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quinta-feira, 16 de maio de 2019

Joe Berardo é culpado de quê?

por estatuadesal

(Pedro Tadeu, in Diário de Notícias, 15/05/2019)

O senhor Comendador

Um exército de comentadores, jornalistas, economistas e políticos rasga as vestes pela falta de respeito de Joe Berardo, pela desfaçatez de Joe Berardo, pela petulância de Joe Berardo, pelo riso alarve de Joe Berardo.

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E o que é que Joe Berardo, tal como Ricardo Salgado, tal como Zeinal Bava, tal como tantos outros que passaram pelas várias comissões de inquérito que já escalpelizaram os vários escândalos financeiros do país, acabaram por tornar claro nas declarações que fizeram aos deputados da Nação? É que aquilo que agora lhes é apontado como condenável e criticável foi, simplesmente, a normalidade do funcionamento do regime: foi a normalidade do regime político/jornalístico, foi a normalidade do regime económico/financeiro e foi a normalidade do regime jurídico/legislativo.

Quando Joe Berardo responde "perguntem aos bancos..." à questão sobre como conseguiu receber milhões de euros em créditos sem ter de entregar garantias, está a explicar aos deputados como era a normalidade do funcionamento do regime económico/financeiro.

Quando Ricardo Salgado justificou com um parecer de três reputados juristas a legalidade do recebimento de 14 milhões de euros a título de "liberalidade" de um empresário agradecido, estava a demonstrar ao país como era a normalidade do funcionamento do regime jurídico/legislativo.

Quando Ramalho Eanes e Jorge Sampaio condecoraram Joe Berardo; quando Cavaco Silva condecorou Zeinal Bava; quando a maioria dos políticos e tantos jornalistas portugueses de economia e política, com bravas exceções (que as houve e, a alguns, prejudicou-lhes mesmo as carreiras) disseram e escreveram, anos e anos a fio, toneladas de elogios a estas pessoas; quando competiram num frenesim de bajulice a estas pessoas; quando esconderam as notícias negativas, mesmo as mais insignificantes, sobre estas pessoas; estava a decorrer em velocidade de cruzeiro a normalidade do funcionamento do regime político/jornalístico.

A direita adora dizer que são filhos dos desmandos do antigo primeiro-ministro, suspeito de corrupção, José Sócrates, os escândalos que levaram Joe Berardo a ir pavonear graçolas ao parlamento, Ricardo Salgado a altivar-se ofendido pelas suspeitas dos deputados e Zeinal Bava a magicar graves falhas de memória durante o interrogatório da comissão de inquérito. É mentira.

Os escândalos financeiros que causaram prejuízos de milhares de milhões de euros, que os portugueses estão a pagar e vão continuar a pagar durante muitos anos, são filhos de décadas de construção de um Estado onde a promiscuidade entre a política e a finança passou a ser regra.

Essa promiscuidade começou com a recuperação dos grupos económicos destruídos no período revolucionário do pós 25 de Abril, aprofundou-se com a privatização da banca e dos seguros, mecanizou-se com a chegada dos fundos europeus e a cultura de fraudes que lhes atrelaram, agravou-se com os negócios do euro e do crédito barato.

Essa promiscuidade institucionalizou-se com a utilização das empresas públicas, das fundações, das financeiras e dos institutos como porta de traficância de gente que produziu a técnica, a legislação, as políticas, o pathos, a ética e a consolidação do novo regime, a que chamaram "democracia ocidental" e hoje, mais globalizados, apelidam de "democracia liberal".

Durante dezenas e dezenas de anos, muitos e muitos viveram à conta desta ecologia da esperteza saloia, do favor trapaceiro, da aldrabice caucionada com carimbo jurídico, mediático, técnico e político.

Durante dezenas e dezenas de anos os protagonistas desta revolução que se seguiu ao fim da Revolução dos Cravos dominaram o poder com a legitimação do jornalismo de influência e a adoração das revistas cor-de-rosa a construírem, em torno desta gente, uma nova aristocracia para o país.

Agora, para surpresa dos que implantaram e se alimentaram do sistema durante mais de 30 anos, dizem que é crime. Agora, face à revolta generalizada, alertam contra os populismos.

Sócrates poderá vir a ser condenado em tribunal por corrupção mas não é pai da corrupção.

Sócrates é filho da natureza do regime que muitos dos nossos líderes construíram, tal como Salgado, Berardo e Bava. Para eles, tudo o que fizeram, os mil e um esquemas que inventaram para sacar dinheiro, os abusos que, aparentemente, tanta irritação provocam hoje em dia nos que antes os veneravam, não eram mais do que a evolução lógica e natural do funcionamento banal da politica e dos negócios.

Ao ver os mesmos políticos, jornalistas, juristas e economistas, que foram campeões na proteção e promoção da imagem dos "Donos Disto Tudo", a competirem agora por um lugar na primeira fila no linchamento de Berardo, Salgado, Bava e de todos os outros, faço apreciações de caráter cheias de onomatopeias e palavrões mas fico seguro de uma coisa: rapidamente, quando as coisas acalmarem, depois da necessária limpeza pela Justiça, esta gente irá arranjar um "gestor genial", um "empresário de sucesso", um "banqueiro talentoso" a quem se apresentarão para prestar o mesmo serviço que prestaram aos homens que colocaram Portugal à beira da ruína. Porquê? Porque o regime não mudou e, apesar deste abalo, não vai mudar e tudo voltará, lamento, à habitual normalidade.

quarta-feira, 15 de maio de 2019

E o Nogueira amuou!

por estatuadesal

(Joaquim Vassalo Abreu, 14/05/2019)

Mário Nogueira

E é até muito natural que se sinta melindrado. E não recuperará facilmente do tremendo desgosto desta derrota, uma derrota que ainda por cima esteve para ser uma retumbante vitória. Estavam os astros todos alinhados, o solstício ali já na curva, tudo certinho e…que raio aconteceu? Inopinadamente eis que um malabarista e refinado farsante, esse tal de COSTA, não fez a coisa por menos e deu uma “facada” nos seus aliados (o Daniel Oliveira dixit) que, aflitos, se esqueceram do Nogueira.

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A coisa não deve estar nada fácil e temo até que lhe advenha uma depressão, uma daquelas cavadas, estão a ver? Não auguro coisa fácil e teremos, assim, um Professor que nunca deu aulas a ir precocemente para a reforma por…depressão cavada!

Os Professores ficarão sem guia e os alunos sem mestre! A Frenprof sem presidente e a Intersindical sem candidato e, ainda, o PCP sem militante ! Para um Professor é de mais! E tudo isto porque o maldito do Costa resolveu desmontar o “teatro” e virou do avesso o guião da peça que tão bem afinado estava. Resultado: os actores desentenderam-se e mandaram a peça para as calendas…

O Miguel (o Guedes), o Daniel mais o irmão Gusmão, a Mariana mais a Joana (as Mortáguas), o Gusmão mais o irmão, uns na mão e outros em contramão, foram unânimes: O COSTA, manipulando todos, montou uma farsa! E só não vê quem não quer…E porquê? Porque estava, e muito bem, diziam eles, em baixo nas sondagens! De ”modos” que eu, tentando decifrar, concluo: então o bom para eles seria que ele estivesse em cima nas ditas sondagens? Alguém percebe?

Mas o Nogueira vive mesmo assim num dilema: é que indo para a baixa (se se quer reformar primeiro tem que ir para a baixa), coisa para ele de protesto último e desesperado e só suplantado por uma greve de fome, tem que deixar de coordenar, de instigar, de negociar, de perorar, de argumentar e de ameaçar com mais uma greve, não dele, mas dos outros, mas chega à conclusão que até nem baixa pode meter pois aquilo não é nada sem ele, pensa ele! E resta quem pense além dele?

Mas ó Nogueirinha eu vou-lhe dizer duas coisinhas, coisas essas que você, infelizmente para si, nunca perceberá! A primeira é a de que , depois de nos idos de 2008, ter levado a Lisboa tudo quanto Professor era ( menos a minha mulher e a minha irmã), em defesa da carreira docente e contra as avaliações, dizia você, mas a história disse-nos que não era nada por isso e sim para depor o Sócrates, o seu fôlego acabou e todo aquele professorado da direita deu por finda a experiência…Nunca mais foram!E não se arrependeu?

Queriam esses professores, que nunca uma greve fizeram, lá saber do tempo de serviço, das carreiras, esses até vão em topos de gama, e até das avaliações? Eles só queriam varrer com o Sócrates! Eles e mais você. E cansaram-se de lutas! Foi uma experiência gira, disseram já ofegantes de tanta luta…E você nada aprendeu?

Nunca aprendeu e agora viu-se: foi utilizado em nome de putativos ganhos eleitorais, tanto pelo PSD e CDS, como pelo PC e BE e, consumada a brincadeira, largaram-no! Até o seu Partido o desprezou.

Você e a sua luta foram apenas um instrumento de guerrilha politico-partidária, uma guerrilha onde tudo valia para se ganhar mas onde, para quem ganhou, o que valia não devia valer! Percebeu? Eu sei que não e agora o seu peso na rua vale zero. E sabe porque o largaram? Porque não foi consequente.

A sua avidez era tanta que nem se deu conta do quão espúria era aquela aliança! E você, estupefacto, em vez de jurar vingança, deu em pedir clemência: façam lá o favor…vocês prometeram…os Professores eram tão importantes para vocês e agora….

Agora amuou! Diz que vai pintar as estradas para a volta a Portugal com o 9-4-2 (mas ó Nogueira, a Volta é só em fins de Julho e Agosto, creio, e aí já não há aulas…) e…aderir ao Livre! Diz que está cansado de Partidos…

E vão três – o chimbalau na Bayer

Novo artigo em Aventar


por Ana Moreno

É o terceiro caso em que um júri dos EUA pronuncia uma pesada sentença contra a Monsanto, colocando de rastos a Bayer, que há apenas uns meses a comprou por 54 mil milhões de euros.

Mais uma vez cancro, mais uma vez o herbicida Roundup e o seu funesto glifosato.

A primeira condenação em 81 milhões de dólares, a segunda em 290 milhões e agora em mais de dois mil milhões de dólares. A Bayer anunciou que irá recorrer da decisão e espera que os veredictos sejam anulados em segunda instância - o que é pouco provável; mais provável será uma redução dos valores. Seja como for, os custos dos processos são substanciais e entretanto, o seu número nos EUA disparou para 13.400, com tendência crescente. Ler mais deste artigo

Silêncios interesseiros

Posted: 15 May 2019 12:45 AM PDT

Filme: "Este país não é para velhos", Cohen

Se há uma coisa boa que teve a anunciada "crise" governamental foi ter gerado o silêncio de Marcelo.
Marcelo diz que esteve mais de uma semana calado porque "tudo o que dissesse limitava a liberdade". A sua liberdade de decisão quanto ao eventual diploma sobre o tempo de serviço dos professores.
Na verdade, Marcelo esteve fortemente envolvido no tema da "crise" quando - fruto do seu destempero e hiper-actividade inconstitucional, que o faz sentir-se invulnerável - pressionou o governo a negociar mais com os sindicatos. E quando a "crise" rebentou, atingiu-o em cheio no peito.
Por isso, Marcelo quis ficar quieto, fingindo-se morto, antes que tudo lhe caísse em cima, como caiu em cima de Rui Rio e de Assunção Cristas. Cristas falou e perdei. Rui Rio tentou o silêncio, mas não conseguiu. Marcelo hibernou e a coisa passou.
Agora, com o tema do SIRESP e sobre a possibilidade de nacionalização ou de aquisição por parte do Estado de posição majoritária no seu capital, Marcelo mantém-se igualmente calado. E diz que não fala por ser... um processo em curso e sensível. Na verdade, trata-se de um tema que lhe é caro - os incêndios - e sobre o qual Marcelo interveio tanto e tão repetidamente...
Mas há bem pouco tempo, Marcelo fartou-se de intervir - e mal! - sobre a Lei de Bases da Saúde e, esse também, era "um processo em curso e sensível". Noutro tema - sobre a contratação pública de familiares - até interveio raiando a inconstitucionalidade, quando quis propor leis ao governo sobre o seu gabinete!
Qual é o critério?  Eis a resposta dada por Marcelo Rebelo de Sousa:

“Quem intervém muitas vezes, não intervém por uma mania, por um estilo, por uma obsessão. Intervém por uma necessidade, e quando entende que a necessidade impõe estar calado uma semana, duas semanas, três semanas, tão depressa está calado como fala todos os dias”, explicou o chefe de Estado. E num ano marcado por três eleições Marcelo Rebelo de Sousa avisa: “Os portugueses têm de se habituar” porque o silêncio “pode repetir-se”.

Pois claro que pode!
Agora só falta esclarecer qual foi a "necessidade" de intervir tantas vezes sobre a Lei de Bases da Saúde e a "necessidade" de nada dizer sobre SIRESP ou sobre os múltiplos casos laborais que lhe batem à porta e aos quais Marcelo se esquiva a dizer uma palavra. E qual a "necessidade"de, ao mesmo tempo, lhe ser tão fácil telefonar às apresentadoras Cristina Ferreira e Fátima Lopes, se não será mais esta faceta populista de um Presidente que condena os populismos...
Resta a esperança de que Marcelo tenha retirado a ilação "necessária": a sua intervenção não deve entroncar na estratégia política de certas formações e interesses. E muito menos ter um papel inconstitucional de intervir no sentido de alterar os "processos em curso" de elaboração das leis.
Nem que seja porque há momentos em que o podem matar politicamente.

terça-feira, 14 de maio de 2019

Lei Aúrea e a falácia da libertação dos escravizados

Novo artigo em Aventar


por Sotero

Um fato que muitos, principalmente os pretos e pretas do Brasil, não caem mais é o papinho da sinhá Izabel ter libertado, de fato, escravizado algum. Assinou a Lei Áurea em 1888, no lugar do pai  Dom Pedro II,  (escravocrata declarado que se recusou a assinar o documento, pois o  considerava  um absurdo), devido a pressão exercida pelos interesses econômicos dos países envolvidos na Revolução Industrial e as sangrentas revoltas de resistência negra por todo o país.   Isabel não era abolicionista e também atendeu a pressão da elite rural que viu no documento um ganho para evitar a reforma agrária.  Deram terras improdutivas a emigrantes italianos e etc enquanto os ex-escravizados nada. Como cantou o samba enredo da Escola de Samba da Mangueira este ano "Não veio do céu nem das mãos de Isabel a liberdade".

O soteropolitano (meu conterrâneo) Luiz Gama sim. Este abolicionista tem um passado memorável.  Como advogado, conseguiu a alforria para mais de 500 irmãos e irmãs escravizados. Viveu entre 1830-1882. Filho de mãe negra livre e pai branco, nasceu livre e foi vendido pelo pai como pagamento de dívidas de jogo. Conseguiu reconquistar, judicialmente, a sua liberdade. Ficou conhecido como "O Patrono da Abolição da Escravidão no Brasil. A ele toda nossa reverência.

Via Xeidiarte