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sexta-feira, 26 de junho de 2020

Portugal não é Lisboa. O melhor é a paisagem

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Filipe Garcia

Filipe Garcia

26 JUNHO 2020

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O país continua em Alerta, Lisboa em Contingência, mas em 19 das suas freguesias o estado ainda é de Calamidade. Lá de fora, o coro de elogios tornou-se num nem sempre discreto sussurro, afinal o milagre português ainda está longe de poder ser celebrado. “O Covid não desapareceu. Não vai desaparecer enquanto não houver um remédio ou estarmos todos vacinados”, avisou o primeiro-ministro, também num tom bem diferente do usado em tempos de confinamento. Agora os elogios ao civismo dos portugueses ficaram para segundo plano, agora a mensagem a passar é outra – ou a original. A ordem volta a ser para “ficar em casa sempre que possível”, disse António Costa, negando no entanto que os dias sejam de arranque da temida segunda vaga. Mas as regras vão mesmo mudar.

Entre Lisboa, em particular nas 19 mais desafortunadas freguesias, o controlo será mais apertado a partir do dia 1 de julho. Justiça cósmica, depois de ter entrado em confinamento com números bem melhores que os registados a Norte? Sinal da baixa densidade populacional do país que vive distante das suas duas maiores cidades? Ou um bom indicador da falta de condições de habitação, transportes públicos e condições de trabalho em que vive grande parte da população de Lisboa?

Enquanto dirigentes políticos procuram acertar discurso e passo, tanto o político como o do desconfinamento, enquanto a ciência procura a cura, pelas ruas, empresas e pelos sofás transformados em gabinetes todos procuram novas formas de funcionar. Pequenos prazeres, escapes, que permitam controlar os estragos de uma pandemia cujo fim ainda ninguém arriscar prever. No Expresso, contamos-lhe tudo. Porque em Lisboa a situação é “manifestamente distinta” do resto do país. Só não se sabe porquê, assim como todas as diferentes regras que estarão em vigor no país. Também lhe contamos a dimensão de As mazelas da Covid - Há pessoas que mal conseguem falar, têm exaustão extrema, desequilíbrio e apenas recordações vagas do que aconteceu”. Descanse que logo lhe contaremos com que custos e como se ultrapassou a pandemia. Para já desfazemos o velho ditado alfacinha. Se alguém ainda duvidava, Portugal não é mesmo Lisboa e a verdade é que, como nunca, quanto mais rodeado pela paisagem melhor.

quinta-feira, 25 de junho de 2020

UE põe fim aos entraves à acessibilidade

De  Efi Koutsokosta  & Euronews  •  Últimas notícias: 24/06/2020 - 19:26

Em parceria comThe European Commission

UE põe fim aos entraves à acessibilidade

Direitos de autor euronews

Atualmente existem 120 milhões de europeus com algum tipo de deficiência, em parte devido ao aumento da percentagem de população idosa. Após dez anos de negociações, a União Europeia (UE) adotou o primeiro quadro jurídico para os requisitos comuns de acessibilidade, a chamada Lei de Acessibilidade da União Europeia. A diretiva comunitária terá de ser integrada na legislação nacional de todos os Estados-membros até 2022.

A acessibilidade é uma condição fundamental para beneficiar de direitos essenciais, como o acesso ao local de trabalho, à educação, a serviços públicos, à livre circulação, ou ao lazer.

Os Estados-membros da UE costumavam ter apenas as suas próprias leis e regras internas em matéria de acessibilidade e ainda hoje pessoas com deficiência continuam a enfrentar obstáculos no acesso a serviços fundamentais.

Com a nova diretiva comunitária, a União Europeia quer que os Estados-membros tornem os produtos e serviços mais acessíveis no mercado comum, eliminando ao mesmo tempo as dificuldades decorrentes da existência de diferentes regras nacionais.

Varsóvia, a cidade inclusiva

As organizações para os direitos das pessoas com deficiência descreveram a adoção da Lei de Acessibilidade da União Europeia como um passo histórico.

No entanto, foi um processo moroso e os portadores de deficiência alertam para um longo caminho que ainda há a percorrer para que haja igualdade de acesso e de oportunidades.

Varsóvia, a oitava maior cidade da Europa, foi reconstruída após a 2.ª Guerra Mundial sem pensar na acessibilidade para todos. Mas a realidade tem mudado nas últimas décadas, nesta cidade em rápido crescimento.

Konrad Rychlewski vive na capital polaca, é programador digital e deficiente visual. Apesar de algumas barreiras que ainda persistem, anda facilmente nos transportes públicos.

"Há o metro, o novo eléctrico, algumas paragens dos elétricos e de metro foram reformuladas. A segurança é o primeiro benefício. A expansão do número de semáforos com sinal auditivo, a possibilidade de circular de forma independente, equipara a minha qualidade de vida à qualidade de vida de um cidadão comum".

Konrad gostaria, contudo, que a cidade fosse pensada para todos os peões, com melhores pavimentos e menos carros. Mas com a ajuda de tecnologia, como os leitores de ecrã, Konrad pode trabalhar, fazer compras e gerir sozinho a própria vida financeira e administrativa.

Também Katarzyna Bierzanowska, intérprete por conta própria, defende que acessibilidade significa um estilo de vida integrado e ativo.

"Para mim é realmente mais fácil aceitar alguns trabalhos quando os eventos são mais acessíveis. Também posso ser mais participativa como ativista, formadora, ou simplesmente como pessoa, porque posso encontrar-me os meus amigos em ambientes diferentes", conta.

A acessibilidade é a área onde as despesas da cidade são mais elevadas, representando milhões de zlotys por ano em transportes públicos adaptados, um espaço público e espaços culturais sem barreiras e instalações especiais.

Este ano, Varsóvia ganhou o prémio "Access City Award", em reconhecimento aos esforços da cidade para se tornar mais inclusiva.

O vice-presidente da autarquia, Pawel Rabiej, afirma que "tudo isto é graças a três décadas de trabalho árduo". De acordo com o autarca, "tudo o que for construído de novo em Varsóvia tem de cumprir as normas de forma a já não apresentar obstáculos" aos cidadãos.

"Queremos que Varsóvia seja uma cidade para todos, E isso também se aplica às pessoas com deficiência. Queremos que elas possam tirar pleno partido do potencial que Varsóvia cria", defende.

Infraestruturas, obstáculos por vencer

Em Bruxelas, a capital da tomada de decisões da União Europeia, Nadia Hadad, é membro do Conselho Executivo do Fórum Europeu das Pessoas com Deficiência, uma organização que trabalha em prol dos direitos dos deficientes.

Engenheira de profissão, Nadia é triplégica e apesar de reconhecer os benefícios trazidos pela nova lei, aponta as fragilidades que ainda existem para a sua aplicação.

"A Lei de Acessibilidade da União Europeia, criada agora tem feito muito pelo mercado digital, pelos serviços digitais, mas, infelizmente, ainda falta cumprir requisitos em infraestruturas, nos transportes públicos, de espaços públicos, máquinas de multibanco. Não se sente muito progresso porque a infraestrutura ainda não é acessível, ainda não consigo apanhar o metro como quero. Em Bruxelas, preciso de duas pessoas para colocar uma rampa à minha frente para que tenha acesso ao metro; elas viajam comigo até à estação e depois, de novo, colocam a rampa para me deixarem sair".

Acesso ao mercado de trabalho

Katrin Langensiepen é a primeira e única mulher com algum tipo de deficiência visível a ser eleita para o Parlamento Europeu.

De acordo com a eurodeputada do grupo dos Verdes/Aliança Livre Europeia, "quase não existem oportunidades de emprego para as pessoas com deficiência, [sendo] frequente as empresas gostarem de pagar a taxa de indemnização, em vez de pagarem uma multa, em vez de formarem ou contratarem alguém com deficiência".

A legislação e as resoluções da União Europeia existem, mas as decisões acabam sempre por ser tomadas pelos governos nacionais.

Katrin Langensiepen acha "muito embaraçoso para um país industrializado e tão rico como a Alemanha", ter "falta de trabalhadores qualificados", sem pensar "como é a situação do mercado de trabalho para as pessoas com deficiência, especialmente quando se trata de mulheres".

Katarzyna, Konrad, Nadia e Katrin lutam por uma vida mais acessível, um caminho pela igualdade, onde - todos concordam - os preconceitos, a segregação e a falta de visibilidade constituem os principais obstáculos.

Covid-19: Reino Unido desconfina, Alemanha recua nas medidas

De  euronews  •  Últimas notícias: 24/06/2020 - 09:09

Covid-19: Reino Unido desconfina, Alemanha recua nas medidas

Direitos de autor Frank Augstein/Copyright 2020 The Associated Press. All rights reserved

Depois de três meses de pandemia, a Europa começa a desconfinar. No Reino Unido, os bares poderão abrir em breve. A partir de 4 de julho, o distancimento social obrigatório de dois metros passa para metade: Um metro entre cada pessoa.

O anúncio das novas medidas foi feito por Boris Johnson. O primeiro-ministro britânico admitiu um regresso à normalidade muito em breve depois de uma "longa hibernação".

"Hoje, podemos dizer que nossa longa hibernação nacional está começando a terminar e a vida está retornando às nossas ruas e às nossas lojas, a agitação está começando a voltar.", admitiu o primeiro-ministro.

Um regresso à vida normal que acontece também noutros países europeus, os quais, mantêm, mesmo assim, a regra dos dois metros de distância, ao contrário do Reino Unido.

Chris Whitty, da Direção-Geral da Saúde do Reino Unido, diz que independentemente das medidas, aprender a viver com o vírus é inevitável e seja quais forem as medidas a tomar, nenhuma estará livre de risco.

"Todos nós, em todos os países, estamos a aprender a encontrar um equilíbrio sustentável porque temos que conviver com este vírus no futuro próximo e encontrar um caminho. Nenhuma decisão será livre de riscos", disse o representante da Saúde.

Riscos de um relaxamento nas medidas que estão agora a ser comprovados em vários países.

Na Alemanha, nas últimas semanas foi registado um aumento de novos casos diários, o que obrigou o governo de Merkel a recuar nas medidas em duas regiões.

Um dos casos mais graves é o de uma fábrica de produção de frigoríficos perto de Dortmund, na região de Renânia do Norte-Vestfália , a mais populosa da Alemanha, onde 1500 trabalhadores testaram positivo para covid-19.

Donald Trump e as virtudes milagrosas do muro na fronteira com o México

De  Bruno Sousa  •  Últimas notícias: 24/06/2020 - 11:03

Trump inspeciona muro na fronteira com o México

Trump inspeciona muro na fronteira com o México   -   Direitos de autor Evan Vucci/Copyright 2020 The Associated Press. All rights reserved

A promessa de um muro na fronteira com o México foi uma das bandeiras na primeira campanha eleitoral de Donald Trump. Agora que se aproxima um novo escrutínio e as sondagens estão longe de ser famosas, o presidente dos Estados Unidos regressa à fórmula que já lhe valeu uma vitória.

Trump esteve no Arizona para descerrar uma placa que assinala as 200 milhas do muro, cerca de 320 quilómetros, e descobriu uma nova virtude para o que acredita ser a cura para tudo o que está mal no país.

De acordo com o líder norte-americano, além de acabar com o tráfico humano, o muro já construído permitiu evitar uma catástrofe com o coronavírus na fronteira a sul.

Ironicamente no Arizona, os números da covid-19 têm vindo a subir vertiginosamente nos últimos dias.

Trump promete a construção de mais setecentos quilómetros de muro até ao fim do ano para cumprir assim a promessa da primeira campanha eleitoral mas a fronteira com o México tem mais de três mil quilómetros. Do setor já construído, a esmagadora maioria não passou da renovação de um muro já existente.

Aventura na baía dos leitões

por estatuadesal

(Francisco Louçã, in Expresso Diário, 23/06/2020)

Um bando de mercenários foi preso há dois meses ao tentar desembarcar nas costas da Venezuela, a coisa parecia um arremedo da saga do coronel Alcazar do Tintin, uma simples graçola, quando um deles veio reclamar direitos legais com papel passado em notário. A curiosidade é mesmo o contrato que os mercenários traziam no bolso.


E agora um assunto completamente diferente: não é sobre a pandemia e os seus números sempre preocupantes, não são as mais cem mil pessoas desempregadas a somar à estatística, não é o fiasco anunciado da gloriosa marcha sobre Lisboa daquela “maioria silenciosa” que está no sótão desde o saudoso 28 de setembro de 1974, é sobre as desventuras de um bando de mercenários na Venezuela.

O detalhe do caso foi reportado, ao que sei, pelo "Washington Post" e, depois, replicado pela imprensa mundial, incluindo a portuguesa. E é curioso: um bando de mercenários foi preso há dois meses ao tentar desembarcar nas costas daquele país, a coisa parecia um arremedo da saga do coronel Alcazar do Tintin, uma simples graçola, quando um deles veio reclamar direitos legais com papel passado em notário. A curiosidade é mesmo o contrato que os mercenários traziam no bolso.

O grupo obedecia ao comando de um empresário norte-americano do ramo, Jordan Goudreau, que veio dar explicações. Segundo a sua versão, a sua empresa, a Silvercorp, foi abordada por representantes de Juan Guaidó, o proclamado presidente interino da Venezuela, reconhecido pela diplomacia dos Estados Unidos e pelos seus aliados, incluindo, com diversos graus de devoção, algumas chancelarias europeias.

Esses embaixadores pagaram-lhe para preparar uma operação militar: 800 soldados, sobretudo desertores do exército venezuelano e milícias de extrema-direita, deveriam ser treinados para uma invasão a curto prazo.

A empresa seria autorizada a usar sem riscos judiciais a força necessária, como o assassinato de dirigentes políticos e a morte dos militares oficialistas que resistissem, receberia um bom prémio de centenas de milhões de dólares e, depois, mais dezasseis milhões por cada mês no período de transição em que os seus serviços de segurança fossem reclamados pelos clientes. Tudo escrito em oito páginas de contrato e 41 de aditamentos, com as indicações detalhadas para a operação.

Goudreau, zangado porque os 800 voluntários não apareceram, ou os poucos que vieram se preocupavam mais com diversão avulsa do que com o garbo militar, escandalizado pelo naufrágio das lanchas dos comandos, que foram recebidos e dizimados pelo inimigo, em vez de serem festejados pela população, e, sobretudo, amofinado com a falta de pagamento, revelou o contrato e lavrou o seu protesto.

A assinatura era do braço direito de Guaidó, que viajou para os Estados Unidos para concretizar o compromisso, assinado em outubro do ano passado, e que não teve como desmentir o mercenário. É tudo verdade. É mesmo estimável que, em tempos tão turbulentos, de gigantescas conspirações e fake news, haja quem tenha o rigor processual de contratualizar por escrito os assassinatos, a invasão militar e o regime posterior, tudo para que as devidas autoridades comerciais possam aferir o cumprimento das cláusulas, a ser necessário. Só que falhou tudo, nem exército, nem dinheiro.

Trump, que, ao que revela Bolton no seu livro hoje publicado, acha que a Venezuela é parte dos EUA, veio no domingo mostrar algum arrependimento sobre a sua aposta em Guaidó. Não é para menos, o homem tem fracassado em todos os seus intentos de tomar o poder: parece que faltam as manifestações; quando tentou levantar os quartéis ficou sozinho a tirar selfies em frente ao portão; e o seu peso institucional depende mais do sequestro da direita histórica venezuelana do que de propostas realizáveis.

Não sei o que dirá o governo português, que procedeu com aquela matreirice de reconhecer Guaidó como presidente mas de manter o embaixador oficial e de, para todos os efeitos, tratar com Maduro de todos os assuntos de Estado. A Espanha já se pôs a milhas desse jogo. E a crise daquele país continua a agravar-se. Pobre Venezuela, tão destruída e tão cobiçada.