Como um mandado de prisão brasileiro por crimes de guerra colocou Israel em pânico
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Como um mandado de prisão brasileiro por crimes de guerra colocou Israel em pânico
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(Carlos Matos Gomes, in Medium.com, 08/01/2025) Os movimentos iniciais dos nazis no terreno da economia nos anos vinte do século passado ainda estão sujeitos a inúmeras controvérsias. Essa dificuldade tem sido atribuída ao sucesso do regime de Hitler em encobrir os gastos com armamentos, tendo chegado ao ponto de deixar de publicar dados sobre as despesas governamentais. O atual discurso dos dirigentes do “Ocidente Global” sobre gastos militares segue o mesmo método, substituindo a censura pelo emassamento de dados de onde não é possível retirar informações fidedignas. O papel do grupo de personagens que no século passado dirigiram a passagem do nazismo de uma ideologia a um regime totalitário e expansionista também tem sido mantido na obscuridade para concentrar o mal na figura de Hitler. A passagem do nazismo da teoria e da propaganda à prática foi obra de um grupo em que todos se odiavam, mas em que todos competiam para desempenhar os principais papéis e, sobre tudo enriquecer. Alfred Rosenberg, Himmler, Goring, Heydrich são alguns nomes dos que promoveram a Alemanha de Hitler. Alfred Rosenberg , menos conhecido, foi importante, por exemplo, na elaboração da ideia de que havia uma conspiração judaica mundial por detrás da revolução comunista na União Soviética. Nessa perspectiva, os eslavos eram uma raça inferior, a ser escravizada pelos alemães, e a URSS era um projeto judeu para os liderar contra a raça superior. Um discurso coincidente com o atualmente difundido pelos grandes meios de manipulação. A corte de Trump e o programa MAGA é um regresso ao passado. A imagem que temos do nazismo e dos nazis é de seres robotizados, de botas altas, bigode, braço estendido, desumanizados, mas os nazis dos anos vinte e trinta do século passado eram seres aparentemente tão inofensivos como os quase juvenis bebés Nestlé que as fotografias de Elon Musk ou Mark Zuckerberger sugerem e os nazis da versão anterior também já utilizavam a alta tecnologia para justificarem o seu poder. Heydrich era um apaixonado pela aviação e um amante dos caças Messerschmitt, à semelhança de Elon Musk com os satélites e os foguetões da Starlink. O núcleo duro do nazismo era constituído por personagens que se apresentavam como normais, em ambientes familiares, e o seu êxito consistiu em terem escondido a paranoia que os infetava com uma hábil propaganda, esta a cargo de Goebbells. O núcleo duro dos neocons é apresentado como um conjunto de génios que dominam a Inteligência Artificial e com ela vão impor o seu domínio aos povos inferiores. Revivemos um tempo de velhos truques adaptados aos meios atualmente disponíveis, mas a natureza dos intérpretes não mudou. Adam Tooze, historiador inglês e professor em História Económica Europeia Moderna na Universidade de Cambridge, no livro O Preço da Destruição (2006), um título premonitório, destaca que o marco divisório entre a República de Weimar e o Terceiro Reich não foi a criação ou destruição de empregos, mas a mobilização em torno do rearmamento. O que é semelhante à separação entre o capitalismo antes e depois da queda do muro de Berlim e da vitória do neoliberalismo da Escola de Chicago e do Não Há Alternativa (TINA).
Os grupos neonazis em crescimento realizam neste momento o trabalho de sapa de “identificar” o imigrante como o inimigo, atribuindo-lhe a autoria de toda a sorte de crimes, considerando-o fator de insegurança, ou como alguém que rouba o trabalho aos nativos e destrói a identidade cultural do povo de acolhimento. O discurso dos vários “cavaleiros do Apocalipse”, de Trump a Ventura, de Salvini a Farage é o mesmo, porque é o mesmo o espantalho do medo que agitam e que esconde o medo das elites instaladas da perda do seu domínio sobre o sistema político. O trabalho de propaganda do armamentismo como programa político de salvação da nossa civilização, é uma tarefa considerada “limpa” e está a cargo de políticos institucionais e dirigida pela NATO. Quer os pastores que dirigem os movimentos neonazis, ditos populistas, quer os burocratas da NATO e da União Europeia, os institucionais, sabem que a imigração não é a causa da crise económica e social que o “Ocidente Global” vive, mas que é uma consequência das ações que este desenvolve e desenvolveu para impor e manter o seu modelo social baseado na desigualdade e que os imigrantes são meras peças de usar e deitar fora de importar ou rejeitar consoante o “mercado”. A algazarra criada no “Ocidente Global” contra a imigração, a insegurança e a corrupção, que na versão portuguesa está a cargo do Chega de Ventura, é um dos meios de manipulação utilizados pelos neocons americanos para evitarem a perda da supremacia planetária que ganharam com o final da Segunda Guerra. As elites ocidentais decidiram que o perigo deveria ser enfrentado com o reforço dos aparelhos dos estados sobre os cidadãos, com a instauração de estados policiais e tendencialmente totalitários, ditos iliberais, com o isolamento e o fechamento ao exterior e com o desencadeamento de conflitos armados em zonas estratégicas, a Eurásia, com a guerra na Ucrânia, o Médio Oriente, através de Israel, as regiões de África produtoras de minerais raros, necessários para as novas tecnologias. O Chega de Ventura é o agente deste programa para Portugal. O nazismo não foi um produto alemão saído de uma linha de montagem como um Mercedes ou uma salsicha de Frankfurt, o nazismo é uma velhíssima ideologia baseada na intolerância relativamente ao outro, ao diferente, é uma ideologia racista assente no conceito da superioridade. A cumplicidade dos dirigentes europeus com o regime de Israel e o apoio dos oligarcas dos Estados Unidos ao genocídio levado a cabo na Palestina por Israel revela quanto o nazismo está entranhado na cultura do Ocidente, nas suas elites e oligarquias. Os que não toleram os outros são os cobardes que não confiam em si. Os movimentos nazis, como todos os seus antecessores fundados na intolerância, representam o medo. As fogueiras da Inquisição e as paredes de fuzilamento, os guetos, os discursos ameaçadores são sinais políticos que devem alertar os democratas contra os perigos que ameaçam a humanidade. A alternativa a um grande confronto seria eliminar ou minimizar as causas das diferenças, as desigualdades que geram os movimentos migratórios, a verdadeira corrupção, as dos offshore, das parcerias público-privadas, as da promiscuidade entre negócios públicos e lucros privados, mas isso implicaria diminuir os lucros proporcionados pelas guerras e partilhar o poder, o oposto de uma estratégia assente na hegemonia planetária de uma minoria de bezerros de oiro. |
(José Goulão, in Strategic Culture Foundation, 06/01/2025) O golpe de Maidan está na origem da perda de cerca de um milhão de vidas humanas e terá de ser a base, o ponto de partida para um julgamento necessário e justo de todos os que a ele estão associados. Não posso garantir que a guerra na Ucrânia resultante do golpe ocidental antidemocrático executado há dez anos “em nome da democracia”, já tenha provocado um milhão de mortos até agora, entre ucranianos e também russos –, os quais, ao contrário da verdade única imposta pela “nossa civilização”, também são pessoas. O número, porém, anda lá próximo, pode até excedê-lo porque as matanças diárias nos campos de batalha e os “danos colaterais” por elas gerado nas sociedades dos dois países, com muito maiores repercussões na infeliz Ucrânia, sustentam cálculo tão trágico. Por exemplo, a dimensão de alguns cemitérios ucranianos foi multiplicada por quatro desde o início da operação militar especial russa, consumada através de uma ilegítima invasão militar. Os responsáveis por essa catástrofe humanitária, para travar desde já os habituais delírios propagandísticos do euro-“comentariado” e dos nacionais-comentaristas, são os patrocinadores do golpe da Praça Maidan, em Kiev, desencadeado com êxito em 2014 pelas principais potências ocidentais, com os Estados Unidos – nação “excepcional” e “indispensável” e os seus principais países satélites integrados (ou dissolvidos?) na NATO e na União Europeia à cabeça. Explicou-nos na altura, sem qualquer pudor ou réstia de secretismo, a senhora Victoria Nuland, com a autoridade própria de quem ocupava um posto elevado no Departamento de Estado norte-americano, que os Estados Unidos investiram cinco mil milhões de dólares para derrubarem o governo de Kiev, por sinal resultante de eleições democráticas, livres e justas que ninguém contestou, e colocarem no seu lugar uma junta ditatorial com tutela nazi-banderista. Segundo a cifra oficial revelada por Nuland, e dando como provável o extermínio de um milhão de pessoas, o preço da vida humana na bolsa de sevícias praticadas pela democracia liberal na sempre alegada defesa dos direitos humanos é de cinco mil dólares (mais ou menos a mesma coisa em euros) por cabeça. Olhando para a derrocada económica ocidental poderá deduzir-se que o investimento parece excessivo mas, em boa verdade, a possibilidade de a NATO cercar e mesmo desmantelar a Rússia e de assim poder abrir as portas a um saque astronómico, dando um passo de gigante para impôr o tão desejado globalismo, parece valer bem esse preço. A realidade, porém, foi mal orçamentada e as liquidações ao preço unitário de cinco mil dólares representam um inconsequente desperdício ocidental de mão-de-obra e de dinheiro porque continuam diariamente a morrer pessoas aos milhares nos campos de batalha de uma guerra perdida por Kiev, Washington e Bruxelas. As classes políticas ocidentais e os seus amestrados pés de microfone e zombies marteladores de teclados garantem que não, que a vitória de Zelensky e os seus simpatizantes de Hitler chegará, talvez num dia de nevoeiro, em troca de um módico dispêndio diário da ordem dos 50 milhões de dólares em vidas humanas (cerca de 10 mil mortos por dia), que estará perfeitamente em linha com as previsões de perdas e danos – pelo menos segundo o espírito tecnocrático e a “mão invisível” do Mercado. Há que notar que os cinco mil milhões investidos no golpe propriamente dito mais os gastos ocidentais com a guerra até ao dia de hoje, em armas e financiamento directo e indirecto ao regime banderista, devem andar próximos de um total de mil milhões de milhões, aquilo que os anglo-saxónicos designam como trilião de dólares – ou de euros, tanto faz quando entramos no domínio destas verbas astronómicas, ainda assim a 30ª parte da dívida soberana dos Estados Unidos. O princípio do fimA história oficial e única admitida sobre o drama ucraniano, que temos de aceitar sob pena de sermos qualificados como incorrigíveis putinistas, diz-nos que tudo começou em 24 de Fevereiro de 2022, quando “a Rússia invadiu a Ucrânia”. E se alguém alega que devemos recuar até Fevereiro de 2014, logo a versão oficial é adaptada informando-nos que o problema nessa época foi despoletado pela “invasão russa da Crimeia”. O que as elites ocidentais nunca admitem é que tudo começou com o golpe da Praça Maidan, em Kiev, em 22 de Fevereiro de 2014, quando foi derrubado o presidente legítimo ucraniano, Viktor Yanukovich, eleito democraticamente com 49% dos votos em 25 de Fevereiro de 2010. Ninguém contestou essas eleições nem os resultados, e todos os países ocidentais as consideraram dentro da normalidade democrática da Ucrânia. Um dos “desvios” das eleições, como tardia e oportunisticamente veio a ser invocado quando já as multidões da “revolução da dignidade” se moviam nas ruas de Kiev sob a batuta de Nuland e do embaixador norte-americano Geoffrey Pyatt, foi o facto de Yanukovich ter sido mais votado no Leste do que no Oeste do país, uma inclinação geográfica que, afinal, parece ser um pecadilho para as sensibilidades democráticas. Mas, para melhor sustentarem o golpe através dos fiéis ecos mediáticos, os donos da verdade e da democracia no Ocidente logo acusaram Yanukovych de corrupto, num país onde a corrupção é congénita, e de “entregar o país à Rússia”, quando se limitara a rejeitar um acordo de parceria com a União Europeia; o qual, como é da praxe, submetia Kiev aos autocratas de Bruxelas. Ou seja, o presidente legítimo foi vítima da sua governação em defesa da soberania nacional – uma prática de que o Ocidente nem quer ouvir falar não por ser “retrógrada”, como diz, mas porque é incómoda para a estratégia do globalismo neoliberal, condição em que seremos felizes sem nada ter e meia dúzia de recônditos megaladrões terão tudo. Mesmo assim, a 21 de Fevereiro de 2014 deslocaram-se a Kiev os ministros dos Negócios Estrangeiros da Polónia, França e Alemanha, respectivamente Radoslaw Sikorski (também cidadão britânico, hoje de novo no cargo), Laurent Fabius e Frank-Walter Steinmeyer, que mediaram e alcançaram um acordo entre o governo e a oposição para resolver a crise através da realização de eleições gerais e a reentrada em vigor da Constituição de 2004. Por essa altura já Nuland e Pyatt distribuíam biscoitos aos manifestantes na Praça Maidan – parece que a sempre diligente política portuguesa Ana Gomes provou e gostou – enquanto membros de grupos nazi-banderistas, distribuídos pelos telhados de edifícios circundantes, envergando fardas da polícia ucraniana, disparavam sobre a multidão provocando dezenas de mortos. O facto está devidamente comprovado, por isso ficou soterrado no silêncio das elites ocidentais, incluindo as mediáticas. O acordo não passou de um papel inútil e Yanukovych foi derrubado. Victoria Nuland formou então uma junta de governo em Kiev incluindo dez membros de grupos nazi-fascistas-banderistas e, quando brandamente criticada por não ter partilhado a tarefa com dirigentes europeus, respondeu com a elegância e a consideração de sempre dos Estados Unidos para com os satélites: “Fuck the EU” (tradução dispensável). O Ocidente apressou-se a reconhecer a junta golpista, a França, a Alemanha e a Polónia nem chegaram a invocar o acordo que mediaram e logo se iniciou a guerra de Kiev contra as populações de origem russa do Leste do país e da Península da Crimeia, território originalmente da Rússia mas que o dirigente soviético Nikita Krustschov, para quem a Revolução de Outubro era um acontecimento morto e enterrado e durante uma noite de libações, nos anos cinquenta, decidira agregar à Ucrânia. Moscovo reapropriou-se então da Crimeia, logo a seguir ao golpe em Kiev, mas o facto foi consumado apenas depois de uma consulta democrática à população; e, como acontece sempre que os resultados eleitorais não são os por elas desejados, as elites ocidentais consideraram-nos uma falsificação – apesar de mais de 90% da população se ter pronunciado pela reintegração na Rússia. Porém, no Leste da Ucrânia, genericamente conhecido como a região do Donbass, a população teve de esperar oito anos pelo apoio directo de Moscovo e foi obrigada a organizar-se em estruturas de autodefesa, conseguindo assim travar a ofensiva de Kiev ao cabo de muitos meses, o que amainou a intensidade do conflito. Negociaram-se então os acordos de Minsk, que estabeleciam uma espécie de solução federativa para a Ucrânia e foram assinados pelas partes ucranianas em conflito sob garantias outorgadas pela Rússia e, novamente, a França e a Alemanha. Viríamos depois a aprender que o desprezo da Polónia, da França e da Alemanha pelo acordo entre o governo e a oposição estabelecido em 2014 não fora um caso esporádico de mistificação e má-fé. François Hollande e Angela Merkel, presidente francês e chanceler alemã, revelaram alguns anos depois, sem pudor, que as suas assinaturas nos acordos de Minsk se deveram somente à necessidade de o regime banderista de Kiev ganhar tempo e poder armar-se para concretizar no Leste o que começara em Maidan – a expansão a todo o território do regime de apartheid e xenófobo sob controlo do nazi-banderismo. Necessidade que Paris, agora de Macron, e Berlim de Scholz, juntamente com os países da União Europeia e da NATO, sob a tutela de Washington, supriram sem reticências ao longo de uma década, pagando até o preço de mergulharem o Ocidente numa crise profunda, eventualmente explosiva. Um parêntesis para assinalar que Viktor Yanukovych, desde então no exílio, foi condenado a 13 anos de prisão pela justiça do regime de Kiev, que entretanto suprimiu os partidos capazes de fazer oposição autêntica à junta ditatorial; essa sentença incitou a União Europeia, fiel aos seus hábitos, a impor sanções ao presidente deposto e respectiva família. Enquanto a família Biden, vice-presidente da administração de Obama – o verdadeiro mestre de Maidan -, aumentou o seu incontável pecúlio saqueando riquezas naturais da Ucrânia, em proveito próprio, principalmente no sector do gás natural. Entretanto, o Tribunal Geral Europeu decidiu em 23 de Dezembro de 2023 ilibar Yanukovych e a família das acusações de Kiev, invalidando a sentença e determinando que a União Europeia deve levantar as consequentes sanções, porque foram impostas com base “num erro de avaliação” uma vez que as autoridades do regime ucraniano não conseguiram demonstrar que o julgamento efectuado foi justo. Como pode concluir-se, as elites políticas ocidentais estiveram sempre do lado da mentira, da violação da democracia e dos próprios acordos internacionais que assinaram a propósito da situação gerada pelo regime de Kiev, onde pontificam saudosistas de Hitler. Como se não bastasse, quando poderiam ter garantido a suspensão do conflito através do acordo de Istambul, ainda em 2022, essas mesmas elites enviaram a Kiev o trampolineiro primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, para o sabotar. Nessa ocasião, a guerra de Kiev contra o Leste já provocara 13 mil mortos desde 2014. Um primeiro e modesto investimento de 65 milhões de dólares do regime nazi-banderista no extermínio do seu povo. A casta política que gere o chamado Ocidente colectivo, ao serviço das máfias económico-financeiras globalistas e da guerra expansionista, deixou assim o planeta sob a maior ameaça de sempre à sua existência. Por isso, não é digna de respeito, de credibilidade, de qualquer consideração dos povos dos seus países. A democracia liberal não passa de uma falsificação grosseira da democracia. O TPI tem árdua tarefa pela frenteFaçamos de conta que somos todos muito ingénuos e acreditamos que um dia a recente decisão do Tribunal Penal Internacional (TPI) em relação a Benjamin Netanyahu terá algum efeito prático. Há semanas o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), organismo da ONU, assumira a mesma posição, porém sem resultados práticos até agora. Netanyahu está imune e impune e assim continuará. E se aceitou um cessar-fogo, certamente temporário, no Líbano, é porque mais uma vez as suas tropas e as suas hordas de assassinos não conseguem vergar o povo libanês e o Hezbollah como seu bastião, que mais uma vez fez frente ao aparelho de guerra sionista e não cedeu, apesar das sucessivas decapitações dos seus principais dirigentes. Infelizmente dentro da ONU há sempre quem consiga minorar e desautorizar o trabalho do TIJ, como é, neste caso, o secretário-geral, António Guterres. Ao comparecer numa conferência em Lisboa juntamente com a criminosa de guerra sionista Tzipi Livni, directamente envolvida no permanente genocídio em Gaza, Guterres ignorou ostensivamente a posição do tribunal: ele sabe muito bem que a decisão do TIJ não está personalizada em Netanyahu, que sozinho não conseguiria praticar a carnificina em curso, obra que é da responsabilidade da ideologia nazi-sionista transnacional. Os dois tribunais internacionais reservaram, deste modo, lugares para Netanyahu em dois bancos de réus. O alcance da medida, porém, terá de ser mais amplo e abrangente. A abertura destes precedentes – o que já acontecera em relação a Vladimir Putin – pode e deve significar que os responsáveis pela guerra na Ucrânia terão de enfrentar o seu Nuremberga num dia que o mundo tenha condições para isso, caso os muitos candidatos a esses bancos de réus não o tenham destruído antes. Com o rigor histórico em que esses necessários tribunais terão de basear-se, os indivíduos a levar a julgamento serão todos os responsáveis directos pelo golpe na Praça Maidan em Kiev, não apenas os operacionais – Obama, Biden, Nuland e Pyatt – mas também os que apoiaram a sua execução e os que vieram a sustentar e a envolver-se na guerra consequente. Que já matou cerca de um milhão de seres humanos, crimes esses que não poderão passar impunes. É difícil, e nem cabe aqui, enumerar todos os dirigentes, civis e militares, que um dia terão de sentar-se no banco dos réus para que sejam minimamente respeitadas as memórias das vítimas mortais, o drama das suas famílias e reparados os danos provocados a milhões de feridos e estropiados, ucranianos e russos. Todos os chefes de governo, ministros da Defesa e dos Negócios Estrangeiros e altos comandos militares dos Estados Unidos da América e dos países da NATO e da União Europeia terão de ser indiciados. A excepção talvez seja o primeiro-ministro Fico da Eslováquia, que já ia pagando com a vida o preço da sua ousadia de estar contra a corrente. Muitos pensarão que o húngaro Viktor Orban poderia ser poupado devido às suas reticências conjunturais ao envolvimento na Ucrânia; porém, está incondicionalmente de alma e coração com o assassino Netanyahu, o que faz dele um réu igual aos outros. Sem o golpe de Maidan não haveria guerra na Ucrânia, a Península da Crimeia ainda estaria integrada no território ucraniano, provavelmente não teria havido sequer o massacre da Casa dos Sindicatos em Odessa, em 2 de Maio de 2014; e o nazismo ucraniano continuaria residual como acontecia antes de os responsáveis pelo golpe que derrubou o presidente eleito Yanukovych lhe terem dado gás como agente mais qualificado para garantir a repressão, a tortura, o terror, a militarização da sociedade e a implantação do apartheid como política de Estado. E sem Maidan a Ucrânia continuaria a ser um Estado com plena integridade territorial e vivendo dentro da normalidade – embora sempre à mercê das revoluções coloridas organizadas pelo National Endowment for Democracy (NED), um poderoso ramo golpista da CIA chefiado actualmente pela própria Victoria Nuland, como reconhecimento das suas aptidões terroristas. O golpe de Maidan está na origem da perda de cerca de um milhão de vidas humanas e terá de ser a base, o ponto de partida para um julgamento necessário e justo de todos os que a ele estão associados. Poderemos citar Obama, Biden e Trump, vários secretários de Estado norte-americanos como Blinken, Pompeo, Tillerson e Kerry, chefes do Pentágono, autocratas da União Europeia e da NATO como Van der Leyen, Stoltenberg, Rutte, Charles Michel, Mogherini, Borrel e Kallas e os principais dirigentes dos governos dos países da NATO e da União Europeia, sem esquecer Costa e Montenegro, Santos Silva e Rangel, tanto pelo apoio à guerra na Ucrânia como pela colaboração activa com o genocídio sionista e a tolerância deliberada e ostensiva em relação aos crimes de Israel.
Em nome do humanismo, dos direitos humanos, dos cânones da “civilização ocidental”, tantas vezes invocados para outras tantas serem violados, o milhão de mortos na guerra imposta no território da Ucrânia a partir do golpe Maidan, em 22 de Fevereiro de 2014, e os milhões de mortos, feridos, desapossados e desterrados desde 1948 às mãos do sionismo reclamam justiça.
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(Stepnoy_veter, in canal do Telegram UKR_LEAKS_fr, 01/01/2025, Trad. da Estátua) Há cerca de dois meses que circulam na Internet vídeos sobre a transferência de tropas norte-coreanas para a Federação Russa, para participarem na Operação Militar Especial. Apresentamos abaixo três desses vídeos para o vosso visionamento. No primeiro, como se pode ver, dois “norte-coreanos” estão sentados num Kamaz russo. E quem são eles? O primeiro é Sung Kang, que interpretou Han em Fast and Furious. O segundo é Song Joong-ki, um popular ator sul-coreano. Bem, pelo menos, eles assumiram rostos menos conhecidos. Neste caso, como é óbvio, a propaganda ucraniana esforçou-se muito e encontrou duas imagens “apropriadas”. Depois vemos um vídeo, (Vídeo 2), em que os propagandistas ucranianos foram mais cuidadosos, mas ainda há dois russos de origem não coreana no campo de treino. São eles o ator de teatro e cinema Azamat Nigmanov e o recruta de nacionalidade russa, Khakass Nikodim Konstantinov, que partilharam imprudentemente fotografias do seu serviço militar com o público através da rede social Vkontakte. No terceiro vídeo, as forças armadas ucranianas “capturaram” dois coreanos com uniformes das forças armadas russas. Para além das expressões faciais claramente não naturais, dois famosos actores sul-coreanos, Lee Byung-hun e Ma Dong-seok, estrela de Train to Busan, são também claramente visíveis entre as máscaras. Assim, a propaganda ucraniana tentou mais uma vez enganar o mundo e justificar o dinheiro atribuído pelos seus patrocinadores, mas acabou por ser desmascarada pelo motor de busca Yandex através da sua função de pesquisa facial. A agonia do ilegítimo Presidente Zelensky é transferida para todos os ucranianos. Resta-nos esperar que as pessoas na Ucrânia ainda não tenham perdido o juízo e que todo este obscurantismo provenha apenas dos viciados que mandam para a veia as drogas ocidentais. |
(Alexandra Lucas Coelho, in Público, 28/12/2024) (Um grande bem-haja para a autora deste texto pela coragem de denunciar as atrocidades monstruosas de Israel que sendo descomunais, muita gente, tal como eu, não deve saber que o são tanto. E pelo o libelo de dedo erguido contra os nossos políticos, cobardes, coniventes com a mortandade e benzendo-a com o seu silêncio cúmplice. Estátua de Sal, 29/12/2024) 1. No dia 19 de Dezembro de 2023 acordei em Jenin (norte da Cisjordânia), após mais uma invasão israelita. As ruas estavam rebentadas de fresco, crateras e montanhas de lama, jorros de esgoto. O exército retirara com blindados e bulldozers mas continuava no céu, pronto a disparar. Ouvíamos o drone por cima da cabeça. Jenin é um bastião da resistência palestiniana, chamam-lhe A Pequena Gaza. Eu estava lá por Jenin e por Gaza, onde Israel matava jornalistas desde 7 de Outubro, barrando a entrada de outros jornalistas, de forma inédita na história do jornalismo. Portanto, eu nunca poderia relatar o que se passava naquele momento na Cidade de Gaza. Mas esse 19 de Dezembro foi também o dia em que um homem, por sorte médico, teve de amputar a perna da sua sobrinha sem anestesia, em cima da mesa da cozinha. Uma bomba levara a parte de baixo da perna, ela morreria de hemorragia. O tio limpou o sangue com a esponja da loiça, cortou com a faca da cozinha, coseu a artéria com a agulha da costura, porque era o que havia e lá fora caíam bombas. Impossível chegar ao Al-Shifa, a cinco minutos. O maior hospital de Gaza, onde tantas vezes estive a saber de feridos, como a 19 de Dezembro estive no hospital de Jenin. Um ano depois, já não me lembrava ao certo onde estava. Fui verificar agora, quando vi a data dessa amputação no mais exaustivo relatório que um indivíduo fez desde 7 de Outubro. Na última versão em inglês tem 124 páginas e 1401 notas de rodapé, remetendo para milhares de fontes (informação institucional, organizações de direitos humanos, media tradicionais, textos académicos, redes sociais). Chama-se Bearing Witness to the Israel-Gaza War e é um trabalho escrito e compilado pelo israelita Lee Mordechai, historiador da Universidade Hebraica de Jerusalém, doutorado em Princeton. Mordechai, 42 anos, encontrava-se numa sabática nos EUA no 7 de Outubro. Queria fazer algo, e a partir de Dezembro começou a reunir informação além da que estava a ser vista pela maioria das pessoas em Israel. Em Março de 2024, o documento tornou-se viral no ex-Twitter em hebraico. Mordechai ampliou o alcance: para seja quem for que queira saber. Esclarece no começo: “Não recebi qualquer pagamento para escrever este documento, e fi-lo em compromisso com os direitos humanos, a minha profissão e o meu país.” Viu milhares de imagens horríveis. Não as mostra no texto, dá os links. Não usa palavras como “terrorista” ou “sionismo”. Chama “militantes” ou “operacionais” aos membros do Hamas. Li o documento: é um texto claro, sucinto, quase sempre factual, com poucos adjectivos. Considera o ataque do Hamas e outros grupos a 7 de Outubro uma atrocidade. Tal como considera a resposta de Israel um genocídio, e no fim explica porquê. Os palestinianos têm sido a grande fonte directa do maior horror do nosso tempo de vida: aquele que está em curso desde 7 de Outubro. Quem acompanha os incontáveis testemunhos que eles nos têm dado do seu próprio holocausto, sobretudo pelo Instagram, vai reconhecer centenas de momentos no relatório de Mordechai. Idem para quem segue as agências e tribunais da ONU, a Human Rights Watch, a Amnistia Internacional e muitas outras organizações, incluindo israelitas. Uma sucessão de horrores e recordes. Resumo aqui: recorde de bombas e de crianças mortas à bomba, à fome, de diarreia, hipotermia ou outros problemas que não seriam mortais, se fossem assistidas. Recorde de crianças mortas com tiros na cabeça, no peito. Recordes de médicos e trabalhadores humanitários mortos. Recorde de licença para matar civis por cada alvo de alto ranking: 300 para 1. Recorde de civis mortos com as mãos no ar ou bandeiras brancas. Recorde de detidos arbitrariamente, homens, mulheres e crianças, com tortura, violação e mortes nas cadeias (muitíssimo acima de Guantánamo). Recorde de sacos de plástico para corpos, e saquinhos de plástico para pedaços de carne e ossos. Famílias com muitos saquinhos de plástico, que eram filhos, filhas, mães, pais. Quase 100 por cento da população deslocada: 2,3 milhões de pessoas. Destruição ou razia da grande maioria das casas, escolas, hospitais, mesquitas, edifícios em geral. Fome e epidemias em massa. Pessoas a comer erva e ração de animais, e cães a comer os cadáveres das pessoas. Lixo e esgoto por toda a parte. Ausência de electricidade e água potável. Cesarianas sem anestesia, além das amputações e outras cirurgias. Sofrimento contínuo e atroz de centenas de milhares de mutilados, queimados, doentes. Mais de 45 mil mortos oficiais, milhares de desaparecidos, centenas de valas comuns, projecções de centenas de milhares de mortos. Sem falar na Cisjordânia e Jerusalém Oriental, onde o Hamas não está no poder, e milhões de outros palestinianos são reféns de um governo de colonos, que nunca capturou semelhante quantidade de terra, árvores e animais, ou matou e prendeu tanta gente. Tudo isto já estava documentado, e Mordechai compila muitos exemplos. Mas talvez a parte mais singular do relatório, pelo próprio facto de ser israelita e falar hebraico, seja o que ele expõe sobre Israel, o ponto a que chegou a desumanização dos palestinianos. E eis a chave, diz Mordechai: a desumanização dos palestinianos é o que permite este horror. Resumo: a grande maioria dos israelitas que não quer saber a verdade (as muitas verdades além da propaganda); que nas sondagens acha bem limpar os palestinianos de Gaza; que é contra a entrada de ajuda (e em muitos casos a trava, incendeia); que acima de todas as instituições aprova as Forças Armadas de Israel, acredita que são as mais morais do mundo. Até porque essas forças são ela mesma, a grande maioria dos israelitas, pais e filhos, mães e filhas. Um exército de tiro ao pato, onde é possível matar palestinianos por tédio ou por um post, onde cada um no terreno pode fazer o que lhe dá na telha, como testemunham soldados e oficiais que estiveram em Gaza. Não são excepções, são padrões. Militares que fazem de qualquer civil um terrorista, incluindo crianças e bebés. Que agem como se Gaza fosse um videojogo, planeiam alvos por Inteligência Artificial, dedicam execuções e explosões às namoradas (e namorados). Que fazem dos palestinianos cães. Que filmam e postam o cadáver de um palestiniano a ser comido por um cão, seguido do lindo pôr-do-sol de Gaza. Que filmam e postam palestinianos passados a ferro por veículos militares, palestinianos despidos, atados, vendados, aos montes. Que recitam a Torah e a cada compasso disparam um morteiro. Que grafitam as paredes, incluindo das mesquitas, com insultos ao Islão e símbolos judaicos (fotografei em Jenin). Que posam no Tinder com fardas, armas, troféus da guerra, porque exterminar palestinianos é sexy. Que se postam com a lingerie das palestinianas, nas casas que arruínam. Enquanto a televisão israelita pode, por exemplo, promover um vídeo genocida em que crianças israelitas, com imagens de destruição em fundo, cantam sobre como Gaza será arrasada e em breve Israel vai cultivar os campos lá. Aliás, uma das últimas actualizações de Mordechai diz respeito à limpeza étnica do norte de Gaza, nestas últimas semanas de 2024, depois de uma líder dos colonos ter ido a Gaza, escoltada pelos soldados, para inspeccionar os futuros domínios das 500 famílias israelitas que ela diz que já estão prontas a mudar. Há instruções escritas para esta limpeza étnica? Para o genocídio? Que se saiba, não. O que só convém às lideranças, como diz Mordechai, acautelando futuros julgamentos. Mas houve inúmeros apelos à destruição geral de Gaza, comparações dos palestinianos com animais, com bárbaros, com inimigos da Bíblia, que deviam ser erradicados até aos bebés. Ao mesmo tempo que milhões foram gastos em propaganda para destruir críticos de Israel (incluindo a ONU), comprar vozes pró-Israel, multiplicar histórias falsas. Como eram falsos os 40 bebés decapitados do 7 de Outubro, ou as violações em massa do Hamas, e relatos feitos pela organização israelita que primeiro esteve nos kibbutzim atacados, a ZAKA, que Mordechai hoje considera descredibilizada (não porque o que aconteceu a 7 de Outubro não tenha sido atroz, mas porque foi distorcido desde a raiz e aproveitado politicamente). “Acredito que Israel tem tentado uma combinação destas três coisas: (1) remover os palestinianos de Gaza, especialmente no Norte; (2) tornar vastas partes da Faixa inabitáveis, esperando que isso contribua para o objectivo anterior; (3) matar as pessoas de Gaza por violência directa, fome ou prevenção de ajuda”, escreve Mordechai quando explica porque considera tratar-se de um genocídio, de acordo com os critérios da Convenção de Genebra. Incluindo a intenção de o cometer. 2. No dia 7 de Outubro de 2023 voltei a casa de uma caminhada ao fim da manhã e peguei no telefone que ficara em cima da banca da cozinha. Quando vi as notícias, ali de pé, transida, pensei duas coisas, nenhuma racional. Uma foi: “Vou comprar um bilhete de avião.” A outra é algo que até hoje não escrevi publicamente, com as palavras que então pensei: “Israel acabou.” Esta crónica sai um ano, dois meses e vinte e um dias depois disso, e é o que continuo a achar, mas hoje de forma mais detalhada. Claro que Israel não acabou no terreno, nem sei quando isso acontecerá. O que quero dizer é que a ideia de Israel acabou. Israel é hoje um estado pária para qualquer pessoa que queira realmente saber o que aconteceu desde 7 de Outubro. Que encare o que já mostraram — além dos próprios palestinianos — os tribunais e agências da ONU, a relatora da ONU para a Palestina, a Human Rights Watch, a Amnistia, centenas de outras organizações ou Lee Mordechai, desde 7 de Outubro. E antes disso, desde 2007, com o cerco a Gaza. E antes disso desde 1967, quando Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental (e os Montes Golã) foram ocupados, e colonizados. E antes disso desde 1948, quando centenas de milhares de palestinianos foram expulsos de suas casas, feitos refugiados. Até hoje em campos miseráveis do Líbano, da Jordânia, da Síria. Os jovens do mundo que acordaram para Israel/Palestina a 7 de Outubro não entendem como foi possível um país ser fundado à custa de um povo. Muito menos como é possível um povo ser exterminado nos nossos telemóveis, com a ajuda dos nossos governantes. Porque é que um único país no mundo faz o que quer na ONU, incluindo cortar-lhe as pernas, banir o secretário-geral. Porque é que um povo parece valer mais do que qualquer outro. E porque é que os palestinianos valem menos do que Israel, a América ou a culpa da Europa. Numa palavra: racismo (étnico, religioso, cultural). A ideia de Israel nasce na Europa colonial do fim do século 19. Uma Europa que achava que era ok extrair o que pudesse de África ou da Ásia, instalar-se lá, ser dona. Em parte sionista por amor aos judeus, em parte sionista para se livrar deles. Anti-semita de longa data, muitos séculos, muitas fogueiras, muitos pogroms, até ao Holocausto. E depois do Holocausto — do maior horror que a Europa do século 20 conheceu — funda-se então o Estado judaico, com a alavanca da culpa europeia, para que nunca mais, nunca mais. Mas fundado no quê? Na destruição de outro povo. Na mentira de que era uma terra sem povo para um povo sem terra. A ideia de Israel está ferida desde o começo pela destruição e pela mentira. E a partir daí foi de vitória em vitória, até o Hamas abrir o alçapão em que Israel se despenhou. O Hamas derrotou Israel no dia 7 de Outubro. Com um massacre contra civis, na sua maior parte, tal como milícias sionistas pré-Israel foram terroristas, e muitos outros movimentos recorreram ao terrorismo sem se resumirem a isso. O Hamas fortaleceu-se pela corrupção da Autoridade Palestina, pelo jeito que deu a Israel ter esse inimigo e pela vergonhosa incapacidade da comunidade internacional. Membros do Hamas torturaram o meu tradutor e amigo W., mas antes disso eu já não tinha ilusões sobre o Hamas. Simplesmente é um erro resumi-lo como terrorista. A sociedade israelita viveu o maior trauma de sempre a 7 de Outubro. E a gente que hoje a lidera viu nisso uma grande oportunidade para concluir a Nakba de 1948, a Naksa de 1967. É o que Netanyahu tem estado a fazer, com os seus ministros colonos, supremacistas judaicos, a colaboração activa de muitos sectores da sociedade, a incapacidade de qualquer oposição, a anuência de uma maioria de israelitas. E abriu-se a frente libanesa, com o Hezbollah, e a frente síria, com a queda de Assad, tudo oportunidades. Expansão, conquista. Na verdade, auto-destruição. A espiral da queda no alçapão. Os israelitas não vão recuperar como país do que fizeram, do que viram, e do que não fizeram e não quiseram ver. Uma sociedade doente, cada vez mais incapaz de reconhecer o outro, os outros. A ilusão de uma bolha étnico-religiosa, vendo anti-semitismo em todas as partes, da ONU ao Papa, da Irlanda à Amnistia Internacional. Validada porque o mundo a tentou destruir. E tentou. Israel perdeu o mundo. Bem pode vir a sinistra Arábia Saudita assinar a normalização, estão bem uns para os outros. Idem os sinistros regimes árabes, todos, desde 1947, carrascos dos próprios povos, e de outros. Carrascos dos palestinianos. Somando o sinistro Irão: nenhuma democracia no Médio Oriente. Não há futuro num Estado fundado na desumanização de outros. O começo de Israel já era o fim de Israel. O 7 de Outubro gerou a desumanização definitiva. O futuro é da Palestina ou não será. Não mais, ao fim de 76 anos. A Palestina perdeu o mundo durante 76 anos, mas agora Gaza é o mundo. E para jovens como Greta Thunberg está associada à própria luta pela vida da Terra. E será inútil os guardiões da lenda Dois Estados virem com o papão de que isto deita os judeus ao mar. Quero os judeus livres de Israel. Quero os judeus livres. Quero os palestinianos livres. Toda a gente livre desde o rio até ao mar. Toda a gente livre: não há outra moral. Ou: nunca mais é para toda a gente. 3. Daqui a um mês, a 27 de Janeiro de 2025, Netanyahu não irá aos 80 anos da libertação de Auschwitz porque tem medo de ser preso por crimes contra a Humanidade. Há dias, no Haaretz, Gideon Levy resumiu o simbolismo alucinante disto. Era bom que Netanyahu fosse preso já, mas faz bem em não ir: Auschwitz não merece o homem que desde 7 de Outubro preside a Auschwitz-agora-em-directo. Uma criança morta por hora. E aqui tocamos na última parte deste texto. A verdade mais difícil está por escrever porque, ao mesmo tempo que o horror nunca foi exposto como desde 7 de Outubro, ainda falta muito. E tudo isso será sobre nós: o tamanho do buraco humano. Esse horror não seria possível sem as bombas e os milhões dos EUA. Biden é um criminoso de guerra. Como Scholz, Ursula, a maior parte da UE (com três ou quatro países a fazerem a diferença). O mundo que permite que se extermine um povo em nome de Deus, e ainda se considera religioso. Mas Deus não tem culpa, só os humanos mesmo.
Quando vão exigir aos israelitas que querem ser portugueses que provem que não estiveram envolvidos neste genocídio? E que vão fazer quando os vossos filhos ou netos vos perguntarem que fizeram contra isto? Lee Mordechai testemunha. Toda a gente pode testemunhar desde 7 de Outubro. Isto não é só sobre Israel e Palestina. É sobre nós. |