Translate

sábado, 27 de junho de 2020

A delação do Queiroz

Sábado, 27 de junho de 2020

No final do dia de ontem o repórter da CNN Brasil Daniel Adjunto relatou que Fabrício Queiroz está pensando em uma delação premiada. Queiroz, por tudo o que se viu depois de sua prisão, não era apenas operador de rachadinhas, mas o tesoureiro da família Bolsonaro. O dinheiro operado por Queiroz, como mostrou o MP do Rio, vinha de diversas fontes. O tesoureiro recebeu, por exemplo, R$ 400 mil de Adriano Magalhães da Nóbrega, o capitão Adriano, chefe da milícia Escritório do Crime, envolvido no assassinato de Marielle Franco. Adriano, que era um arquivo vivo, foi fuzilado por policiais.

Mas o que pode contar Fabrício Queiroz?

Engana-se quem pensa que a lama que escorre em Flavio Bolsonaro não tem nada a ver com o pai. Fabrício Queiroz depositou dinheiro na conta da primeira dama Michele Bolsonaro. É aqui que as histórias sem juntam.

Isso porque o dinheiro não era de Michele, mas do Jair, como o próprio presidente declarou. "Eu podia ter botado na minha conta. Foi para a conta da minha esposa, porque eu não tenho tempo de sair. Essa é a história, nada além disso."

Jair alegou um "empréstimo" que teria feito a Queiroz, sem mostrar provas disso (empréstimos precisam ser declarados no IR).

Em se confirmando que Queiroz era o operador de um esquema ilegal que faturou milhões de reais, teremos o presidente da República que afirma que recebeu dinheiro do operador desse esquema, sem comprovar, até agora, o motivo.

Os Bolsonaro defendem as milícias há muitos anos. Flavio queria até mesmo legalizá-las. Jair disse que eles faziam a "segurança das comunidades", em um tom que fazia parecer que criticar milicianos era injusto. 

Na fala pública acima, o presidente praticamente descreve a máfia italiana: um grupo armado que "organiza a segurança da vizinhança" em troca de dinheiro – me pague para que eu não faça mal a você. Extorsão pura, um dos mais antigos crimes das máfias mundiais.

Milícia não é segurança comunitária, milícia é crime.

Em uma decisão torta, o Tribunal de Justiça do Rio deu a Flávio o foro especial. A manobra tem tudo para ser derrubada. A quadrilha (de festa junina, bem entendido) ganhou tempo, mas as investigações estão muito avançadas para serem destruídas agora. A mulher de Queiroz segue foragida. O medo do tesoureiro é que ela seja presa. O jornal Valor Econômico apurou que um emissário de Márcia Oliveira de Aguiar, falando também em nome da filha dela com Queiroz, Nathália, foi enviado a dois escritórios de advocacia do Rio de Janeiro para sondar uma delação. E de quem Nathália foi funcionária fantasma? Do Jair.

Se puxar a pena, vem a galinha.

Há um país escondido

por estatuadesal

(Miguel Sousa Tavares, in Expresso, 27/06/2020)

Miguel Sousa Tavares

Viajo para Lisboa através do interior alentejano, evitando as auto-estradas e saboreando o prazer de conduzir numa velha mas restaurada estrada nacional, a melhor forma de apreciar a paisagem e perceber o que vai mudando ou não vai mudando por esse país adentro. Algures, numa vila ainda branca, paro numa tabacaria para comprar jornais, uma raridade nos tempos que correm: alguém que ainda vende jornais e alguém que ainda os quer comprar. A dona da tabacaria mete conversa comigo e, depois de me interrogar sobre o estado do país, informa-me sobre o estado do local: diz-me que ela não fechou um único dia, porque vive daquilo, mas ali, jura, ninguém quer fazer nada. Antes foi por causa do confinamento, agora é por causa do desconfinamento, porque as pessoas dizem que agora precisam de se descontrair e “gozar”. “Aqui na terra e ao redor só há três profissões: pensão de reforma, subsídio de desemprego e RSI.” Eis uma tirada — penso para comigo — que se alguém se atrevesse a dizer em voz alta seria crucificado. E, de facto, até ela diz-me aquilo quase em segredo, tão baixinho que mal consigo ouvi-la e só depois de se certificar que não há ouvidos à porta do estabelecimento.

<span class="creditofoto">ILUSTRAÇÃO HUGO PINTO</span>ILUSTRAÇÃO HUGO PINTO

Estamos a poucos quilómetros da barragem de Alqueva (“Construam-me, porra!”), que nos garantiam ir gerar milhares de postos de trabalho no Alentejo e onde há uns anos circulavam à boca cheia histórias de empreiteiros que andavam em vão, de café em café, pelas aldeias vizinhas, à procura de quem quisesse trabalhar nas obras, ouvindo invariavelmente a resposta de que ganhavam quase o mesmo no subsídio de desemprego sem ter de trabalhar. Hoje, independentemente do crime ambiental e agrícola ali em curso e de que já aqui me ocupei bastas vezes, Alqueva — esse grande “desígnio nacional” — está transformado num olival espanhol financiado por subsídios europeus e dinheiro de impostos portugueses e onde trabalha uma mão-de-obra que atravessou dois continentes para substituir os nossos “desempregados”: nepaleses, paquistaneses, indianos. E em condições laborais e sociais que, se não chegam para fazer derrubar estátuas de novos esclavagistas, deviam pelo menos fazer corar de vergonha as silenciosas centrais sindicais sempre tão pressurosas a defender os que têm emprego garantido para a vida e horários de 35 horas por semana. De nacional, pouco resta; de desígnio, resta o “porra!”.

Em Lisboa, num café de ocasião, a empregada ocupa-se comigo no passatempo favorito dos portugueses: dizer mal “deles”. “Eles”, claro, são os políticos — sejam eles quais forem, façam o que fizerem, hoje, ontem ou amanhã. “Esses, pelo menos”, informa-me ela, “estão sempre bem: quatro aninhos de trabalho e ganham direito a reforma para a vida toda!” Pela milionésima vez e com a mesma esperança das anteriores, dou-me ao trabalho cívico de a desmentir. “Como é que não é verdade? Eu li!”, insiste ela, quase ofendida. E leu onde? “No Facebook!”, esclareceu, altiva, como se falasse da Bíblia. Deixo o Facebook de lado (seriam revelações de mais para uma só conversa...) e, enquanto espero que o café esfrie um pouco, explico-lhe que houve, de facto, um tempo em que quem estivesse doze, e não quatro anos, na política ganhava direito a uma pensão vitalícia, mas que isso já havia acabado há muito e que, pelo contrário, quando foi da crise de 2008, os políticos viram os seus vencimentos cortados em 10% e nunca mais esse corte foi reposto, porque não há coragem para o fazer. Olhou para mim nada convencida e lá encontrou o argumento sem resposta: “Ah, mas alguns saem de lá de bolsos cheios, não é?” E sorriu-me, triunfante: “Hã? Hã?”

Estamos a acordar de uma doce ilusão, assente em duas apressadas verdades: o heróico comportamento cívico do povo português perante a pandemia e o exemplar desempenho do Serviço Nacional de Saúde, ultrapassando com brilho um teste de fogo extremo. É uma pena, mas ambas as supostas verdades são falsas. E, de novo, trata-se de uma coisa que nenhum politico, mesmo com corte de vencimento, se pode atrever a dizer em voz alta.

O heróico comportamento cívico do povo português assentou no medo, puro e simples. Foi o medo que nos trancou em casa, a alguns até com comportamentos que nada tiveram de heróico, antes pelo contrário. Se a nossa sempre afanosa busca por heróis — que nos leva a registar alguns milhares de comendadores da democracia e alguns milhares de medalhas de feitos militares em tempos de paz — precisa de heróis civis desta empreitada, sugiro os autênticos, os que não ficaram em casa: os agricultores, incluindo os imigrados, os pescadores, os camionistas que traziam os seus produtos para os supermercados e os trabalhadores destes que nos abasteciam, os que trabalharam nas farmácias, nas tabacarias que não fecharam ou no pequeno comércio de bairro, os trabalhadores dos transportes, os polícias, os voluntários que acorreram aos sem-abrigo, etc. E, quanto ao brilhante desempenho do SNS, ele explica-se por uma simples razão: porque nunca esteve sob verdadeira pressão. Trancados em casa, os portugueses garantiram que a parte do SNS dedicada em exclusivo à covid nunca ameaçasse ruptura. E, tirando os profissionais dedicados a isso, que cumpriram, de facto, o seu dever, tudo o resto no SNS fechou cautelarmente, mesmo antes de a epidemia nos ter atingido. Milhares de consultas, de exames, de cirurgias e tratamentos urgentes ficaram por fazer, muitos deles com desfechos fatais. Dificilmente se pode tomar isto como um caso de sucesso.

E se a resposta política, em minha opinião, esteve sempre adequada àquilo que se sabia e que ia sendo aconselhado por quem era suposto saber e do que podia ser feito em cada momento, nem sempre o aparelho do Estado respondeu da mesma maneira. E ninguém, como é fácil de observar, tem sido mais lento e parcimonioso a retomar a vida normal do que o aparelho do Estado. Foram os poucos professores chamados a dar bem poucas aulas presenciais aos 11º e 12º anos que largamente se declararam logo potenciais doentes de risco covid; é a retoma da generalidade das aulas presenciais marcada para 17 de Setembro — a data normal — como se nada tivesse acontecido e não houvesse meio ano a recuperar; foi a ministra da Justiça que ponderou, mas finalmente não se atreveu, a retirar meros 15 dias às sacrossantas longas férias judiciais dos magistrados, apesar de acrescentadas este ano de três meses à conta da covid; é a própria ministra da Administração sem pressa alguma de fazer regressar os funcionários públicos do teletrabalho, dizendo que este provou muito bem, embora quem espera e depende do mais banal acto administrativo continue a desesperar.

Cá fora, porém, começamos a assistir ao trágico cortejo, já visto em 2008, de restaurantes, lojas, empresas, que fecham, trabalhadores que ficam desempregados, que se preparam para perder a casa, para voltar a emigrar, enfim, para regressar ao que já tinham imaginado ter ficado para trás de vez. Mas, do lado de lá, do lado do Estado, não há pressa. “Sra. ministra, falta aqui um acrílico a separar-nos da zona das testemunhas, neste tribunal!”; “Sra. ministra, esta repartição não tem ar condicionado do último modelo!”; “Sr. ministro, esta sala de aulas não tem ventilação natural adequada!”. E os “mesmos de sempre”, como gosta de dizer a extrema-esquerda, ficam para trás. Só que os “mesmos de sempre” não são os mesmos de que fala essa esquerda. Coincidem, talvez, os alunos cujos pais não têm dinheiro para explicadores nem computadores e que nunca recuperarão este atraso, mas já não os professores que não se disponibilizam para o esforço exigível; talvez ainda os que não podem perder o emprego, infectados ou não, ou que não têm condições para viver decentemente, quanto mais para se isolarem se doentes; mas já não os que pagam fortunas para esperar justiça do Estado e agora viram todos os seus casos parados e nenhum esforço feito para recuperar os atrasos; ou os que pagam serviços que o Estado cobra caro e presta em exclusivo e a más horas e que não têm alternativa que não continuarem à espera até que o funcionário de quem dependem resolva desconfinar; ou o exército de trabalhadores a recibos verdes (alguns trabalhando para empresas públicas, como a RDP), sem direito a horários, férias, Segurança Social, protecção no desemprego, que nenhum sindicato ou comissão de trabalhadores se preocupa em defender antes dos “instalados”; e os milhares de jovens em princípio de vida, as vítimas principais do desemprego, da falta de habitação, da falta de perspectivas, a não ser um horizonte de dívida pública para depois pagarem a vida inteira e que os instalados reivindicam que se acrescente agora.

Há dois países aqui: um país ruidoso, que o Presidente da República apelida de heróico, que se manifesta nas ruas e que frequentemente adoece nos dias de trabalho, que tem porta-vozes sindicais todos os dias na imprensa, que o Governo escuta e teme, que os políticos tratam com paninhos quentes, que a lei, a Constituição e os mestres interpretadores dela protegem e a quem garantem melhores contratos de trabalho, melhores horários, mais férias, reformas mais cedo e mais bem pagas, e que, de um modo geral, abocanha a parte de leão da parte da riqueza do país que o Estado cativa todos os anos. E há um outro país, silencioso e submerso, que ninguém representa e ninguém escuta, que está demasiado ocupado em tentar sobreviver para andar nas ruas a manifestar-se ou nas redes sociais a ocupar o horário de trabalho no bota-abaixo de quem lhe paga a ociosidade e os privilégios de que goza ou no prazer solitário da calúnia e da ofensa anónima, que continua a trabalhar sem olhar ao horário, ao termómetro ou ao medo, que se levanta quando o atiram abaixo e lhe dizem (a ele, que não tem direitos alguns garantidos) que saia da sua “zona de conforto” e se dirija ao aeroporto e que, de tão resiliente, há quem chegue a pensar que é inexistente. Mas não é: esse Portugal silencioso e resistente é o único que, se não for sufocado, nos poderá resgatar.

Miguel Sousa Tavares escreve de acordo com a antiga ortografia

Passo atrás, multa à frente

Posted: 26 Jun 2020 03:21 AM PDT

«O pequeno passo atrás dado agora com o dever cívico de recolhimento domiciliário em 19 freguesias de Lisboa não é só fruto de descuido ou falta de civismo. É também resultado de contradições e dualidade de critérios políticos e sanitários.

Será que muscular as leis e as forças de segurança trava o ressurgimento de casos de covid, em Portugal ou em qualquer outro país? A ver vamos. Certo é o ruído político e a conflitualidade, também legislativa, que as medidas vão provocar.

As multas para travar os ajuntamentos de pessoas além do limite permitido atribuem, implicitamente, aos jovens a culpa pelos novos surtos. Apontar o dedo aos mais novos, fechar estabelecimentos comerciais mais cedo ou acabar com a venda de bebidas alcoólicas nas lojas de conveniência até pode refrear os profissionais dos comentários. Mas não resolve o problema. Este ainda persiste nos transportes públicos e nas habitações sobrelotadas e naqueles que nunca puderam, nem vão poder, ficar em teletrabalho.

O reforço de 90% nos autocarros da Grande Lisboa a partir de segunda-feira, anunciado ontem, foi tardio. Assim como o programa para melhorar as condições de sanidade dos bairros. Como é discutível que os bares sejam um problema e não uma solução e ainda estejam de portas fechadas, mesmo depois de terem apresentado ao Governo um guia de boas práticas.

E é ainda necessário que as mensagens cheguem aos destinatários. Que sejam claras, oportunas e coerentes. Se os mais velhos já tiveram momentos em que não percebiam exatamente o que lhes era transmitido (ora a máscara não é necessária, ora já é, ora até é imprescindível), os mais novos também ficaram confusos com as variáveis do desconfinamento. O esforço para entender como eles percebem e vivem o momento atual também não foi grande.

Aliás, o caricato post (para não o batizar de centralista ou dar-lhe outra classificação) da Direção-Geral da Saúde no Facebook com algumas recomendações para o São João, já depois da noite do santo popular ter acontecido, é revelador de uma comunicação nem sempre assertiva.»

Manuel Molinos

O verão do nosso (des)confinamento

Curto

Marco Grieco

Marco Grieco

Diretor de Arte

27 JUNHO 2020

Partilhar

Facebook
Twitter
Email
Facebook

Bom dia, caro leitor/utilizador/espetador/amigo.
Mais um sábado, mais um Expresso nas bancas. O primeiro já dentro do verão, a estação mais aguardada por todos nós, todos os anos.
Nesse 2020 tão “fora da caixa”, onde andamos tão dentro de casa, fique a saber tudo sobre as novas velhas medidas lançadas para tentar travar os números e ganhar essa já longa guerra contra o contágio.
E, se não puder – ou não quiser arriscar – ir gozar férias pelo mundo, vá para fora cá dentro. O Expresso ajuda-o nesta edição com o primeiro de cinco guias “Viver Portugal”, com o melhor dos nossos Alentejo e Algarve.
Nem tudo está perdido. Seguimos na luta.

sexta-feira, 26 de junho de 2020

“Estado da União”: Segunda vaga e presidência alemã da UE


De  Joao Duarte Ferreira  •  Últimas notícias: 26/06/2020 - 17:36

"Estado da União": Segunda vaga e presidência alemã da UE

Direitos de autor Emilio Morenatti/AP2020

Desde o início da crise do Covid-19 que persistem receios quanto a uma segunda vaga que poderá ocorrer no outono. A julgar pelos últimos desenvolvimentos, tudo indica que é o que está a acontecer agora na Europa.

O alívio das restrições, a reabertura das escolas e restaurantes e o início do verão criaram uma ideia de normalidade que pode ser traiçoeira.

Na Alemanha, as autoridades impuseram um novo recolhimento em algumas regiões, na sequência de um número elevado de infeções ocorridas numa fábrica de produtos de carne.

Na Bélgica, o primeiro-ministro alertou para o aumento dos casos, e em Portugal receia-se que na região de Lisboa e Vale do Tejo, a segunda vaga já chegou.

Segundo a OMS, a situação a nível mundial também é deprimente.

"Nas primeiras semanas deste surto, a OMS identificou 10 mil casos de Covid-19. Nos últimos meses foram identificados quase 4 milhões de casos. Prevemos alcançar 10 milhões na próxima semana", afirma Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS.

Entretanto, continuamos a ver os esforços no sentido de conciliar as diferenças sobre o muito antecipado Fundo Europeu de Recuperação.

O presidente francês deslocou-se a Haia nos Países Baixos, o país no centro das divergências quanto a este fundo.

O objetivo é encontrar um compromisso antes da próxima cimeira da UE depois da última videoconferência ter terminado sem uma decisão.

Tudo sugere que os encontros virtuais estão longe de produzir os resultados desejados.

Esta semana, UE levou a cabo a primeira tele-cimeira com a China desde o início da pandemia.

O encontro revelou muitas tensões e diferenças entre os dois blocos.

Quanto a Hong Kong e à ameaça colocada pela nova lei de segurança, os líderes europeus foram bastante críticos.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, deixou clara a posição europeia. "A lei de segurança nacional interfere com o princípio "um país, dois sistemas" e com o elevado grau de autonomia que Hong Kong goza neste momento. Também transmitimos que a China arrisca consequências muito negativas se avançar com a imposição esta lei", afirmou durante o encontro.

Todos estes problemas, da pandemia à recuperação económica, das relações com a China, ao Brexit e as mudanças climáticas, tudo isto irá em breve parar ao prato de Angela Merkel.

No dia 1 de julho, a Alemanha assume a presidência da UE e as expetativas são elevadas relativamente ao que Merkel possa fazer para resolver os problemas.

A euronews convidou Constanze Stelzenmüller, membro destacado do Instituto Brookings em Washington.

Stefan Grobe, euronews: Comecemos pelas expetativas elevadas da presidência alemã, qual será o maior desafio para Angela Merkel?

C. Stelzenmüller, Brookings: "O desafio mais imediato, convém não esquecer, é convencer os chamados países frugais que devem aceitar o seu plano e do presidente Macron para a recuperação europeia, o que inclui a emissão de obrigações europeias".

Stefan Grobe, euronews: Trata-se da segunda presidência do conselho para Angela Merkel depois de 2007, onde desempenhou um papel central nas negociações do Tratado de Lisboa. Será que pode voltar a ser, digamos, a salvadora da Europa ou um alvo fácil de abater dado que já anunciou o seu afastamento para o próximo ano?

C. Stelzenmüller, Brookings: "A questão de ser um alvo fácil foi afastada devido à gestão da pandemia onde, de notar, as taxas de aprovação subiram em flecha. Ela é a figura política mais popular na Alemanha. Será que vai salvar a Europa? Diria que a sua experiência, o seu conhecimento sobre os outros líderes europeus e penso que a empatia que sente relativamente aos países mais pequenos e da Europa de Leste é um pré-requisito importante para se alançar um consenso".

Stefan Grobe, euronews: Há quem diga que o seu maior feito é a aceitação por parte da Alemanha da emissão de dívida europeia comum, uma inversão histórica. Concorda?

C. Stelzenmüller, Brookings: "Sim, não se trata de um momento histórico como alguns lhe chamaram porque não se estão a dar poderes fiscais à União Europeia, a UE não vai poder emitir obrigações regulares no futuro. Mas para os conservadores alemães, liderados por Merkel, isto é um marco histórico e só por si, vale muito. Em particular, relativamente aos quatro países ditos frugais".

Stefan Grobe, euronews: Já mencionei a saída de cena de Merkel no próximo ano. Alguns observadores expressaram dúvidas. Quem será o próximo chanceler alemão no final do próximo ano?

C. Stelzenmüller, Brookings: "Só tenho uma certeza. Não vai ser Angela Merkel. Acho que ela precisa de um merecido descanso".

A Alemanha é conhecida por muitas coisas como por exemplo a longevidade dos chanceleres e a emoção que o festival da eurovisão desperta.

Trata-se de algo notável pois os artistas alemães costumam acabar nos últimos lugares.

Este ano a pandemia evitou mais um embaraço nacional pois o festival foi cancelado.

Mas o festival da Eurovisão é tão icónico que o gigante norte-americano do "streaming" acaba de lançar uma comédia dedicada a este evento.

Chama-se "A História dos Fire Saga" que representam a Islândia com o tema "Volcano Man". Definitivamente a não perder.