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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

A precariedade, ora nem mais, célulazinhas cinzentas, sempre atentas…

Posted: 30 Jan 2021 03:42 AM PST



 

«“No futuro, todo o trabalho será precário, até que ninguém do planeta saiba se de facto está ainda a trabalhar.”
Podia ter sido o Dilbert

Falar da precariedade na ciência, em particular, é sempre muito confuso. As subtilezas contratuais são muitas e as tipologias de vínculo muitas são. Tentando esclarecer um pouco o leitor leigo nesta precariedade, e não os investigadores que já a sabem toda, recorrerei a uma ilustração.

Imagine-se num supermercado com quatro caixas e, a bem da ilustração, imagine-o público. O caixa 1 é funcionário do quadro do supermercado, o caixa 2 é contratado a termo certo do supermercado, o caixa 3 é também contratado a termo certo, mas pela Fundação Supermercado, e o caixa 4 é bolseiro da Fundação de Apoio aos Supermercados. O caixa 1 ganha mais. O caixa 2 e o caixa 3 ganham o mesmo. O caixa 4 ganha menos e nem tem direito à segurança social dos outros. Ao final de uns anos, o caixa 1 talvez suba de escalão, o caixa 2 reza para ter contrato igual ao caixa 1, o caixa 3 vai embora porque a Fundação Supermercado diz não ter quadro de caixas, nem nada a ver com o supermercado, e o caixa 4 reza pela oportunidade de ter um contrato, pois a probabilidade de o conseguir é só de 8%.

De vez em quando, há concursos da Fundação de Apoio aos Supermercados onde se podem ir buscar bolsas de caixa, pela qual muitos rezam também. Todos os caixas têm de dizer no crachá que trabalham no supermercado, independentemente de quem os contratou. O caixa 4 tem ainda de agradecer no crachá à Fundação de Apoio aos Supermercados. O caixa 1 e o caixa 2 votam nas eleições do supermercado. O caixa 3 não pode votar. O caixa 4, só pode às vezes. O “ministro dos Supermercados” diz a toda a gente que o caixa 2 e o caixa 3 têm um contrato tão bom como o caixa 1, que não têm contratos precários coisa nenhuma, ganham menos porque têm tarefas muito diferentes, e que o caixa 4 não pode ter contrato porque está em formação. Todos os produtos têm código de barras e todas as caixas calculam o troco.

O “Conselho dos Administradores dos Supermercados Portugueses” concorda com tudo, desde que não tenha de pagar ou contratar para os quadros, e de preferência que não tenha de dar direito de voto a mais ninguém. O ministro finge acreditar que vão todos para o quadro. Finge também que não é ele quem tem de pagar. Certo dia, houve um programa de regularização extraordinário dos vínculos precários. Os caixas 2, 3 e 4 concorreram porque trabalhavam há anos no supermercado e não percebiam porque não estavam no quadro como o caixa 1. Foram todos recusados, ou porque o “Administrador do Supermercado” disse que não eram necessários ou porque, apesar do que dizia o crachá, nem sequer trabalhavam para o supermercado. O ministro achou bem e o seu Governo também.

Está inscrito na Constituição da República Portuguesa que — abreviando muito — todos têm direito ao trabalho, que para trabalho igual salário igual, e que incumbe ao Estado promover políticas de pleno emprego e promover a formação dos trabalhadores. Contudo, entre muitos outros desmandos, e sem apelo nem agravo, a formação é agora argumento para manter bolsas e recusar contratos. A continuar assim, brevemente, todos os médicos serão bolseiros, durante os longos anos de internato e especialização, e se alguém ousar aprender alguma coisa enquanto trabalha, será logo despedido. Mas não esmoreça o leitor, pois os “caixas” são muitos e estão unidos e não deixarão que no futuro só haja contratos para quem já tudo tiver aprendido.»

O destino cigano


por estatuadesal

(António Guerreiro, in Público, 29/01/2021)

António Guerreiro

Falo de uma questão que emergiu recentemente com alguma intensidade no espaço público: trata-se dos ciganos, uma vexata quaestio sobre a qual se guarda demasiado silêncio, certamente porque, ao contrário de outros grupos afectados pela exclusão racial, não são vistos no centro das grandes cidades, um território estranho aos seus modos de vida.

Falo dos ciganos a partir de um saber meramente empírico e recente, que certamente é demasiado superficial e imediato quando confrontado com o trabalho de investigadores. Falo a partir de um observatório que é uma aldeia alentejana, nos arredores de Évora, onde habito parcialmente há cerca de três anos. O tempo suficiente para ser confrontado com os ciganos e as formas de vida a que, em muitos aspectos, a história os obrigou, mas que lhes cabem não como história mas como destino. Poucos dias depois de chegar à aldeia, falei com um adolescente cigano que deambulava pelas ruas, com um cão. Entusiasmado com a minha hospitalidade (coisa para ele nunca vista), começou a querer negociar comigo tudo o que tinha para vender, até um cavalo. Este breve encontro daria para confirmar um lugar-comum das representações negativas dos ciganos: que eles só têm vocação de traficantes, para a qual desenvolveram as malas-artes da astúcia e da fraude. Disso mesmo me avisou um vizinho que assistiu de longe à cena. Com alguma indulgência, por eu ser ali um novato, disse-me depois que eu devia evitar as conversas com “essa gente que é a pior coisa que por aí apareceu”.

Não me chegou a dizer que eu devia escorraçá-los (embora não negligenciasse essa solução que comporta os seus perigos, dada a violência congénita desta “gente do pior”), mas chegou-me aos ouvidos, mais de um ano depois, que circulou pela população um abaixo-assinado que reclamava a expulsão dos ciganos daquele pequeno território. Fiquei assim a par da justa medida da rejeição: os ciganos não têm condição civil. Esta oposição entre os civis e os selvagens, de longa memória, emerge por estes lados constantemente e ambas as partes confirmam diariamente o papel que lhes está reservado, a não ser raramente, quando os civis também são um pouco selvagens e os selvagens são um pouco civis.

É bem conhecida esta lei da sobrevivência, que faz com que os ciganos não possam senão encarnar o papel que lhes foi reservado ao longo de mais de cinco séculos (em Portugal) de rejeição total e falta de reconhecimento, confirmando assim diariamente os piores lugares-comuns com que são identificados. É assim com todas as minorias que sofrem uma dura exclusão: conformam-se aos estereótipos em que foram encerrados e deixam de poder sair deles.

 Não trabalham? Pois não, pelo menos de acordo com uma certa definição de trabalho. Mas nem ousem procurar porque ninguém lhes dá emprego. O melhor, então, é deixar de querer. Orgulhosamente. A contingência torna-se um destino e a perseguição engendra uma cultura que se vai essencializando e acaba por constituir uma auto-reclusão. Não se pense que o problema se resolve com boas intenções e muito proselitismo. Do alto do seu saber, as instituições governamentais ostentam uma palavra mágica, “integração”, sem fazerem a mínima ideia de que essa palavra já não serve para nada. Quanto aos poderes mais próximos do problema, as autarquias, preferem ficar calados ou ser cúmplices de práticas que fazem lembrar as leis raciais para solucionar de vez o “instinto obscuro da estirpe”, como se disse noutro contexto histórico para uma outra classe de Untermenschen, de sub-pessoas. Perante os vícios maléficos dos selvagens, as virtudes do homem civil são reclamadas com uma tão grande evidência que o racismo mais extremo tornou-se uma prática naturalizada. Não dói a quem o pratica, não é censurado e, pior que tudo, nem chega a ser percebido como tal. É uma persistência que não existe e que ninguém por estas bandas contribui para que ele comece a ser representável. É bastante significativo que mesmo quando havia uma hegemonia do Partido Comunista no Alentejo os ciganos nunca tiveram direito a nenhuma forma de subjectivação política. Nem na vanguarda do povo nem na retaguarda.

 E assim temos, diante dos olhos que querem ver, uma situação que só tem um equivalente nos momentos extremos do racismo anti-semita, muito embora neste caso não se trate de um racismo transformado em lei da nação e a aguardar uma solução final.


 

“Se eu fosse o Presidente da República…” – Sobre a Covid e a vacinação

por estatuadesal

(Por Por Jean-Pierre Willem, in Blog A Viagem dos Argonautas, 30/01/2021)

(Este texto é sobre a realidade francesa mas, numa percentagem muito elevada, as semelhanças com o que se passa em Portugal são significativas. Daí que o publiquemos.

Estátua de Sal, 30/01/2021)


Cara Leitora, Caro Leitor

“Eu nomearia, é claro, Mickey como primeiro-ministro. Do meu governo, se eu fosse presidente, Dunga na cultura parece-me óbvio. Tintin para a polícia e Tio Patinhas nas finanças. Zorro na justiça e Minnie na dança”. O governo que Gérard Lenormand cantava pareceria mais credível do que o actual! [1]

Vamos sonhar por um momento e imaginar que, excepcionalmente, assumo o traje do nosso presidente, abalado pela sua má gestão de grandes e pequenos acontecimentos… Entre os seus erros e outras extravagâncias:

  1. Eu teria encomendado a vacina Moderna da biotecnológica americana, cujo processo ultra inovador fascina e preocupa algumas pessoas. É o mesmo que o da Pfeizer, o seu principal concorrente.

Implica injetar no corpo uma molécula que é capaz de estimular as células do próprio paciente a gerar o seu próprio medicamento, em vez de lhe dar um medicamento ou vacina para o ajudar a curar-se. Esta abordagem revolucionária foi contra as ideias estabelecidas do mundo científico.

Em comparação com outras vacinas, é mais fácil de manusear; pode ser armazenada durante um dia à temperatura ambiente, 30 dias num frigorífico e seis meses a -20°C, enquanto a vacina da Pfizer requer uma temperatura de armazenamento de -70°C. É injetada diretamente quando a vacina da Pfizer precisa de ser diluída, o que desperdiça tempo e pode levar a um risco de erro…

Tem outras facetas interessantes, particularmente na terapia genética. A ideia é ter uma proteína terapêutica produzida pelo ARNm em fibrose cística, a distrofia de Duchenne, ou substituir anticorpos monoclonais no cancro e doenças auto-imunes. Outras aplicações visam a doença de Alzheimer, doença de Parkinson ou osteoartrose. A Moderna trabalha também em patologias cardíacas, com uma injecção de ARNm para reparar vasos sanguíneos. O seu potencial terapêutico é infinito.

  1. Eu nunca teria condecorado com a Legião de Honra apenas 60 cuidadores, médicos e professores. Porquê esquecer os outros prestadores de cuidados que arriscaram as suas vidas em Estabelecimentos de Idosos e hospitais? Será que não o mereciam?

Por outro lado, eu teria condecorado os médicos que ousaram utilizar medicamentos alternativos e em particular óleos essenciais antivirais. Estes recalcitrantes arriscam-se a ser convocados pelo tribunal da Ordem dos Médicos (recordo-vos que os 8 médicos que compõem o júri são voluntários, mas recebem emolumentos mensais de 8000 euros! Segundo diz o Canard enchaîné).

  1. Eu teria penalizado os responsáveis de grupos que se recusassem ou se esquecessem de usar a máscara; foi assim que transmitiram o vírus aos seus familiares. Quando se causa a morte, é homicídio!
  2. Eu teria mandado a direção da Ordem dos Médicos reler o texto do Juramento Hipocrático que autoriza o recurso a alternativas terapêuticas (que provaram o seu valor), quando a medicina oficial (e dominante) permaneça inoperante.

Ao ler estas “falhas”, quais seriam os comentários do Presidente?

Eu, Emmanuel Macron, Presidente da República, sinto-me numa encruzilhada, expulsei o antigo presidente para tomar o seu lugar. O que me aconteceu? É verdade que a situação actual é incontrolável. A minha estratégia política baseava-se em “nem à direita nem à esquerda”. E afinal não estou em lado nenhum! Rapidamente constituí uma equipa: todos aqueles que estavam desempregados, funcionários frustrados, ambiciosos, bem falantes. Em suma, muitos incapazes tornaram-se ministros, senadores, deputados, conselheiros, muitos abandonaram o navioNeste contexto, como se pode fazer um milagre? Hoje encontro-me sozinho para governar este belo país… ingovernável”.

Depois destes devaneios miúdos, retomo o meu casaco de médico. É-se muito mais feliz quando se é livre e não se está dependente de ninguém.

Dependendo de se você é poderoso ou miserável…

A esta citação de La Fontaine, acrescento a de Charles Péguy: As pátrias são sempre defendidas pelos mendigos, entregues pelos ricos…

Tal como as consequências das alterações climáticas estão a ser sentidas em todas as latitudes, a pandemia do Covid-19 não poupa ninguém, seja um chefe de estado ou um refugiado.

No entanto, sabemos que estas crises globais não afetam todos os seres humanos da mesma forma.

Além de implicar diferentes vulnerabilidades de acordo com a idade e vários fatores de risco, a atual pandemia tem um impacto muito diversificado a nível mundial e dentro de cada país, entre ricos e pobres, brancos e não brancos, etc.

Embora a doença patológica do Dr. Donald Trump tenha confirmado que o vírus não tinha qualquer consideração pelo estatuto político, o tratamento privilegiado que o Presidente dos EUA recebeu, com um custo estimado de mais de 100.000 dólares por três dias de hospitalização, prova que, embora todos os humanos sejam iguais perante a doença e a morte, alguns, como George Orwell escreveu em Animal Farm, são “mais iguais do que outros“.

Sistematicamente, é o Terceiro Mundo que é o mais duramente atingido por esta crise económica, a que o Fundo Monetário Internacional (FMI) chamou “Grande Confinamento” no seu relatório semestral de Abril de 2020 – uma crise que se apresenta como a mais grave desde a Grande Depressão do período entre as duas grandes guerras.

A nivaquina: uma velha molécula reativada!

Quando parti para a Argélia em 1959, o produto essencial para prevenir a malária era a nivaquina, cuja fórmula química é a hidroxicloroquina, a molécula mais citada do mundo e de custo irrisório.

A partir do final de Março de 2020, as declarações do Professor Didier Raoult de Marselha, defendendo um tratamento baseado em hidroxicloroquina e azitromicina, monopolizaram a atenção.

A ciência é construída pela controvérsia e isso é normal“, reage Franck Chauvin, Presidente do Alto Conselho de Saúde Pública (HCSP). “Mas tornou-se um espetáculo ao vivo na televisão que transformou os cientistas em gladiadores”.

Num cenário de grande incerteza científica, duas acusações alimentaram o fogo: estudos que são difíceis de decifrar para os leigos e acusações de conflitos de interesse, pelo menos ligações financeiras com a indústria.

Não é difícil notar, de facto, que muitos peritos com assento em instituições públicas (Agência de Medicamentos, HAS, HCSP, etc.) estão vinculados por acordos, remuneração, benefícios a empresas privadas diretamente envolvidas na produção de potenciais tratamentos: Sanofi, Gilead, Roche, Novartis, Bayer, etc.. Uma “ligação“, não um “conflito“: este foi o leitmotiv ouvido durante todo o julgamento do Mediator [2].

Quando tudo azedou

O caso assumiu outra dimensão quando o Presidente dos Estados Unidos e depois o Presidente do Brasil promoveram a hidroxicloroquina.

Toda a gente tinha uma opinião enquanto que os factos científicos permaneciam ténues.

Esta controvérsia, que minou a confiança, deve provavelmente muito às redes sociais e televisivas, mas também às deficiências da organização dos cuidados e do enriquecimento do conhecimento.

A equipa do instituto hospitalar universitário de Marselha estava a testar em massa a população, quando era quase impossível noutro lugar.

Foi também uma resposta a uma expectativa, quando a maioria dos pacientes teve de sofrer sozinha, com a instrução de chamar o serviço de urgência apenas se o seu estado piorasse.

Pressionada para desqualificar a hidroxicloroquina, uma das revistas médicas mais prestigiadas do mundo, The Lancet, teve de admitir que não podia garantir a veracidade das fontes utilizadas e acabou por ter de rejeitar um artigo que apresentava o tratamento como perigoso.

Entretanto, esta publicação tinha levado à interrupção do teste deste tratamento no ensaio francês Discovery .

Acabou-se a hidroxicicloroquina!

No entanto, ainda temos nivaquina se nos quisermos deslocar a África.

Por outro lado, a Artemisia annua, a famosa planta chinesa contra a malária, é proibida em França: o que se deve entender por isso?

A Splif (Société de Pathologie Infectieuse), que reúne mais de quinhentos especialistas em doenças infecciosas, apresentou finalmente uma queixa contra o Sr. Raoult perante o Conselho da Ordem, recordando o código de deontologia: “Os médicos não devem divulgar nos meios médicos um novo procedimento de diagnóstico ou tratamento que não tenha sido suficientemente testado sem acompanhar a sua comunicação com as reservas necessárias. Não devem fazer tal divulgação ao público não-médico”.

A Ordem dos Médicos fez o mesmo, punindo com a exclusão desta Ordem, os médicos do campo que utilizavam óleos essenciais maravilhosos.

Estas pequenas “bombas bioquímicas” são as únicas moléculas capazes de conter este flagelo planetário.

A teoria do boomerang

O mundo dos cuidados de saúde está sistemicamente ligado aos interesses industriais, desde a investigação, a formação dos prestadores de cuidados, os conhecimentos regulamentares, até aos consultórios médicos e a informação pública. Este conjunto de ligações de interesses influencia os cuidados, e esta influência representa um risco para a saúde pública, bem como para o equilíbrio das contas sociais. Constitui uma perda de oportunidade para os pacientes”. Lido em Formindep “Algumas Lições da Crise” [3].

Karine Lacombe, chefe do departamento de doenças infecciosas do hospital de Saint-Antoine (Paris), que acaba de receber a Legião de Honra, quis fazer soar o alarme sobre a fraca relação risco-benefício da hidroxicloroquina. Mas as suas muitas ligações com a indústria farmacêutica voltaram-se contra ela como um boomerang.

Especialmente aquelas com Gilead, que fabrica o Remdesivir, outro remédio potencial – igualmente ineficaz, de acordo com o ensaio em grande escala da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Houve acusações de conflito de interesses, embora estas sejam ligações que são enquadrados pela lei“, defende-se ela. Além disso, estas ligações estavam relacionadas com o VIH e a hepatite viral, e não com a Covid. É realmente uma manipulação. Penso que tem havido ataques pessoais devido ao que eu represento: o surgimento de mulheres especialistas que são capazes de se exprimir”.

As suas desventuras puseram sobretudo em evidência a omnipresença da indústria farmacêutica na investigação médica e na formação dos médicos.

Mesmo que tenha sido instrumentalizada pelos apoiantes do Sr. Raoult, o domínio dos interesses industriais é, no entanto, uma questão importante, demasiadas vezes mantida em segredo.

Disso é testemunho a ligeireza com que foram criados o Conselho Científico e o Comité de Investigação e Análise de Especialização, vários membros dos quais beneficiam de remuneração, “hospitalidade” ou vários contratos, por vezes declarados tardiamente.

Quando o acto de sedução da grande indústria farmacêutica corre mal

De acordo com sondagens de opinião, a pandemia reforçou em vez disso a visão positiva que os franceses têm da ciência: 69% dos inquiridos disseram em Junho passado que tinham “bastante confiança na ciência” e 24% “completa confiança“, um total que é superior ao do ano anterior.

Por outro lado, dois terços consideram que os investigadores “não tinham previsto bem a escalada do coronavírus” e 53% consideram que “não tinham sido claros“.

A imagem da grande indústria farmacêutica continua a ser deplorável.

As empresas farmacêuticas estão suficientemente preocupadas com o assunto ao ponto de financiarem um “Observatório Social de Medicamentos”, cujo último inquérito fala por si.

É certo que apenas uma minoria dos inquiridos (16%) não confia nos produtos que tomam.

Mas esta proporção duplicou em oito anos, e dois terços não confiam nas empresas farmacêuticas “em matéria de informação sobre os medicamentos”.

Mas as empresas não cortam no dinheiro que gastam em comunicação ou na sedução de médicos e especialistas…

Efeitos nocivos da vacinação?

Cinco idosos morreram em resultado da vacinação, o que aconteceu?

O que pensam disso os farmacologistas responsáveis pela fármaco-vigilância sobre a observação dos efeitos secundários de cada vacina nos primeiros dias e nos anos seguintes?

Estes avós sofriam comorbilidades, talvez sofressem de várias patologias para além do envelhecimento.

Isso signnifica que estavam a tomar múltiplos remédios para tratar todos os sintomas da diabetes, hipertensão ou os efeitos secundários de patologias cardiovasculares e neurodegenerativas.

Todos estes remédios alopáticos são antigénios, por outras palavras, elementos agressivos. A vacina é um dos remédios mais iatrogénicos.

É de facto a acumulação (mesmo em doses baixas) de moléculas estranhas que induz o fenómeno de aceleração e depois desaceleração da cadeia respiratória mitocondrial que leva à apoptose e à morte celular, através de radicais livres oxigenados (RLO).

O excesso de um tipo de antigénio (vacina) ou o fluxo contínuo de antigénios de todo o tipo desencadeia uma reacção de hipersensibilidade semi-retardada e este excesso de antigénios faz colapsar as defesas imunitárias e leva à morte.

Em vez de vacinar estes idosos imunodeprimidos, as suas defesas naturais deveriam ter sido reforçadas… Outra das minhas moções, se eu fosse presidente!

Fiquem bem!

Ps: As possíveis contra-indicações à vacina incluem o seguinte: os fabricantes da vacina de ARN do mensageiro tinham desaconselhado a utilização da vacina para pessoas com alergias. Pessoalmente, acrescento os portadores de doenças auto-imunes (há 5 a 6 milhões de pessoas francesas afectadas).

Estas duas condições correspondem a uma reacção imunológica excessiva e inevitável. Este foi o caso do médico californiano que morreu de uma patologia hemorrágica auto-imune.

É imperativo encontrar a causa das 23 pessoas muito idosas que morreram na Noruega após terem recebido a primeira injeção. Os efeitos secundários habituais são febre, diarreia ou náuseas.

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NOTAS

[1] N.T. “Si j’étais président” em 1975, ver Wikipedia aqui.

[2] N.T. Julgamento implicando as pessoas que se consideram vítimas por terem tomado benfluorex, comercializado sob a marca de Mediator, dos laboratórios Servier. (ver wikipedia, aqui)

[3] https://formindep.fr/ 

sábado, 30 de janeiro de 2021

Notícias do túnel

por estatuadesal

(Isabel do Carmo, in Blog Entre as Brumas da Memória, 29/01/2021)

«Eu, médica, observadora diferenciada, estive internada com o diagnóstico de covid-19 durante dez dias nas enfermarias do Hospital de Santa Maria e penso que o meu testemunho pode servir de alerta e de um enorme reconhecimento. Alerta para o risco real e actual (rastrear e confinar é preciso). E dar graças à vida pela existência do nosso Serviço Nacional de Saúde.
Estive a trabalhar e a ver doentes até ao dia 23 de Dezembro, com todo o cuidado, e não foi por aí que o vírus entrou. No dia 24, juntámo-nos seis adultos e três crianças e, apesar das máscaras e das distâncias, alguma imprudência abriu por momentos a porta ao invisível. Contaminámo-nos todos e, fiados na falsa segurança do teste simples, alguns de nós multiplicaram o contágio. Os mais jovens mantiveram a sua energia transbordante, os de idade intermédia tiveram muitos sintomas, mas trataram-se em casa, os mais velhos reagiram de acordo com os factores de risco. E foi assim que ao décimo dia de febre e outras queixas o meu colega do Centro de Saúde me ordenou, e bem, que fosse à urgência covid. Se não tivesse ido tinha morrido e esse é o primeiro alerta a manifestar.
Há um momento, determinado empiricamente, em que se conclui, por estatística, que é assim. Não vale a pena correr contra as probabilidades. Claro que foi muito incómodo, muito frio, muito desaconchegado, esperar por ser chamada no pequeno telheiro improvisado no piso das entradas. Fica melhor quem está dentro das ambulâncias, que têm suporte de oxigénio e macas ou cadeiras. Esta condição de espera, este ponto de entrada, seria possível melhorar fisicamente? Talvez. Mas os doentes chegam e não podem ser mandados para trás. Seria possível desviar um meteorito que caísse em cima das nossas cabeças? Só para os encartados e teóricos comentadores, que, eles, preveriam tudo.
Resolveu-se: agora temos o hospital de campanha. Todavia, foi por ali que me salvei. Quando finalmente dei entrada no Covidário, ganhei direito a um cadeirão, a uma máscara de oxigénio e à segurança de ter entrado no circuito. Desde esse momento fui sempre a senhora Isabel, idêntica a todos os outros e nunca, e bem, a médica da casa. Algumas horas depois entrei numa box, com WC e uma porta com grande janelão de vidro. As dimensões comparei-as com outras de outras “boxes” de há muitos anos. Idênticas, mas o janelão e o calor humano pertencem a outro universo. Fiz então uma TAC num dispositivo colocado no Covidário. E é aí o extraordinário. Nunca ao longo de tantos anos de clínica tive conhecimento de tal quadro – os meus pulmões estavam infiltrados de alto a baixo e dos dois lados com múltiplos focos de inflamação, que não deixavam o oxigénio atravessar os alvéolos e passar para o sangue, onde ele é necessário à vida. Sintomas? Poucos. Mas lá estava o oxímetro a mostrar níveis baixos. Aqui reside um grande risco. Esta “hipoxemia feliz” mata. Assim morreu o pai de uma colega minha com 50% de saturação e poucos sintomas. Foi, a partir do nada ou da experiência inicial da China, que os protocolos foram sendo estabelecidos. De madrugada saí do Covidário e fui rapidamente internada nas enfermarias covid, Medicina 2C. Fizeram-me aquilo que está protocolado que se faça: oxigénio, corticóides, broncodilatadores, antibiótico se necessário. Para os meus companheiros de enfermaria, alguns hemodialisados, diabéticos, transplantados, cada protocolo era diferente. No mesmo piso, para além da porta de separação havia mais enfermaria covid, havia a zona dos intensivos e havia a zona dos intermédios com máscara permanente de oxigénio, onde ficou o Carlos Antunes e donde partiu para sempre no dia 19 de Janeiro.
Aquilo a que assisti de serenidade, de eficácia, de competência, ficará para sempre marcado como um momento muito alto da minha vida. Sei que as pessoas todas juntas não somam inteligências, multiplicam. É um fenómeno que faz parte da natureza humana, assim a humanidade sobreviveu. Observei a entrada regular e harmoniosa das assistentes operacionais, dos enfermeiros, dos fisioterapeutas, dos jovens médicos internos e das chefes seniores. Cada um sabe o gesto que tem que fazer, o equipamento em que tem que mexer, o registo necessário, a colheita de sangue a horas, a administração do medicamento. E… sabe também informar. Explica o que vai fazer e porquê.
O meu conhecimento dos espaços das urgências cresceu comigo organicamente. Fiz urgências nos bairros pobres de Lisboa, fiz no Hospital do Barreiro actos clínicos que não passavam pela cabeça de uma miúda de vinte e poucos anos, antes da classificação de Manchester andei de papel na mão a fazer triagem na sala de espera, vi crescer o Serviço de Observações das Urgências de Santa Maria com a Teresa Rodrigues a decidir os gestos urgentes. E lá continua ela a salvar gente. Sofri com os “directos” e culpabilizei-me. Vi o Carlos França instalar finalmente os Cuidados Intensivos. Vi tudo? Não. Não vi nada. Porque bastou o ano de 2020 e o inimigo ultra invisível para perceber que há uma coisa que de facto é um “milagre”: a capacidade de auto-organização, rápida, eficaz, criativa, serena. Era possível fazer tudo isto com requisição civil? Tenho dúvidas. É a cultura que está para trás que explica o “milagre”.
Com as minhas amigas enfermeiras conversávamos por vezes sobre os “territórios”. Pois o milagre também desenhou territórios. Quer isto dizer que reina a paz nos serviços de urgência do Serviço Nacional de Saúde? Não. Esta onda organizada de espaços e de recursos humanos palpita como um corpo que pede respiração. O director da Medicina, Lacerda, vai buscar enfermarias a todo o lado possível, converte serviços e adapta-os. A Sandra Brás supervisiona como um arcanjo os vários espaços e equipamentos covid-19. Os meus colegas dos Cuidados Intensivos, com 85% de lotação, estão no limite, ou seja, na zona das necessárias e rápidas escolhas. Estes doentes não são pneumonias habituais. Têm mais demora de cama (quanta?), têm uso de equipamentos que não existiam antes.
Os meus colegas não estão desesperados, nem aflitos, estão profundamente preocupados, esgotados também, a situação é dinâmica, é preciso fazer opções técnicas. Quando lançam o alarme cá para fora não é um pedido de socorro para eles. É dizer que só o confinamento melhora o problema. É explicar que quanto mais infectados, mais sintomáticos. Entre estes aumentam os de risco e quanto mais risco mais cuidados intensivos. E há uma linha vermelha que percorre este chão e é móvel – a das mortes evitáveis.
Na minha enfermaria, por sinal toda de afrodescendentes, senti no mais fundo da noite que alguém abandonava a Montanha Mágica. Com serenidade. Sem obstinação. É também uma escolha. No dia seguinte a animada Inalda, assistente operacional de São Tomé (já sou efectiva!), a enfermeira Ana, a enfermeira Marta, nos doentes o Sr. C. que ficou meu amigo e é de Cabo Verde, a Dona A., de Luanda, o Sr. D. que também é de Luanda e já venceu muitas coisas, corpos que já foram desejados, já se reproduziram, são a humanidade que ali está. A médica de Medicina Interna, Dra. Patrícia Howell Monteiro, que ainda foi contratada em exclusividade (2008/2009?), é o pilar sólido e sustentável que orienta o Henrique Barbacena, o Renato e o Francisco, que hão-de fazer o exame da especialidade proximamente. Para onde irão? O Renato está a sofrer nos cuidados intensivos, a dar o máximo. O Henrique é também professor de Farmacologia, tive o privilégio que me explicasse coisas sobre vírus. E ausculta à velha maneira, como eu. Conseguimos ter um momento para conversar e a propósito da vida e do ultra invisível contou-me como lera apaixonadamente a Estranha ordem das coisas, do Damásio, livro que a chefe Patrícia lhe ofereceu. Há muitos anos, o António Damásio também foi da nossa incubadora, o Hospital de Santa Maria. E, a propósito, eu e o Henrique conversámos sobre a dinâmica da vida, a necessidade de não fazer classificações mecanicistas.

E reganhei a grande esperança do aviso da tal frase do Abel Salazar: “Um médico que só sabe Medicina, então não sabe Medicina.” Estes sabem Medicina e são uma das estruturas do SNS.» 

Os 50 anos do 25

 

por estatuadesal

(Clara Ferreira Alves, in Expresso, 29/01/2021)

Clara Ferreira Alves

Pulam por aí interpretações e piruetas sobre quem ganhou as eleições. O vencedor Marcelo, com o qual subitamente a extrema-esquerda se reconciliou num silêncio porque percebeu que é o que lhes resta entre a rocha e um sítio duro e porque continua enquistada com António Costa. E o vencedor Ventura. Que fez a entrada triunfal no “New York Times”, o símbolo máximo do reconhecimento nacional, como líder da extrema-direita, e fez uma entrada triunfal nas televisões, que se afadigavam em torno da estrela, como de costume. Até ficou rouco de tanto gritar no discurso inaugural do tempo novo. Todos os fascismos, mesmo os mais disfarçados, anunciam um tempo novo e um homem novo, sem cuidar de especificar no caso português. Os jornais e televisões estrangeiros falaram todos em “extrema-direita”, com todas as letras, mas em Portugal, país singular e bem formado onde o fascismo nunca existiu, a direita anunciou que os eleitores de Ventura não eram de extrema-direita. Era tudo gente “zangada com o sistema”.

O que é o sistema? Ninguém sabe. Ora na última sondagem, o sistema, apesar dos erros da gestão da pandemia, e dos erros e incompetências de alguns ministros, o sistema, repita-se, decidiu que ainda preferia António Costa a Rui Rio, aumentando a maioria socialista, e que preferia Marcelo a todos os outros, incluindo as luminárias que vimos candidatarem-se sem tino ou propósito. É este sistema, a que noutros lugares com massa crítica poderíamos chamar o centro, ou a moderação, o tal juste milieu dos franceses e da Monarquia de Julho. Este sistema, tão abominado pela extrema-direita, perdão, pela inexistente extrema-direita portuguesa, constituída apenas por gente zangada, tenta o meio termo entre a autocracia e a anarquia. Na tentativa, não decreta a abolição da liberdade de expressão ou o esmagamento dos direitos humanos, dois comportamentos típicos da extrema-direita e da extrema-esquerda dos quais os ideólogos respetivos se envergonham porque estamos no século XXI e estas coisas parecem mal.

A extrema-direita do burgo rejubila com a hipótese de retirar eleitores ao partido comunista, ou à esquerda, o que aconteceu nestas eleições no Alentejo. As razões pelas quais isto aconteceu implicariam entre outras coisas uma sociologia científica, coisa que a extrema-direita despreza, e uma sociologia criminal dirigida a uma etnia, para averiguar se existe ou não uma subcultura criminal associada à etnia cigana e, a existir, se é o resultado de uma economia de sobrevivência em função da exclusão social e da incapacidade de escolher, ou se é apenas uma subcultura criminal igual às outras. Ora a extrema-esquerda jamais admitiria uma sociologia, criminal ou não, em função de uma etnia, sinal de discriminação. Aqui chegados, em vez de tentar perceber o que leva uma pessoa que é ou não é de esquerda a votar na extrema-direita, somos enrolados no tapete das boas intenções que dispensam o juízo crítico. A extrema-esquerda não quer admitir que perdeu eleitores para a extrema-direita, e a extrema-direita não quer admitir que é de extrema-direita, porque quer e precisa converter mais eleitores do outro lado da barreira doutrinal, dando-lhes o osso com a carne do protesto em vez do osso sem carne do privilégio.

Toda a gente conhece muita gente de extrema-direita, gente que está zangada com o sistema e que é de extrema-direita. Aquela criatura que se sentou no cadeirão do Senado americano com o barrete de pele com cornos e corporais tatuagens, a criatura com a T-shirt Camp Auschwitz, os desordeiros e criminosos que achavam que a quebra da autoridade do Estado era tal que podiam fazer aquilo e escapar ilesos, são de extrema-direita. São, como tantos eleitores de Trump, incluindo os de classe média remunerada e os milionários, parte da gentalha da extrema-direita. Percebo, pela ausência de sofisticação da gentalha, pelo primitivismo ideológico e iletrado que não comporta outra variação que não a anarquia, a crueldade e a destruição da vida e da propriedade alheia que as redes sociais acolhem e expandem, ou a manutenção do privilégio de classe ou de fortuna, que os primos mais elevados se sintam envergonhados. Nós não somos assim, nós temos uma estrutura ideológica e identitária, nós lemos as bíblias do extremismo italiano e alemão, nós sabemos que existe uma distinção entre Coriolano e a plebe e entre o herói alemão Siegfried e o Siegfried dos Siegfried & Roy, domadores de tigres de Las Vegas vestidos de lentejoulas. Um deles foi comido vivo por um dos tigres.

A extrema-direita ideológica quer os votos pedestres, não quer as consequências. Quer os votos das baixas paixões, não quer admitir que esses votos lhe pertencem, apenas não eram consentidos e verbalizados. Durante décadas, o centro-esquerda esteve no poder em Portugal, alternando com o centro-direita. A extrema-direita não os aprecia, mas precisa deles, um como inimigo principal e outro como aliado. Esta conversa sobre as origens do Chega e do voto do Chega não tem o sumo da doutrina porque o Chega limitou-se a chegar e colher a fruta mais baixa, dando à extrema-direita uma oportunidade de retirar os fatos com naftalina escondidos no armário, e porque o Chega sem a extrema-direita ideológica a guiá-lo para resultados e objetivos, não passa de um ajuntamento de taberna dos indignados com os privilegiados e os oportunistas. O que o Chega precisa, e sabe que precisa, é de colonizar um partido. De preferência, um grande partido. Precisa da organização local.

O Chega será o que o PSD o deixar ser. Visto que os dois partidos do centro, numa traição ao eleitorado maioritário do “sistema”, decidiram ser inimigos e agredir-se mutuamente exceto para defender interesses comuns e aprovar expedientes de sobrevivência política, e para decidirem que é preciso que tudo mude para que tudo fique na mesma, o que resta é um destes partidos, o do centro-direita, fazer à extrema-direita o que o PS tentou fazer à extrema-esquerda, libertar-se dela. A experiência foi o que foi, e repare-se que quem foi punida foi a extrema-esquerda, e sobretudo o Bloco de Esquerda. Ou o PSD se alia ao Chega ou não.

A direita e os videirinhos do PSD querem que o partido se alie a Ventura, enquanto vai fingindo que não gosta de Ventura e analisando o fenómeno. E o grosso do PSD, o que constituía o centro do PSD, o resíduo utópico da social-democracia? Creio que fará o mesmo. Este PSD sabe que tem uma oportunidade de ocupar o poder, a única oportunidade, e quer o poder porque é um partido de poder. E o Chega também sabe. Precisam um do outro.

Nos Açores, o líder Rio, cada vez mais descomposto nas intervenções públicas em que se defende dos “comentadores” e alardeia a má consciência dos vilões, abriu a porta à extrema-direita. Instalou a extrema-direita no centro do espectro político. E sem necessidade, como diria o Diáconos. O Chega nunca viabilizaria mais um governo do PS.

No infeliz matrimónio, PSD e Chega arrastarão a democracia portuguesa pelas ruas. O único que percebeu isto na noite da vitória, e nunca subestimemos a inteligência de Marcelo, foi o Presidente. Ao falar nos 50 anos do 25 de Abril, no ano de 2024, o que ele quis dizer foi, a democracia não morrerá às minhas mãos. Acredito nele. Fico contente por ter votado nele.