Translate

sábado, 18 de maio de 2019

Este “Don” Clemente não tem jeito mesmo!

por estatuadesal

(Joaquim Vassalo Abreu, 18/05/2019)

Don Clemente

Este título fui-o buscar àquela célebre canção do Adoniran Barbosa acerca do Nicola e do Bairro da Bexiga! É que, tal como o Nicola, não leva jeito mesmo!

É que o “Don” não acerta uma! Se fala da sexualidade o seu chefe de imediato o contradiz! Se fala das mães solteiras idem, idem aspas! Se fala da sua ausência de compaixão, lá vem o Francisco que até é Jesuíta pô-lo na linha! E não aprende…

Quer dizer: não aprende ou não obedece?

donativo

AJude a Estátua de Sal. Click aqui

Devo referir que apesar de não me considerar Católico, e de facto não sou, considero-me, tanto pela educação que levei, como com o que ouvi, li e aprendi, um Cristão ( enquanto seguidor dos ensinamentos de Jesus Cristo) nada alinhado e, desejo sublinhar, não sou anti clerical! Respeito muito quem acredita mas eu, como dizia Atahualpa Yupanki, também sou “ dudoso”!

Não me vou alongar com esta nova diatribe do “Don”, que talvez por assim ser apelidado pensará ser imune à crítica e, pior ainda, ter direito ao disparate e à agressão intelectual a todos os que pensam e assumidamente sabem o que é isso da democracia e da cidadania, ao contrário dele que, sabemos lá porque cargas de água, considera o “ Basta” do tal Ventura uma referência!

E porque a memória escrita é a única que nunca se apaga, eu vou reproduzir um texto que acerca do dito “Don” publiquei nos inícios de 2018! Para quem leu para rememorar e quem não leu para apreciar! Aqui vai: Carta Aberta ao Cidadão Manuel Clemente – 09/02/2018!

“…Pois que isso de “Don” e “Sir” é mais para Espanhóis e Ingleses!

Quero, antes de mais, contar-lhe uma coisa da qual, eu presumo, deve ter ouvido falar: quando eu era pequenino e mesmo já jovem, lá da minha aldeia ouvia as pessoas dizerem que os Comunistas comiam criancinhas, mas pior ainda, logo ao pequeno almoço! Tem lembrança?

É que a verdade é que eu nunca ouvi ninguém, ou ligada ao regime da altura ou da própria Igreja Católica, isso desmentirem. Mas eu também desde pequeno sabia que tal não era verdade. Porquê? Porque o meu Pai, que era Guarda Fiscal, foi para o Alentejo profundo em princípios dos anos cinquenta, e nós ainda pequeninos com ele, e tal não verificou! O que constatou foi precisamente o contrário: dificilmente comiam…e eram Comunistas!

Mas, muito mais tarde, vim e viemos a saber que afinal, pois…

Isto para lhe dizer, Senhor Manuel Clemente, que V.Exª, que parece que escreve livros e mostra ser pessoa culta e dizem que Filósofo até, quando sai do seu pequeno mundo, quando o seu pensamento extravasa para aquilo que não sabe, só diz asneiras! Sim, asneiradas surreais mesmo!E não mostra ter sentido da penitência…E eu também me lembro, quando era pequeno também, que tínhamos que ir confessar-nos por “pensamentos, por palavras, por actos e omissões”.Lembra-se? Bem prega Frei Tomás, também se dizia lá pela aldeia!

E porquê? Porque V.Exª, que parece que jurou votos de castidade, que sabe V.Exª de sexo? Ficou-se pela leitura, não foi? Porque V.Exª, que parece que jurou ser celibatário e abstencionista em relação a sexo, que sabe V.Exª de casamento, de matrimónios, de casais, de filhos, de desavenças, de incompatibilidades várias, de violências até, para acerca disso perorar e, pior ainda, aconselhar e mesmo ditar lei? Que sabe você? Que experiência tem? É que nem sequer a da “supernanni” que, tão jovem ainda, parece que queria ensinar casais a educar filhos pequenos!

Quer dizer, segundo bem percebi: uma esposa casou pela Igreja, ponto um. O marido tinha sido um grandessíssimo filho da mãe para ela e ela, não aguentando mais tanta irresponsabilidade, tanto desamor e tanta violência, mesmo física, pediu a separação, o divórcio, ponto dois. Aceite e consumado, dando um tempo de reserva e sentindo-se ainda viva para a vida, partiu para um novo matrimónio, ponto três. Pois até ele, o marido, de tão arrependido que estava, até achou a coisa mais que natural, mas a Igreja não! Porquê?

Porque o matrimónio é indissolúvel, diz a Igreja. Sendo, portanto, o mesmo indissolúvel, em terminado fica a pessoa sujeita à infelicidade! Ou, na sua tese enquanto “Don”, à abstinência! À anti- naturalidade. Faz isto algum sentido? Será Você humano?

Isto é ficção e é um exemplo apenas , mas um exemplo que, toda a gente sabe, existe por aí às carradas. Abstinência enquanto os doutos sabedores da misericórdia Divina, da vida do além e dos ensinamentos de Jesus Cristo, um Cristo que até Maria Madalena perdoou e mandou em paz? Abstinência quando até o Papa Francisco os manda ser mais contidos, caritativos e compreensivos? Faz isto algum sentido?

Eu sei que o Cidadão Manuel Clemente, embora seja cidadão, não consegue despir a farda do “Don”. É um problema seu, meu caro,. É um problema seu.

Como é um problema seu o de, enquanto os Leigos da sua Igreja lutam contra a pobreza, contra a exclusão e tudo fazem para ajudar essas pessoas para quem a vida foi e é madrasta, se posicionar do lado dos poderosos e mandar palpites, políticos até, contra quem deseja um mínimo de dignidade no seu trabalho e anseia por melhores salários e particularmente o mínimo. Agente ouve e lê, meu caro “Don”.

Todos nós os que temos como sentido da Liberdade, o vivermos a vida que entendermos desde que essa nossa Liberdade não colida com a de qualquer semelhante, não aceitamos nem nunca conseguiremos entender esses vossos dogmas, dogmas anti-naturais porque agarrados a conceitos quase medievais, que apenas servem para restringir essa tal Liberdade, a Liberdade a que todos e qualquer um têm direito. E à Felicidade!

O senhor Cidadão Manuel Clemente tem direito a toda sua reacionarice, tem todo o direito e faz parte da sua Liberdade. Mas quando a sua Liberdade colide com a minha, com a nossa e de toda a gente, a de sermos Felizes ou procurarmos a nossa Felicidade, desculpe, e mais, cumprirmos a missão que nos foi destinada na passagem por este mundo, a de melhorarmos e continuarmos a vida da espécie humana, o Senhor está a mais e não pode ser levado a sério!

Ao menos, caro “Don”, siga o pensamento do Papa! É o mínimo que lhe rogamos…”

E mais não acrescento

Portugal participa no confisco de bens à Venezuela

por estatuadesal

(Por José Goulão, in Resistir, 16/05/2019)

(Há aqui qualquer coisa que não bate certo. Anda toda a gente escandalizada por o Berardo não pagar aos bancos e pôr a fortuna a salvo dos apetites dos credores. Então e ninguém se insurge por o Novo Banco, com o apoio do Governo, não entregar à Venezuela os milhões de dólares que lá estão depositados?! Não será isto um roubo feito pelo Banco a um depositante?

E não me venham falar em "roubos bons" e "roubos maus" porque essa conversa levava-nos muito longe. Um roubo é sempre um roubo, seja lá quem for que o pratique, e seja lá quais forem as causas que o motivem.

Comentário da Estátua, 17/05/2019)


donativo

AJude a Estátua de Sal. Click aqui

O governo da República Portuguesa está envolvido, directa e indirectamente, na apropriação ilegal de pelo menos três mil milhões de euros de bens públicos da Venezuela a que o Estado venezuelano está impedido de recorrer para comprar medicamentos, alimentos e outros produtos de primeira necessidade para a sobrevivência da população do país. Dessa verba, 1359 milhões de dólares correspondem ao valor do ouro de Caracas extorquido pelo Banco de Inglaterra, com anuência dos países da União Europeia; e 1543 milhões de euros é a fatia de dinheiro confiscada pelo Novo Banco, uma entidade nacional que foi salva com dinheiro extraído dos bolsos dos portugueses e depois oferecida a um fundo abutre norte-americano.

Até prova em contrário, o governo de Portugal é parte responsável por estes actos – além do reconhecimento do golpe terrorista através do qual os Estados Unidos designaram o seu agente Juan Guaidó como "presidente interino" da Venezuela. Os portugueses continuam à espera de respostas concretas a perguntas directas sobre estas actividades governamentais praticadas à revelia e contra os interesses dos portugueses, sobretudo dos que vivem emigrados na Venezuela. Até agora só o silêncio tem respondido aos pedidos de esclarecimento, o que também não parece perturbar a comunicação mainstream que, assim sendo, só tem o que merece. Mas o silêncio governamental vai valendo com uma confissão de cumplicidade de Lisboa com os crimes cometidos pela direcção fascista dos Estados Unidos da América contra a República soberana da Venezuela. Quem cala consente, sobretudo sendo este um governo que tem palavra fácil.

"A nossa estratégia funciona…"

E o que está a passar-se contra a Venezuela, com participação do governo de Portugal, é uma guerra avassaladora que envolve "crimes de lesa humanidade" passíveis de cair sob a alçada do Tribunal Penal Internacional, de acordo com um relatório pedido pela ONU e em poder da Comissão de Direitos Humanos da organização.

A guerra que atinge a Venezuela não resulta de sanções pontuais, como poderá pensar-se. O que os Estados Unidos montaram, desde que o presidente Obama declarou o país como "uma ameaça à segurança nacional" norte-americana, em 2014, é um sistema organizado de punição colectiva que visa a falência e o desmantelamento do Estado venezuelano.

O Conselho de Relações Externas dos Estados Unidos, o mais pesado dos famosos think tanks deste país, confessa que "as sanções são alternativas visíveis e menos dispendiosas do que uma intervenção militar". Por outras palavras, as sanções são uma guerra, admite.

Mais claro ainda nos termos usados é um membro do Departamento de Estado norte-americano que prestou declarações sob condição de anonimato a um conjunto de jornalistas, entre os quais Maria Molina, da Rádio Colômbia. "Estamos a assistir a um colapso económico total da Venezuela", disse. "Portanto, a nossa política funciona, a nossa estratégia funciona".

É a pessoas deste jaez e com esta consciência humanitária que o governo de Portugal está associado.

No passado dia 25 de Abril, dois economistas norte-americanos, Max Weibrot e Jeffrey Sachs, do Centro de Investigação Política e Económica dos Estados Unidos, concluíram que o bloqueio económico e humanitário representa uma "punição colectiva" que provocou já a morte de pelo menos 40 mil pessoas na Venezuela. Se as sanções não existissem, revelam os autores, a economia do país não teria sido afectada, seguiria o seu caminho; por outras palavras, não haveria "crise humanitária", não existiria "colapso".

Uma teia imperial

As sanções nada têm de acumulação de decisões pontuais aleatórias. São aplicadas através de uma teia estruturada com o objectivo de asfixiar os mecanismos que permitem a vida de um Estado e de um país.

A sucessão de Ordens Executivas emanadas pelos Estados Unidos mas com impacto global, sobrepondo-se à ordem internacional vigente segundo o sistema da ONU, ilustram o funcionamento de um verdadeiro poder imperial.

As medidas estabelecidas por Washington contra a Caracas – do mesmo tipo das impostas ao Irão e a Cuba – pretendem fazer com que a Venezuela deixe de funcionar com a banca internacional e o sistema financeiro em geral, não possa comercializar os produtos que garantam a subsistência do Estado e das populações, como o petróleo e o ouro. Neste quadro a Venezuela fica inibida de exportar e importar, de se administrar, de se financiar e de honrar as suas dívidas. Esta asfixia induz um processo sádico de punição de milhões de pessoa forçando-as, no limite, a submeter-se à miséria ou a virar-se contra um governo que não é, de facto, responsável pela degradação constante da situação.

Mercê da complexa teia de procedimentos aplicada de forma arbitrária em termos políticos, económicos, financeiros, sociais e humanitários, a Venezuela não pode vender petróleo e ouro, não pode comprar medicamentos em geral e vacinas em particular, não pode contrair empréstimos junto da banca internacional, onde também não pode movimentar os seus activos depositados ou em circulação no estrangeiro; além de não lhe ser permitido pagar as dívidas, para que depois possa ser acusada de não honrar prazos de pagamento e cair em default. Levando assim, por arrastamento, os impérios internacionais de notificação de créditos, como a Standard and Poor's a colocar a Venezuela nos últimos lugares, muito abaixo de "lixo" – situação mais grave ainda do que as de países vítimas de guerras e agressões militares.

Trata-se de um sistema maquiavélico, sádico, repete-se, porque atinge os seres humanos onde eles são mais débeis, dependentes e indefesos como a saúde, a alimentação, os bens essenciais de consumo. Uma guerra imposta sem tropas mas também com mortos, feridos e famintos.

A componente portuguesa

E o governo de Portugal participa de forma sorrateira, sem o assumir perante os portugueses, nesta operação que provoca danos deliberados na economia e no sistema de saúde venezuelano, com a agravante de originar "diversos casos de morte – o que implica crimes de lesa humanidade", segundo o relatório apresentado pelo perito independente da ONU, Alfred-Maurice de Zayas, na última sessão da Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas.

Uma participação portuguesa que não acontece apenas por arrastamento, devido às "nossas alianças" ou às inerências da União Europeia. É uma opção deliberada.

Já em Agosto de 2016, por exemplo, o Novo Banco decidiu que estava impossibilitado de fazer operações em dólares com os bancos venezuelanos, invocando pressões de outras entidades bancárias com as quais se relaciona. Fê-lo numa conjuntura em que instituições como o Citibank se negaram a receber fundos venezuelanos para importar 300 mil doses de insulina, o Crédit Suisse proibiu os seus clientes de realizarem operações financeiras com a Venezuela e, só em Novembro de 2017, foram bloqueadas por bancos internacionais 23 operações de compra de alimentos, produtos básicos e medicamentos, no valor de 39 milhões de dólares.

Mais recentemente, em Janeiro e Fevereiro deste ano, coincidindo com a entronização golpista de Juan Guaidó, o Novo Banco travou uma operação de importação venezuelana de vacinas contra a meningite, rotavírus e gripe, atitude que afectou directamente 2,9 milhões de crianças venezuelanas.

Outro banco com grande representação em Portugal, o Santander, surge envolvido em actuações deste tipo. Rejeitou uma movimentação de fundos para reparação dos equipamentos hemodinâmicos da área cardiológica, o que atingiu directamente pelo menos 500 crianças com cardiopatia congénita. Exemplos deste tipo multiplicam-se em cadeia, associados a centenas de instituições financeiras internacionais e respectivos ramos.

Os fundos do Estado venezuelano confiscados pelo Novo Banco atingem os 1543 milhões de euros, verbas para serem prioritariamente utilizadas em produtos essenciais como medicamentos e alimentação.

Não consta que o governo de Portugal, depois de ter oferecido o antigo Banco Espírito Santo, resgatado pelos contribuintes portugueses, a um fundo abutre norte-americano, se tenha movimentado para evitar as consequências das decisões desumanas da instituição – afinal um banco português.

Porém, observando o comportamento do executivo de Lisboa nas questões venezuelanas, seria contra-natura que o fizesse.

Porque – até prova em contrário – o governo da República Portuguesa e o Banco de Portugal deram aval à extorsão de ouro no valor de 1359 milhões de dólares à República da Venezuela. O secretário norte-americano do Tesouro, Steven Mnuchin, afirmou que todos os governos e bancos centrais da União Europeia foram consultados sobre a operação, concretizada pelo Banco de Inglaterra, onde o ouro fora depositado de boa-fé; e ainda não houve ninguém que o desmentisse.

Aliás, como já anteriormente ficou registado, o governo português fez-se representar, em 11 de Abril, numa reunião com o mesmo Mnuchin dedicada à asfixia financeira contra a Venezuela. É do secretário do Tesouro de Trump a seguinte declaração: "Continuaremos a utilizar todas as nossas ferramentas diplomáticas e económicas para apoiar o presidente interino Guaidó".

Fiel aos tiques de "bom aluno", o executivo de Lisboa não poderia deixar de obedecer também à Ordem Executiva 13850 do governo norte-americano, que bloqueia, entre muitas outras coisas, o comércio de ouro com a empresa estatal venezuelana Minerven.

Como o governo de Portugal continua a manter o silêncio sobre estes seus envolvimentos, e como não poderá alegar engano sobre as verdadeiras intenções "democráticas" de Trump ou Mnuchin, não existem dúvidas de que se identifica com o carácter agressivo, desumano e anti-democrático do lado onde se colocou.

Objectivos claros e terroristas

O ministro venezuelano dos Negócios Estrangeiros, Jorge Arreaza, costuma citar um dos seus interlocutores oficiais norte-americanos que lhe disse um dia: "já que não podemos mudar o governo venezuelano vamos arruinar a vossa economia".

A declaração resume, sem dúvida, todo um programa terrorista de âmbito transnacional sob a batuta dos Estados Unidos.

Segundo o relatório de Alfred-Maurice de Zayas , o perito independente designado pela ONU para avaliar a situação, esse programa "além de obstruir o acesso ao financiamento externo e aos pagamentos internacionais afecta o financiamento normal do aparelho produtivo nacional, criando uma redução da oferta de bens e serviços locais".

Ainda segundo Zayas, as sanções de Trump e Obama e as medidas unilaterais do Canadá e da União Europeia "agravam directa e indirectamente a escassez de medicamentos como insulina e antirretrovirais, acarretando demoras na distribuição e funcionando como agravante em diversos casos de morte – o que implica crimes lesa-humanidade".

O compromisso de Alfred-Maurice Zayas para apreciar a situação é com a ONU, não com Nicolás Maduro.

Seria, portanto, bastante mais digno e humanista que o compromisso do governo de Portugal fosse com as Nações Unidas, não com Donald Trump e o seu farsante Guaidó.

sexta-feira, 17 de maio de 2019

Os quatro piscas

por estatuadesal

(Daniel Oliveira, in Expresso Diário, 17/05/2019)

Daniel Oliveira

(Daniel Oliveira defende que as decisões zig-zagueantes do PS podem ser compreendidas à luz das ambições pessoais de António Costa em aceder a um cargo europeu de relevo, eventualmente a Presidência do Conselho Europeu. A ser verdade, e se o conseguir, vai deixar uma multidão de orfãos no PS, e mesmo noutros sectores de esquerda. Sobretudo se o seu sucessor, na liderança do PS, for o truculento Santos Silva como também o Daniel profetiza.

É que, a ser assim, nesse dia o PS entrará irremediavelmente na via da pasokização. As tendências europeias demoram a chegar cá mas acabam sempre por marcar presença.

Comentário da Estátua, 17/05/2019)


donativo

AJude a Estátua de Sal. Click aqui

A mensagem de apoio de António Costa a Emmanuel Macron não mereceu interesse dos jornalistas. Estamos numa campanha para as europeias e seria um disparate perder tempo a falar da Europa. Costa apresenta a coisa como uma aliança progressista que vai de Macron a Tsipras. Chamar de progressista a uma aliança que junta o mais impopular Presidente da história recente de França, responsável por uma reforma ultraliberal da lei laboral, e o homem que, traindo o voto do seu povo, aplicou um programa de austeridade muitíssimo mais violento do que o de Passos, é obra. O Alexis Tsipras progressista foi aquele que Costa acusou, em 2015, de combater a Europa de forma “tonta”. Este é apenas um náufrago.

No comício de Estrasburgo em que Costa participou através de um vídeo estavam os Ciudadanos espanhóis, o Partido Liberal alemão, o Em Marcha! de Macron, vários partidos de centro-direita, e, da ala mais à direita dos socialistas, apenas o Partido Democrático italiano. Nesta aproximação ao centro-direita, Costa deu um passo inédito: transferiu o apoio ao PS francês, partido a quem o PS deve muito na sua história, para o centro-direita. Mário Soares deve estar a dar voltas na campa.

Costa tem dito que o caminho português é um exemplo para a Europa. E é assim que a esquerda europeia olha para cá. Estranharão que quem se faz exemplo de unidade à esquerda traia a sua própria família política na Europa para se aliar ao centro e à direita. Qual dos Costas se enganou? O europeu ou o nacional? Nenhum deles.

Costa alimentou uma crise com um discurso para a direita, apoia Macron contra o PS francês para ganhar o centro na Europa e canta o “Bella Ciao” para entreter a esquerda. Já não pisca para a direita e para a esquerda, põe os quatro piscas ao mesmo tempo

Há quatro anos, acreditei que António Costa tinha sabido juntar os seus interesses pessoais a um olhar estratégico sobre o futuro dos socialistas, de maneira a dar-lhes espaço para não ficarem dependentes da direita para governar, salvar o PS do destino dos seus congéneres europeus e mudar o rumo da governação, com a construção de um bloco maioritário à esquerda. A fabricação da crise dos professores matou essa ilusão. Muitos olharam para ela pelo seu valor circunstancial – o conflito com a Fenprof – ou pelo seu objetivo tático – conquistar votos à direita.

Mas o objetivo estratégico era mais relevante: romper unilateralmente e de forma não explícita, e portanto sem custos, a geringonça. Costa está a abandonar os seus aliados externos e internos para se deslocar para o centro. E Augusto Santos Silva é o teórico desta estratégia. Acredita que será ele o Tony Blair português, sucedendo a Costa se ele for para a Europa.

António Costa sonha, talvez com excesso de otimismo, com a presidência da Conselho Europeu. Como se viu com Barroso ou Constâncio, a carreira europeia é o sonho dos políticos sem rumo mas com ambição. Internamente, precisa de se descolar da esquerda e, ainda assim, garantir um bom resultado nas eleições. Na Europa, precisa de estar no barco do centro e do centro-direita que não está com o PPE. Não é o escombro dos socialistas que lhe dará qualquer futuro. A solidariedade socialista fica para consumo interno, com a participação do candidato holandês à presidência da Comissão Europeia, Frans Timmermans, na campanha. Como há quatro anos, as alianças têm uma utilidade pessoal.

António Costa alimentou uma crise com um discurso para a direita, apoia Macron contra o PSF para ganhar o centro na Europa e canta o “Bella Ciao”, como hino da candidatura europeia, para entreter a esquerda, que fica apenas com a melodia. Já não pisca para a direita e para a esquerda, põe os quatro piscas ao mesmo tempo.

Estando nós em campanha para as europeias, seria normal que isto estivesse no centro do debate político. Isto, e o facto de Paulo Rangel e Nuno Melo apoiarem, para presidente da Comissão Europeia, Manfred Weber, o homem que pediu sanções para Portugal quando nos reerguíamos da crise. Como a comunicação social é viciada na irrelevância, é possível fazer um discurso cá dentro e outro lá fora. Juntar a esquerda cá dentro e fazer uma geringonça de centro-direita lá fora. Ser patriota cá dentro e apoiar quem nos tentou lixar lá fora. Porque é que ninguém liga às europeias? Porque elas não têm nada a ver com a Europa, com Portugal e com nada.Voltar ao topo

O Berardo que Portugal merece

Miguel Guedes

Hoje às 00:35

ÚLTIMAS DESTE AUTOR

Se há algo que resulta claro do processo de inquirição a Joe Berardo, é que a avaliação e resultados finais das comissões de inquérito dependem muito mais da desfaçatez dos inquiridos do que das competências de qualquer uma das comissões.

Convém, assim, que o inquirido seja um pulha, um mau carácter. Que goze e abuse da prepotência, que seja inábil na gestão do seu ego desmedido e que, de preferência, finja ter a memória de um peixe de águas frias e profundas. Se assim for, os resultados são garantidos: um pleno de indignação. Se, por outro lado, os inquiridos tiverem a personalidade de uma amiba, despojados de qualquer tipo de golpe de asa, amorfos por conveniência, humildes e defensivos até, eis que o teste do algodão passa pela superfície da rama e com nada mexe, nada transtorna. Tudo arrefece. As comissões de inquérito, por exclusiva vontade política, são a felicidade dos defensores do politicamente correcto. É preciso aparecer um crápula para lhes entregar alguma dignidade.

A resistência ao choque é um privilégio do motorista dos autocarros das viagens de finalistas. É dele que se espera que, independentemente do que possa acontecer nos bancos, mantenha uma atitude firme e calma. Não tivesse Joe Berardo uma lata épica e proporcional ao tamanho das suas dívidas e Portugal continuaria a ser o motorista do ilustre comendador. Que interessaria a dívida de 962 milhões de euros à CGD, BCP e Novo Banco se Joe Berardo fosse um personagem domesticado, escultural na argumentação e com pose de comendador? Nada. O empresário madeirense cometeu um erro impensável à luz da onda da indignação temporária: mostrou que esteve mesmo sempre a gozar connosco.

Berardo já jogou o seu "joker" dentro do sistema do Estado e rirá novamente quando e se lhe retirarem a condecoração da Ordem do Infante D. Henrique ou qualquer outra. "Eu show Berardo" ou o "Triunfo dos porcos". Sai vencedor o homem que se aproveita da incompetência e conivência do poder político, da poluição dos monopolistas e das negociatas espúrias com o dinheiro dos contribuintes. Fará um brinde à impunidade na companhia e bela vida de Salgado, Bava, Bataglia e Vasconcellos. Entretenhamo-nos, então, a crucificar moralmente o homem que lucrou com tudo isto sem cuidar de punir os que permitiram que empobrecêssemos todos. Está à vista que o arco de poder dos "partidos-negócio" não se importa de, sem vergonha e muito altivo, partir a espinha para dar a ideia de que de nada sabia, nada podia fazer mas que até se importa. O riso de Joe Berardo é plenamente justificado. Já esta indignação política, que finge surpresa, é uma indigente colecção de museu.

*MÚSICO E JURISTA

o autor escreve segundo a antiga ortografia

Ladrões de Bicicletas


Lições de um truque

Posted: 16 May 2019 06:06 PM PDT

O truque politiqueiro de António Costa, que deleitou os tudólogos da política e os media, deixa-nos algumas lições sobre o que Costa e Centeno querem fazer connosco depois de outubro. 1. Voltar a domar a força de trabalho. Se inteiras classes profissionais e uma grande parte dos trabalhadores ganharam novas expectativas quando julgaram que, derrotando a direita, derrotavam a austeridade punitiva, é preciso não lhes conceder vitórias (...) Costa regressou à tradição histórica (Soares, 1976-77 e 1983-85, Sócrates, 2005-11) que do PS conhecíamos demasiadamente bem: se necessário, ofender os direitos e esmagar as expectativas dos grupos sociais que os levaram ao poder, punindo-os com a mesma política e a mesma explicação moral que a direita usa(ria), ao mesmo tempo que se lhes pede gratidão porque com a direita seria ainda pior... 2. Inscrever Centeno na História como outro mago das Finanças — antes, claro, de ele acabar em Bruxelas, ou num gabinete secundário do BCE, ou, pior um pouco, em alguma consultoria da Goldman Sachs, daquelas que o Norte entrega a um “bom aluno” do Sul para que o guie pelos Suis do mundo. Esta categoria ficcional dos magos das Finanças tem, como sabemos, grande sucesso em Portugal (...) O que Centeno pede a milhões de portugueses com salário e reformas mínimas é que não tentem perceber sequer a enormidade das injeções na banca, mas que se escandalizem com os “privilégios” dos professores, desrespeitadores do resto dos funcionários, dos alunos, dos pais, dirigidos por um “extremista” que é preciso parar definitivamente!
Manuel Loff, Lições aprendidas, Público de hoje.

O efeito dos «rankings» e o papel das políticas

Posted: 16 May 2019 06:52 PM PDT

O recente estudo da OCDE (Balancing School Choice and Equity), que integra uma análise da segregação de alunos nas matrículas a partir do seu desempenho escolar (o qual reflete, como bem se sabe, as diferenças de estatuto socioeconómico), veio validar, com números, duas perceções difusas sobre as práticas das escolas neste aspeto. Por um lado, a ideia de que os estabelecimentos de ensino privados procedem, desde há muito, à seleção elitista dos seus alunos (mesmo no caso de Contratos de Associação) e, por outro, que as escolas públicas têm aderido crescentemente a essa prática, explorando as margens de manobra que a lei permita.

De acordo com os dados agora divulgados, em 2015 cerca de 4 em cada 5 estabelecimentos de ensino privado (82%) selecionava os seus alunos com base no desempenho escolar. Ou seja, um valor muito acima do registado na União Europeia e na OCDE (55 e 56%) e que contrasta com os resultados obtidos para as escolas públicas, em que «apenas» 28% admitem recorrer à seleção de alunos com base no seu desempenho, abaixo portanto do valor registado na UE (37%) e na OCDE (39%). Tudo indica, porém, tratar-se de uma prática que se expandiu num tempo recente, com o aumento expressivo a partir de 2009 (ano em que apenas 1% das escolas declarou preferir e preterir alunos, no ato de matrícula, em função do seu percurso escolar).
Perante estes resultados e a sua evolução, há dois fatores essenciais a considerar. Por um lado, a instauração de uma cultura de competição por vezes férrea entre estabelecimentos de ensino, que se manifesta de várias formas e que foi em grande medida reforçada pela divulgação dos rankings, produzidos em regra a partir da ordenação simplista, superficial e acrítica dos resultados dos exames, apresentando às famílias as supostamente «melhores e piores escolas». Por outro lado, o aligeiramento do princípio da área de influência dos estabelecimentos de ensino, para efeitos de matrícula, promovido por Nuno Crato e que veio instigar e reforçar práticas de seleção de alunos, contribuindo para agravar trajetórias de divergência cumulativa entre escolas.
Os dados agora divulgados pela OCDE reportam-se a 2015. Desde então, o governo e a maioria de esquerda que o suporta estabeleceram medidas para contrariar o efeito perverso dos rankings e as más práticas que se lhes associam. Entre elas, o combate às falsas matrículas, no âmbito da recuperação do princípio da área da influência das escolas, e o desenvolvimento de abordagens alternativas à simples ordenação de escolas a partir das notas dos exames. Face ao modo como a «cultura dos rankings» se impregnou nas escolas, nos meios de comunicação social e na opinião pública, não é expectável que estas medidas tenham um resultado imediato nem que sejam, por si só, suficientes para recentrar as escolas na sua missão essencial. Mas constituem, sem dúvida, passos politicamente relevantes na direção certa.