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quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Cum-Ex-Files ou O bruto ataque de banqueiros, milionários e advogados aos cidadãos europeus – e a letargia dos governos

Novo artigo em Aventar


por Ana Moreno

Mais uma vez, vêm jornalistas a valer demonstrar que estes governos bananas que nos regem são, no mínimo, incompetentes para cercear a perícia dos tubarões, com efeitos materiais e morais devastadoramente danosos para os cidadãos.

19 órgãos de comunicação de 12 países associaram-se ao colectivo alemão “Correktiv” e analisaram 180.000 páginas de arquivos confidenciais, entrevistaram testemunhas-chave, encenaram uma armadilha e descobriram o maior roubo de impostos na Europa: 55 mil milhões de euros. Para isso, os criminosos de gravata usaram "Tax Deals", movimentando rapidamente pacotes multimilionários de acções e conseguindo obter assim reembolsos de impostos fictícios e atordoantes. Com o negócio Cum-Ex e as suas variantes, impostos pagos uma vez foram também reembolsados várias vezes.

Para cúmulo, os governos da própria UE não se informam mutuamente de questões desta natureza: apesar de já ter detectado o truque há anos, o governo alemão não informou os outros governos europeus.

Provando-se assim uma vez mais que a crise de legitimidade e credibilidade dos governos é provocada pelos próprios. Basta pensar nas guerrinhas para aumentar salários mínimos ou o quadro de professores, frente à dimensão destes roubos que deixam acontecer.

O preço do sucesso

  por estatuadesal

(Alexandre Abreu, in Expresso Diário, 18/10/2018)

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Mário Centeno aproveitou a apresentação do Orçamento do Estado para 2019 para fazer um primeiro balanço da legislatura do ponto de vista macroeconómico, e não há dúvida que este é impressionante: a concretizar-se o quadro macroeconómico para o próximo ano, que não parece irrealista, no total dos quatro anos “o PIB crescerá quase 10%, haverá mais 400 mil pessoas empregadas, a taxa de desemprego cairá quase para metade (12,4% para 6,3%), o défice chegará a um ponto de equilíbrio e as dívidas pública e privada terão reduções acentuadas”.

Se isto não é um extraordinário sucesso, é difícil dizer o que seja. Não admira que a oposição tenha tanta dificuldade em definir uma linha de crítica no plano económico, vendo-se obrigada a remeter para um vago ranking do crescimento entre os membros da União Europeia, argumento aliás desde logo contrariado pela convergência face à média europeia, algo que no novo século quase sempre tem escapado a Portugal. Também em 2011-2015 Portugal foi das economias europeias que menos cresceu, com a diferença que no conjunto dos quatro anos a legislatura anterior a economia contraiu em termos reais cerca de -2,5% (em vez de crescer) e divergiu significativamente da média europeia.

É claro que para o desempenho na actual legislatura foi decisiva uma conjugação de factores muito favorável, do longo período de juros anormalmente baixos à conjuntura económica externa a puxar pelas exportações, e dos desenvolvimentos políticos e de segurança que afectaram alguns dos principais concorrentes no sector do turismo ao baixo preço do petróleo durante a maior parte da legislatura. Mas esta está muito longe de ser a história completa, tendo as opções de política económica e em particular a política de rendimentos sido igualmente decisivas. Quer pela via directa do estímulo à procura interna, quer pela via indirecta do estímulo à confiança, a devolução de rendimentos às famílias por que são responsáveis o governo e os partidos que o sustentam foi essencial para a recuperação económica dos últimos anos, para além de ter sido fundamental para repor alguma justiça social.

Dito isto, até há relativamente pouco tempo a retoma da economia portuguesa correspondeu basicamente à recuperação do recuo dos anos anteriores: foi só em 2018 que o PIB português, em termos reais, voltou a atingir aquele que havia sido o seu nível máximo anterior à crise. Neste sentido, o desempenho económico deste governo foi ‘beneficiado’ pela brutal contracção da actividade económica provocada pela política pro-cíclica do governo anterior: foi tal o desemprego de factores produtivos gerado pela austeridade que a mera retoma do nível de actividade anterior por parte destes permite, por si só, alcançar taxas de crescimento relativamente elevadas.

A este respeito, há dois pontos principais que vale a pena assinalar. O primeiro é que isto mostra uma vez mais que, no plano macroeconómico, o crescimento económico é realmente decisivo, não só para a evolução do nível de vida e criação de emprego como para a consolidação orçamental. A via austeritária para a consolidação orçamental é duplamente contraproducente: na medida em que reduz as receitas públicas e na medida em que faz contrair o produto, fazendo aumentar o valor relativo da dívida pública e privada existente.

O segundo ponto que vale a pena discutir é que, paradoxalmente, o notável desempenho macroeconômico dos últimos anos tem conduzido a uma naturalização das condições favoráveis que muito dificilmente terá condições de sustentação. No “Público”, Rui Tavares refere o sucesso económico da ‘geringonça’ como prova da compatibilidade fundamental entre a pertença ao euro e a viabilidade da economia portuguesa. No “Observador”, Luís Aguiar-Conraria projecta uma evolução da dívida pública portuguesa até perto de 60% em 2035 assumindo para tal défice zero, crescimento de 2% e inflação de 2%. E no entanto, continua a ser verdade que desde a adesão ao euro o PIB per capita português passou de 84% para 77% da média europeia e o endividamento externo passou de cerca de zero para perto de 100% do PIB. Como continua a ser verdade que crescimento real de 2% a par de défice zero é algo que a economia portuguesa nunca (até este ano) conseguiu alcançar nas últimas décadas, quanto mais sustentar durante vinte anos.

De alguma forma, naturalizou-se já aquilo que, independentemente dos méritos do governo, é inevitavelmente excepcional, quer por causa do contributo dos factores externos que não controlamos quer porque para este bom desempenho contribuiu de forma decisiva um efeito de ressalto a partir da austeridade que chegará agora ao seu final, exigindo que o crescimento passe a assentar em novas bases. Essa naturalização tende a provocar uma desvalorização dos constrangimentos bem reais que continuam, tal como dantes, a pesar sobre a economia portuguesa, do lastro da dívida acumulada ao efeito deletério do euro, adiando e dificultando a discussão sobre a melhor forma de enfrentar esses constrangimentos. O sucesso conjuntural tem como preço a desvalorização dos problemas estruturais.

NATURALMENTE RIDÍCULOS E PERIGOSOS

  por estatuadesal

(In Blog O Jumento, 18/10/2018)

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(A Justiça tem tido um protagonismo mediático, nem sempre por boas razões. Mas ontem (ver entrevista aqui), Carlos Alexandre elevou esse protagonismo até ao limite do execrável.

Quem invoca teorias da conspiração como sendo a causa do processo da Operação Marquês não lhe ter cabido em sorte, só pode ser um conspirador. Quem põe em causa a probidade do  colega de ofício a quem coube o processo só pode ser um maníaco ressabiado. 

Quando a Justiça é colocada em causa por alguém a quem compete isentamente aplicá-la, só nos resta perguntar o que faz correr Carlos Alexandre e quais as forças que na sombra o apoiam e empurram para a ribalta da insídia.

Comentário da Estátua, 18/10/2018)


Confesso que não sou um grande admirador do Dr. Carlos Alexandre; não sei bem porquê a personagem irrita-me, nada dele me parece brilhante, as suas declarações encenadas não têm grande conteúdo que ultrapasse as fronteiras do seu ego. Mas envergonha-me uma Justiça onde vejo um juiz a fazer queixinhas aos jornalistas, deixando transparecer que queria um determinado processo para ele, como se só ele estivesse à sua altura.

Parece que, de um momento para o outro, todos são defensores do juiz natural e receio que alguém se lembre de pedir que, no caso Sócrates, se volte a iniciar o processo, convidando a FIFA a realizar o sorteio com bolinhas, cabendo ao Messi tapar os olhos e recolher a bolinha. Mas, se o sorteio não resultar na escolha do Carlos Alexandre, teremos de verificar se haviam dois nomes, se as bolinhas eram rigorosamente iguais, se o vidro da tombola não tinha alguma rugosidade e se o Messi não foi trocado por algum sósia ilusionista, o que implica conferir o DNA ou mesmo os sinais na pilinha.

Tudo isto é ridículo porque, enquanto o Dr. Carlos Alexandre ia construindo a sua imagem de justiceiro da Nação - num Ticão em que era o único juiz -, ninguém se lembrou de sorteios ou do juiz natural. Por outras palavras, enquanto o juiz era naturalmente o Dr. Carlos Alexandre ninguém se preocupou com os sorteios ou com o número de processos que o juiz natural tinha. Apesar das razões de queixa de Sócrates ninguém, e muito menos a associação dos juízes, veio em defesa de Sócrates; com tal arguido os bons princípios podiam ir para as urtigas dos campos de Mação.

Mas quando o mesmo arguido teve direito ao sorteio para a escolha do juiz natural já surgiram dúvidas, o mesmo juiz natural de todos os processos foi o primeiro a vir com dúvidas logo aproveitadas pelos Diabos e diabretes da praça.

Esta justiça que se expõe na praça, discutindo de forma miserável os seus próprios truques, os mesmos truques que aliviam culpados e podem ajudar a tramar inocentes, é um motivo de vergonha para a democracia. Toda esta gente é naturalmente ridícula, mas também é naturalmente perigosa para a democracia e as suas instituições, a começar pela Justiça.

Solidariedade com a democracia e com os democratas do Brasil

Posted: 17 Oct 2018 06:33 AM PDT

Como noticiado em vários jornais, mais de setenta pessoas subscreveram um manifesto em solidariedade com a democracia e democratas no Brasil. Fui uma dessas pessoas.

Texto e assinaturas:

«Dentro de dias realiza-se no Brasil a segunda volta das eleições presidenciais, em que se apresenta um candidato, Jair Bolsonaro, que promove o elogio da tortura e da ditadura, que propõe a discriminação das mulheres e o desprezo pelos pobres, representando uma cultura de ódio.

Contra ele, quem assina este apelo manifesta a sua solidariedade com a democracia e com os direitos sociais do povo brasileiro. Temos consciência de que vivemos tempos de ameaças sinistras e riscos de regressões civilizacionais. É por isso mesmo que valorizamos o campo da liberdade e da igualdade e apelamos à derrota de Bolsonaro.»

Subscrevem o documento:

Na área da cultura:

Afonso Reis Cabral / Andrea Zamorano / Ana Bárbara Pedrosa / Ana Luísa Amaral / Anabela Mota Ribeiro / Alfredo Barroso / António Pedro Vasconcelos / Bárbara Bulhosa / Daniel Oliveira / Eduardo Lourenço / Filomena Oliveira / Francisco Pinto Balsemão / Helder Costa / José António Pinto Ribeiro / José Carlos Vasconcelos / José Luís Peixoto / José Pacheco Pereira / Inês Pedrosa / Lídia Jorge / Luís Cília / Manuel Alberto Valente / Manuel Alegre / Maria do Céu Guerra / Maria de Medeiros / Maria do Rosário Pedreira / Miguel Gonçalves Mendes / Miguel Real / Paulo Sucena / Pepetela / Pilar del Rio / Ricardo Araújo Pereira / Richard Zimmler / Rita Lello / Sérgio Godinho / Tatiana Salem Levy / Teresa Salgueiro / Valter Hugo Mãe

Deputados e eurodeputados e deputadas:

Ana Catarina Mendes / Ana Gomes / António Filipe / Carlos Coelho / Francisco Assis / Isabel Moreira / Isabel Pires / Joana Mortágua / José Manuel Pureza / Marisa Matias / Pedro Bacelar de Vasconcelos / Teresa Leal Coelho

Outras intervenções, movimentos sociais e profissionais:

Andrea Peniche / Carlos Matos Gomes / Cipriano Justo / Domingos Lopes / Joana Lopes / João Cravinho / Maria do Rosário Gama / Martins Guerreiro / Patrícia Martins / Vasco Lourenço

Académicos:

André Freire / António Carlos Santos / Boaventura Sousa Santos / Carlos Bastien / Diogo Freitas do Amaral / Eduardo Paz Ferreira / JM Nobre Correia / Fernando Rosas / Fernando Nunes da Silva / Francisco Louçã / João Teixeira Lopes / Manuel Carvalho da Silva / Manuel Loff / Maria Eduarda Gonçalves / Pedro Hespanha / Ricardo Paes Mamede / Santana Castilho

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Aguarda-se pela insurgência

Novo artigo em Aventar


por j. manuel cordeiro

Quem andou em teorias explicar que Bolsonaro está onde está por causa de Lula e do PT tem agora uma boa oportunidade de mostrar que não estava a tecer estas teses apenas porque havia corrupção na esquerda política do Brasil.

"Michel Temer indiciado pela polícia por corrupção e lavagem de dinheiro"

De resto, não há novidade alguma na notícia. Quando a direita brasileira deu o golpe que culminou com a exoneração de Dilma, já eram públicos os casos de corrupção envolvendo Temer e seus correlegionários.

A questão mesmo é porque se excita tanto a insurgência nacional com a Venezuela e com Lula, fazendo ao mesmo tempo uma tábua rasa sobre o México e Temer, por exemplo. Nós sabemos. É mesmo uma questão de preconceito, para tentar ilustrar uma teoria. Que se lixe a coerência.