Europeia e Timor ansiava por dinheiros europeus, o Governo de Timor propôs e Barroso aceitou ser condecorado pelos serviços prestados à independência do país.)

As Lajes, o silêncio sobre o massacre de Luanda, a diplomacia conivente com a Indonésia são três episódios da nossa política externa de que devemos ter sincera vergonha. Todos eles tiveram a assinatura de Durão Barroso e de todos escapou incólume ou melhor ainda. A sua vida política merecia uma biografia à maneira anglo-saxónica, sem contemplações. E começando logo pelo seu passado maoista na Faculdade de Direito, descartado como um fait-divers, como um arroubo dos 20 anos — como se o fosse. Como se aos 20 anos o jovem Durão Barroso não tivesse idade para saber o que era o maoismo, para conhecer a extensão inominável dos seus crimes e não soubesse o que fazia ao andar, feito um iluminado histérico, a gritar vivas a Estaline e a Mao. Eu aos 20 anos já sabia muito bem distinguir a liberdade da ditadura, um assassino psicopata de um líder nacional. Não, não foi um erro de juventude, foi um pecado original. Que, não sendo explicável pela psiquiatria, como em muitos casos semelhantes, deve ser analisado à luz de um defeito de carácter. E, a essa luz, analisada toda uma carreira política verdadeiramente notável. Notável pelo que alcançou, pelo que exigiu de contorcionismo para lá chegar e lá se manter e pelo infinito vazio e inutilidade final que deixou sempre à sua passagem. Tanto poder para nada!

Miguel Sousa Tavares escreve de acordo com a antiga ortografia

Entre as brumas da memória

O mundo à janela (4)

Posted: 19 Jun 2020 01:06 PM PDT

Cusco, Peru, 2004.
.

Vhils – isto, sim, é uma bela homenagem

Posted: 19 Jun 2020 11:24 AM PDT

Vhils esculpe rostos dos heróis do combate à pandemia nas paredes do Hospital de São João.

«São cinco assistentes técnicos e operacionais, três enfermeiros e dois médicos. Sete mulheres e três homens. (…)

"Os rostos destas pessoas foram assim gravados na memória das paredes do hospital, de modo a sublinhar quer a sua importância individual quer a importância do Serviço Nacional de Saúde (SNS)", refere artista plástico Alexandre Farto, conhecido por Vhils, que não esteve presente na inauguração.»

.

Sondagens Aximage e Intercampus (Legislativas)

Posted: 19 Jun 2020 09:50 AM PDT

  • PS 40% ou 39,9%
  • PSD 25,8% ou 24,1%
  • Bloco 9,8% ou 8%
  • Chega 6,8% ou 5,3%
  • CDU 6,2% ou 4,9%
  • PAN 4,9% ou 4,3%
  • CDS 4,1% ou 1,2%
  • IL 1,9% ou 1,4%
  • Livre 0,8% ou 0,2%

(Fontes: Observador e Expresso)
.

Isto é tão bom!

Posted: 19 Jun 2020 06:15 AM PDT

.

A verdadeira Liga dos Campeões é a educação

Posted: 19 Jun 2020 03:20 AM PDT

«Muitas vozes se levantaram a denunciar o silêncio e inação do Ministério da Educação. Correndo o risco de esquecer algumas pessoas, Alexandre Homem Cristo, Carla Castro, Fernando Alexandre, João Miguel Tavares, Luís Aguiar-Conraria, Maria João Marques, todos escreveram, alguns repetidamente, sobre a forma como seis meses sem escola comprometem o futuro de uma geração. Hoje, junto-me ao coro de indignadas e indignados.

No site da UNESCO, há uma página dedicada aos encerramentos de escolas devidos à pandemia da covid-19. O mapa animado permite segui-los ao longo do tempo. No final de março, o mundo todo surge coberto por um manto roxo (escolas encerradas em todo o país), com muito poucas exceções cor-de-rosa (escolas encerradas em algumas regiões do país). Nessa altura, 91,3% das alunas e alunos do mundo estavam fora da escola. A partir de dia 10 de abril, começam a surgir manchas azuis, que é a cor dos países que reabriram escolas.

Na quarta-feira, sobravam 62,3% dos alunos afetados por encerramento de escolas. Uma parte substancial destes estão nos continentes sul-americano e africano, onde persiste um encerramento quase total das escolas. Em África, é uma catástrofe humanitária. Durante a epidemia do ébola, houve um aumento de abusos sexuais e gravidezes nas adolescentes. Esta semana houve um apelo de várias organizações, devido ao risco acrescido de mutilação genital por as meninas estarem fora da escola. Mas não é só em África que a escola é um instrumento de controlo social para situações de risco. Na semana passada, a Confederação Nacional de Ação Sobre o Trabalho Infantil anunciou um preocupante aumento nas denúncias de situações de crianças que estão a trabalhar, sobretudo na restauração. Também há um agravamento da violência doméstica, que vitimiza especialmente mulheres e crianças.

Ainda segundo o site da UNESCO, neste momento, na Europa, a norma é ter escolas a funcionar. Vários países já abriram todas as escolas: França, Suíça, Áustria, Croácia, Estónia, Suécia, Noruega. Todos os outros, à exceção de Portugal, Itália e Irlanda, estão abertos de forma “localizada”, que é como quem diz, com algumas partes do país fechadas e outras não. Fazemos, portanto, parte da minoria de três países com escolas encerradas.

Em todos estes países, foi necessária criatividade para reorganizar o ensino em face da pandemia. Algumas escolas estão abertas em dias alternados, horários parciais, com aulas ao ar livre. Na Bélgica, a opção no ensino secundário foi chamar às escolas apenas os alunos que em fevereiro estavam com maior dificuldade de progresso na aprendizagem. Houve quem mudasse de ideias. De novo na Bélgica, onde inicialmente apenas os alunos do sexto ano iam regressar às escolas por estarem em fim de ciclo, o governo acabou por voltar atrás e colocar todas as crianças do ensino básico na escola com horário normal e turmas completas. Macron, que tinha as escolas abertas a meio gás, anunciou esta semana que a partir de segunda-feira todos os alunos do primário e secundário vão estar na escola de forma obrigatória, com horário completo.

E no ano letivo que aí vem? Por enquanto, o que está anunciado é um programa de 400 milhões para equipamento digital. Mas caramba, se o ensino à distância funciona tão mal, será apenas por falta de equipamento? A equipa do economista Raj Chetty, da Universidade de Harvard, teve acesso a informação da plataforma de ensino de matemática à distância Zearn, que já era utilizada por muitas escolas antes do confinamento. O gráfico mostra o número de sessões completadas numa semana de confinamento, comparadas com o pré-confinamento, por código postal. Ou seja: 0% quer dizer que não mudou nada, -60% quer dizer que há uma quebra de 60% no progresso das crianças. Os resultados estão à vista: os códigos postais correspondentes a zonas mais ricas tiveram uma pequena quebra inicial, mas os jovens rapidamente se adaptaram à nova realidade e voltaram ao progresso pré-covid. Já nas áreas geográficas medianas ou pobres as quebras atingem 60%. Se isto se explicasse por falta de meios técnicos, seria demasiado fácil. O problema é que nas famílias com menos educação, empregos menos flexíveis e maiores angústias económicas ligadas à crise, as crianças estão sem ajuda frente ao ecrã.

Para colmatar o atraso das crianças desfavorecidas, são precisas horas de contacto presencial com docentes. É por isto que em Inglaterra o governo vai organizar programas de recuperação no verão e já anunciou um plano de contratação de tutores (se preferir, explicadores) para colocar nas escolas em setembro, ao serviço dos alunos que perderam o comboio da aprendizagem nestes meses de confinamento. Segundo a Direção-Geral de Estatísticas de Educação e Ciência, na publicação “Perfil do Docente” do ano letivo 2017/2018, os docentes com mais de 50 anos são 48% no terceiro ciclo, 52% no segundo, 38% no primeiro e 51% no pré-escolar. Em face do risco da covid-19 ligado à idade, por aqui é mesmo urgente reforçar recursos humanos, em vez de comprar Magalhães.

No meio disto tudo, onde está o ministro da Educação? Pode ser que tenha excelentes razões para não acompanhar os seus parceiro europeus na abertura das escolas. Mas então tem obrigação de as partilhar connosco. Pode ser que tenha informação sobre o sucesso do ensino à distância diferente da que tem sido anunciada, a última das quais pela própria Fenprof, que dizia que mais de metade dos professores não conseguia contactar com todos os seus alunos. Duvido. Uma das partes mais inaceitáveis do silêncio do ministro é a absoluta falta de estatísticas oficiais sobre o grau de cobertura do ensino à distância. Será mesmo que Tiago Brandão Rodrigues não quer saber? Ou será que os números que tem na secretária são tão maus como os da Fenprof e ele não quer que nós saibamos?

Afinal, não era preciso procurar muito para encontrar o ministro da Educação. Estava na quarta-feira em Belém regozijando-se com o país político em peso devido à escolha de Portugal para acolher meia dúzia de jogos de futebol. O espetáculo mediático, em direto do Palácio de Belém, foi confrangedor. Nada menos do que o Presidente da República, o primeiro-ministro, o presidente da Assembleia da República, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, o ministro da Economia, a ministra da Saúde e ainda o secretário de Estado da Juventude e do Desporto. Para além de Tiago Brandão Rodrigues, claro. Que ele sabe o que realmente importa para o futuro do país e não ia perder esta festarola. Senhor ministro: a verdadeira Liga dos Campeões é a educação. Já chega de fingir que não é consigo.»

Susana Peralta

TAP cercada, entre Neeleman, Rui Rio e o Norte (mais um especial Amália)

Curto

David Dinis

David Dinis

Director-adjunto

20 JUNHO 2020

Partilhar

Facebook
Twitter
Email
Facebook

Bom dia!
A pandemia meteu a TAP num problema bicudo, imagem de uma ilha rodeada de pressão por todos os lados. Parte 1: se na semana passada chegou o acordo com Bruxelas para uma injeção pública de 1,2 mil milhões, agora o Norte pôs essa transferência em xeque, com uma providência cautelar que suspende a decisão. Parte 2: Rui Rio defende que o Estado deve entrar já na gestão, ao contrário de António Costa e alinhado com o ministro Pedro Nuno Santos. Parte 3: David Neeleman não aceita as condições impostas pelo Governo para a injeção de capital. Não vai ser fácil sair disto.
Na pandemia, não está fácil o caso de Lisboa - mas o país vai deixar a "calamidade". A estratégia do Governo está aqui explicada. Mas merece dúvidas do Presidente, que na próxima semana avaliará tudo com os especialistas. No nosso trabalho de hoje, destaco-lhe ainda o problema dos jovens que desrespeitaram as regras, o do homem que foi despedido por ter covid-19 (e que já está em tribunal), mas também as dúvidas sobre uma segunda vaga e a pressão do comércio para aumentar as lotações.
Voltando à política, contamos-lhe uma primeira chamada de João Leão às esquerdas. E também a negociação entre Governo e PSD para desbloquear Centeno no Banco de Portugal.
Na sociedade, há uma boa notícia (pese embora tardia): finalmente avança o inquérito racial, que nos permitirá saber mais sobre o país que somos - e as desigualdades que temos. Mas também notícias sobre o caso Maddie, a condenação dos skinheads e novidades sobre o novo ano letivo - definitivamente, voltarão aulas presenciais (e talvez venham mais professores).
No internacional, o foco está na América, com Trump lançado para os grandes comícios e logo num local com histórico de racismo (o risco é palavra desconhecida para o Presidente). Mas também passamos por duas eleições em Espanha e pela grande interrogação que virou Schengen.