Posted: 05 Apr 2021 04:09 AM PDT
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terça-feira, 6 de abril de 2021
Quem não semeia, não colhe
segunda-feira, 5 de abril de 2021
Costa quer preparar uma crise política?
por estatuadesal |
(Daniel Oliveira, in Expresso, 05/04/2021)
Costa sabe que, logo depois da pandemia abrandar, será o momento ideal para uma clarificação política. E que governar em minoria, com uma crise social e económica em mãos, será muito difícil. E é possível que acredite que um chumbo do Orçamento de 2022 lhe pode oferecer a oportunidade de secar os partidos à esquerda e ir a votos com a direita em crise. Ou que esse risco sirva para uma aprovação sem cedências. Marcelo não quer uma crise num momento em que a direita não está preparada para ser alternativa.
Marcelo Rebelo de Sousa não podia ter sido mais claro na resposta ao Governo. Que já salvou orçamentos com mais despesa do que receita porque achava que este não era o tempo para crises políticas. Que o fez o mesmo agora, pensando na estabilidade política e na necessidade evidente destes apoios sociais. Mas, acima de tudo, que o fez a pensar nos próximos meses ou mesmo até ao fim da legislatura. Explicando que “o Presidente é mais do que um professor de Direito” – por isso é eleito –, Marcelo deu a chave para a sua atitude, dizendo que se tratou de uma “salvação preventiva do próximo Orçamento de Estado”.
Antes das eleições avisei (muitos outros o fizeram, aliás) que Marcelo estaria empenhado em contribuir para que se reconstruísse uma alternativa à direita. Devo dizer que esse empenho não só não me repugna, como me parece indispensável, mesmo que o Presidente fosse de esquerda. Não há democracia sem alternativas. Mas para que essa alternativa se construa precisa de tempo. E, com a crise que aí vem, o tempo tenderá a jogar contra António Costa.
Concedo que estou a fazer um exercício arriscado. São, de alguma forma, processos de intenções não declaradas pelos vários atores políticos. Mas parece-me plausível que António Costa saiba que o momento da pandemia é positivo para ele. Tem sido muitas vezes referido o efeito "rally 'round the flag", que faz com que, em momentos de crises internacionais ou guerras, seja habitual um aumento no apoio aos governos em exercício, de curto prazo. É um instinto de sobrevivência coletiva e de busca de segurança. Costa sabe que vive esse momento, como atestam os seus índices de popularidade mesmo quando a crise se agudiza. E que o momento ideal para uma clarificação política será logo depois da pandemia abrandar, provavelmente logo depois do debate do próximo Orçamento de Estado.
Olho para a crise artificial criada pela alteração dos apoios sociais com esta hipótese em cima da mesa. Como ficou claro pelas declarações de João Leão, não será necessário um Orçamento Retificativo para acomodar este aumento da despesa. Como ficou claro por todo o debate, a fórmula de cálculo dos apoios sociais para trabalhadores independentes e sócios gerentes, mantendo a comparação com os rendimentos nos 12 meses anteriores (e passando a ter como referência um período já pandémico e com confinamentos), correspondia a um corte nos apoios quando a situação está a piorar. A possibilidade orçamental de corresponder a uma necessidade social teria aconselhado o Governo a ter atendido os protestos da oposição e a ter negociado uma solução. António Costa preferiu concentrar-se na questão constitucional, mas há uma questão política que lhe é prévia. E todos os sinais, incluindo o recurso legiítimo, mas inconsequente do ponto de vista orçamental, ao Tribunal Constitucional, apontam para a vontade de alimentar a incomunicabilidade com a oposição, alimentando uma escalada de hostilidade. Marcelo percebeu-o e tenta anular a estratégia.
António Costa percebe que governar em minoria depois da emergência da pandemia, com uma crise social e económica em mãos, será muito difícil. Sabe que ele próprio fechou as portas, logo depois das eleições, a um entendimento permanente com base em acordos escritos que lhe desse a tal maioria. E é possível que acredite que um chumbo de Orçamento de Estado para 2022, num momento ainda próximo da pandemia, lhe pode oferecer a oportunidade de secar os partidos à sua esquerda e ir a votos com a direita em crise. Ou que esse risco sirva para uma aprovação do Orçamento sem cedências ou negociações. Já Marcelo é explícito: não quer uma crise num momento em que a direita não está preparada para ser alternativa.
Aceitando esta tese, que é obviamente discutível, cada um terá a sua opinião sobre a justeza das estratégias de Costa e de Marcelo. O que não faz sentido é acreditar que é a norma-travão que está realmente de causa. É bem mais (ou bem menos, conforme o ponto de vista) do que isso.
O juiz perigoso
por estatuadesal |
(Por Valupi in Blog Aspirina B, 01/04/2021)
Rui Pedro Castro, o juiz que se filmou a desafiar o director nacional da PSP para uma luta corpo a corpo, é vítima de alguma disfunção do foro psiquiátrico. Este diagnóstico pode ser feito por leigos, dada a evidência de que se prejudicou irremediavelmente ao ter perdido a capacidade de prever as consequências dos seus actos. Não é crível que volte a ser juiz, portanto, e mesmo como eventual advogado não oferece confiança e tem a credibilidade destruída. Precisa de se ir tratar e depois, caso recupere toda ou parte suficiente da sanidade mental, descobrir um novo modo de vida.
Mas se, no plano clínico, estamos perante um indivíduo que merece compaixão e protecção, no plano político a sua exibição patológica em público permite chamar a atenção para um dos tabus que dão forma ao quotidiano da República: a problemática da saúde mental dos magistrados. Não se fala disso na “imprensa de referência”, ocupada como está em garantir que certos magistrados continuem a produzir certo tipo de manchetes e certo tipo de alarme persecutório.
Talvez só lá muito de vez em quando apareça alguma coisa nas revistas e colóquios das ciências jurídicas (embora não apostasse nisso os 10 euros que tenho no bolso). Ora, trata-se de uma inevitabilidade estatística, alguma percentagem dos procuradores e dos juízes exerce com doença mental não detectada pelo próprio, sua família e/ou entidades responsáveis por essa aferição no sistema de Justiça.
Outro aspecto relevantemente político no episódio deste juiz está no discurso de extrema-direita que usou. Não se trata de um acaso, porque não é um acaso estar na actual extrema-direita populista uma reacção de negacionismo da racionalidade científica, democrática e liberal. Esse fenómeno tem longínquas causas, desvairados factores influenciadores e inscreveu-se na história da civilização de uma forma espantosa com a vitória de Trump e a violência irracionalizante que espalhou e acirrou numa escala considerada impossível antes de a termos visto acontecer. Figuras como Trump, e como Ventura que lhe imita o feitiço, atraem quem esteja cognitivamente depauperado; seja por carência de literacias e formação intelectual, seja por estados doentios em desenvolvimento ou em actividade, seja por tudo isto ao mesmo tempo. Para dizer que alguém é “maçom”, e que é por isso que chegou a director da PSP para ser um “pau mandado do Governo”, não é preciso ter grandes estudos nem ter ao dispor uma grande inteligência. Será precisamente ao contrário. Onde está “maçom” ponha-se “corrupto” ou “socialista” e depois conte-se quantos no espaço público, muitos desses com papéis de representação política e social, repetem o bordão.
Não, este juiz não é perigoso agora que está exposto. Perigoso é estoutro, chamado Manuel Soares. Do muito que revela nesta entrevista – “Há pessoas que entraram pobres na política, saíram ricas e riem-se de nós” – o título escolhido pela TSF e JN c’est tout un programme do justicialismo populista que invade a cachimónia de figuras gradas no Estado e na sociedade. Infelizmente, dado não existir imprensa em Portugal, nenhum dos dois jornalistas presentes teve tempo para lhe pedir os nomes desses ex-pobretanas que andam agora por aí a rir e a gargalhar à nossa custa. Era giro saber de quem fala este juiz tão decente e honrado que até lidera o órgão que representa sindicalmente os juízes portugueses, né? Azar do caralho, perguntassem.
O melhor da entrevista, para mim, está neste naco:
Revê-se mais na justiça de Carlos Alexandre ou na de Ivo Rosa?
Revejo-me nas duas. Revejo-me na justiça que absolve quando não se provou que uma pessoa cometeu o crime ou que nega uma escuta telefónica quando não há indícios suficientes, como me revejo numa outra em que, se há uma investigação importante e se a Polícia ou o Ministério Público trazem indícios suficientes para pedir uma busca, uma prisão preventiva, o tribunal deve deferir.
Pois bem, bute lá traduzir:
«Eu, Manuel Soares, em nome de 2 300 associados que representam 95% dos juízes, penso que o Carlos Alexandre condena mesmo quando não se provou que uma pessoa cometeu o crime e que despacha escutas telefónicas mesmo sem indícios suficientes, e mais penso que o Ivo Rosa não acolhe os pedidos de busca e de prisão preventiva do Ministério Público, nem mesmo quando existem indícios suficientes.»
Aqui entre nós, Manel, aconselho-te a pensares um bocadinho melhor no assunto caso te voltem a fazer a mesma pergunta. Cuidado com esses excessos de transparência.
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Vindo de quem tem autoridade e saber na matéria é outra loiça:
Uma vitamina por conceber
Posted: 03 Apr 2021 04:14 AM PDT
sábado, 3 de abril de 2021
António Costa está mais forte e aumenta distância para Rui Riopor estatuadesal |
(Rafael Barbosa, in Jornal de Notícias, 03/04/2021)
Líder socialista bate o social-democrata por larga margem na adesão à personalidade e às políticas. Na avaliação de desempenho, António Costa tem 40 pontos de saldo positivo, enquanto Rui Rio está em terreno negativo. Na confiança para primeiro-ministro, vale o triplo do adversário à Direita, revela sondagem da Aximage para o JN, DN e TSF.
Três meses depois de um primeiro frente a frente, António Costa está mais forte, enquanto Rui Rio estagnou. O líder socialista não só passa incólume pela terceira vaga da pandemia, como amplia a vantagem para o social-democrata, de acordo com o barómetro da Aximage para o JN, DN e TSF. É assim em todos os parâmetros: na adesão dos portugueses à personalidade e às políticas de cada um; na avaliação ao desempenho enquanto líderes partidários; e, finalmente, quanto à confiança para primeiro-ministro, com Costa a acumular 36 pontos de vantagem sobre Rio.
Foi em dezembro que o barómetro ensaiou um primeiro teste alargado à popularidade dos líderes dos dois maiores partidos. E já então a diferença entre Costa e Rio era significativa. Três meses depois, o fosso alarga-se, graças à popularidade acrescida do atual primeiro-ministro.
Quando se mede o gosto pelos líderes e pelas suas políticas, o socialista solidifica a sua base (ou seja, a resposta com maior número de escolhas): são agora 40% os que apreciam simultaneamente a personagem e as suas ideias (mais três pontos do que em dezembro).
O crescimento é ainda maior quando se mede os que apreciam a pessoa, independentemente das políticas - são agora 61% (mais sete pontos). Mas cresce também a adesão às políticas, independentemente da avaliação pessoal - são 50% (mais dois pontos).
RIO COM BASE SOMBRIA
A exemplo de dezembro do ano passado, a base do social-democrata é mais sombria: 35% não gostam nem do líder nem das ideias que defende, um pouco mais do dobro dos que manifestam uma adesão total (16%).
Quando se somam as parcelas que permitem medir o apoio às políticas, independentemente da personalidade, o resultado de Rui Rio também é baixo: 28% (igual a dezembro). No caso do gosto pela pessoa, e independentemente das políticas, a situação é um pouco melhor: 41% (mais um ponto percentual).
Em qualquer dos ângulos de análise - preponderância na imagem pessoal ou nas políticas - o líder do PSD tem sempre saldo negativo. Mas há algumas exceções, quando se decompõem os segmentos da amostra: o saldo pessoal é positivo no Norte e na Área Metropolitana do Porto; entre os homens; e nos que têm 65 ou mais anos. Já no que diz respeito às políticas, só os eleitores do PSD lhe garantem um saldo positivo.
COSTA FRACO À DIREITA
No caso de António Costa, a norma é averbar um saldo positivo, tanto na adesão à personalidade, como às políticas, ainda que neste caso a margem seja estreita. Aliás, é apenas neste ângulo de análise que se encontram duas exceções negativas: entre os que vivem na região Centro; e os que estão no topo da escala social.
Quando se tem em conta as preferências partidárias, a história é outra. Entre os socialistas, a personalidade e as políticas de Costa têm um apoio quase unânime, sendo igualmente elevado à Esquerda. À Direita o cenário é mais sombrio, em particular entre os eleitores do Chega e da Iniciativa Liberal. O saldo é também negativo entre os apoiantes do PSD (mas pelo menos um em cada três apreciam as políticas do socialista).
Uma das características que se mantém, de dezembro para março, no caso de Costa como no de Rio, é que os portugueses mostram-se bastante mais generosos na avaliação das qualidades pessoais do que na adesão às políticas. Uma das notáveis exceções é o grupo de portugueses mais pobres que, tanto na avaliação ao socialista, como ao social-democrata, mostram mais apreço pelas políticas do que pelas personagens. No caso do líder do PSD, juntam-se os inquiridos com 18 a 34 anos.
AVALIAÇÃO MENSAL
Não é apenas na adesão à personagem e às políticas que António Costa está em vantagem sobre Rui Rio. Na avaliação ao desempenho, que o barómetro da Aximage mede todos os meses, o socialista também alarga a liderança: tem 60% de notas positivas e apenas 20% de negativas, ou seja, um saldo positivo de 40 pontos (mais onze do que em dezembro).
Ao contrário, o social-democrata permanece em terreno negativo, ainda que seja de apenas um ponto (três em dezembro): são quase tantos os que dão nota positiva (33%), como os que dão negativa (34%). Os mais generosos com Rio estão no Sul e no Norte do país. No caso de Costa são os que vivem nas áreas metropolitanas de Porto e Lisboa.
Este padrão regional de suporte a cada um dos líderes repete-se na confiança para primeiro-ministro. Mas, no resultado global, a diferença é abissal: Costa recebe o triplo (54%) dos "votos" de Rio (18%). O social-democrata tem ainda um longo e difícil caminho a percorrer, se de facto tem ambições a substituir o socialista na chefia do Governo do país.
Os mais velhos
Os cidadãos mais velhos (65 ou mais anos) são particularmente generosos na adesão às qualidades pessoais dos dois líderes - 70% para Costa e 54% para Rio. Mas também são os mais críticos das políticas do social-democrata - 73% não gostam.
Os mais pobres
Quanto mais pobres, mais os portugueses apreciam as políticas de Costa (dois terços). Ainda que num patamar mais baixo (pouco mais de um terço), são também os mais pobres os que valorizam as políticas de Rio.https://
As mulheres
As mulheres são o ponto fraco do líder do PSD, na adesão à personalidade e na valorização das ideias: 50% não gostam da personagem, 62% contestam as políticas. No caso do líder socialista, há equilíbrio de género quanto às ideias e maior valorização das qualidades pessoais pelas mulheres.