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sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Se houvesse Correios em Caria, mandava esta carta para Belém

Novo artigo em Aventar


por Autor Convidado

por Fernando Camilo Ferreira

Sr. Presidente,

Escrevo-lhe de Caria, vila de mais ou menos 800 habitantes, no Concelho de Belmonte, à beira da Serra da Estrela. A vida aqui é boa. Aqui, tudo o que a terra dá é bom. O resto, nem por isso.

Anunciaram-nos há pouco que a GNR vai passar a funcionar apenas das 9 às 5, para assuntos administrativos. A mim parece-me mal. Por um lado porque, se é para tarefas administrativas, não precisamos da GNR: Temos alguns rapazes e algumas raparigas que ainda não foram para a Suíça, sequer para Lisboa, nem mesmo para a Covilhã. Sabem mexer num computador e, por um salário modesto, podem cumprir as tarefas administrativas que a GNR vai cumprir. É só poupança para o Estado. Só em fardas, bote-lhe a conta. E em pistolas, que ainda por cima escusam de ser roubadas, que é uma coisa que acontece, nem se fala. Para não falarmos no quartel que, só em luz, deve custar para cima de um dinheirão. Tenho a certeza de que a Junta arranja lá uma salinha para os pequenos, como já fez para instalar uma espécie de Correios que é o que temos desde que fecharam os verdadeiros.

Aqui tudo fecha. Quer ver? Temos um Centro de Saúde, com um médico dedicado, competente e paciente, que é o que se quer. Ele farta-se de dizer, como na televisão, que temos de nos vacinar contra a gripe. Mas no Centro não há enfermeiro e, portanto, não há quem dê a injecção. Quer dizer, não há sempre, que à Terça-feira vem cá uma senhora colher sangue para as análises que o Doutor manda fazer e acho que também dá injecções. A senhora enfermeira, acho que é enfermeira, trabalha para uma empresa muito grande, a quem o Governo paga para fazer o que o Governo não quer, ou não pode fazer por nós. Dizem que sai mais barato, mas eu duvido. E, quando tínhamos enfermeiro no posto, ele dava as injecções, fazia curativos, ajudava os mais velhos e evitava um grande gasto em ambulâncias para ir às urgências à Covilhã de cada vez que alguém escorregava na calçada. Se calhar, se fizessem as continhas todas, ia-se ver e até saía mais em conta.

Como já disse, também fecharam os Correios. E, agora, também fecharam os de Belmonte. Agora, se quisermos ir ao correio, temos de ir à Covilhã. São 13 km. O que não há é transportes. Há tempos, fecharam a linha do comboio da Beira Baixa, e perdemos o transporte que tínhamos para a Covilhã ou para a Guarda. Um taxi para a Covilhã custa para cima de 17€, 34€ com a volta. E, ainda por cima, temos de ajudar a pagar os transportes lá de Lisboa e do Porto, uma coisa que eles lá têm, passe social ou lá o que é. Veja o Senhor que, dantes, quando os Correios pertenciam a todos e davam lucro, uma carta era deitada no correio num dia e, no dia seguinte, estava aqui na caixa de cada um. Agora, a conta da água, para vir de Belmonte a Caria, 7 quilometrozitos de coisa nenhuma, demorou, em Outubro, 11 dias e toda a gente, que por aqui é quase sempre de boas contas, passou pela vergonha de pagar fora do prazo.

A GNR aqui faz-nos muita falta. Os soldados já não são como eram dantes, assim macambúzios e barrigudos. Coitados, não sabiam mais. Não senhor. Agora são assim uns rapazes bem apessoados (e raparigas também, já mo afiançaram, mas aqui nunca apareceu nenhuma, mas eu cá acho bem), de boas falas, muito amigos de ajudar quem precisa. E, com aqueles carros a dar a volta à vila, com a pistola no cinto, sempre metem respeito.

E depois há outra coisa. Ler mais deste artigo

Do lúmpen jornalismo

por estatuadesal

(José Preto, advogado de Bruno de Carvalho, 15/11/2018)

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Não tive ainda o tempo de agradecer a solidariedade manifestada pelos meus Colegas Dr. Arnaldo Matos e Dr. Horácio Coimbra. O mesmo agradecimento é devido aos juristas que se pronunciaram em defesa dos Direitos Fundamentais.

Sublinho a intervenção da Ordem dos Advogados que, pelo seu Conselho Geral e respectiva Presidência, se pronunciou sobre o abuso entretanto e evidentemente agravado em muitos aspectos e atenuado noutros.

Um dos aspectos de agravamento foi o da conduta do lúmpen jornalismo já que nas três antenas privadas se largaram os seus serventuários a ganir dos écrans abaixo, protestando por não terem podido filmar Bruno de Carvalho algemado e a sair de uma carrinha celular.

Nunca se tinha visto - nem alguma vez me passara pela cabeça tal coisa, sequer como eventualidade - que dos bordéis do jornalixo pudesse emergir uma tal reivindicação de almas de mabecos contra um homem.

Acautelem-se os que formulam tais reivindicações de devastação, porque a infelicidade e a morte costumam corresponder com celeridade aos que as amam, pelas estranhas leis de uma inexplicada homeopatia das desgraças.

Insaciável e selvática gentalha.

A que ponto vai, nesta terra - que todos os dias também tal corja torna um pouco mais difícil de suportar - o ódio pelo êxito alheio, pela suficiência alheia, pelo trabalho bem feito, pela autodeterminação pessoal de que os outros forem capazes. O ódio, até, pela capacidade pessoal de resistência à adversidade. Que a vergonha os cubra como um manto, diz-se nas Sagradas Escrituras. Não há nada que se possa acrescentar ou retirar às Sagradas Escrituras. A sentença está aí perfeitamente firmada. E bem impressa na sensibilidade comum das pessoas normais.

É verdade que a intervenção de um Director da TVI veio, quanto a tal antena, disciplinar alguma coisa. A existência de um homem normal numa direcção não retira nada ao fenómeno. Ressalva-se apenas a demonstrada existência de um homem normal.

Fiquei impressionado, também, pela gentileza e acuidade de intervenção das jovens jornalistas da televisão pública que apareceram em reportagem. Perceberam bem estas menininhas que a boa figura não resulta da preocupação com a exibição própria, mas com a determinação de fazer bem feito o trabalho que se tem para fazer. Muito bem. O resto são tiques. Caricaturas de primas donas, ou, quase parafraseando o Dr, Arnaldo Matos, o resto é... Sempre a mesma coisa.

Oportunamente vos direi, mais detalhadamente, o que penso do que tem vindo a acontecer.

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

A saga do “assalto a Tancos” continua

  por estatuadesal

(Vasco Lourenço, in Notícias ao Minuto, 09/11/2018)

VASCO_LOURENCO

Tem juízo! Não te metas nisso! Já assumiste posição pública, já difundiste a tua opinião, já toda a gente sabe que para ti nunca houve assalto, que tudo não passa de uma farsa com fins políticos!Porque insistes? Deixa que tudo se esclareça, não arrisques cenários que não podes provar!

Ao fim e ao cabo, vão comentar "lá vem este, com a teoria da conspiração, a defender a Geringonça! Deixa andar a carruagem, não te metas nisso! Pois é, como seria mais fácil seguir as opiniões de amigos, seguir os seus conselhos, perante o meu pedido de crítica ao projecto de mais um texto meu sobre o "assalto" aos paióis de Tancos!

Sim, seria mais fácil, seria mais cómodo, por isso tenho hesitado, mas ... continuo na mesma, não sei “assobiar para o lado” face a problemas que me tocam ...continuo a não ter juízo! Porquê? Porque, além de tudo o mais - e não é pouco - estou farto, sinto-me enojado com a exploração da farsa!

Então, agora, o interesse e a importância da descoberta do que se passou - isto é, quem planeou, com que objectivos, quem executou, como e com que meios e resultados (?), já não interessa? Saber quem e como fez o "assalto" passou a secundário, substituído por se saber se os mais altos responsáveis do País souberam ou não que só se conseguiu recuperar o material com a colaboração de um informador? Com a tentativa de envolvimento do próprio Presidente da República, os farsantes mostram que para eles não há limites! Está tudo de pernas para o ar!

A comunicação social dá largas às maiores especulações! Como, aliás, sempre o fez, pois convém ter presente que alguns órgãos da mesma têm sido peça importante desde o início da farsa! Resultado, voluntária ou involuntariamente, a comunicação social vem sendo um extraordinário instrumento para que os farsantes atinjam os seus objectivos!

Atónitos, assistimos às mais inverosímeis teorias, onde os comentadores encartados se digladiam por conseguir o cenário mais estapafúrdio, como o do material recuperado ter sido tirado doutro paiol, só para "resolver" o assunto, acabar com a investigação e dar os louros à PJM! Está claro que os autores desta teoria - a começar num general que está sempre presente e não perde a oportunidade de "dar palpites"-, pouco se importam com a extrema dificuldade de uma operação desta natureza: a sua envergadura, a sua visibilidade, o envolvimento da estrutura do Exército, o encobrimento da falta de material noutro paiol, cujo consumo não poderia ser justificado, tornaria quase impossível a sua ocultação! É preciso é especular!

E, depois eu é que tenho a mania da teoria da conspiração!... Este fim se semana, até tomámos conhecimento de que a Procuradora Geral da República  há pouco substituída só o terá sido porque se meteu no caminho dos interesses do Governo, no que ao "caso de Tancos" diz respeito (!).

É um "fartar vilanagem"! Pois se Tancos foi produzido para atacar a Geringonça, como estou cada vez mais convencido, agora é o Governo que não está interessado no esclarecimento? Continua tudo de "pernas para o ar"!

Voltando ao essencial da situação, que interesse tem para os farsantes que o MDN, o PM ou o PR - caso tenham sido hipoteticamente informados da operação "recuperação" - tenham sido enganados e induzidos a pensar que o êxito dessa recuperação se teria devido à colaboração de um informador?

Para eles, os farsantes, interessa é aproveitar o facto de eles não terem informado a PGR! Querem lá saber da competência política que cada um deles possui, para decidir, em cada momento, qual o interesse nacional!

Para eles, enquanto a Geringonça não cair, "a luta continua"!... Por isso, mais que preocuparem-se com as nefastas consequências futuras para o País, o que importa é infringir danos imediatos, a curto prazo, aos adversários (que eles tratam como inimigos...). Aqui, gostaria de imitar Jesus Cristo e clamar “Se alguém de vós tiver autoridade moral, atire a primeira pedra!”

E repito o que venho afirmando, desde as primeiras horas: descubra-se toda a verdade, doa a quem doer! Confio – será que confio mesmo? – que se não repita o desfecho das averiguações aos Submarinos e outros que tal!

Reflitamos um pouco: O objectivo principal da farsa executada – ataque à Geringonça – já foi parcialmente atingido (O MDN e o CEME já “lá vão”…) mas a direita não desiste, quer mais. Analisemos o cerne da questão:

  • A. Foi executado um “assalto”, com roubo de material de guerra. Foi recuperado esse material, numa acção rocambolesca (a incompetência dos que planearam e executaram a farsa é tal, que ainda não conseguiram definir bem a relação do material roubado, nem esta coincide com a relação do material recuperado…) O que, como vamos constatando, permite as mais diversas especulações… Foi descoberto que a recuperação não passou de um negócio, feito entre o ladrão e a PJM. Foi denunciado que a PJM informara o MDN, posteriormente, da acção de recuperação. (Com a preocupação de nunca afirmar que a negociação fora feita com o ladrão, afirmando sempre que a mesma fora feita com um informador, estava criado o cenário para que o MDN não levantasse problemas, pois a utilização de informadores é um método consensualmente aceite por todas as Polícias…)
  • B. Pois bem, a que assistimos, por parte da oposição, naturalmente interessada no ataque à Geringonça? A um conjunto de reacções que tornam legítima a conclusão de que ela não será alheia à montagem da farsa “assalto”… Em vez de gritarem pela descoberta da verdade total – a começar na do “assalto”, isto é, quem planeou, quem executou, como e com que resultados – continuam a “berrar” (com mais ou menos ruído, com maior ou menor sofisticação) pela necessidade de se saber se o Primeiro-Ministro António Costa e agora também o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, sabiam ou não da manobra de recuperação do material. Chegam ao cúmulo de “exigirem” uma comissão parlamentar de inquérito, para averiguar o que se passou. Mas, convém acentuar, o que se passou quanto à recuperação do material, com possível encobrimento dos assaltantes, não o que se passou quanto ao roubo, propriamente dito! O resto, dizem, compete à justiça. Mas, não vá o diabo tecê-las, há que criar obstáculos à descoberta de toda a trama. Outra conclusão não posso tirar, face às diversas nebulosas que criam à investigação, sempre que a mesma parece avançar. Como diria alguém, há que prevenir, garantir que a investigação “não chegue a lado nenhum”, pois, se chegar, arriscam-se a que “a castanha lhes rebente na boca” ou, mais apropriado nesta situação, “que a bomba lhes rebente nas mãos”…“Às vezes até parece que é de propósito…” afirmou o Presidente da República. Não parece, é! Afirmo eu, que não tenho o dever de contenção do Presidente. Acredite, Senhor Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, é mesmo de propósito! E quem cria essas nebulosas está interessado é em impedir a descoberta da verdade!

Voltando à questão de os responsáveis políticos terem hipoteticamente sabido, posteriormente, da operação de recuperação do material, questiono: Mas, isso tem algum interesse? Sim, pergunto eu, que interesse há em saber se o Primeiro-Ministro, e até o Presidente da República, hipoteticamente souberam (posteriormente) que o material fora recuperado pela PJM, através da ligação a um informador que, além da não revelação da sua identidade (o que é mais que natural, para qualquer Polícia do mundo, incluindo naturalmente as portuguesas) apenas impusera como condição que o assunto ficasse no âmbito da PJM e não transitasse para a PJ? Naturalmente, nenhum interesse, afirmo convictamente! A não ser o servir para desviar a atenção do essencial…!

O material fora recuperado, havia que tirar as devidas consequências para que o roubo se não repetisse…! A investigação continuava, agora no âmbito da PJ, para que se descobrisse tudo. Nomeadamente, quem roubara…Tudo estava a decorrer normalmente, a investigação prosseguia, a caminho da verdade. Não, não! Para a oposição não está nada resolvido: a Geringonça não caiu, há que continuar a  farsa, até às últimas consequências! O facto de entretanto se ter descoberto que afinal a recuperação não se fizera em ligação com um informador, mas sim com o próprio ladrão até vinha a calhar.

Havia que despistar – desde logo as possíveis ligações do “recuperador” com o ladrão, portanto com o próprio “assalto” – não dar importância ao facto do ladrão poder ser “apertado” e ajudar a esclarecer o “assalto”, interessava era explorar o facto de esse “recuperador”, pressionado por saber que a PJ estava no encalço da verdadeira operação de recuperação, ter conseguido um “guarda-chuva”, com a cobertura do chefe do seu serviço (PJM) que tudo aponta ter sido enganado para aprovar a operação de recuperação. Como é evidente, refiro-me ao hipotético conhecimento (ainda que incompleto e deturpado) da operação/recuperação dado ao Ministro da Defesa.

É caso para afirmar que “se o ‘recuperador’ estivesse na origem da farsa do assalto, isto é, se fosse o autor da execução da conspiração contra a Geringonça, não teria feito melhor…” Por tudo isto, acrescento uma afirmação clara e dura: deixem-se de teatro, deixem-se de manipulações, assumam-se! Não nos tentem enganar, fazer-nos de parvos!

O facto do primeiro-ministro ter hipoteticamente sabido de alguns pormenores da operação de recuperação do material não tem qualquer importância! E se o Presidente da República também hipoteticamente soube, é igualmente irrelevante.O essencial é saber-se: quem planeou, com que finalidade, quem executou, como e com que resultados o famoso “assalto”?

Ah, e não tentem atirar-nos areia para os olhos, comportando-se como se o móbil do crime fosse o tráfico de material de guerra, isto é, fosse o de ganhar algum dinheiro (se o ladrão ganhou algum, não foi certamente por vender o material roubado, para além da venda das munições, que provavelmente nem fizeram parte deste “assalto”…).

Gostaria de estar na cabeça do ladrão, quando, porque o comprador prometido não apareceu, terá percebido que fora enganado, que nunca existira qualquer comprador…Sim, porque não passa pela cabeça de ninguém que um roubo desta envergadura tivesse sido realizado sem a garantia prévia de um comprador. Até quando continuará a farsa?Do que depender dos seus autores/responsáveis, certamente até que o objectivo da queda da Geringonça se verifique…!

Confesso que, mantendo-me curioso, estou a ficar enojado! É que, ao contrário de muitos, sou dos que considero que “na política não vale tudo”…! Mas, do que depender de mim, tentarei impedir que em Portugal suba ao poder um Trump, um Bolsonaro, um Orbán, um Salvini, uma Le Pen, ou outros da mesma laia. Estou esperançado em que, por mais que chamem o diabo, por mais que o tentem forçar a vir, os valores de Abril conseguirão sair vencedores! É utópico? Provavelmente, sim, mas há utopias pelas quais vale a pena lutar!...


P.S. O que aqui escrevo, não me faz esquecer os diversos aspectos, igualmente importantes, que esta farsa provocou e pôs a descoberto: Guerra entre a PJ e a PJM; violação do segredo de justiça (certamente com prática de corrupção); péssima actuação dos responsáveis políticos e militares (nomeadamente o MDN e o CEME), na reacção à farsa; existência de tráfico de armamento, com a conivência/envolvimento de militares; deficiente investimento do poder político nas Forças Armadas (desde há vários governos, a esta parte), com os consequentes nefastos resultados na organização da estrutura das mesmas, seja nas instalações, nos equipamentos e fundamentalmente no pessoal; grande incapacidade (ou não?) dos governos em escolherem ministros da Defesa Nacional; por fim, os fortes indícios da possível existência de militares a conspirarem contra o Estado de Direito Democrático.

Como destruir um partido em dez meses

João Miguel Tavares

JOÃO MIGUEL TAVARES

OPINIÃO

Rui Rio aguarda por um milagre político que não virá em 2019. O pior resultado do PSD desde 1976 é cada vez mais provável.

15 de Novembro de 2018, 6:21

A Lusa colocou na terça-feira em linha uma notícia sobre uma reunião que Rui Rio teve com militantes de Viseu. Essa notícia afirmava, citando apenas relatos da reunião e sem identificar fontes, que Rio teria dito aos militantes sociais-democratas, a propósito do caso José Silvano, que “não deixa cair os amigos”. A declaração deu origem ao burburinho esperado, com mais trocadilhos entre “banho de ética” e “banhada”, e a recuperação de velhas declarações, contraditórias com a actual. Várias vergastadas depois, o PSD, e o próprio Rui Rio, vieram desmentir a notícia, garantindo “peremptoriamente” que em momento algum tal frase foi proferida na reunião, e classificando-a mesmo como uma “inequívoca mentira”.

  • Esta sequência de acontecimentos demonstra duas coisas, ambas péssimas para o PSD. A primeira é que o partido está num clima de guerra civil, e que todas as oportunidades são boas para – utilizando a famosa metáfora santanista – dar um pontapé na incubadora de Rui Rio. O enorme desconforto da direcção de Rio em relação ao caso Silvano não se deveu apenas ao facto de ser o segundo secretário-geral apanhado em más práticas. O desconforto adveio da altíssima probabilidade de a notícia do Expresso ter tido origem na própria bancada parlamentar do PSD, e de vários deputados sociais-democratas estarem manifestamente interessados em dinamitar a vida de Rui Rio, quem sabe à espera que alguém lhe faça aquilo que António Costa fez a António José Seguro em véspera de eleições.

A segunda coisa que o caso demonstra é que Rui Rio não acerta uma. Porque se ele não disse aquilo que a Lusa diz que disse (e eu acredito em Rui Rio), aquilo que ele diz que disse é quase tão mau como aquilo que ele diz que não disse. Segundo o comunicado do PSD, Rio acredita que o caso Silvano foi sobrevalorizado, e assim sendo ele jamais iria “aproveitar-se oportunisticamente da condenação mediática de alguém” para fazer boa figura ética, pois o “cumprimento dos princípios éticos” é “ter a coragem de ser justo na apreciação dos factos”. Ou seja, este rebuscado argumento, que em termos de compreensibilidade só está um pouco acima da sua intervenção em alemão, apenas prova que a famosa teimosia de Rui Rio começa a aproximar-se perigosamente do autismo. Rio tem dificuldades em perceber que as pessoas não são estúpidas, e que não é a aldrabice em si, mas sim a sucessão de explicações mal dadas e desculpas mal-enjorcadas, que transformou o caso numa bola de neve.

Rui Rio aguarda por um milagre político que não virá em 2019. A direita vai estar partida entre a Aliança de Santana Lopes, o Chega de André Ventura e alguns partidos liberais que podem conquistar votos – e boas cabeças – a uma pequena elite cosmopolita que até há bem pouco teria no PSD o seu poiso natural. O PSD está completamente dividido, até em termos geracionais, entre a velha guarda social-democrata e os jovens turcos passistas. E aquilo que parece ter sobrado para Rio construir a sua equipa são os Salvadores Malheiros, os Felicianos Barreiras Duartes, os José Silvanos, as Elinas Fragas e as Emílias Cerqueiras desta vida. Ah, esperem, sobra ainda isto: pela primeira vez na vida, vejo a esquerda elogiar um líder do PSD com desvelo. Tanto desvelo, aliás, que qualquer eleitor do partido só pode desconfiar. Quando Rui Rio é protegido por aqueles que não pensam votar nele estamos conversados. Convém também estarmos preparados: o pior resultado do PSD desde 1976 é cada vez mais provável.

Espanha – Tentativa de assassinato do Presidente do Governo, Pedro Sánchez

  por estatuadesal

(Carlos Esperança, 15/11/2018)

armasNa foto estão as armas que eram detidas pelo presumível terrorista.

A Justiça espanhola considerou o militante nazi, Manuel Murillo, um atirador olímpico, detentor de um arsenal bélico e preparado para assassinar o Chefe do Governo, como não terrorista. Foi considerado mero portador de intenções de conspiração para atentar contra uma autoridade, apesar da organização, das ligações, dos meios, e da decisão de matar essa ‘autoridade’, que era ‘apenas’ o chefe do Governo de Espanha.
E de esquerda!

Em Portugal não há um só juiz Fernando Andreu nem chefia da Procuradoria Geral que, conhecendo, desde o início, a detenção de um nazi com um vasto arsenal, que planeasse matar o PM, decidisse não investigar o caso; e, muito menos, uma ‘Audiência Nacional’ capaz de urdir uma mentira inverosímil para ocultar a inércia contra o decidido atirador, cego de raiva pela exumação de Franco do Vale dos Caídos.

Manuel Murillo, vigilante de segurança e autor da tentativa de assassinato do presidente do Governo foi detido quando planeava matá-lo. O fascista tinha sido condecorado, em fevereiro deste ano, pela Associação de Amigos da Guarda Civil, em Barcelona, nas próprias instalações da Zona da Catalunha do Instituto Armado, na presença de altos comandos, facto que só surpreende quem desconhece que o franquismo permanece nas Forças Armadas e de Segurança e no aparelho de Estado.

O franco-atirador, ora detido, que é filho do último autarca franquista da localidade catalã de Rubí, frequentava ambientes de ultradireita e tinha jurado vingança contra Sanchez, se retirasse Franco do Vale dos Caídos.

O gabinete de relações públicas da Guarda Civil já veio dizer que a presença de Murillo nas suas instalações foi a título meramente privado e da exclusiva responsabilidade da Associação de Amigos da Guarda Civil. A Procuradoria da Audiência Nacional, depois de urdir uma mentira para fugir às responsabilidades, já se retratou e reconheceu que, afinal, admite agora, conhecia o caso do franco-atirador.

Além do risco que correu a chefe do Governo de Espanha e da displicência com que a tentativa de assassinato foi encarada pela magistratura (ir)responsável, é evidente que o aparelho de Estado espanhol não é o de uma democracia. Tal como a monarquia, é uma herança do ditador.


Fonte: Todos os factos têm sido relatados no Público e, alguns, em El País, nos últimos dias. Deve-se a esses jornais a divulgação do atentado à democracia, que ameaçava ser silenciado. Há, aliás, uma indiferença preocupante em Espanha e silêncio em Portugal.