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quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Greves: sinais de esperança e exigência

Opinião

Mariana Mortágua

Ontem às 00:01

  • ÚLTIMAS DESTE AUTOR

  • Lembro-me bem de 2012 e 2013. Foram anos de grande contestação e de muitas e duras greves, tanto no setor público como no privado. Na altura estava em causa a defesa dos direitos mais básicos.

    Os enfermeiros lutavam para não emigrar, e para resistir ao aumento da carga horária, das 35 h para as 40 h sem qualquer salário adicional. Os pensionistas e funcionários públicos revoltavam-se contra o fim dos subsídios de Natal e de férias. Muitos tinham perdido o emprego e confrontavam-se agora com os cortes no subsídio de desemprego. Quem trabalhava indignava-se contra a sobretaxa em IRS. A enorme contestação destes anos foi a luta de um país para salvar o que tinha e que era seu por direito.

    No verão de 2013 a situação alterou-se. Depois das enormes manifestações que travaram o aumento da TSU, tinha-se criado uma brecha de esperança relativamente ao fim antecipado do governo do PSD e CDS, que parecia concretizar-se com a demissão de Vítor Gaspar e de Paulo Portas. O recuo de Portas, promovido a vice-primeiro-ministro, deitou por terra essa possibilidade, consolidando a imagem de um governo autoritário e imune à contestação social. A resignação de um povo entristecido tinha temporariamente substituído a esperança numa alternativa. Foi por esse povo, e para lhe dar resposta, que se assinaram os acordos entre os partidos de Esquerda e o PS, que deram origem à atual maioria parlamentar.

    Muitos dos retrocessos impostos pela Direita foram reparados e o medo e a humilhação foram substituídos pela legítima expectativa de novos avanços e conquistas há muito esperadas. E é neste contexto que a contestação e as greves voltam hoje a aumentar.

    Quem quiser ler a nossa sociedade com seriedade sabe que a contestação de 2018 não tem os mesmos fundamentos da de 2012, porque ela luta por avanços, e não para travar recuos. E também sabe que, entre Lisboa e Paris, há 1738 quilómetros de diferença. Macron é um representante da elite económica que está a tentar impor ao seu país um programa radical de reformas austeritárias e liberais, consumada a capitulação da social-democracia francesa.

    As greves em Portugal aumentam porque a esperança de viver melhor é grande, e ainda bem. Mas as expectativas exigem respostas. O governo do Partido Socialista teve e tem todas as condições para fazer melhor: para investir mais nos serviços públicos e respeitar os seus profissionais, para encontrar solução para os estivadores e aprovar novos mecanismos de proteção do salário no privado.

    Mas para haver respostas, o Governo deve mobilizar, além de um pouco de humildade, muita determinação, até para não deixar as escolhas que contam ao desgoverno europeu.

    A onda grevista é isso: esperança e exigência.

    Deputada do BE

    O descrédito da Europa

    Opinião

    Francisco Seixas Da Costa

    Hoje às 00:00

    ÚLTIMAS DESTE AUTOR

    Há dias, o sorriso impotente de Mário Centeno, no fim da reunião do Eurogrupo, era, em si mesmo, o retrato dos dias desta Europa. Não há consenso para a fixação de modelos comuns para a governação do euro, o mesmo é dizer que, perante a eventual emergência de uma crise económico-financeira, a Europa irá, uma vez mais, correr atrás dos acontecimentos.

    Nessa altura, como há dez anos, será um "salve-se quem puder", com a assimetria de efeitos a fazer com que alguns não possam, de novo, escapar a situações dramáticas. Depois, com a solidariedade pelas ruas da amargura, a vontade de ajudar os outros irá variar na razão direta das vantagens que cada país disso retire, seja nos juros dos empréstimos, seja no isolamento do caráter tóxico dos problemas dos vizinhos.

    Como chegámos aqui? Pela democracia. Pela democracia? Claro. A Europa é constituída por estados cujos governos, até ver sem qualquer exceção, dependem da vontade popular e, cada vez mais, os cidadãos de cada país olham para o seu interesse nacional direto. E imediato. Os políticos são escolhidos por terem apresentado respostas, tidas por plausíveis, para as preocupações dos seus concidadãos. Mas não foi sempre assim? Foi. Só que, no passado europeu recente, a generalidade dos governos comungava de um discurso que, com maior ou menor eficácia, convencia os seus cidadãos de que, para além das suas fronteiras constitucionais, existia uma realidade institucional cuja eficácia funcional teria sempre efeitos positivos sobre a vida do conjunto dos países que haviam aderido a esse projeto integrador.

    Havia, claro, quem duvidasse dessa narrativa: eram os eurocéticos, uma espécie estranha, por muito tempo minoritária, vista como retrógrada, alheia ao "patriotismo europeu" que era o politicamente correto vigente - assente na demonstração de que a Europa consolidara a paz (importante para gerações sob o trauma das guerras) e trouxera desenvolvimento (olhem-se fotografias do continente, nos anos 50).

    A Europa trouxe, de facto, a paz e o desenvolvimento - desigual mas real. Mas o continente, ao autocontentar-se com o seu bem-estar, não se deu conta de que perdeu as armas competitivas para sustentá-lo no futuro. E o futuro não é dos que tiveram a memória da guerra real ou da Guerra Fria, é dos que, no dia de hoje, pretendem viver bem e dão as vantagens do passado como adquiridas. Esta Europa, pelo que veem no rosto de Centeno, não lhes traz as soluções. (Mas não se fala por aqui do Brexit, de Macron? Foi mesmo disso que falei).

    Embaixador

    Ladrões de Bicicletas


    As confusões de Macron

    Posted: 12 Dec 2018 01:51 AM PST

    [Nota prévia: Quem seja dado a teorias da conspiração, diria que o atentado de Estrasburgo surge num momento de particular tensão para o governo francês, que, num estado de improvisação e desespero, bem precisaria de um inimigo externopara unir os franceses...]
    Atente-se às medidas anunciadas segunda-feira à noite pelo presidente Macron, supostamente para - usando a estranha expressão usada em noticiários nacionais - "apaziguar a rua". Ora, o que é mais escandaloso é que, medidas que deveriam atenuar a desigualdade social reinante em França, acabam por representar um apoio público ao actual status quo, gerador deste caldo explosivo.

    O salário mímimo vai aumentar 100 euros, mas esse aumento não será tributado e será "sem custos suplementares para os empregadores".Trata-se de uma antecipação de 70 euros nos aumentos já previstos, embora adoptado como prémio de actividade (figura existente desde 2016, criada pelo govreno Hollande, orientada para os trabalhadores mais pobres, aqueles que ganham entre metade e 1,2 vezes o salário mínimo, atribuída em função dos rendimentos do agregado). Representará uma prestação social cujo impacto em termos líquidos vai depender dos rendimentos globais do agregado familiar. Esta foi a forma escolhida para que a medida não tivesse efeito de contágio na estrutura salarial geral. Não é um aumento salarial!  Não terá efeito na reforma nem na remuneração de referência do subsídio de desemprego e vai subir mais lentamente que a inflação. Só isso diz muito do que se defende. E mesmo assim, o governo embrulhou-se todo em contradições sobre o seu montante, dando a entender que nada fora devidamnte estudado. Mas a verificar-se, tratar-se-á de uma ajuda pública às empresas e um incentivo indirecto à contratação a baixo valor. No Parlamento, o primeiro-ministro fez o número de como as medidas anunciadas estivessem planeadas: "Quando foi que o SMIC aumentou 100 euros?"
    O trabalho extraordinário não será tributado. Fica por explicar de que forma esta medida se enquadra nas respostas ao movimento Coletes Amarelos. Parece ser bem mais uma reivindicação patronal. Primeiro, porque vai atingir apenas 40% dos assalariados, aqueles que fazem horas extraordinárias. Depois, trata-se de uma ampliação do que já se verifica: parte dos encargos patronais já são pagos pelo Estado - as contribuições sociais - alargando-se agora ao quadro fiscal e regressando-se à situação vigente no mandato de Sarkozy entre 2007 e 2012. No fundo, o trabalho extraordinário que - como a própria designação refere - deveria ser extraordinário, passa a ser um tipo de horário de trabalho incentivado pelo Estado francês, em que os encargos patronais passarão a ser pagos na totalidade pelo Estado. Ora, incentivar o trabalho extraordinário é desincentivar a nova contratação, sendo que o desemprego é a principal fonte de pobreza. Acresce que serão mais beneficiados os rendimentos mais elevados. Trata-se de uma medida que, aqui em Portugal, já foi defendida pelo... CDS (!). 
    Prémios isentos de impostos. Representa uma medida efectivamente reivindicada pela associação patromal Ethic. Seria - na ideia oficial - uma forma de dar poder de compra, através de uma redução de impostos sobre os prémios. É, mais uma vez, um apoio público às obrigações empresariais, das quais beneficiarão apenas os assalariados visados nas empresas que os usem, restando saber quantas o farão. Se a ideia era apoiar maciçamente os franceses -.como o disse o primeiro-ministro no Parlamento - a medida parece mal desenhada. Até poderão contribuir, sim, para ampliar fosso na desigualdade salarial.
    Pensões abaixo de 2 mil euros isentas de CSG. Trata-se de isentar os rendimentos de referência das pensões (e não as pensões) mais baixas entre 1200 e 2000 euros da aplicação da contribuição social generalizada (criada como forma de diversificar as receitas da Segurança Social). Não se trata de um aumento mais consistente das pensões que, em 2019 até vão perder poder de compra (aumento de 0,3% de todas as pensões contra uma inflação esperada de 1,3%). Trata-se de um aligeiramento fiscal, suportado pela Segurança Social (aparentemente não pelo Estado). E resta apurar se essa redução não será um presente envenenado, já que os pensionistas visados perderão a indexação à inflação em 2019 e 2020. Resta acrescentar que, tratando-se de isentar os rendimentos de referência - e não as pensões - poderá implicar que nem todos os pensionistas serão atingidos pela medida, caso tenham outros rendimentos.
    Todo o perfil destas medidas não é novo. Ele soma-se àquele que esteve na base da criação em 2012 da CICE (Cédito de Imposto para a Competitividade e o Emprego). Ou seja, um apoio público de 4% sobre a massa salarial das empresas relativa aos salários até 2,5 vezes o salário mínimo e que deveria ter forte impacto na criação de emprego. No final, os estudos não estabelecem uma relação directa no emprego nem na margem das empresas, exportações, etc. Mas a esmagadora massa de trabalhadores posicionou-se nessa faixa salarial (mais de 95%), acabando por ter sido um mecanismo de desvalorização salarial. E quem pagou essa medida cujos custos anuais são evarésticos - 15 mil milhões em 2013 e que foi subindo até chegar a 40 mil milhõs de euros em 2019? Em parte, o seu custo foi compensado por uma redução das despesas sociais públicas... Ou seja, as mpresas foram apoiadas em detrimento de quem mais precisa.
    Ora, a CICE está prevista acabar em 2019, o que deixou o patronato em estado de carência. E estes apoios públicos anunciados por Macron ficam aquém do custo do CICE, mas terão um elevado custo orçamental. Custo previsto: 1,7 mil milhões de euros para as horas extrapodinárias, mais 2 mil milhões de euros para os prémios de actividade e um valor ainda não avançado para as pensões, num total de  talvez 6 mil milhões de euros. A esse valor, haverá que somar a anulação do aumento do imposto sobre os carburantes - 4 mil milhões de euros - por pressão dos Coletes Amarelos.
    Macron parece ter ganho, pois, uma nova dor de cabeça. Ora, para manter o sacrossanto défice de 2,8% do PIB - ainda que se espere que Bruxelas se compadeça do inopinadamente anunciado estado de emergência económica e social - resta saber se Macron não recorrerá àquela receita ainda mais perigosa, já usada antes. Ou seja, cortar da despesa pública social.
    Veremos por onde vai a seguir o improvisador Macron.

    Hoje, no CIUL, em Lisboa

    Posted: 12 Dec 2018 01:20 AM PST

    Fim da linha?

    Posted: 12 Dec 2018 01:18 AM PST

    Parece que a social-democracia na UE chegou ao fim da linha quando o “guião” para os trabalhos da sua conferência, realizada no passado fim-de-semana em Lisboa, resultou do trabalho de uma “comissão independente para a igualdade sustentável”. A força do hegemónico consenso de Bruxelas e da sua novilíngua revela-se nos nomes das coisas.
    Parece que a social-democracia chegou ao fim da linha quando ainda decide participar na farsa da “eleição” do Presidente da Comissão Europeia e com Frans Timmermans como “candidato”, ou seja, com a versão em negócios estrangeiros de Dijsselbloem, ambos membros de um agora merecidamente pequeno partido holandês, indicando portanto aos outros o seu provável futuro.
    Parece que a social-democracia chegou ao fim da linha, graças sobretudo à integração europeia irremediavelmente neoliberal, quando a grande esperança no regresso às suas raízes, Jeremy Corbyn, escreve um artigo para o ilegível The Guardian, onde toma o comércio internacional “sem fricções” como uma referência para o Brexit, o que está em flagrante contradição com certos aspectos do seu programa, incluindo as ajudas de Estado aí afloradas, parte de uma necessária política industrial. Espero que seja tudo táctica para trabalhista europeísta, uma contradição nos termos, ver. Veremos. Entretanto, Brexit só há um e é duro, como agora se diz de forma manipuladora, aliás como dura será sempre a luta democrática contra a lógica pós-democrática do mercado único.
    Parece que a social-democracia chegou ao fim da linha quando Geórgios Papandreou, o da pasokização, lidera um apelo a Corbyn, publicado no The Guardian, para que cometa suicídio político, lutando pela manutenção do Reino Unido na UE, travando o Brexit. Só por cinismo se compreende que Assis subscreva tal apelo. Afinal de contas, a UE é o fim da social-democracia, o fim de Corbyn. E por falar em cinismo euro-liberal, que dizer do discursopretensamente idealista do dirigente social-democrata Augusto Santos Silva, que pelos vistos desconhece o pretensamente realista Ministro dos Negócios Estrangeiros português Augusto Santos Silva?
    Enfim, parece que a social-democracia chegou ao fim da linha quando o partido socialista deste país é uma referência para o resto. O governo deste país aprovou recentemente a transposição do pacote europeu de liberalização da ferrovia. O fim da linha passa de metáfora a realidade...

    Por que foi que Macron não convenceu os Coletes Amarelos?

    Posted: 11 Dec 2018 04:31 PM PST

    A declaração oficial de Emmanuel Macron, na noite passada, é uma falsa resposta aos problemas colocados pelos protestos em todo o país.
    O gráfico ao lado mostra como se distribuíram os salários em 2016, a partir dos dados do INSEE, o INE francês. Cerca de 60% dos assalariados recebia menos de 2 mil euros. Cerca de 30% recebia menos de 1500 euros, sendo que, nesse ano, o salário mínimo era de 1356 euros (actualmente está próximo dos 1500 euros).
    O gráfico seguinte mostra a distribuição por decis da distribuição do rendimento (não apenas salarial), de acordo com dados compilados pelo jornal Le Monde.
    Como é visível, os dois últimos decis - os "mais ricos" - concentram mais de 40% da riqueza criada. Os 20% mais pobres absorviam pouco mais de 10% do rendimento. Conforme um estudo do INSEE, as pessoas pertencentes aos 1% mais ricos recebiam mais de sete vezes o rendimento médio da população no seu conjunto e detinham 6,8% do total da riqueza. Eram gerentes em 60% dos casos e empresários em 10%.
    Os dois gráficos revelam o grau de desigualdade que reina em França.
    Esta é uma situação que, segundo o INSEE, se vem verificando desde 1998, pelo menos do que foi seguido estatisticamente. O peso dos grupos que eram os mais bem pagos aumentou significativamente em detrimento dos rendimentos intermédios ou mesmo baixos, uma situação que os estudos do INSEE qualificam como diferindo dos casos de polarização, como o dos Estados Unidos. Entre 1998 e 2015, como refere outro estudo, aumentou o fosso entre pobres e ricos, tendo apenas se reduzido ligeiramente desde 2010, tudo baseado na riqueza financeira e no sector imobiliário. Cerca de 70% dos agregados mais ricos beneficiaram da subida do valor da propriedade (mais 133% nesse período). A riqueza financeira aumentou 75% entre 1998 e 2015, sobretudo durante o período de 2004/2010, beneficiando todos menos os mais pobres. A propriedade foi aquilo que explicou o fosso entre os pobres e os ricos.
    Por outro lado, a linha de pobreza fixou-se em 1015 euros mensais, que impregnava 14,2% da população francesa, limiar esse - segundo o INSEE - que era um das mais baixos na União Europeia. O desemprego foi uma das causas principais de pobreza (37,5% dos casos). Recorde-se que o salário mínimo se situa muito próximo desse limiar de pobreza. Ou seja, quem o recebe pouco consegue sobreviver quando mais elevar-se socialmente.
    Estas desigualdades são fruto de um modelo de funcionamento económico que, como noutros países, optou por reduzir ao máximo os custos laborais - vulgo salários - como forma de ganhar competitividade e conceder margem de manobra às empresas. Mas nada disso se inverte por artes mágicas ou pequenas medidas.
    Por isso, não é de estranhar a desconfiança do movimento Coletes Amarelos às medidas anunciadas por Macron. Sobretudo porque elas representam, sim, uma prenda pública às empresas. Ver próximo post.

    Hoje, na livraria Ferin, em Lisboa

    Posted: 11 Dec 2018 02:54 AM PST

    Entre as brumas da memória


    Trabalhar de graça depois dos 70?

    Posted: 11 Dec 2018 12:38 PM PST

    Reformados do Estado com mais de 70 anos no ativo podem escolher salário ou pensão.

    Para além de discordar da decisão de reformados com mais de 70 anos poderem continuar a trabalhar no Estado (mas não é isso que quero discutir aqui), o que mais me espanta é que essas pessoas vão trabalhar mais ou menos de graça: não recebem um salário que some à reforma.

    Ou seja e dando um exemplo concreto: o senhor x podia ficar em casa, reformado, a receber 1.000 euros / mês. Se pedir para continuar a trabalhar e se o seu pedido for aceite, continuará a receber os mesmos 1.000 euros, ou porque eles correspondem ao que vai fazer ou porque pode optar entre esse valor e o do seu novo salário, se este for menor. (Poderá ter direito a mais uns euros, se a nova tarefa for melhor remunerada do que o seu valor de reforma.)

    Isto é portanto uma certa forma de voluntariado.

    Se esse mesmo reformado do Estado decidir continuar a trabalhar mas no privado (caso dos médicos, por exemplo), é óbvio que terá um salário normal para além da sua reforma.

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    TIME: Personalidade do ano

    Posted: 11 Dec 2018 09:05 AM PST

    52 jornalistas mortos no exercício da sua profissão.
    A ler e ver: The Choice. Why the guardians are the person of the year.
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    Rui Rio, sempre a exceder as expectativas

    Posted: 11 Dec 2018 06:30 AM PST

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    Na rota da China, claro!

    Posted: 11 Dec 2018 03:33 AM PST

    «Quando Portugal sofreu uma intervenção externa, a que os próprios intervenientes chamaram “resgate”, todos os investidores fugiram. Da Europa, só conhecíamos um interesse: transferir a dívida que tínhamos para com os bancos alemães e franceses para instituições europeias e internacionais que tivessem os instrumentos para impedir uma renegociação que nos fosse favorável. Que investidor sobrou? A China. Que comprou barato, claro está.

    Note-se que não estou a fazer qualquer distinção. Num momento de aflição, a Alemanha só se preocupou em garantir que portugueses e gregos pagassem as dívidas aos seus bancos. Se isso significava arrasar a nossa economia, paciência. Como perdemos todos os instrumentos monetários, aceitámos. A China só se preocupou em fazer boas compras, mesmo que isso significasse deixar-nos sem grandes empresas. Como o dinheiro das privatizações ia todo para pagar a dívida, também aceitámos. A China trata tanto de si como a Alemanha. O “Hino da Alegria” é excelente para órfãos que substituíram o império benigno de Moscovo, Pequim ou de Washington pelo de Berlim. Mas se queremos ter futuro é melhor deixarmos de procurar faróis e voltarmos ao realismo político, fazendo o que eles fazem: o que, sendo eticamente aceitável, é melhor para nós.

    Como um pouco por todo o lado, os chineses compraram seguros, bancos, imobiliário. Para o ano deverão ser uma potência mais poderosa do que a União Europeia e lá para 2030 ultrapassam os EUA. Têm sobre outros investidores uma diferença: um plano político e pensam a longo prazo. Não querem espalhar a ditadura e o comunismo (de que já se esqueceram há algum tempo) pelo mundo. Querem o que os EUA, a Rússia, o Reino Unido, a França, Espanha, Portugal e por aí adiante quiseram: ser a maior potência. A única piada de quem repete que o nacionalismo está a regressar é alguma vez terem acreditado que ele se tinha ido embora. O que se está a ir embora é a soberania democrática, que se exerce nas nações. As nações sempre lá estiveram.

    Sente-se por aí uma grande indignação com o peso crescente da China na nossa economia. Curiosamente, essa indignação não vem daqueles que alguma vez tenham defendido que devíamos manter sectores estratégicos em Portugal ou nas mãos do Estado português. Pelo contrário. Parece que teríamos o dever de torcer por outros investidores estrangeiros. Os alemães, por exemplo. Mas o investimento chinês é pior? Acreditarão que há dinheiro mais democrático do que outro?

    Sim, foi um erro privatizar a REN, um monopólio natural estratégico. Mas o erro não foi vender aos chineses, foi vender a fosse quem fosse. Fossem outros os proprietários e não estaríamos melhor. Que me recorde, a Cimpor e a PT não foram vendidas a chineses. E foram alegremente destruídas. Assim como estão a ser destruídos os CTT, privatizados em bolsa. Aqueles que nos prometeram um futuro risonho com as privatizações e nos ofereceram a destruição de muitas das nossas principais empresas escusam de esconder as suas culpas atrás dos chineses. Ao contrário dos fundos de investimento, que compram para revender aos pedaços, a China até investe com os olhos num horizonte mais distante do que o ano seguinte.

    A ideia de que podemos ficar longe do investimento chinês é absurda. A China será cada vez mais incontornável e é fundamental estarmos na sua rota. Não ceder a qualquer pressão de outros estados europeus que estarão apenas a pensar nos seus próprios interesses. Já chega de ser o corno romântico da Europa. Temos de pensar em alemão: faremos os negócios que sejam melhores para nós. Isto não invalida a crítica política à China, que se faz através de uma solidariedade cidadã para com os chineses que querem democracia, sindicatos, liberdade. Mas invalida esta estúpida ideia de que, num confronto entre as potências europeias, os EUA e a China, nós somos uma parte de qualquer um deles. Não somos, como bem aprendemos, com os gregos, em 2011.»

    Daniel Oliveira

    Mais um inefável relatório da OCDE

    Novo artigo em Aventar


    por Autor Convidado

    Santana Castilho*

    A análise feita na imprensa sobre o Reviews of School Resouces. Portugal 2018, o último relatório da OCDE, fornece, mais uma vez, uma subliminar informação desfavorável aos professores, assente nos seguintes tópicos:

    --Retoma do discurso segundo o qual os professores estão bem pagos (a OCDE foi, há meses, confrontada com a discrepância entre registos estatísticos abstractos e a situação concreta, mas não aproveitou este novo documento para se corrigir, favorecendo, assim, o Governo na corrente disputa com os sindicatos).

    --Tese segundo a qual directores e professores manipulam as necessidades educativas dos alunos para reduzir o tamanho das turmas (tese que apoia os esforços do Governo para impor políticas prioritariamente centradas na redução dos custos).

    --Lamento por a descentralização (leia-se municipalização) não ter ido mais longe, designadamente acolhendo a contratação e colocação do pessoal docente e a atribuição aos municípios da responsabilidade por todos os assuntos operacionais (tão a propósito para a redução da autonomia das escolas e para a visão do Governo sobre a matéria). Ler mais deste artigo