Posted: 29 May 2021 03:53 AM PDT
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terça-feira, 1 de junho de 2021
segunda-feira, 31 de maio de 2021
Multitasking? Limitem-se a sorrir e acenar Posted: 28 May 2021 03:39 AM PDT
«Sempre que uma característica intrinsecamente feminina começa a ter muita publicidade, já sei que, algures, vai acabar mal para mim. À conta da aparente superior capacidade das mulheres para suportar a dor, há muito desmentida, negaram-me o exercício do meu direito fundamental a um parto sem sofrimento. Esqueci-me do primeiro mandamento na administração da epidural: contorcer-se de dores logo à entrada da maternidade, com um ar de ataque de histerismo iminente se não nos derem algo nos próximos segundos. Em pleno século XXI, aterrei no século XIX — porque, lá está, temos todas uma experiência milenar do programa. Há agora quem nos queira impingir o multitasking — uma competência inata para realizar diferentes atividades em simultâneo. Os homens, coitados, devido ao seu passado de caçadores e guerreiros, lá vão desempenhando uma série de tarefas ao longo do dia, mas só uma de cada vez. Em contrapartida, as mulheres, que ficavam na aldeia com um bebé em cada braço, desenvolveram uma aptidão natural para prestar atenção a várias coisas ao mesmo tempo. Talento que, afiançam-nos, herdamos todas à nascença. Os estudiosos do evolucionismo garantem não se tratar de um mito, apesar de reconhecerem o condão da sociedade em aproveitar as qualidades femininas para nos esmifrar. Talvez esteja na hora de tirar as devidas ilações e agradecer bem-educadamente, mas declinar firmemente o elogio. Sabendo que vai acabar connosco a dar a sopa com uma mão, enviar um e-mail com a outra e balançar um bebé a chorar com o pé direito enquanto recitamos a tabuada com o mais velho, mais vale prevenir do que remediar — ao reparar no nosso pé esquerdo livre, alguém ainda se vai lembrar de o aproveitar para nos pedir a confeção de uma deliciosa e nutritiva refeição. Não estou a denunciar um necessário complô do heteropatriarcado contra as mulheres. Antes do advento do GPS, quantos homens acabaram perdidos à custa do seu inato sentido de orientação? Um digno herdeiro dos caçadores e guerreiros só precisa do mapa para ir do ponto A ao ponto B. Jamais abrirá a janela para pedir ajuda, mesmo que acabe em Espanha a encher o depósito. Quantos têm em casa uma estante da IKEA torta por abandono das instruções a meio? Quando se trata, na realidade, de uma questão de geografia: só os portadores de genes escandinavos estão em situação de arriscar a montagem de um carrinho Råskog sem seguir todos os passos preestabelecidos — sim, há estudos a suportar esta afirmação. Ao ouvir muito barulho a propósito de uma competência inerente ao género feminino, aconselha-se imediato ceticismo. Podem louvar à vontade a minha vocação para fazer tudo ao mesmo tempo, vou manter que só dou conta de um recado de cada vez — e com dificuldade. Caso insistam, estou em posse de vários estudos a demonstrar como homens e mulheres são igualmente improdutivos quando obrigados ao multitasking. O mito pode, inclusive, pôr em risco a vida em sentido literal — e também tenho estudos a comprová-lo. Como a obstetra que assistiu ao parto acima descrito só acalmou com a chegada de uma parteira, cheguei a duvidar se não seria ortopedista. Perante a minha perplexidade, explicou que, sozinha, não conseguia concentrar-se devidamente na sua função principal e verificar se era necessário realizar um ato médico. Tivesse ela acreditado piamente que era capaz de fazer um parto enquanto mantinha um olho no monitor cardíaco fetal e algo podia, de facto, acabar a correr mal.» |
A lição de dignidade da família Coxi
Posted: 26 May 2021 03:32 AM PDT
A direita na sua bolhapor estatuadesal |
(Daniel Oliveira, in Expresso Diário, 25/05/2018)
A direita está cada vez mais tribal. Metida numa bolha onde se ouvem uns aos outros numa espiral de indignação, quase todos os seus protagonistas falam em modo histriónico. Vemos todos os sinais: a grupusculização que foi apanágio da esquerda, substituição do programa pelo panfleto ideológico, hiperbolização do discurso, que banaliza palavas como “ditadura” ou “censura”. Isto não é a direita a reerguer-se, é um beco sem saída, que a afasta, no discurso e nos resultados, do país. O problema não é o PSD ter 22% (Intercampus), é toda a direita ter 37%. A radicalização está a fazer crescer o extremo, mas a encurtar o conjunto da direita.
Começa esta terça-feira mais uma sessão da “Aula Magna das Direitas”, como lhe chama a comunicação social. O encontro do Movimento Europa e Liberdade, que não conta com a “direita fofinha” mas terá a “esquerda corajosa” – linguagem de grande parte dos promotores, que só apreciam a heterodoxia do lado de lá da barricada – tem apenas um significado: consequente com o seu discurso e várias decisões recentes, Rui Rio coloca-se no mesmo campo político de André Ventura. “Aula Magna das Direitas” é uma imagem que os jornalistas foram buscar às sessões que, à esquerda, se realizaram da Reitoria da Universidade de Lisboa, nos anos duros da crise económica. O paralelo não é fácil, porque a esquerda estava em crescendo na sua capacidade de fazer oposição e o Governo vivia uma grande impopularidade. Agora, a oposição de direita está em crise e António Costa é um primeiro-ministro popular.
De tanto ver subidas e descidas de cada partido de direita pouca gente presta atenção a um facto: com uma pandemia e uma crise económica, a direita parlamentar totaliza, segundo a última sondagem da Intercampus, 37,1% dos votos. Se é relevante que o PSD, com 21,7%, perca votos para a extrema-direita (com 8,3%), é bem mais relevante que não consiga sequer beliscar o centro. A crítica que se faz a Rui Rio é a de que é pouco firme e por isso não segura o voto da direita que está irritada com António Costa. O que devemos perguntar é porque é que não consegue que o centro se irrite com a esquerda.
Já escrevi várias vezes sobre o disparate estratégico e tático de Rui Rio ir abrindo cada vez mais as portas a entendimentos com o Chega. Esse discurso garante-lhe perdas para os dois lados. Os que querem uma direita mais dura, mas capaz de governar, percebem que o voto no Chega não é perdido e rumam para ele. Os que, querendo uma alternativa ao PS, não querem um governo que dependa de Ventura, percebem que o PSD não lhes dá essa garantia. Rui Rio perde a direita para o Chega e o centro para o PS.
Mas há uma coisa um pouco mais profunda do que isso. A direita está cada vez mais tribal no seu discurso. Parece exuberante e forte nas redes sociais, onde o exagero se dá bem. Mas o país é outra coisa. Metida numa bolha onde se ouvem uns aos outros numa espiral de indignação que não é acompanhada pela maioria dos portugueses, quase todos os seus protagonistas falam em modo histriónico.
Só nas últimas semanas, Rui Rio elogiou um discurso de Alberto João Jardim em que o ex-presidente do governo regional da Madeira comparou António Costa a Nicolas Maduro (na verdade, gostou no discurso porque batia nos seus opositores internos, únicos que realmente lhe interessam). João Cotrim Figueiredo deu a entender que achava que o Papa Francisco é socialista, no que foi acompanhado por Ventura. Carlos Moedas falou de “medo” em Lisboa e disse que a esquerda o odiava. Até Duarte Pacheco, candidato a Torres Vedras, disse que ali se vivia uma ditadura socialista para depois da morte do “ditador” lhe tecer rasgados elogios, mostrando que a palavra “ditadura”, que em tempos era utilizada com gravidade, não tem grande significado nos discursos de campanha. E já nem falo da candidata para a Amadora, que há quatro anos seria considerada inaceitável por todos os partidos parlamentares, a começar pelo CDS (que retirou o apoio a André Ventura, em Loures).
A direita vive o seu PREC e, como Vasco Gonçalves em Almada, parece acreditar que este é o tempo em que o processo revolucionário depende de uma minoria e deve radicalizar-se. Vemos todos os sinais: a grupusculização que outrora foi apanágio da esquerda, a divisão entre a direita a sério e a direita “fofinha”, a substituição do programa pelo panfleto ideológico (de que a Iniciativa Liberal é um bom exemplo), a hiperbolização do discurso, de que a banalização de termos como “ditadura” ou “censura” são exemplos. Mas a esmagadora maioria dos portugueses não vive no Twitter e não se sente a caminho da Venezuela.
Ao contrário do que os mais excitados pensam, isto não é a direita a reerguer-se, é um beco sem saída, que a afasta, no discurso e nos resultados, da maioria do país. Quando Rui Rio faz ironia com as suas quedas nas sondagens, apesar do Novo Banco e de Odemira, apenas demonstra não perceber os efeitos do caminho que está a percorrer. O problema não é o PSD ter 22%, é toda a direita ter 37%. A radicalização está a fazer crescer o extremo, mas a encurtar o conjunto da direita. E ao ouvir os vários candidatos autárquicos do PSD parece ser uma corrida para o abismo.
Coimbra — O fascismo desceu à ruapor estatuadesal |
(Carlos Esperança, 29/05/2021)
O partido fascista e o seu mentor e líder decidiram poluir a cidade de Coimbra com o 3.º congresso e desfilaram pelas ruas sem as camisas azuis, mas com os tiques do ignóbil pintor de tabuletas que mora na alma dos seus apaniguados.
Têm toda a legitimidade para o fazerem, depois de o Tribunal Constitucional legalizar a confraria, com o delinquente à frente e o grupo que acrescentou à poluição ideológica a sonora. É a superioridade da democracia, que consente aos seus inimigos o que eles não permitiriam se fossem poder.
A escolha simbólica do dia 28 de maio para o início da reunião tribal, que se prolongará até ao dia 30, não surpreende quem conheceu os horrores do fascismo.
O que incomoda é o tempo de antena que a RTP, canal público, concede à propaganda fascista numa publicidade gratuita e cúmplice dos interesses que financiam, promovem e influenciam a ideologia fascista.
Não faltam, nas redes sociais, nostálgicos do salazarismo e órfãos do cavaquismo e do passos-coelhismo, democratas contrariados, a carpirem a ausência do “nosso ultramar infelizmente perdido”, mas é a cobertura dos média da esfera pública que perturba os que têm memória da ditadura, sobretudo os que lambem as feridas da guerra colonial.
Defender o direito à existência dos fascistas não é contemporizar com o nacionalismo e o populismo que os alimenta, é defender o único sistema que permite ser derrubado nas urnas.
Somos chamados a defender as liberdades que os militares de Abril nos outorgaram e é dever de todos os democratas defendê-las perante a horda que uiva, ulula e intimida.
Apostila - Não faltam neste mural visitantes fascistas a perturbar os comentários. Não devem os democratas alimentar-lhes a conversa.