Posted: 20 Mar 2021 04:46 AM PDT
Posted: 20 Mar 2021 04:46 AM PDT
Meninos copinho de leitepor estatuadesal |
(José Gameiro, in Expresso, 19/03/2021
Os leitores mais politicamente corretos não fiquem já irritados com o título da crónica. Não vou tecer elogios ao machismo, nem falar que dos fracos não reza a história. Vou escrever sobre o café que, apesar de ser masculino, tem a versão feminina, a bica. Um dia falaremos do cimbalino, do norte, mas hoje não.
O café deve ser a bebida mais consumida pelos portugueses. Há quem o beba só de manhã, porque lhe tira o sono, há quem beba a seguir a cada refeição e há os que acreditam, e bem, nas virtudes terapêuticas da cafeína e podem chegar a beber dez por dia.
Há vários tipos de café. Não vos vou falar de robusta nem de arábica, nem dos 15 euros que um colombiano ganha por dia para colher 70 quilos de café à mão, para depois ser vendido em cápsulas de cinco gramas por 40 cêntimos. Vou falar dos vários contextos em que podemos tomar café.
A maior parte do café é onanista. Um prazer solitário, bebido lentamente, acompanhado de pensamentos. Desde ‘o que eu tenho para fazer hoje’ até ‘que seca, vou ter de trabalhar’. Imaginem-se com uns bons auscultadores, a ouvirem os Pink Floyd, oxalá estivesses aqui... Pode ser alguém que já não está entre nós e de quem têm muitas saudades, até uma ex-namorada que nos vem à memória numa frase batida. São memórias sem risco e fortemente favoráveis à estabilidade conjugal.
O café também permite viajar. Podemos ouvir o ‘New York, New York’ e imaginar um café no Dean and Deluca, na Broadway, SoHo, por sinal uma boa porcaria. Ou viajar até Paris e sentarmo-nos no Café de Flore a beber um excelente café de saco.
Mas há outros tipos de café.
O conjugal, bebido em casa, ou numa esplanada com vista para o mar. É quase sempre um café sem riscos, mas também pode ser uma rotina chata, tipo café papá/mamã. Nem sempre os casais conseguem tirar prazer do ritual conjunto. Há os que despacham a coisa e os que conseguem prolongar o prazer. O único problema deste tipo de café é se for saboreado numa conjugalidade não oficial. Convém, nestes casos, desligar a localização do telemóvel...
Podia continuar com muito mais tipos de cafés, mas o meu objetivo não é fazê-los sofrer. Não consigo perceber o que passou pela cabeça de quem nos proibiu de comprar café “ao postigo” durante o confinamento. Seguramente alguém que tem dificuldade em lidar com a cafeína ou que confunde grupos das bejecas com cidadãos respeitáveis a beberem a sua bica.
Puxei pela cabeça, falei com amigos, não atingi. Alguns disseram-me que se queria evitar grupos de dependentes da cafeína. Mas então porquê continuar a permitir máquinas de café e de outras bebidas automáticas? Fui a uma área de serviço em que não me podiam servir café, mas com umas moedinhas tirei um e tinha mais dois colegas a saborearem o cafezinho.
O que me preocupa é a nossa aceitação da irracionalidade de algumas medidas. Parece que estamos já um bocado adormecidos ou tão receosos que preferimos acatar para não termos chatices.
Claro que o circuito clandestino do café foi imediatamente montado. Nomes de código, bitoque no sul e alheira no norte, a resistência instalou-se. Ao contrário de outras ‘drogas’ ilegais esta não aumentou de preço, até baixou, porque as máquinas são bem mais baratas.
Alguns, mais imaginativos, compraram um termos, fizeram um bom café em casa e foram bebê-lo para spots magníficos. Já que transgridem, que o façam nas melhores condições ambientais.
Só tenho duas explicações possíveis para esta aberração. Ou é a evidência do exagero a que se chegou, quando se quis testar a passividade humana, ou foi decidida numa reunião de meninos copinho de leite...
por estatuadesal |
(José Pacheco Pereira, in Público, 20/03/2021)
A discussão actual foi suscitada por uma proposta original do PAN e outra do PSD que, com diferentes graus de obrigatoriedade, implicam a revelação na vida política da qualidade de membro da Maçonaria. Ambas estão mal feitas, são atabalhoadas e, no caso do PSD, misturam, por uma obsessão salomónica que passa por isenção, o Opus Dei e a Maçonaria. Ambas as organizações podem gerar efeitos políticos semelhantes, no âmbito do clientelismo e do patrocinato, mas são diferentes na sua génese e no seu modus operandi e, acima de tudo, distinguem-se no modo como tratam o segredo, o aspecto mais relevante para a actual discussão. Acresce que a Maçonaria intervém essencialmente pelos seus membros, as suas afinidades e “irmandades”, sem comando colectivo, embora haja uma hierarquia de graus, e o Opus Dei tem hoje uma intervenção na vida pública que envolve o seu papel nas instituições financeiras e no mundo dos negócios, para além da presença, que não é única na Igreja, nas instituições de ensino.
É sobre a Maçonaria que me vou pronunciar, porque sou a favor da obrigatoriedade de declaração de pertença, para o registo de interesses, dos participantes na vida política, em particular em eleições e cargos electivos. Toda esta matéria está armadilhada, por conspirações, desconhecimentos vários, análises sem contexto histórico, quer do lado antimaçónico quer do dos defensores da Maçonaria. Esclareço desde já que nada me move nem contra a Maçonaria, nem a sua pertença, nem comparticipo das teorias sobre a sua relevância como “sombra” de tudo o que acontece, posições, aliás, alimentadas pelo segredo que a envolve. Penso, de resto, que a sua importância é habitualmente exagerada e que a sua influência na coisa pública é hoje muito menor do que a que existiu no passado, mesmo depois do 25 de Abril.
Acresce também que não há apenas uma Maçonaria, mas duas, e que são diferentes em muitos aspectos. A antiga Maçonaria, aquela a que praticamente toda a gente se refere, é o Grande Oriente Lusitano, o GOL. Mas na década de 80 começou a surgir uma cisão que deu origem à Grande Loja Legal de Portugal/Grande Loja Regular de Portugal, GLLP/GLRP, em 1991. A influência do GOL é predominante no PS, está também presente no PSD e no CDS, mas tem sido a GLLP/GLRP que explica que, na vida política, o único partido em que a influência maçónica cresce é o PSD.
Qual o problema que justifica a obrigatoriedade da declaração de pertença no registo de interesses, em nome da transparência? É muito simples e a confusão que é lançada todos os dias é igualmente suspeita e releva para a importância desse registo: a Maçonaria tem uma intervenção na vida pública que produz efeitos na política, seja pela “protecção” de carreiras, seja pelas escolhas para certas áreas da política democrática de grande sensibilidade, como seja, por exemplo, os serviços de informação e segurança, em que a presença de maçons é relevante. Pode-se e deve-se perguntar porquê. A resposta envolve a horizontalidade da organização, que percorre diversos partidos e facilita os contactos não escrutináveis entre políticos e negócios, mútuas informações e mútuas protecções. E, depois, o oculto do segredo e as relações de confiança entre “irmãos” que tem papel nas escolhas e nas carreiras. Não precisa de estar decidido em reuniões ou em instruções, faz-se naturalmente pelos rituais de pertença, reconhecimento e “irmandade”.
O exemplo que é mais conhecido é o da Loja Mozart, do GLLP/GLRP. Na lista dos seus “irmãos” encontram-se vários membros do PSD e da JSD, alguns que foram membros do governo, um líder parlamentar, deputados, o presidente da Ongoing, um grupo de gente do PSD envolvida no processo da Ongoing, chefes de gabinete, chefes militares, membros da chefia dos serviços de informação. Quando rebentou o escândalo envolvendo o SIED e a Ongoing e começou a haver escrutínio da comunicação social, houve uma debandada da Loja para outras da mesma obediência maçónica, e explicações esfarrapadas de que só lá tinham ido por curiosidade, como se à Maçonaria se fosse por curiosidade. Teve esta Loja e a sua pertença algum papel na vida política? Basta ver a lista de “irmãos” que é conhecida, e que não é total, para ver como nalguns cargos na Ongoing, no grupo parlamentar do PSD e nos serviços de informação estão lá o número um e o número dois, o patrão e o empregado. Para além do mais, é difícil ver na pertença à Loja qualquer especial dedicação ao Supremo Arquitecto, mas sim preocupações de carreira, dinheiro e influência.
A este exemplo podem acrescentar-se outros do PS, em que a presença da Maçonaria é historicamente relevante e mais antiga. A crescente influência no PSD é que é nova, até porque, por razões históricas, se trata de um partido com uma forte génese antimaçónica e anticomunista. Pode-se dizer que o objectivo de Rio é mostrar essa influência no PSD, até porque um número significativo dos seus adversários internos é maçon.
Pode ser, mas também aqui é importante que se saiba, porque na vida política isto não é uma “questão de consciência”, nem matéria de privacidade, nem comparável à revelação da identidade religiosa ou de género. Pode a revelação da qualidade de pertença à Maçonaria ser um prejuízo pessoal, profissional e político? Pode, mas a qualidade de membro do PCP nuns meios ou do PSD noutros também é. E, no caso da Maçonaria, a manutenção do segredo aumenta a especulação que só é mitigada pela revelação da filiação.
A Maçonaria tem um sistema de valores que a colocam no plano cívico e político em sentido estrito e uma forma de organização que implica o segredo ou a “discrição” que é uma aberração em democracia. Se alguém quer ser da Maçonaria em segredo, muito bem, desde que não seja na vida política. Até porque são os mecanismos de segredo que mais têm permitido os abusos de patrocinato, tráfico de influências e corrupção.
Posted: 19 Mar 2021 04:43 AM PDT
De euronews
Em 1921, a Grã-Bretanha dividiu a Irlanda.
A maioria da população da Irlanda do Norte, que é protestante, quer permanecer sob o domínio britânico, enquanto a maioria dos católicos é a favor da unificação.
As tendências demográficas sugerem, no entanto, que este próximo recenseamento poderá acelerar o processo de unificação.
"Metade das crianças em idade escolar são católicas e apenas um terço são protestantes. Agora, ao longo do tempo, elas vão trabalhar para até chegar ao eleitorado, ou seja, não são eleitores nesta fase, mas vão tornar-se eleitores. Portanto, o que nos diz é que, a dada altura no futuro, o número de católicos na Irlanda do Norte vai ser maior do que o número de protestantes e isso pode muito bem ser o que vamos descobrir quando tivermos os resultados do recenseamento", revela o investigador Paul Nolan.
Em tempos a divisão era de 60/40 a favor dos protestantes. Os Censos de 2011 mostraram que a diferença tinha diminuído significativamente para apenas três por cento.
Na estrada Shankill, na zona pró-Britânica e protestante, diz-se que uma maioria católica não significa automaticamente uma Irlanda unida.
O conselheiro do Partido Unionista Progressivo, Billy Hutchinson, afirma que "Só porque há mais católicos não quer dizer que eles queiram uma Irlanda unida. Quer dizer que eles vivem num país que tem direitos sociais e têm, também, o Serviço Nacional de Saúde. As pessoas tomarão as suas decisões com base neles e não em qualquer outra coisa. Podemos falar de tendências. É uma questão de, o que é que as tendências significam realmente? Saberemos isso quando virmos os resultados dos Censos".
Um inquérito, de 2016, revelou que há agora mais católicos do que protestantes nos locais de trabalho
Os defensores da unificação dizem que o próximo censo e as consequências do Brexit estão a aumentar as exigências, de ambos os lados, por uma Irlanda unida.
"Eles veem os danos que o Brexit tem causado e continuará a causar e penso que ambos os unionistas, não muitos, mas alguns significativamente estão a começar a participar nesta conversa sobre como será uma nova Irlanda e penso que os resultados dos censos irão fazer avançar esse debate", conclui o deputado do Sinn Féin, John Finucane.
"Há grandes expectativas de que este recenseamento mostre o número de católicos a ultrapassar o número de protestantes, pela primeira vez em mais de 300 anos. Partindo do princípio de que é esse o caso, os que são a favor de uma Irlanda unida poderão intensificar, nos próximos anos, a sua campanha para a unificação. O quadro deverá tornar-se claro nos próximos 12 meses", relata o jornalista da euronews Ken Murray.