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segunda-feira, 16 de julho de 2018

A agenda europeia de Trump

Patrícia Calca, Politóloga

00:08

Uma União Europeia forte não é algo benéfico para todos, mas uma UE (mais) dividida agrada a alguns e parece agradar a Trump e seus apoiantes.

O sururu é real e tem fundamento, mas, se colocarmos de parte as “modas e manias” do presidente americano, o que é que nos resta? Não sei. Digamos que todos nós, e eu não sou excepção, ficámos algo atordoados ao tentar acompanhar tanta informação, eventos formais, jantares, almoços, declarações conjuntas, etc., e isto antes das férias de Verão (para quem as tem) já pesa um bocado. Sim, estou a falar do périplo europeu de Donald Trump.

Como se não bastassem as suas declarações dúbias, com um certo sabor a ameaça acerca do que pode ou não fazer sobre a permanência dos Estados Unidos na NATO, tivemos a visita ao Reino Unido com um “dar as mãos” (no sentido literal) a Theresa May, as manifestações em Londres contra um presidente que tem muitas características menos ser feminista, e a entrevista ao “Sun”, com declarações, mais uma vez, pouco felizes de Donald. Tudo isto está a agitar um já agitado Reino Unido, se bem que com a soberana a manter a normal normalidade.

Desculpem-me o palavreado, mas continuo a pensar que este “erro de casting” se não fosse dramático, além de absurdo seria apenas risível, como aliás já o é. E sim, estou a falar de Donald Trump. E sim, ele é também o pretexto para reflectir sobre como podemos esquecer os holofotes e focar-nos naquilo que nos deve interessar a todos, além das partes anedóticas das situações referidas.

O que é que tudo isto quer dizer para as relações futuras entre a Europa e os EUA? Poderemos nós, europeus, continuar a esperar uma relação de confiança como aquela que existiu no passado entre as democracias liberais do Velho Continente e os Estados Unidos?

Vivemos tempos de incerteza, é certo, e a hostilidade, ainda que mascarada de falta de educação, não deixa de ser hostilidade. Aliás, a reacção da população nas ruas de Londres mostra que nada disto é pouco relevante, pelo contrário. Pode até parecer que estes assuntos são apenas política interna e desagrado contra um certo indivíduo por parte da população londrina, mas há mais do que “apenas isso”. Há um quadro maior e uma paisagem mais abrangente que devem ser tidos em conta. Esse quadro considera, claro, a Rússia de Putin, mas não só.

No jogo de espelhos que é a política internacional, uma União Europeia (UE) forte não é algo benéfico para todos, mas uma UE dividida (mais dividida) agrada a alguns e parece agradar a Trump e aos seus apoiantes. Pelo menos é o que me ocorre deduzir, a não ser que consideremos como certa a tontice extrema das acções daquele que é um dos líderes mundiais mais importantes da actualidade. Mas acreditar na sandice de Trump é desresponsabilizá-lo, e isso eu não faço.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.

Um país de salários baixos e impostos altos

Filipe Alves

13 Jul 2018

Agostinho da Silva dizia que o trabalho existe por causa do Homem e não o contrário. O Homem nasce para criar, não para trabalhar, dizia o sábio.

Mas o certo é que aquilo que fazemos define o nosso lugar no mundo e é, na maior parte dos casos, necessário para que possamos ter dinheiro para comprar aquilo de que precisamos para viver e realizar os nossos sonhos e ambições.

O trabalho cumpre assim uma função social importantíssima, criando riqueza e dignificando a nossa vida. Mas o que dizer quando o trabalho honesto não permite uma existência digna ou não é justamente recompensado, como sucede frequentemente em Portugal?

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Há duas explicações possíveis para este problema que nos deveria revoltar a todos, mas que, por alguma razão, raramente é debatido como deveria.

A primeira explicação é que existem empresas que fazem uma má distribuição da riqueza que produzem. Esta será, de resto, uma das razões do nosso atraso. O dinheiro não é tudo, mas não é com salários baixos que uma empresa consegue atrair e reter talento. E sem talento qualquer empresa está condenada, mesmo que ainda não o saiba.

A segunda explicação é que muitas empresas não criam riqueza suficiente para poderem pagar salários justos aos seus funcionários. Isso pode dever-se a factores como má gestão, a circunstâncias do mercado ou simplesmente ao facto de essas empresas não serem economicamente viáveis. Mas também se deve, em parte, à carga fiscal sobre os rendimentos do trabalho. Basta comparar o nosso salário bruto com o valor que efetivamente recebemos, apesar da tão falada “reposição de rendimentos”.

Segundo a OCDE, a carga fiscal total sobre o trabalho dependente (incluindo descontos para a Segurança Social) em Portugal está nos 41%, o que nos coloca no 13º lugar entre as economias desenvolvidas. Esta posição seria motivo de orgulho, se dissesse respeito a outro indicador.

Ao todo, a carga fiscal já representa 34,7% do PIB, o valor mais alto de sempre. Importa questionar: o que está a ser feito para reduzir esta cifra e assim devolver aos portugueses uma fatia maior da riqueza que produzem com o seu trabalho? Será aceitável que, ao mesmo tempo que permite que os funcionários públicos trabalhem 35 horas por semana, o Estado fique com uma fatia crescente da riqueza criada pelos portugueses que são obrigados a trabalhar 40 horas (ou mais)? Onde está a justiça social de tudo isto?

Agostinho da Silva tinha razão. O Homem não existe por causa do trabalho. Mas também não existe para pagar os impostos necessários para manter um Estado refém de lobbies e corporações, que não se reforma nem deixa reformar. Pois é o Estado que existe por causa do Homem, não o contrário.

Salvini quer fim das sanções da UE contra a Rússia “até ao final do ano”

HÁ 2 HORAS

Matteo Salvini disse pretender "convencer com boas maneiras e números" os seus parceiros europeus a acabarem com as sanções económicas em vigor desde que a Rússia anexou a Crimeia em 2014.

DANIEL KOPATSCH/EPA

Autor
  • Agência Lusa
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O ministro do Interior italiano e líder da Liga (extrema-direita) afirmou esta segunda-feira querer acabar com o regime de sanções imposto à Rússia “até ao final do ano” e não excluir “qualquer opção” para convencer os outros países europeus.

Matteo Salvini, que falava em Moscovo, disse pretender “convencer com boas maneiras e números” os seus parceiros europeus a acabarem com as sanções económicas em vigor desde que a Rússia anexou a Crimeia em 2014.

O também vice-primeiro-ministro de Itália não quis afirmar que poderá vetar um prolongamento das sanções, mas assegurou “não excluir qualquer opção” para atingir os seus fins. “A Itália é o país europeu que mais sofreu com as sanções contra a Rússia”, adiantou, afirmando querer encontrar novas possibilidades de cooperação económica entre as pequenas e médias empresas dos dois países.

O primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, disse em junho que o seu país era favorável à “revisão” das sanções económicas impostas à Rússia.

Há vários meses que a Itália tenta conseguir da União Europeia se não um levantamento total das sanções pelo menos um aligeiramento. “É absolutamente legítimo que a Rússia se sente na mesa dos grandes”, declarou Salvini sobre a reintegração do país no G7, congratulando-se com a cimeira entre os presidentes russo, Vladimir Putin, e norte-americano, Donald Trump, hoje em Helsínquia.

Matteo Salvini, que esteve na Rússia antes de integrar o governo italiano e que já expressou simpatia pelo país e o seu presidente por diversas vezes, disse que Giuseppe Conte se deslocará ao país “na segunda metade de outubro” para se encontrar com Vladimir Putin.

Marques Mendes. Costa e Santos Silva “pensam o mesmo”

15/7/2018, 21:34

Comentador diz que António Costa e Augusto Santos Silva não estão desalinhados. Até pensam o mesmo sobre novos acordos mas o primeiro-ministro não pode admiti-lo porque tem um Orçamento para aprovar.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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As afirmações de António Costa e Augusto Santos Silva sobre o futuro da atual solução política “são complementares, não são contraditórias”, considera Marques Mendes. O comentador diz que o primeiro-ministro e o seu número dois até pensam o mesmo, mas isso não é “politicamente correto” porque é preciso garantir a estabilidade política.

Marques Mendes defende que não há mesmo nada que separe Costa e o ministro. “Santos Silva disse aquilo que também António Costa pensa, só que não é politicamente correto” afirmá-lo neste momento, porque há um Orçamento do Estado para aprovar até ao final do ano e porque esse é o passaporte que garante que a legislatura chega ao fim.

Não houve, por isso, falta de sintonia no núcleo político do Governo, defende. “O primeiro-ministro estava a falar do presente, Santos Silva estava a falar do futuro”, diz o comentador. Tudo a pensar no próximo — e último — Orçamento da legislatura, um passaporte para 2019, a garantia de que o acordo à esquerda chega ao final da corrida.

Marques Mendes acredita que essa primeira barreira será mesmo superada e que o Orçamento vai ser aprovado. Longa vida à geringonça? Nem por isso. A atual solução política, diz Marques Mendes, tem mesmo os dias contados. “PS, Bloco de Esquerda e PCP [e PEV] podem entender-se em muita coisa, não se entendem em nada de estrutural”, o que significa que “não vamos ter nenhuma geringonça depois de 2019, nem geral nem parcial”, antevê o comentador político.

Ora, é este cenário que cria um problema de governação a médio prazo. É que, sem parceiros à esquerda, ou há maioria absoluta ou há “o pântano”, volta a defender. Esse “pântano”, anunciado há 18 anos por António Guterres, pode voltar em 2019 com um PS em minoria, sem apoio parlamentar à esquerda e (aparentemente) indisponível para fechar acordos alargados à direita.

A última semana política teve dois momentos chave. Um, foi a entrevista de Santos Silva ao jornal Público, em que o ministro repetiu aquilo que já tinha dito ao Observador no congresso do PS. Outra, foi o debate sobre o Estado da Nação. Sobre esse segundo momento, Marques Mendes considera que no debate do Estado da Nação ficou claro que o país “está melhor”, mas também isso é “normal”, diz Marques Mendes. “Já não temos bancarrota, já não temos a troika e temos a economia europeia ajuda”, resume.

Ainda assim, Marques Mendes deixa três notas sobre o momento que o país atravessa. Uma sobre a Economia, onde até “estamos a crescer” mas menos que países como a Irlanda que também passaram por um pesado resgate financeiro. Por isso, “temos de fazer reformas”.

Outra, sobre a Saúde em Portugal. “O nosso SNS todos os anos perde qualidade e os portugueses sentem-no” e a prova está num número: mais de 2,5 milhões de seguros privados de saúde, “e não são milionários”.

Terceira, a sustentabilidade da economia. E, aí, são precisas “políticas estruturais e reformas de fundo” em áreas como a Segurança Social, a Demografia e a Competitividade. “Não chegam as reversões e a distribuição de rendimentos, é preciso ir mais longe”, defende o comentador.

Guerra comercial pode abrandar crescimento mundial para 3,2% em 2020

HÁ 16 MINUTOS

O FMI mantém a previsão de crescimento mundial para este e o próximo ano nos 3,9%, mas alerta que "os riscos de os números se deteriorarem são mais elevados".

JIM LO SCALZO/EPA

Autor
  • Agência Lusa
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O Fundo Monetário Internacional alertou esta segunda-feira que, se a guerra comercial entre os Estados Unidos e os maiores parceiros se concretizar, o crescimento económico mundial pode abrandar 0,5 pontos percentuais em 2020, para 3,2%.

“O risco de escalada nas atuais tensões comerciais, com efeitos adversos na confiança, no preço dos ativos e nos investimentos, é maior risco de curto prazo para o crescimento mundial”, disse o diretor do departamento de pesquisa do FMI, Maury Obstfeld, na apresentação da atualização do relatório sobre as Perspetivas Económicas Mundiais.

Na apresentação do documento, divulgado em Washington, Maury Obstfeld revelou que a projeção atual de 3,7% de crescimento económico mundial em 2020 pode abrandar para 3,2% do PIB, sendo que os Estados Unidos, “sendo o foco de retaliação global, irão encontrar-se numa situação especialmente vulnerável, já que uma percentagem relativamente alta das suas exportações terá tarifas mais altas”.

Na atualização ao relatório de abril, o diretor do departamento de pesquisa do FMI salientou que o Fundo mantém a previsão de crescimento mundial para este e o próximo ano nos 3,9%, mas alerta que “os riscos de os números se deteriorarem são mais elevados, mesmo a curto prazo”, muito por culpa da política comercial norte-americana, apontam.

“Evitar medidas protecionistas e encontrar uma solução de cooperação que promova o crescimento continuado nas trocas de bens e serviços continua a ser essencial para preservar a expansão global”, lê-se no relatório, que acrescenta que “as políticas e as reformas devem ter como objetivo sustentar a atividade, aumentar o crescimento de médio prazo e melhorar a inclusão”.

No entanto, concluem, “com uma reduzida margem e com os riscos a aumentarem, muitos países devem, por isso, construir folgas orçamentais para criarem espaço político para a próxima curva descendente do ciclo e fortalecer a resiliência financeira a um ambiente que pode ser marcado por uma maior volatilidade dos mercados”.

Para a zona euro, o FMI reviu em baixa a previsão de crescimento em 0,2 pontos para este ano e 0,1 pontos para 2019, antecipando agora um crescimento de 2,2% em 2018 e 1,9% no próximo ano.

“As previsões para o crescimento de 2018 foram revistas em baixa para a Alemanha e para a França no seguimento de um abrandamento da atividade económica maior do que o esperado face ao primeiro trimestre, e na Itália os juros da dívida soberana maiores e as condições financeiras mais apertadas no seguimento da incerteza política recente devem ter consequências para a procura interna”, aponta o FMI.