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terça-feira, 6 de novembro de 2018

«O Brasil ficou louco», diz Sebastião Salgado

Em entrevista à rádio francesa France Inter, o fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, que fugiu da ditadura nos anos 1960 no Brasil para morar na França, falou sobre a vitória de Jair Bolsonaro e o fatores que levaram a extrema-direita ao poder no país.

Para o premiado fotógrafo brasileiro, entrevistado pela apresentadora Lea Salamé, “o Brasil ficou louco”, mas já estava dando sinais de insanidade.

“Quando Dilma Rousseff, eleita democraticamente, foi destituída, praticamente em um golpe de Estado, e um governo totalmente corrupto foi colocado no lugar, começamos a perder o controle do país”, declarou. “Colocamos na prisão aquele que poderia ser eleito diretamente no primeiro turno, por corrupção, praticamente sem provas”, disse, em referência ao presidente Lula. Para Salgado, Lula se tornou “praticamente um prisioneiro político”.

O fotógrafo ressalta que houve “muita corrupção do PT e que, para governar, o partido comprou muito apoio político”. Isso, em sua opinião, “se voltou contra as forças democráticas”.

Ele também lembrou da alta taxa de rejeição de Bolsonaro, e de como, em poucos meses, ele se tornou o favorito das eleições presidenciais no Brasil, vencendo com cerca de 55% dos votos. “Mas também teve muita gente que não foi votar”, disse Salgado, se referindo à alta taxa de abstenção (21%) e votos nulos (2%) e brancos (7%), lembrando que, no total, mais de 87 milhões de brasileiros não votaram para Bolsonaro.

Ele também comentou a nomeação de alguns integrantes do governo, incluindo o juiz federal Sérgio Moro, que conduziu as investigações da Operação Lavo Jato que levaram à prisão de Lula, e de antigos militares.

Segundo Salgado, as Forças Armadas estiveram neutras no processo eleitoral. Os generais que participam do governo Bolsonaro, diz, são “velhos generais aposentados, muitos que se identificam com o golpe de estado de 1964, mas não são as Forças Armadas, são antigos militares”, sublinha.

Questionado sobre o papel dos militares de hoje na proteção do País e contra decisões arbitrárias de Bolsonaro, o fotógrafo respondeu que as Forças Armadas de hoje não são as mesmas de antigamente.

São modernas, como as da França, que participam de missões técnicas e internacionais com a ONU. É diferente. Não são Forças Armadas golpistas de uma República das Bananas. Isso mudou.”

Sebastião Salgado

“Não há um retorno da ditadura”

Salgado não enxerga a eleição de Bolsonaro como um retorno à ditadura. “Longe disso. O Brasil tem todas as instituições de um país democrata. Tudo o que ele pensa poder fazer no país necessita da aprovação do Congresso, onde ele não tem a maioria, e precisará fazer uma série de concessões. Falar é uma coisa, fazer é outra”, afirma.

Em relação à proposta da criação de um Ministério do Meio Ambiente e da Agricultura, que pode ser abandonada, o fotógrafo acredita que é uma prova de que Bolsonaro terá que voltar atrás de suas decisões.

“Isso mostra a pressão que existe nos negócios internos. O Brasil se tornou o maior produtor agrícola do mundo e exporta carne, soja, café”, destaca. “O agrobusiness é enorme e depende do mercado externo. Acabar com o Ministério do meio-ambiente e destruir uma parte da Amazônia traz efeitos para a economia, haverá um movimento planetário de boicote”, lembra.

Salgado, que está à frente de uma ONG que milita pelo reflorestamento, não acredita que a eleição de Bolsonaro terá um efeito negativo em seu trabalho.

“Esse movimento é independente do governo, plantaremos 150 milhões de árvores e não precisamos de dinheiro público”, sublinha.

O grande problema ecológico de Bolsonaro é a Amazônia, porque ele prometeu uma abertura da Amazônia ao agrobusinness. Mas eu me pergunto se o agrobusinness precisa da Amazônia. Eles têm as terras mais férteis do mundo”.

Sebastião Salgado

Segundo o fotógrafo, os próprios militares defendem a Amazônia e criaram a Funai. “As Forças Armadas são a principal instituição presente na Amazônia, e eu conheço um certo número de jovens generais que são contra a abertura da Amazônia”, afirma.

Texto em português do Brasil

Exclusivo Editorial PV (RFI) / Tornado

Não somos todos humanos?

Aasiya Noreen Bibi (Asia Bibi, Junho de 2009)

O nosso estudo realizado no âmbito do “South Asia Democratic Forum” (SADF) sobre a perseguição às minorias e nomeadamente o apartheid religioso praticado pelo Paquistão publicado há alguns meses é, perdoem-me a imodéstia, o mais sintético, melhor e mais actual que se pode consultar na web em língua inglesa sobre o pior sistema de violação de direitos humanos existente no planeta e que apareceu finalmente nos visores da opinião pública internacional a propósito da exigência do assassínio de Aasiya Noreen Bibi, mais conhecida como Asia Bibi.

Asia Bibi, cristã, teve a ousadia de beber água pelo mesmo copo das mulheres muçulmanas e, pior ainda, quando confrontada com o crime ousou formular a pergunta que lhe valeu a sentença de morte: ‘Não somos todos humanos?’

A resposta, por parte do sistema jihadista paquistanês, assente num rigoroso apartheid é, inequivocamente: não!

A comunidade internacional exultou quando, finalmente, um tribunal declarou Asia Bibi inocente. E a verdade é que o sistema judicial construído pelo Estado Islâmico ao longo das décadas, torna obrigatória a condenação à morte do que quer que seja considerado blasfemo, e como é o clero fanático que faz ultimamente a interpretação do que é blasfémia, pensar na igualdade de direitos da humanidade pode bem ser considerado blasfémia.

Trata-se, no entanto, de um dos vários logros com que se atira poeira para os olhos da opinião pública, porque ainda ninguém foi executado ao abrigo da lei – e o sistema judicial tenta fazer crer que as regras do “Estado de Direito” herdadas da colonização britânica são ainda válidas – mas centenas de vítimas foram assassinadas assim que libertadas depois de acusadas de blasfémia.

E é por isso que o acordo assinado entre as autoridades formais e o Tehreek-i-Labaik (TLP) – organização fanática animada pelo “deep state” a quem Imran Khan deve o poder – pelo qual seria negada a autorização a Asia Bibi para deixar o país, não deveria surpreender ninguém: é o assassínio pelas hordas fanáticas como se pratica há muito, sob o silêncio quando não a cumplicidade da comunidade internacional.

  1. Asia Bibi

Asia Bibi tornou-se um caso exemplar exactamente pela rapidez da sua condenação – na generalidade os juízes não ousam absolver as vítimas e adiam por anos as sentenças com medidas processuais – e essa condenação obrigou a sociedade paquistanesa a confrontar-se com a realidade.

Num curto espaço de tempo, o Governador da província do Punjab, Salmaan Taseer – onde se deram os eventos – e o Ministro das Minorias Shahbaz Bhatti, pronunciaram-se contra a condenação. Foram ambos sumariamente assassinados!

O assassino de Salmaan Taseer foi um dos seus guardas, pertencente ao mesmo corpo de elite que ‘assegura’ a protecção das armas nucleares paquistanesas, Malik Mumtaz Qadri. A justiça condenou-o e executou-o, em segredo, não conseguindo contudo evitar que ele fosse transformado em herói, com direito a mausoléu e à veneração de incontáveis figuras públicas.

Compreende-se assim que o advogado de Asia Bibi tenha fugido do país e que o seu marido apele desesperadamente à obtenção de asilo para toda a família para tentar evitar o assassínio implícito que se encontra exarado no acordo entre o primeiro-ministro Imran Khan e os seus apoiantes do TLP.

  1. As responsabilidades da comunidade internacional

Claro que nada disto impediu a eleição do Paquistão como membro do “Conselho de Direitos Humanos” para o período de 2018-2020, na tradição de apaziguamento e cumplicidade com a violação sistemática dos direitos humanos a que nos habituou as Nações Unidas onde é a razão de Estado que mais ordena.

E nem as óbvias responsabilidades do Paquistão no 11 de Setembro, tanto antes como depois, levaram os EUA a entender o perigo do fanatismo islâmico paquistanês. Apesar das palavras claras de Donald Trump – o único presidente americano que ousou dizer o óbvio – tudo aponta para que a máquina burocrática americana esteja a voltar à mesma política suicida de sempre.

A esse propósito é bom lembrar as especiais responsabilidades da então Secretária de Estado americana Madeleine Albright que, como ficou documentado no relatório nacional americano sobre o 11 de Setembro, impediu a designação do Paquistão como Estado promotor do terrorismo e que tem a ousadia de querer vir agora explicar em livro o que é o ‘fascismo’, quando não o entendeu quando era essencial que o entendesse.

Mas nada ultrapassa em monstruosidade burocrática e estupidez a acção da União Europeia que encomendou a uma empresa afiliada à China – e usada pelo Estado chinês para a sua política de cooperação externa – o estudo do cumprimento pelo Paquistão de legislação internacional em matéria de direitos humanos e afins, estudo que, claro, concluiu pelo comportamento exemplar do Paquistão e pela continuação do estatuto comercial mais favorável concedido a um país terceiro.

A União Europeia – e muito em particular o Reino Unido – têm sido os principais fautores e financiadores externos de um sistema educativo que inculca o ódio e a discriminação às crianças e tem ignorado soberanamente as recomendações claras e precisas que o SADF lhe tem feito nesta matéria e têm também por essa razão responsabilidades acrescidas na situação presente.

Será que o mundo vai finalmente acordar para a maior fábrica de monstros que existe no planeta?

Mentiras que aprisionam

Novo artigo em Aventar


por Sotero

Estudo da Avaaz apontou que 98,21% dos eleitores de Jair Bolsonaro (PSL), acreditaram em pelo menos duas notícias falsas que receberam durante a eleição.

Fake news sobre urnas adulteradas, kit gay e etc foram alguns dos conteúdos que se espalharam rapidamente por redes sociais entre os eleitores de Jair.  Como disse o fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, a rádio francesa France Inter, “o Brasil ficou louco”, mas já estava dando sinais de insanidade.

A Organização dos Estados Americanos (OEA) afirmou que o fenômeno observado no Brasil de uso massivo de fake news para manipular o voto por meio de redes privadas "talvez não tenha precedentes. Diversas pesquisas conduzidas antes do segundo turno por outros institutos concluíram que a maioria das notícias falsas foi direcionada contra o Haddad e o PT. (Fonte Valor).

Para completar a grande rede de mentiras e meias verdades, a censura esta se alastrando a ponto de jornalistas e integrantes da imprensa serem proibidos de acompanhar eventos em que o político esteja presente.

"Conhecereis a mentira e ela vos aprisionará". Tá na Bíblia.

Checks and Balances

Novo artigo em Aventar


por João Mendes

EUA

Hoje, os norte-americanos regressam às urnas para uma eleição intercalar que poderá dar um de dois importantíssimos sinais ao mundo. Podíamos entrar aqui numa discussão muito em voga, sobre a verdade e a mentira na era dos factos alternativos, mas o Partido Democrata não é propriamente uma entidade impoluta. Contudo, vivemos tempos conturbados, em que as disputas entre esquerda e direita, liberais e conservadores, se tornaram praticamente irrelevantes perante a grande batalha do século XXI. Uma batalha pela liberdade, ou pelo que resta dela, contra os novos autocratas que emergem das democracias liberais para acabar com elas.  Ler mais deste artigo

Tancos trouxe de volta o velho Marcelo. E não é desse que o país precisa

  por estatuadesal

(Martim Silva, in Expresso Diário, 05/11/2018)

martim

(Queres ver que o Célinho deu um tiro no pé? Estas juras de ignorância sobre o suposto "encobrimento" do caso de Tancos, com indirectas ao Governo, e com a retribuição florentina de António Costa a mandar Marcelo tomar calmantes para baixar a ansiedade, cada vez mais me faz lembrar dois ditos populares que passo a enunciar:

  1. Chama-lhe puta antes que te chamem a ti;
  2. Zangam-se as comadres descobrem-se as verdades.

Declaração de interesses: a Estátua jura, por todos os anjos e arcanjos, que não sabe, ela sim, de coisa nenhuma sobre armas, roubos, devoluções, inventários e conspirações, sejam ocorridos em Tancos, sejam ocorridos em Freixo de Espada à Cinta.

Comentário da Estátua, 05/11/2018)


Durante muitos anos, Portugal teve uma figura, podemos dar-lhe genericamente o nome de Marcelo Rebelo de Sousa, que se notabilizou, no jornalismo como na política como no comentário político, por ser o verdadeiro criador dos factos políticos. Alguém que dominava de tal forma os mecanismos do jornalismo político e do espaço mediático, que os usava e moldava a seu bel-prazer. A célebre história da vichyssoise com Paulo Portas é um de muitos exemplos que mostravam uma faceta de alguém genial, manipulador, maquiavélico e pouco confiável.

Entretanto, foi eleita Presidente da República, em 2016, uma figura moderada, sensata, interventiva, com sentido de Estado, próxima dos portugueses e da sua realidade e das suas expectativas e anseios. A essa figura podemos dar genericamente o nome de Marcelo Rebelo de Sousa.

Em comum, as duas figuras nada tinham.

O que se perdeu em animação nos bastidores político-mediáticos ganhou-se num Presidente da República de mão cheia, apoiado dois anos e meio depois de eleito por uma esmagadora percentagem de apoio popular à sua atuação.

Nas últimas semanas, Marcelo Rebelo de Sousa teve de vir a público várias vezes para, de forma recuada e defensiva, falar do caso do roubo de material militar de Tancos. Garantiu, repetiu e voltou a repetir que nada sabia, procurando afastar qualquer névoa de suspeita que pudesse pairar sobre o conhecimento da Presidência do episódio de encobrimento da recuperação das armas.

Com Tancos, o Marcelo Rebelo de Sousa das últimas semanas não é o Marcelo Presidente, é o Marcelo criador de factos políticos, que de tanto fazer cenários por vezes parecer dar nós em si próprio

A dado momento, Marcelo Rebelo de Sousa, para desviar atenções e criar um facto político, lembrou-se de numa inócua iniciativa à volta da Web Summit lançar uma espécie de pré-candidatura presidencial em 2021: "Não dormi muito, como é habitual. E pensei: há alguma vantagem adicional para a minha vida de ter dez anos da Web Summit em Portugal? E eu disse: bom, há algo que pode tornar-se um efeito colateral, não necessariamente muito positivo, que é ter a responsabilidade de me candidatar novamente à Presidência".

A frase parece bizarra, não parece? Mas foi dita desta forma. Isto permitiria, terá pensado Marcelo, voltar a controlar o tempo e o espaço político e mediático. Mas fê-lo de uma forma de tal maneira tosca que a seguir veio garantir que se tinha tratado afinal de uma brincadeirinha.

A recandidatura de Marcelo é uma espécie de segredo de polichinelo e não é propriamente o tipo de notícia que se possa considerar surpreendente. Mas, ainda assim, há formas e formas do chefe de Estado dizer publicamente que pretende lutar por ficar mais cinco anos em Belém, quando antes prometera não abordar para já o tema.

O problema, verdadeiramente, não é o anúncio tosco de uma recandidatura. Porque isso pode acontecer. O problema disto é que o Marcelo Rebelo de Sousa das últimas semanas não é o Marcelo Presidente, é o Marcelo criador de factos políticos que de tanto fazer cenários por vezes parecer dar nós em si próprio. E não é esse Marcelo que o país precisa para chefe do Estado.