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sexta-feira, 19 de julho de 2019

Chocado, assaz chocado me confesso…

por estatuadesal

(Joaquim Vassalo Abreu, 18/11/2019)

Vassalo Abreu

E tão chocado estou que nem à arte da pontuação me dou

Vocês por favor ouçam-me e sigam o meu raciocínio que eu já estou que não posso Neste momento nem é pelo choque fiscal do Rio de que a seguir vou falar e que quando anunciado foi notícia e quando explicado deixou de o ser vá-se lá saber porquê mas é pelas séries e filmes que sou obrigado a seguir porque agora futebol não há e a política entrou de férias

É que estou mesmo a ficar farto e a entrar mesmo em desespero pois vejam só Na CSI de Los Angeles os quatro são sempre os mesmos já que mesmo sendo sempre barbaramente baleados nunca morrem na série está bom de ver só a pequeninha e fibrosa Hetty de vez em quando desaparece mas sempre volta para beber o seu estupidamente velho whiskie e até a Ruah é uma grande pistoleira pelo que eu digo como morrer e aqui façam o favor de imaginar uma interrogação

Mas não é só nesta também na de Honolulu pois não sei como se escreve A VAI na de New Orleans na de Miami e até na de Chicago PD que não sei o que significa pelo que vou à terças seguindo o Dr Bull que só uma vez perdeu ganhando a excelente VIS a VIS que se passa numa prisão de mulherame da pesada e a Rainha do Sul ambas nas noites de quinta esta onde o nosso Pepe Rapazote é chefe de um gangue precisamente na cidade do Luisiana e a Teresita é boa como o milho

Mas como aí sim aí morrem como tordos e eu que não fui nem à tropa nem à guerra e nunca fui mercenário pois nunca numa canhota eu toquei já estou a ficar farto de tanto tiro a brincar e de tanto sangue a jorrar e isso deixa-me até deprimido mesmo sabendo ser tinta Mas eita gente acabei de ler em mais um expresso mas este o Dinis que ainda há bem pouco tempo era Público uma notícia que incompreensivelmente ninguém sequer aflora a de que o Chefe dos Militares quem será ele está a perder a esperança e que a situação é insustentável pois faltam seis mil efectivos

E eu que nunca peguei numa canhota e já fiz seis capicuas fiquei a pensar Calma pá que a tua reserva já caducou bem perto das quatro e portanto não tens que temer É que nem na prova de tiro ao boneco passavas Mas onde se vão arranjar esses tais de seis mil se nem para a indústria gente há O brasileirame todo que está a fugir do calor dos trópicos chega e vai de imediato para a Restauração e quem sobra pergunto eu de modo que temo mesmo que o País do mundo que mais Generais tem estes tenham que investir de peito aberto tal como D. Quixote não sobre um suposto inimigo mas para a sua apetecida reforma dourada por falta de tropas

Mas que fazer Tenho os Telecines todos o Hollywood a repetir sempre os mesmos filmes os AX ENES o Crime e o outro o AMC que me lembra sempre o nome do meu Chefe e os FOX todos e até recebi hoje um Mail da NOS a dar-me os parabéns pois vou continuar a ter o NOS STUDIOS grátis e como fiz anos na sexta e foi a minha sexta capicua eles presentearam-me com o Arranha Céus duas vezes E eu até me perguntei Mas aquele artista com dois de altura e um de largo é mesmo perneta Perguntei-me porque a ser perneta é um excelente perneta e até aquele suplemento de perna é bem útil Três obrigatórios pontos que até admiração podem ter

De modos que de tão aborrecido e antes de ir uma semaninha de férias resolvi escrever-vos esta declaratória missiva de respeito para com a língua Portuguesa e com o acordo ortográfico não utilizando pontuação e até já sou reincidente Por mero respeito isso mesmo pois assim não erro nas vírgulas e para exortar a que procurem e leiam e basta digitar no Google pois ele já há muito me conhece um texto que eu também escrevi à Saramago e que se chama "As Reformas e a reformas" Pronto escusam de ir ver pois aqui vai o Link https://wp.me/p4c5So-wg

Leiam que é muito giro e agora vou finalmente falar do tal choque do Rio não aquele choque que nós sabíamos e até dizíamos que choque que eu levei e ou era mesmo eléctrico ou era o do cotovelo que até dói tanto como o outro mas aquele a que chamam de fiscal

Quando foi anunciado sem ser devidamente escalpelizado eu fiquei tão chocado que até escrevi no SER-SE SÉRIO em política que aquilo não era Ser-Se Sério Mas a verdade é que para lá da empolgação do Expresso Costa que escreveu não interessa o que ele Rio falou interessa é que finalmente falou só um outro Expresso colunista tentou entender mas chegou à conclusão que aquilo só mesmo com o alinhamento dos astros todos durante anos e com o tal multiplicador ali tão concentrado como se estivesse a fazer yoga

E fiquei mais chocado ainda pois ninguém mais falou do raio do choque até que o Rio descobriu onde realmente estava o problema na Saúde e que o problema estava no nome do ministério vejam só Que para não se chamar da Doença em vez da Saúde porque só recorremos à saúde quando estamos doentes e ele com aquela perspicácia que os seus lhe reconhecem pegou nuns óculos e arranjou a solução Ministério da Promoção da Saúde E isto sei eu ele foi beber àquela Tia de Cascais que um dia disse que estar viva era o contrário de estar morta E Rio não mais se esqueceu desta frase O estar doente é o contrário de estar com saude

Realização/Revisão de teses. Click aqui.

Não ouvi mais mas não custa adivinhar um Promoção da Justiça um outro Promoção da Defesa ainda o da Promoção da Educação o da Progressão das Polícias e um outro este especial e inovador para a promoção das Ordens dos Médicos e Enfermeiros a Ministérios e assim numa Bolsonarização importada desse extraordinário exemplo Brasileiro nomeá-los embaixadores nos esteites do trampa Como se diz agora e uma colega farta-se de repetir Chorei

Só não morri com o choque pois tenho coração forte E ainda queriam que pusesse vírgulas … mas três pontinhos ainda ponho mas muito chocado

E se Centeno for para o FMI?

por estatuadesal

(David Dinis, in Expresso Curto, 18/07/2019)

Mário Centeno

A notícia apareceu primeiro num site especializado em notícias sobre a Europa - mas com algum desdém: Mário Centeno pode ser uma hipótese para liderar o FMI, substituindo a francesa Christine Lagarde, agora a caminho do BCE. Desdém porque Centeno vinha com uma etiqueta: “não é sénior suficiente para o cargo”. Talvez por isso, a segunda notícia que punha o português na "shortlist", do prestigiado Wall Street Journal, foi desvalorizada por cá - mesmo sendo francamente mais afirmativa e abonatória.

A verdade é que, como escreveu o Expresso esta noite, Centeno não é carta fora do baralho para a liderança do FMI. Tem alguns argumentos a favor, tal como tinha (e o mundo político português desvalorizou) quando concorreu à liderança do Eurogrupo. E tem, sobretudo, um enorme trunfo na mão: no momento em que há uma verdadeira corrida de candidatos europeus ao posto, é ele quem vai representar a Europa na reunião de hoje dos ministros das Finanças do G7, onde o tema está no topo da agenda de trabalhos (como pode ver no link anterior).

Conte, portanto, com isto: Mário Centeno adoraria (como não?), António Costa não teria como dizer que não, até Marcelo apoiaria um português na liderança da única instituição multilateral que ainda não tivemos. Para já, Centeno não será o favorito - há quem nos diga que as hipóteses são "ainda pequenas". Mas, como expliquei aqui, não é de todo impossível que chegue lá.

A verdade é que a potencial saída de Centeno do Governo (ou, melhor dizendo, da campanha eleitoral socialista) abriria um flanco inesperado no argumentário das legislativas.

Realização/Revisão de teses. Click aqui.

Para já, o cenário é o que traçámos na Comissão Política do Expresso de ontem (o podcast está aqui para ouvir): o PS a 15 pontos do PSD, a direita numa profunda crise - de números e de argumentos. Pior, como noticiou ontem a Mariana Lima Cunha, o caso no CDS é tão complicado que os críticos de Cristas já estão no terreno a preparar o day-after; e como escreveu o Miguel Santos Carrapatoso, o ambiente no PSD é tão irrespirável que nem houve direito este ano a jantar de despedida do líder com os seus deputados (assim como não haverá Hugo Soares nas próximas listas, de acordo com o jornal i de hoje).

Mas se o PS não tivesse Centeno, o que mudaria? Quem teria Costa para substituir o seu ministro-de-ferro? Abriria isso espaço a uma maior aproximação à esquerda? Que argumentos podia abrir esse espaço em branco à direita, que não perdeu no ADN o seu apego às contas certas? Que influência teria isso na ambição socialista de obter uma "maioria expressiva" ou proximamente absoluta?

Certo, para já são só cenários. Mas, como é bom de ver no passado recente, em Portugal não têm faltado imprevistos.

quinta-feira, 18 de julho de 2019

Perguntem ao Marcelo

por estatuadesal

(Por Valupi, in Blog Aspirina B, 18/07/2019)

Ivo Rosa

Pelo altíssimo prestígio conquistado na academia e na prática profissional, pelo longuíssimo protagonismo adquirido na política e na comunicação social, até pela aristocrática iniciação ao poder supremo recebida no berço cujo círculo se fecha ao ter chegado a Chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa talvez seja o português-lúcido-residente-em-Portugal que está em melhores condições para identificar tentativas, goradas ou consumadas, de judicialização da política e de politização da Justiça. Podemos admitir que haja quem se equipare a ele nessa capacidade; não admitimos, nem com a imaginação à solta, que haja quem o supere.

Quando Armando Vara foi condenado a 5 anos de prisão efectiva pelo Tribunal de Aveiro – num processo onde não se encontraram provas de ter recebido qualquer verba de Godinho nem provado em tribunal ficou que este obteve qualquer benefício ilícito atribuível a Vara – Marcelo explicou o que se tinha passado: Marcelo e os factos jurídicos. Uma das formas de descrever a radicalidade da pena, a mais económica, seria ter dito que estávamos perante uma aberração judicial. Logo a seguir, seria dizer que Vara foi vítima de um suplício a mando de procuradores e juízes da República Portuguesa. Marcelo optou pela versão longa, tendo apresentado dois argumentos com que despachou o assunto em clima de festa. No primeiro, instituiu que “opinião pública” é o mesmo que “opinião publicada”, equivalência de imediato usada para estabelecer um nexo causal com a violência e carácter inaudito da condenação. Vara ia preso porque quem controlava a opinião publicada fez campanha para tal e os juízes foram volúveis ou cúmplices, lê-se à vista desarmada no seu subtexto. O segundo argumento fica como uma jóia retórica da melhor filigrana sofística, esse debochado exercício de apontar para uma intangível suposta tendência de valorização dos crimes contra o património para se justificar terem dado 17 anos e meio ao sucateiro (em ordem a se poder dar 5 anos de choça a Vara, né?) num caso onde os valores pecuniários aludidos são ridículos. A coisa termina com uma lição de moral, a moral dos mais fortes, em que Marcelo expressa a sua excitação e gozo com o castigo “exemplar” dado a Vara e outros pois tal iria atingir politicamente Sócrates e o PS.

Parece, então, de acordo com as doutas palavras daquele que se tornou “o mais alto magistrado da Nação”, que os juízes elaboram decisões também em reacção ao que encontram na comunicação social e que, supostamente, valorizam como retrato do sentir e querer da população. Tal não é necessariamente um mal, bem pelo contrário. A Justiça não é uma teologia, não é uma matemática, antes uma sociologia e uma hermenêutica. Deve ser, tem de ser, um sistema axiológico aberto ao presente e ao futuro. A Justiça subjaz como dimensão política fundadora e garante da coesão da comunidade. Por exemplo, há muito tempo que um escândalo, cada vez menos surdo, percorre a sociedade ao sabermos das argumentações usadas pelos tribunais portugueses para aumentarem o sofrimento e a injustiça a tantas vítimas de violência doméstica e de abusos sexuais. Nacos de prosa gongórica e aviltante quando não lunática, com a assinatura de ilustríssimos juízes, têm aberto a boca e os olhos de espanto e raiva a milhares ou milhões de cidadãos. Começar a assistir a mudanças nos critérios morais, psicológicos e antropológicos aplicados nos julgamentos de crimes desse foro, admitindo-se pela primeira vez na jurisprudência aspectos que deviam ser óbvios há séculos – como o de a eventual passividade da vítima não ser manifestação de consentimento, antes e muito provavelmente ser o efeito do pânico ou uma estratégia de sobrevivência – têm de ser celebrados mesmo que venham com vexante atraso histórico. O corolário é ambivalente, no entanto, pois se a influência mediática é bondosa quando corrige perversões e abusos judiciais, pela mesma dinâmica poderá suscitá-los nessa porosidade constatada. Uma Justiça que fosse apenas, ou que fosse alguma vez, o reflexo dos apetites e ódios da turbamulta seria a exacta negação da soberania e da liberdade.

Parece, então, que Marcelo Rebelo de Sousa é o português em Portugal a quem nos temos de dirigir para fazer a seguinte pergunta: na sua opinião de especialista em Direito e como cidadão que jurou defender, cumprir e fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa, isto do actual processo de linchamento em curso de Ivo Rosa pelos impérios comunicacionais da direita deverá saltar das capas da Cofina, dos títulos do Observador e do Expresso, dos textos do Público, e consumar-se em agressões físicas no meio da rua pelos populares mais voluntaristas?

A feérica vantagem de termos Marcelo em Belém neste tempo em que múltiplos jornalistas usufruem dos direitos consagrados na sua carteira profissional para perseguirem, coagirem e ameaçarem um juiz evita ter de gastar uma caloria a explicar que quando o esgoto a céu aberto cola a Ivo Rosa o cognome de “juiz dos poderosos” tal é feito com um objectivo político: difamar e caluniar por antecipação o que esse juiz venha a decidir no respeito pela Lei e pelos direitos fundamentais dos acusados no processo “Operação Marquês”. Tal como, simetricamente, o cognome de “super juiz” tem como objectivo validar qualquer abuso que Carlos Alexandre tenha cometido ou venha a cometer no seu combate contra os “poderosos/corruptos”.Marcelo sabe tão bem o que está em causa que ele próprio se serviu desse código quando comentou a prisão de Vara, o qual descreveu como um “privilegiado” e congratulando-se por ter sido condenado sem espinhas.

Marcelo está tão sensibilizado para a cruzada contra os “poderosos” que ofereceu o 10 de Junho a um franchisado do Ministério Público, um fulano que ganha muito dinheiro a tratar inocentes como condenados, a explorar a devassa da vida privada através dos instrumentos policiais do Estado, a fazer campanha pela redução dos direitos e garantias dos arguidos e dos cidadãos, a achincalhar pessoal e profissionalmente quem esteja sujeito a um inquérito judicial e ele tope que seja um alvo político para quem lhe paga, a usufruir e justificar os crimes cometidos por magistrados e jornalistas.

Um presidente da comissão organizadora do 10 de Junho de 2019 que, antes e depois dessa altíssima honra de Estado, espalhou a imagem de ser a Assembleia da República um local muito mal frequentado pois é onde os partidos com mais votos se reúnem para criar leis cuja finalidade é permitir aos políticos enriquecerem através da corrupção.

Pois é, Marcelo não carece que o ajudem a perceber o que se está a fazer a Ivo Rosa. Nessa matéria, podíamos outrossim esperar receber lições de um mestre. E se ele, ao lado do sistema partidário e até do sindicato dos juízes, assiste calado e sorridente ao espectáculo, se o que faz a Cofina sem o mínimo vagido de repulsa ou tímido protesto por parte de quem se considera “imprensa de referência” fica instituído como práxis a ser seguida pelos restantes órgãos de comunicação social, a única dúvida que resta é relativa ao tipo e intensidade da pressão que será necessária para obrigar Ivo Rosa a trair a sua consciência, a abjurar a sua responsabilidade, a fugir da sua coragem. Ora, estando em causa o processo judicial mais importante da História democrática e cuja politização começou ainda antes de haver arguidos constituídos, nós podemos não o saber mas sabemos que Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República e tudo, o zelador-mor pelo “regular funcionamento das instituições democráticas” e cujo dever implica pronunciar-se “sobre todas as emergências graves para a vida da República” que não só jogos da bola e acidentes de trânsito, sabe. Sabe-a toda.

quarta-feira, 17 de julho de 2019

Von der Leyen: um erro crasso dos socialistas ibéricos

Posted: 17 Jul 2019 03:28 AM PDT

«Já vimos este filme antes, e não acabou bem. Em 1994 os governos da União Europeia estavam com dificuldade em escolher um sucessor para Jacques Delors. Como sempre, queriam alguém que satisfizesse toda a gente e não fizesse sombra a ninguém. Delors, que governara a Comissão durante dez anos, tinha personalidade e isso é que não podia mesmo ser. Depois de excluírem três candidatos mais prováveis, os chefes de Estado e de governo optaram por uma quarta escolha: Jacques Santer, primeiro-ministro do Luxemburgo.

O Parlamento Europeu detestou a opacidade do processo de nomeação e ameaçou chumbar o nome de Santer para a presidência da Comissão Europeia. Suspeitando uma notícia na geralmente sonolenta política europeia, os jornalistas dirigiram-se a Estrasburgo pela possibilidade de assistirem a uma estreia: pela primeira vez na história, era possível que o Parlamento Europeu chumbasse uma nomeação. Na última hora, porém, os socialistas portugueses e espanhóis, de António Guterres (então ainda líder da oposição) e Felipe González, viraram o bico ao prego e decidiram apoiar o luxemburguês. Jacques Santer passou à rasca e tornou-se o presidente da Comissão Europeia eleito com menos apoio no Parlamento Europeu. Até ontem, inclusive.

A partir daí Jacques Santer foi sempre um presidente da Comissão fraco, com pouco respeito por parte das outras instituições e pouca autoridade sobre os seus comissários. A sua Comissão foi permanentemente afetada por problemas de clientelismo, nepotismo, favoritismo e até corrupção. Em 1999, Jacques Santer acabou por se demitir antes da apresentação de uma moção de censura no Parlamento Europeu que decerto perderia. A UE perdeu quatro anos, perdeu credibilidade e perdeu o respeito dos cidadãos — em alguns casos, até hoje. Lamentavelmente, com o apoio dos socialistas portugueses e espanhóis.

Esta terça-feira Ursula von der Leyen foi aprovada no Parlamento Europeu com 383 votos — apenas nove votos acima dos 374 necessários. É a presidente da Comissão eleita com menos apoio parlamentar desde Jacques Santer. Não ficámos muito longe de se fazer história, com a primeira rejeição de uma nomeação do governos para a Comissão Europeia.

Curiosamente, Ursula von der Leyen foi também a quarta escolha do Conselho. Mas o que torna 2019 pior do que 1994 é que desta vez as três primeiras escolhas tinham sido legitimadas pelos cidadãos. Ursula von der Leyen, não. Ao contrário de Manfred Weber e Frans Timmermans, Ursula von der Leyen não apresentou propostas a eleições, não fez debates, não deu sequer a cara como candidata à presidência da Comissão. Ao contrário de Margrethe Vestager, que também poderia ter sido a primeira mulher presidente da Comissão, Von der Leyen não foi sequer candidata às eleições europeias nem fez parte de uma equipa de candidatos à Comissão. E estes chefes de Estado e de governo ainda há pouco mais de um mês prometeram aos eleitores europeus que o seu voto permitiria escolher a chefia do executivo da União Europeia. Parece que não sabem, pela experiência recente — e eterna — que políticos a quebrarem promessas levianamente é a forma mais eficaz de esvaziar a política enganando os cidadãos.

Pior ainda, sabemos muito bem por que foi excluído Timmermans (e Vestager nem chegou a ser verdadeiramente testada): porque os governos da Hungria e da Polónia detestaram que alguém na Comissão tivesse feito o seu trabalho, preocupando-se com as violações dos princípios mais elementares do Estado de direito e dos valores da União nos últimos anos. A mensagem para os comissários futuros é muito simples: se levarem a sério os valores descritos no Artigo 2 do Tratado da União Europeia — dignidade da pessoa, liberdade, igualdade, democracia, Estado de direito e direitos humanos, incluindo das minorias —, a vossa carreira política europeia nunca avançará.

Contente com a escolha de Ursula von der Leyen, Orbán deu ordens para que os 12 deputados do seu partido Fidesz votassem a favor da nomeada pelo Conselho. Eles assim terão feito (o voto é anónimo) e pode inferir-se que os seus votos tenham sido decisivos. Orbán proclamará de novo vitória, e comportar-se-á como se tivesse a presidente da Comissão no bolso.

Mas há mais: como em 1994, mas em condições consideravelmente piores, os líderes dos socialistas portugueses e espanhóis — António Costa e Pedro Sanchez — acabaram dando o seu apoio a Von der Leyen antes da votação no Parlamento, e podem muito provavelmente ter sido também decisivos, dada a estreiteza da aprovação de Von der Leyen. O argumento definitivo terá sido uma carta que Von der Leyen escreveu aos socialistas europeus prometendo uma série de coisas que já são posição da Comissão ou que ela por si só não pode cumprir (porque onde essas coisas estão bloqueadas é no Conselho). Para ser justo, Von der Leyen prometeu uma coisa importante: apresentar legislação de cada vez que o Parlamento o pedir, na prática concedendo o direito de iniciativa legislativa que o PE sempre deveria ter tido.

Mas até nisso a desgraça se anuncia feia. Ursula von der Leyen não pode cumprir todas as promessas contraditórias que fez. Não pode levar a sério o Estado de direito, como prometeu aos Verdes europeus, e deixar a Hungria e a Polónia em paz, como insinuou aos Conservadores europeus. No momento em que deixar descontentes uns ou outros, basta esperar por um pretexto para que lhe aconteça o mesmo que sucedeu a Jacques Santer. E mais uma vez os socialistas ibéricos terão sido co-responsáveis. E a pergunta: aqui em Portugal alguém ouviu António Costa ou Pedro Marques dizerem que fariam isto na campanha das europeias?

Gostaria muito de estar enganado. Mas não será possível sequer montar um colégio de comissários forte com apoio tão fraco. Sendo assim, a nova crise política chegará ao Parlamento Europeu em outubro, quando for votada a nova Comissão. Este é o pior de todos os mundos para a UE.»

Rui Tavares

Desvairados

por estatuadesal

(In Blog O Jumento, 17/07/2019)

O pobre do Rui Rio não sabe o que propor, o Santana Lopes há muito o abandonou, os vice-presidentes que escolheu parece terem-no abandonado, o Morais Sarmento não se deixa ver. É evidente que o PSD já quase não existe e o CDS parece ter fechado para obras; até colocaram um outdoor apenas com um fundo azul informando os clientes de que estarão a preparar o futuro.

Não admira que estejam a surgir freelancers a fazer oposição com o que podem. O bastonário da Ordem dos Médicos está promovendo uma campanha itinerante junto de todos os hospitais do país, propalando uma imagem desastrosa do SNS, uma verdadeira campanha publicitária a favor dos hospitais privados.

Se na campanha de Passos Coelho o centro das atenções foram as escolas privadas, parece que desta vez tudo se faz para destruir o SNS, levando a que os dinheiro públicos sejam canalizados para o setor privado. Depois de uma greve cirúrgica de enfermeiros financiada de forma duvidosas e que apenas resultou na transferência de doentes para os hospitais privados, parece que agora se assiste a um verdadeiro assalto ao SNS. O próprio Rui Rio apressou-se a dizer o que querem, que o SNS seja um serviço de encomendas ao setor privado.

Quem anda um pouco em baixo é a conhecida militante da extrema-direita chique do catedrático Passos Coelho, algo que se compreende, a rapariga tudo faz para impedir uma sindicância à sua Ordem, talvez por recear por eventuais rabos-de-palha, Agora encomendou uns pareceres a que atribuiu o estatuto de acórdãos do Constitucional, achando que os pode usar para desrespeitar a Lei.

Depois das greves dos enfermeiros e dos professores esta gente deveria ter parado para refletir, pelos resultados das eleições europeias poderiam ter reparado que esta estratégia de fazer a vida dos portugueses num inferno, na esperança destes se virarem contra o governo não deu qualquer resultado, e até o PCP pagou caro o uso e abuso de um Mário Nogueira que já ninguém consegue ouvir.

A Fátima Bonifácio, lá do cimo da sua inteligência, achou que ela é que ia resolver o problema, a solução era virar os portugueses contra pretos, emigrantes e ciganos: o racismo e o medo é que iriam ajudar Rui Rio e Cristas. Decidiu lançar o mais execrável manifesto racista e xenófobo, tão execrável que deu mais uma machadada na direita.

A verdade é que depois do que Passos Coelho fez aos portugueses e a instituições como o SNS, estas estratégias viram-se mais contra a direita do que contra o governo e os resultados das sondagens mostram isso. Palermas e incompetentes… por este andar é a direita que fica em estado de coma e nem os donos dos hospitais privados a salvam.