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quinta-feira, 18 de abril de 2019

As fotos da crise académica de 1969, a luta das “capas negras”

24/3/2016, 16:252.670

Quando Américo Tomaz não deu a palavra aos estudantes, a luta pela democracia em Portugal começou a vestir o traje de Coimbra. A Crise Académica de 1969 aconteceu há 50 anos. Recorde as fotos.



A crise académica de 1969 foi marcada por uma onda de indignação que agitou Coimbra e o país inteiro

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Texto republicado e alterado por ocasião dos 50 anos da crise académica de 1969.

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17 de abril de 1969. A Universidade de Coimbra estava a inaugurar o Departamento de Matemática e o presidente Américo Thomaz seguiu para a capital dos estudantes com o ministro da Educação, José Hermano Saraiva, numa época em que a contestação estudantil estava em alta. Quando a comitiva chegou a Coimbra foi recebida por um mar de capas negras com cartazes em protesto. Estavam nas ruas e nas faculdades e não havia forma de o regime as ignorar.

Américo Thomaz entrou no novo edifício e discursou perante um público de apoiantes, até porque os estudantes foram mantidos fora da Sala 17 de Abril, onde a reunião estava a acontecer. No final do discurso, o presidente da Direcção-Geral da Associação Académica de Coimbra (Alberto Martins, hoje um destacado militante do PS, ex-ministro da Justiça) sobe para cima de uma cadeira com a capa aos ombros e diz: “Em nome dos estudantes de Coimbra, peço a palavra”. A palavra não lhe foi dada: o Presidente da República, mesmo atrapalhado, introduz o discurso do ministro das Obras Públicas e a sessão termina logo a seguir. Foi a gota de água: as vaias que acompanharam a saída da comitiva anunciaram o início da Crise Académica de 1969.

Ainda a 17 de abril, Alberto Martins foi detido e passou a noite na cadeia. A comunidade estudantil estava pronta para agir, mas fê-lo a partir de 22 de abril quando oito estudantes da Universidade de Coimbra foram suspensos e proibidos de assistir às aulas. A Assembleia Magna decretou luto académico e as aulas foram substituídas por reuniões e debates precisamente na sala nova da Universidade. O governo adjetivava as iniciativas dos estudantes como uma “onda de anarquia que tornou impossível o funcionamento das aulas”. E apesar de os meios de comunicação social estarem proibidos de escrever, falar ou mostrar o que se passava em Coimbra, alguns deles conseguiram fazê-lo de modo subtil. Foi o caso do Diário de Coimbra, que usava recursos estilísticos para explicar algumas operações que os estudantes levavam a cabo no centro da cidade.

Quando José Hermano Saraiva admitiu alguma fragilidade perante a revolta estudantil, a Universidade fecha mas mantendo o calendário de exames. A Associação Académica de Coimbra lança então um documento intitulado “Carta à Nação” que pede “uma universidade nova num Portugal novo” e equaciona uma greve aos exames. Foi como colocar todos os trunfos em cima da mesa: se os universitários decidissem mesmo boicotar o calendário de exames estavam a chumbar deliberadamente e a colocar um pé em África, o que representava uma ameaça direta de serem mobilizados para as Forças Armadas e enviados para a guerra colonial. Avançaram: mais de 5000 pessoas votaram a favor do boicote e menos de 200 anunciaram que iriam fazer os exames.

A Academia dividiu-se assim entre “grevistas” e “fura greves”: a 2 de junho – uma segunda-feira e o primeiro dia de greve – vários estudantes chegaram à universidade acompanhados pelos pais. Uns iam obrigados pelos próprios, que não queriam ver as propinas investidas em Coimbra a serem perdidas em nome de uma crise; outros porque temiam as consequências no final desta onda de revolta; um grupo importante fazia-o por convicção, como o liderado por José Miguel Júdice.

Ao longo dos dias de exames os estudantes agitaram a cidade: uns distribuíam flores pelos habitantes de Coimbra, outros lançavam balões com mensagens de ordem nas praças. A profusão era tanta que a Guarda Nacional Republicana invadiu o espaço urbano e chegaram até a circundar a Sé Velha de Coimbra. Em julho chegaram os números: quase 87% dos estudantes tinha faltado aos exames. Os outros 13% viram os seus rostos espalhados na cidade com o título de “traidores”.

Entretanto, a 22 de junho, realizava-se a final da Taça de Portugal: nas meias-finais – disputadas a 15 de junho – os estudantes da equipa da Académica tinham vencido ao Sporting por 1-0. Lisboa encheu-se de capas negras e de cartazes de protesto: no estádio, onde a Académica ia jogar contra o Benfica, esperava-lhes um enorme aparato policial. Mas não o Presidente: pela primeira vez, Américo Thomaz faltou ao evento e o jogo de futebol nem sequer foi transmitido pela RTP, ao contrário do que já então era habitual. No final, os estudantes saíram derrotados por duas bolas a uma, mas não foi essa derrota que impediu os jogadores de colocar as capas aos ombros, em sinal de luto.

Apesar da persistência dos estudantes, muitos deles acabariam por ser obrigados a abandonar os estudos e a seguir para África. A Estação de Coimbra-B encher-se-ia de antigos universitários que agora iriam vestir a farda portuguesa noutro continente. Nem nesse momento os jovens se calaram: gritavam em protesto contra a guerra e contra o regime. Em 1987 a Assembleia da República Portuguesa votou que o dia 24 de março passasse a servir de homenagem à comunidade universitária que lutou pela liberdade em Portugal: estava instaurado o Dia Nacional do Estudante.

A dinâmica dos mercados de combustível

Novo artigo em Aventar


por Carlos Araújo Alves

Nasci e ainda vivi no tempo em que o petróleo e seus derivados, bem como a distribuição de combustível, eram pertença do Estado. Assim foi com Salazar, com Marcelo Caetano, durante o PREC.
Os enormes benefícios com que tentaram convencer de que a privatização dos combustíveis e sua distribuição seria um desígnio do livre mercado, de uma economia desenvolvida que promovia uma salutar concorrência e, daí, uma redução dos preços, vingou, felizmente para muitos.

Ora, felizmente para os que acreditam numa economia desregulada, passámos os últimos dias, às tantas mais uma vez felizmente para os mesmos, com uma luz sempre acesa a alumiar-nos o sinal de reserva dos veículos, enquanto as empresas privadas da distribuição se degladiavam com os seus trabalhadores e vice-versa.
Eu, por mim, aguardo ansiosamente e também talvez mui felizmente, Ler mais deste artigo

Das insuficiências técnicas às campanhas políticas

Ladrões de Bicicletas


Posted: 17 Apr 2019 07:38 PM PDT

1. A sustentabilidade de um sistema de pensões baseado na solidariedade intergeracional depende da evolução de, pelo menos, quatro fatores: demografia(relação entre ativos e pensionistas e, nessa medida, da evolução dos saldos natural e migratório); trabalho (volume do emprego e, nessa medida, das contribuições para a Segurança Social); política orçamental (taxas de contribuição e opções políticas tendentes à diversificação das fontes de financiamento do sistema); valorização dos ativos financeiros (resultante das aplicações dos fundos da Segurança Social).
2. A capacidade de fazer previsões sobre a evolução destes fatores é muito distinta. Se ao nível da demografia as projeções são mais exequíveis, é muito difícil antever, no longo prazo, as dinâmicas do emprego e das contribuições para a Segurança Social (como mostra a imprevista destruição de 200 mil postos de trabalho entre 2011 e 2015 e a criação de mais de 300 mil entre 2015 e 2018). E, mais difícil ainda, prever o imprevisível. Isto é, antever as opções de política orçamental futuras (ao nível, por exemplo, do grau de diversificação das fontes de financiamento) ou o «comportamento dos mercados» (e o grau de valorização dos ativos financeiros da Segurança Social).
3. A evolução das contribuições nos últimos três anos, resultante da criação de emprego, melhoria dos rendimentos e das novas receitas da Segurança Social (que permitiram, globalmente, que o FEFSS atingisse os 18 mil M€ no passado mês de março) é, a este respeito, lapidar. Se em 2015 se estimava que os primeiros saldos negativos do FEFSS ocorressem no ano seguinte, em 2019 a previsão passa para 2028 (9 anos), o mesmo sucedendo com o esgotamento do Fundo: se em 2015 se previa que o FEFSS estaria esgotado em 2029, quatro anos mais tarde (2019) a previsão passa para 2048. Ou seja, a estimativa de sustentabilidade mais que duplica, passando de 14 para quase 30 anos.

4. Desconfie-se pois, e muito, dos estudos tendencialmente fatalistas que indiciam, com ar grave e hora marcada, a falência do sistema público de pensões. O mais recente, da Fundação Pingo Doce, tende no essencial a reproduzir as opções e limitações de estudos idênticos, demasiado centrados na demografia (o parâmetro de análise mais exequível, mas igualmente sensível às políticas, à economia e à própria imprevisibilidade). Aliás, seria interessante encontrar neste estudo uma reflexão introspetiva sobre a referência à «profecia» de 1998, inscrita no Livro Branco, segundo a qual «a Segurança Social deixaria de ser sustentável a partir do ano 2020».
5. Reconheça-se porém que são os próprios autores do recente estudo a deixar claro que o modelo a que recorrem tem limitações, não permitindo fazer «projecções sobre a evolução da economia, da produtividade e do emprego – variáveis que condicionam, de forma estrutural, o futuro desempenho do sistema de pensões», apesar das tentativas de aproximação a estes parâmetros. Tal como assumem ter deixado «de fora (...) um conjunto de opções – como estimular a imigração ou encontrar formas de financiamento alternativas – que não poderiam ser adequadamente analisadas pela versão actual» do modelo. E portanto, as suas propostas espelham, no essencial, apenas o que cabe no modelo: aumentar as taxas contributivas, reduzir o valor das futuras pensões e aumentar a idade de reforma.
6. Deste tipo de propostas até às parangonas dos jornais é um fósforo, sendo as conclusões de um estudo limitado e parcial convertidas em profecia fatídica, que abre portas aos defensores da capitalização e privatização da Segurança Social, motivados pela abertura de novos mercados. A ponto de se tornar difícil colocar de lado a ideia de estar em curso mais uma campanha política fixada nesses objetivos e da qual quase parecem fazer parte economistas como Teodora Cardoso e Cavaco Silva, sintonizados com quem acha que as pessoas deviam ter mais incentivos à subscrição de PPR (como defende o presidente da Associação Portuguesa de Seguradores) ou mesmo ser obrigadas a fazê-lo (como defende o presidente da Associação de Fundos de Investimento e Pensões).

O cão que chiava

Novo artigo em Aventar


por j. manuel cordeiro

Este clip é um exemplo de marketing bem feito, eventualmente originando uns quantos arrepios se nos lembramos deste outro vídeo.

Um "brinquedo" que consegue abrir portas, subir escadas e mover-se de uma forma assustadoramente normal.

A Boston Dynamics começou por ser um spin-off do MIT, altura em que iniciou a colaboração com o DARPA, tendo depois sido comprada pela Google e, a seguir, vendida ao SoftBank Group. Desenvolveu vários prodígios da robótica, entre os quais o Atlas, um robot capaz de fazer peripécias como salto mortal e parkour.

A vida não pode ser contida, tal como podemos observar cada vez que a natureza se apodera dos conceitos idealizados pelos arquitectos paisagistas. Mas a inteligência parece ser ainda mais difícil de conter. Acredito que, um dia, ela se libertará desta amarra a que chamamos vida baseada no carbono. Não serão as melhores notícias para quem aprecie o seu corpo, mas esse tempo ainda não está no nosso horizonte. Quem sabe se então outros seres não lhe chamarão Deus.

Marcas lapidares (2)

Novo artigo em Aventar

por Bruno Santos

Artigo do jornal  La Tribune
15 de Abril de 2019, 9h12
Tradução*

Grande Debate: esta noite [15 de Abril de 2019], Macron joga com os franceses o II Acto do seu mandato

Depois de passar 100 horas a debater com os franceses sem nunca revelar nenhuma de suas intenções, o Chefe de Estado finalmente decide, nesta segunda-feira [15 de Abril de 2019] às 20H00, apresentar os seus "projectos de acção prioritários e as primeiras medidas concretas" para responder à crise dos "Coletes Amarelos". Há que rumores sugerem que "mudanças profundas serão lançadas". O presidente da República joga forte. O presidente do Senado, Gérard Larcher, alertou que o presidente "não teria uma segunda oportunidade". A pressão é, portanto, máxima para esse discurso, que deve revisitar um mandato em perda de velocidade.

Macron II Acto: Depois de aumentar as expectativas, Emmanuel Macron revela segunda-feira à noite aos franceses as suas respostas ao grande debate e à crise dos "Coletes Amarelos", com a obrigação de convencer e não comprometer a continuação de sua presidência.

Sobretudo porque o Chefe de Estado joga forte também no plano internacional,enfrentando desafios como o Brexit, as eleições europeias em Maio e ainda a abertura das negociações comerciais entre a União Europeia e os Estados Unidos.

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