Translate

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Batalha para conter o coronavírus em andamento nos laboratórios

De  Patricia Tavares  •  Últimas notícias: 22/01/2020 - 13:51

Batalha para conter o coronavírus em andamento nos laboratórios

Direitos de autor

euronews

A batalha para conter o coronavírus está em pleno andamento nos laboratórios. O diagnóstico precoce é fundamental. Na Alemanha, investigadores dizem ter realizado um teste simples de análise da saliva, para apurar se uma pessoa está infetada.

Os laboratórios vão analisar a nossa receita, pedir alguns ingredientes específicos que vão receber dois dias depois. Ao mesmo tempo, encomendar a molécula que também vão receber num curto espaço de tempo. E, depois podem começar a testar. Vão testar uma amostra das vias respiratórias dos pacientes.

Dr. Christian Drosten

Instituto de Virologia, Hospital Charite de Berlim

A confirmação que o vírus pode ser transmitido entre os humanos levou à procura de medidas urgentes, para evitar que o surto se transforme numa epidemia global.

O tráfego aéreo é tão importante que é pouco provável que consigamos travar a disseminação do vírus. Podemos é tentar poupar tempo e dedicar tempo a implementar medidas de diagnóstico, para que possamos monitorizar os casos e fazer observações. Existem muitas incertezas agora, mas se pudermos diagnosticar todos os casos e todos os casos suspeitos teremos uma ideia real do impacto do vírus.

Dr. Bruno Lina

Virologista

Nesta fase inicial, os cientistas estão cautelosamente otimistas quanto ao coronavírus - que provavelmente não terá tanto impacto como a epidemia de síndrome respiratória aguda grave que atingiu o mundo em 2003. Mas ainda existem receios que o vírus possas sofrer mutações e as potenciais consequências ainda são desconhecidas.

Vieira de Almeida, PLMJ e Uría: quem são os advogados por trás dos negócios de Isabel dos Santos?

por estatuadesal

(Miguel Prado, Elisabete Miranda, Isabel Vicente, in Expresso DIÁRIO, 22/01/2020)

Durante anos, Angola não só jorrou petróleo como também revelou ser uma atrativa mina de honorários para advogados e consultores portugueses. Empresas como a PwC, Boston Consulting Group (BCG), McKinsey e a Vieira de Almeida conseguiram amealhar somas importantes vendendo os seus serviços a Angola e vêm referenciados nos Luanda Leaks. Mas aquilo que até domingo era um ativo, que cumpria todas as regras de compliance, no início desta semana tornou-se “um ativo tóxico”, segundo confidenciou ao Expresso fonte de uma sociedade de advogados. Jaime Esteves, na PwC, já caiu mas há outras figuras que trabalharam muito proximamente com o universo empresarial de Isabel dos Santos.

Uma delas é a Vieira de Almeida, sociedade de advogados que nos Luanda Leaks aparece como beneficiária de uma comissão pela reestruturação da Sonangol, operação feita através de uma empresa em Malta que pertence a Isabel dos Santos.

O envolvimento da VdA com Isabel dos Santos começa em 2015. Nesse ano a Vieira de Almeida foi buscar seis sócios e outros 18 advogados à concorrente Miranda. Entre eles estava um dos sócios de topo da Miranda, Rui Amendoeira (que entretanto saiu da Vieira de Almeida), mas também Susana Brandão e Paulo Trindade Costa, que já trabalhavam há vários anos com empresas de Isabel dos Santos.

Susana Almeida Brandão, que se licenciou na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, fez a maior parte da sua carreira na Miranda Correia Amendoeira & Associados, onde esteve entre 2002 e 2015, e terá sido aí que ganhou proximidade a Isabel dos Santos e ao mercado angolano.

Ao que o Expresso apurou, quando ainda estava na Miranda, Susana Brandão trabalhou em dossiês relacionados com a cimenteira Nova Cimangola, mas também em negócios imobiliários e noutros interesses que Isabel dos Santos tinha, e que eram geridos através da empresa portuguesa Fidequity, liderada por Mário Leite da Silva.

Depois de se mudar da Miranda para a Vieira de Almeida, onde é hoje associada da área de fusões e aquisições, Susana Brandão levou consigo a confiança de Isabel dos Santos e de Mário Leite da Silva para continuar a trabalhar diversos dossiês. Um deles foi a Sonangol: em 2017 quando Isabel dos Santos era presidente da petrolífera estatal angolana, Susana Brandão foi nomeada para a administração da Sonangol.

No site da Sonangol pode ainda hoje em dia ler-se a seu respeito: “Uma sólida experiência em Angola reforçada pelo conhecimento do sector têm sido pilares para o seu destaque no processo de reestruturação da Sonangol”. Contudo, no currículo da advogada no site da VDA não há qualquer referência à passagem pela administração da Sonangol.

A Vieira de Almeida garantiu ao Expresso que “a dra. Susana Almeida Brandão nunca tomou posse”. A advogada regressou pouco depois à Vieira de Almeida.

Recorde-se que esta sociedade de advogados é uma das entidades contratadas pelo Governo angolano para prestar assessoria relativamente à Sonangol. Na verdade em 2016 Luanda contratou uma empresa de Malta, denominada Wise Intelligence Solutions, e esta (que era detida por Isabel dos Santos) subcontratou a Boston Consulting Group (que em Luanda era liderada pelo português Alexandre Gorito), a McKinsey e a PwC, bem como os serviços jurídicos da Vieira de Almeida, que segundo o Luanda Leaks, recebeu pelos menos 490 mil dólares.

Questionada pelo ICIJ, a Vieira de Almeida respondeu que nunca assessorou Isabel dos Santos individualmente, mas garantiu que “leva muito a sério a admissão de clientes e os procedimentos de gestão de riscos”.

Além de Susana Brandão, também o advogado Paulo Trindade Costa estava estreitamente ligado aos interesses de Isabel dos Santos. Depois de mais de uma década na Miranda, entre 2004 e 2015, Paulo Trindade Costa foi com Susana Brandão para a Vieira de Almeida, onde permanece até hoje, como sócio da área de fusões e aquisições. Embora acompanhe diversos outros clientes, seguiu de perto vários negócios do universo Isabel dos Santos, primeiro na Miranda, depois na Vieira de Almeida.

O Expresso questionou entretanto a Vieira de Almeida sobre se a “Sonangol foi ou é cliente”. A firma respondeu que “foi cliente”.

Um outro negócio de Angola que impulsionou a faturação da Vieira de Almeida foi a Urbinveste, empresa imobiliária de Isabel dos Santos. A sociedade de advogados confirma ter prestado assessoria jurídica à Urbinveste, mas reitera não trabalhar diretamente com a empresária angolana. “A VdA nunca teve como cliente a Eng. Isabel dos Santos. A VdA tem clientes em cuja estrutura acionista, e como é do conhecimento público, figuram empresas desse universo às quais prestou exclusivamente serviços técnico-jurídicos de caráter empresarial”, aponta a sociedade.

O Expresso também quis saber se a Vieira de Almeida receia um impacto reputacional da sua associação a negócios de Isabel dos Santos. “Não. A VdA trabalhou na reestruturação do setor dos petróleos em Angola, tendo prestado serviços estritamente jurídicos e circunscritos a esse âmbito, conforme faturas emitidas com descritivo claro e transparente de todas as diligências realizadas a esse respeito”, aponta a sociedade de advogados.

PLMJ E URÍA, OUTROS ASSESSORES PRÓXIMOS

Durante vários anos diversos contratos das empresas de Isabel dos Santos foram sendo preparados entre Susana Brandão e Paulo Trindade Costa (até 2015 na Miranda, a partir daí na Vieira de Almeida). Mas não em exclusivo. Até 2016 muita assessoria jurídica de Isabel dos Santos passava pela PLMJ, dada a confiança que a empresária depositava (e ainda deposita) em Jorge Brito Pereira.

A ligação a Brito Pereira é antiga e surgiu por intermédio de Mário Leite da Silva. O gestor de Isabel dos Santos trabalha com Brito Pereira desde o tempo em que era administrador financeiro do grupo Amorim. Mas um desentendimento entre Américo Amorim e Mário Leite da Silva levaria este último a trabalhar diretamente com Isabel dos Santos, empresária que acompanhou o “rei da cortiça” no seu investimento na Galp, através da Amorim Energia. A partir daí Jorge Brito Pereira conquistou a confiança da filha do ex-presidente angolano e tornou a PLMJ uma das sociedades de eleição de Isabel dos Santos.

Quando Jorge Brito Pereira sai para a Uría, em 2016, leva consigo o ‘fillet mignon’ dos negócios de Isabel dos Santos (NOS e Efacec, por exemplo), mas ainda deixou algumas sobras, e dentro da PLMJ outros nomes foram conhecendo cada vez melhor o universo empresarial e patrimonial da angolana. É o caso da advogada Inês Pinto da Costa (que integra a firma desde 2009, sendo sócia das áreas de fusões e aquisições e private equity). E ainda de João Magalhães Ramalho, especialista na área fiscal que trabalhou na PLMJ de 1999 a 2019, tendo em julho do ano passado transitado para outra sociedade, a Telles. Uma outra advogada da PLMJ, Serena Neto, também chegou a acompanhar de perto os negócios de Isabel dos Santos, tendo feito parte da Fidequity entre 2011 e 2012. Depois, na PLMJ, deixou de acompanhar os negócios de Isabel dos Santos.

Dos três advogados, hoje em dia, a que terá mantido maior proximidade é Inês Pinto da Costa, que a PLMJ reteve no “terramoto” de 2019, quando vários sócios abandonaram a firma que durante anos foi liderada por José Miguel Júdice (e vários deles foram trabalhar para a concorrente Vieira de Almeida).

O Expresso questionou a PLMJ sobre se ainda trabalha com Isabel dos Santos e sobre se tem procedimentos para evitar práticas de branqueamento e evasão fiscal.

A PLMJ respondeu de forma genérica. “O respeito pelas melhores práticas internacionais e pelas disposições legais no domínio da prevenção do branqueamento de capitais e na admissão e acompanhamento de clientes são – e continuarão a ser – uma prioridade da PLMJ. Em resultado das regras de segredo profissional a que estamos sujeitos não nos é permitido comentar factos relativos a serviços jurídicos por nós prestados na qualidade de advogados”, aponta a sociedade.

É, aliás, uma resposta em linha com a que a Vieira de Almeida apresentou quando questionada sobre os seus procedimentos para evitar práticas de branqueamento: “A VdA aplica a todos os seus clientes regras de compliance a que está obrigada e apenas trabalha com entidades que passam nos crivos das exigências legais vigentes, tal como foi o caso”.

O Expresso questionou ainda a Uría Menendez sobre se teme algum impacto reputacional decorrente da associação do seu sócio Jorge Brito Pereira a Isabel dos Santos, mas a sociedade de advogados escusou-se às questões. “A Uría Menéndez - Proença de Carvalho abstém-se de fazer mais comentários, designadamente por respeito ao dever de sigilo profissional”, respondeu apenas a empresa.

ADVOGADOS NÃO COMUNICAM OPERAÇÕES SUSPEITAS DE BRANQUEAMENTO. ORDEM NÃO FISCALIZA

As sociedades de advogados estão entre as entidades que estão obrigadas a implementar um conjunto de regras para prevenir que sejam usadas em esquemas de branqueamento de capitais e de financiamento do terrorismo (à semelhança da banca e do imobiliário). A fiscalização da implementação das regras está a cargo da Ordem dos Advogados. Contudo, ao longo dos anos, os advogados têm-se recusado a fazer comunicação de operações suspeitas, por considerarem que ela viola as suas obrigações de sigilo.

Contactado pelo Expresso, Luís Menezes Leitão, o novo bastonário da Ordem dos Advogados confirma que a ordem não fez nenhuma auditoria a sociedades de advogados para verificar se estas estão a prevenir de facto o branqueamento de capitais, mas disse já realizou ações de formação sobre o tema, à luz da nova diretiva transposta em 2017.

Luís Menezes Leitão diz não pronunciar-se sobre casos concretos, e garante seguir com atenção o envolvimento dos advogados em negócios que possam eventualmente estar associados a esquemas de branqueamento de capitais.

“Relativamente ao controlo do branqueamento de capitais, é uma função que nos compete. No anterior mandato [da Ordem dos Advogados] foi feito um regulamento, presente à assembleia geral em junho do ano passado, mas o Conselho Geral decidiu retirá-lo. Vamos retomar esse trabalho”, indica Menezes Leitão. “Precisamos de ter esse controlo [do branqueamento de capitais]. Estamos bastante atentos a esse assunto”, acrescenta.

O bastonário realça que nos termos da lei “tudo o que seja suspeita de branqueamento de capitais tem de ser comunicado pelos advogados ao bastonário”.

As ondas de impacto do Luanda Leaks estão a fazer-se sentir para lá do universo empresarial de Isabel dos Santos. Esta terça-feira o consultor português Jaime Esteves anunciou a saída do departamento de fiscalidade da PwC, consultora e auditora que decidiu deixar de trabalhar com Isabel dos Santos. Mas as consequências podem não ficar por aí.

O Banco de Portugal quer explicações do EuroBic sobre as transações que saíram da conta da Sonangol , as quais fez saber, podem vir a ter consequências tanto ao nível prudencial como contraordenacional. A pressão para afastar Isabel dos Santos do banco onde controla 42,5%, subiu de tom, podendo esta ser inibida dos direitos de voto. Isto apesar do supervisor estar do novo a fazer uma inspeção ao banco desde outubro.

Na Nos, onde Jorge Brito Pereira e Mário Leite da Silva são administradores não executivos, também estão sob avaliação do Comité de Ética da Empresa.

Nos últimos dias tem-se assistido também a uma demarcação de poderes políticos e económicos da empresária e, enquanto no meio dos negócios se admite que as sociedades de advogados poderão a partir de agora ser mais cuidadosas e recusar trabalhar com Isabel dos Santos em dossiês que envolvam a criação de empresas, ainda que possam aceitar representá-la em eventuais processos criminais, também se desabafa sobre a “hipocrisia” do processo, uma vez que no passado quer o poder político, quer o poder económico, receberam de braços abertos os capitais angolanos, bem como os chineses, sem grande interesse em escrutinar a origem dos mesmos, como ouviu o Expresso.

“Mulher acusa Polícia de agressões” – pequena amostra de comentários online num país sem racismo

por estatuadesal

(Isabel Moreira, in Expresso Diário, 22/01/2020)

(Se calhar a outra, a dos Santos é que tem razão. Se vemos uma negra a andar de iate, sobe-nos a inveja à cabeça, e queremos-lhe ficar com o barco. Se vemos uma negra a falar alto e a barafustar - tenha ou não razão -, vamos-lhe logo à cara.

Comentário da Estátua, 22/01/2020)


"O motorista teve necessidade de chamar a polícia imagine-se o nível de simpatia que foi a senhora, foi igualmente simpática para a polícia. A amiga só filmou o que lhe interessou. Aposto que já ia acompanhada por um advogado. Verdadeiros profissionais da insinuação e indemnização”

“A senhora tem hematomas? Ups foi para a zona dos bares com a filha bebeu uns copos a mais e caiu, por amor à Santa”

“Olha eu acredito, e é assim que elas fazem para armar confusão”

“A nossa comunicação social está cada vez mais a gerar ondas de racismo com estas imagens. Quantos brancos também são agredidos e quase nunca mostram as imagens e quantos agentes de autoridade também são agredidos por pessoas de cor e também não mostram as imagens? As leis foram feitas para se cumprir se não se cumprem há que responsabilizar. Deixem-se de racismo o povo Português até é bem calmo”

“Vamos ter mais respeito pelas autoridades e todas as estações de TV até gostam disto, até dá ideia que já estava alguém ali à espera que se passasse alguma coisa para filmar”

“Eu fico admirada pois não acredito que estas coisas aconteçam assim por uma coisinha qualquer !!!???? Fico com pena e que quando agridem os nossos policiais não exista ninguém que partilhe as agressões... esta gente são todas /Santas... há muita forma de ganhar dinheirinho... Santas e Santos somos muitos de nós que o dinheiro tem sido ganho com o suor do nosso rosto... neste mundo não falta quem provoque quem trabalha pois os que trabalham não podem gastar os míseros ordenados na justiça para andar a pagar a advogados através de impostos para defender muita gente... que não merecem... eu nunca fui ofendida por nenhum polícia nem GNR!!!??? Imagino se me visse a ser mordida à dentada!!??? Já pensaram que hoje em dia as doenças contagiosas!!!?? Se eu fosse ao polícia exigia já análises ao sangue”

“Para variar a comunicação social a enterrar as nossas forças de segurança. O que acho estranho é que as pessoas quando se veem aflitas chamam a PSP ou GNR”

“Está Sra. Não pagou bilhete para a filha esta Sra. negou-se a sair do autocarro esta Sra. mordeu o polícia várias vezes arranjou o várias vezes, que exemplo estava ela a dar à filha andando no transporte público sem pagar e morder a um polícia arranhando-o? Coitadinha só mostra o resultado final e as imagens do polícia agredido? LOL tenha vergonha”

“É triste, mas as pessoas não sabem k se nos transportes públicos eu na carris no 50 vejo muita coisa certas pessoas de cor principalmente os jovens entram não pagam gozam com o motorista e querem lugar sentados acho k deviam de ouvir as duas partes para não passarem coitadinhos”

“Se o policia fosse da mesma cor que esta senhora nem vídeo havia... para mim a autoridade não é ela... e pelas imagens bem vejo ela a resistir... já nem falo do propósito de não haver inicio do filme... mas claramente é racismo contra o policia que fez o seu trabalho sob pressão de alguém a filmar a resistência de alguém que é infrator...”

“Deixem-se de tretas e cumpram as regras como o resto da população”

“São notícias que só servem para denegrir os nossos agentes de segurança, devia ser proibido estas publicações”

Quem sabe que políticas funcionam em Portugal?

Posted: 21 Jan 2020 03:32 AM PST

«Para que serve esta política? E funciona? Experimente fazer estas duas perguntas sobre uma qualquer política pública a alguém que, em princípio, deveria saber responder. Pergunte a governantes, deputados, especialistas, académicos, auditores, inspectores, directores-gerais, técnicos superiores do Estado, gestores de fundos europeus. Verá que poucos darão uma resposta clara àquelas duas questões, que parecem tão simples. É este o estado da avaliação de políticas públicas em Portugal.

Não é que não se avaliem políticas neste país. Por obrigação dos regulamentos comunitários, todos os programas apoiados por fundos estruturais da UE são sujeitos a avaliação. Desde há muito que as autoridades portuguesas decidiram estender os estudos de avaliação para lá das exigências regulamentares. No âmbito do Portugal 2020, que enquadra a aplicação dos fundos estruturais no período 2014-2020, estão previstas mais de 40 avaliações (de acordo com a mais recente revisão do Plano Global de Avaliação, o PGA PT2020). É uma prática comum desde os primeiros quadros comunitários de apoio, em particular do QCA III (2000-2006) e do QREN (2007-2013).

A prática instituída de avaliação de políticas no âmbito dos fundos da UE não é pouco importante, dada a enorme variedade de domínios envolvidos. Incluem-se aqui os apoios às empresas, à ciência e tecnologia, ao ensino e formação profissional, à empregabilidade, ao combate à exclusão social, ao tratamento de águas e resíduos, à descarbonização, à protecção do litoral, à modernização administrativa, às infra-estruturas de transportes, a equipamentos culturais e desportivos, ao desenvolvimento local e rural, entre outros. Em todos estes domínios os programas e políticas financiadas por fundos da UE estão sujeitos a avaliações - antes, durante e após a sua implementação.

Mas não é só no âmbito dos apoios comunitários que se faz avaliação. Embora com menor frequência e diversidade, é possível encontrar exemplos de políticas sujeitas a escrutínio em vários outros domínios, desenvolvidas por entidades tão diversas como os gabinetes de estudos ou as inspecções-gerais dos ministérios, o Tribunal de Contas e outras entidades públicas.

Não é, pois, por ausência de avaliações que se sabe tão pouco sobre os propósitos e a eficácia das políticas implementadas em Portugal (ainda que um relatório recente da Comissão Europeia dê conta de algum atraso na realização das avaliações previstas). Quatro outros factores ajudam a explicar o pouco que se sabe: a ausência de uma cultura de avaliação, a qualidade dos estudos realizados, a pouca visibilidade dos resultados obtidos e a falta de clareza sobre quem faz o quê (ou deveria fazer) na avaliação de políticas públicas em Portugal. Os quatro factores estão relacionados.

O primeiro motivo para este aparente paradoxo - a escassez de conhecimento face à abundância de estudos - é a simples falta de hábito na sociedade portuguesa de fazer as perguntas em causa. Dedicamos bastante tempo a discutir quais são os problemas, menos tempo a debater eventuais respostas e quase nenhum a perguntar se as políticas adoptadas funcionaram. Podemos encontrar diferentes explicações para esta falta de hábito, desde as mais abstractas (por exemplo, alguma imaturidade democrática), a outras mais concretas (como a escassez de recursos no Estado, na comunicação social ou na sociedade civil para dedicar a este tema), mas é difícil negar que poucos têm por hábito fazer aquela pergunta - e exigir a devida resposta.

O problema também reside no tipo de avaliações que são feitas. Durante muitos anos o principal papel dos avaliadores era sistematizar informação que as agências públicas não tinham condições para recolher e tratar. O desenvolvimento dos sistemas de informação tornaram este papel menos relevante, mas muitas avaliações mantêm aí o seu foco. Em qualquer caso, são poucos os estudos que se propõem responder à questão: a política funciona? Entre os que o fazem, alguns estudos adoptam um discurso vago e pouco fundamentado, o que não contribuiu para a valorização social das avaliações.

Mesmo quando as avaliações produzem respostas claras e fundamentadas, elas não chegam sempre a um público alargado. Seja por receio das implicações ou pela falta de investimento das agências responsáveis pela publicitação dos resultados, muitos estudos válidos não são conhecidos pelos interessados.

Vários destes problemas poderiam ser resolvidos se existisse em Portugal uma entidade pública com responsabilidades específicas de avaliação, dotada de recursos e de autonomia de acção. Não é o caso, ao contrário do que acontece noutros países (como em França, nos EUA ou na Irlanda, para referir apenas alguns exemplos).

Se for bem feita, a avaliação de políticas públicas pode cumprir várias funções relevantes na sociedade e na democracia portuguesa: aumentar a transparência das opções de governo, melhorar as bases para a prestação de contas, contribuir para decisões mais acertadas, ajudar as entidades envolvidas a melhorar o seu desempenho, mobilizar os intervenientes na persecução dos objectivos e legitimar a intervenção pública.

Muito do que há a fazer para melhorar a avaliação de políticas em Portugal depende das autoridades. Mas há uma coisa que cada um de nós pode e deve fazer amiúde - perguntar a quem de direito: Para que serve esta política? Cumpre os objectivos? E não nos contentarmos com respostas frouxas ou pouco convincentes.»

Ricardo Paes Mamede

O dominó angolano ainda mal começou a cair

por estatuadesal

(Francisco Louçã, in Expresso Diário, 21/01/2020)

O dominó começou a cair e nunca foi difícil adivinhar que viria o tempo. Durante quase quarenta anos à frente de Angola, o presidente José Eduardo dos Santos constituiu uma oligarquia que se alimentou fartamente dos recursos nacionais, mas o inevitável esgotamento do consulado, as contradições entre cleptocratas ou a pressão popular para a democracia acabaram por se impor. João Lourenço teve de afirmar o seu poder protegendo-se do clã Dos Santos, a desesperante falta de recursos em tempos de petróleo barato obrigou ao esforço de recuperação de capitais, o povo exigia medidas contra o saque e, assim, o dominó desabou. Mas, ao desfazer-se, desencadeou uma curiosa valsa de justificações em Portugal.

Com aquele gosto florentino que tem aprimorado, o ministro dos Negócios Estrangeiros, falando de si próprio na terceira pessoa, na boa tradição literária de um treinador de futebol, explicou que “talvez agora se perceba melhor a insistência do ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal - desde pelo menos dezembro de 2015 - de manter o melhor relacionamento possível com as autoridades angolanas; de manter o nível de relacionamento entre os dois Estados no mais alto dos patamares”. Maravilha da diplomacia, este “melhor relacionamento possível” foi estabelecido desde finais de 2015 mas não antes, ou seja, desde a nomeação do próprio, com a “autoridade angolana” do “mais alto dos patamares”, ou seja o próprio José Eduardo dos Santos, eventualmente na presunção futurista de que aquele seria substituído por alguém que o pusesse em causa. Nisto, o governante só peca por um menosprezo injusto pelos que estiveram nas Necessidades antes dele e que, aliás, fizeram exatamente o mesmo, o “melhor relacionamento possível” com esse “mais alto dos patamares”.

Esse “relacionamento” resume-se a uma guarda pretoriana que foi recrutada em Portugal para proteger os assaltantes de Angola. Os banqueiros (no BCP, no BPI), os empresários (Amorim primeiro que todos, depois a Sonae, José de Mello e tantos outros) e os governos multiplicaram-se em vénias para atrair esses capitais e as suas alianças. O Banco de Portugal fechou os olhos às investidas de personalidades “politicamente expostas” e, salvo ter evitado na 25ª hora que Isabel dos Santos viesse a ser administradora do BIC, não opôs qualquer reserva a nenhuma das suas outras funções nem sequer à compra em saldo deste último banco.

Assim, protegida por alguma imprensa que a apresentava como a rainha do glamour, por uma câmara municipal que oferecia ao marido a medalha de ouro da cidade a troco de uma inútil promessa de um museu, pelo deslumbramento dos políticos e pela ganância dos capitais, Isabel dos Santos instalou uma rede de conivências em Portugal, com que pretendeu abrir caminhos para o reconhecimento internacional.

É cruel lembrar, mas não deixa de ser verdade, que estas aplicações do dinheiro extorquido de Angola eram barradas noutros países europeus. Nada que demovesse um ex-presidente do PSD, ex-ministros de várias cores, um ex-governador do Banco de Portugal, um ex-deputado do PS e tantos outros de trabalharem para esta rede de interesses da constelação Dos Santos e, em particular, de Isabel. Ser pago em dinheiro angolano passou a ser uma das etiquetas de muita da elite portuguesa.

E tudo se sabia. Pepetela, que conhecia cada uma dos personagens desta clique, retratou-as em vários romances em que apresenta a sua desilusão e raiva contra a corrupção e o seu regime. Rafael Marques denunciou durante anos muitos destes esquemas, com dados detalhados. O livro que Jorge Costa, João Teixeira Lopes e eu publicámos em 2014, “Os Donos Angolanos de Portugal”, resumindo muito do que nos anos anteriores já tínhamos investigado e escrito sobre a cleptocracia luandense e os seus aliados portugueses, chegou a milhares de pessoas em Angola e por cá. Incluímos nomes e gráficos com as ligações das diversas empresas. Contamos a história e revelamos de onde vinha o dinheiro. O general Kangamba alegou o direito de resposta e respondeu-me na imprensa portuguesa, não era de menos o que dele contamos no livro, as investigações judiciais internacionais sobre redes de prostituição ou automóveis com malas de dinheiro a circular pela Europa.

O “Jornal de Angola” dedicou-nos editoriais e insultos. Luaty Beirão e os seus camaradas puseram todas as denúncias na rua. Como Rafael Marques, foram presos, enquanto no Parlamento português, confrontados com votos pela liberdade de imprensa e de opinião contra a repressão pelo regime de Luanda, o PS, o PSD, o CDS e o PCP alinhavam na recusa sobranceira, com José Eduardo dos Santos ninguém se mete.

Nos congressos do MPLA desfilava uma procissão de políticos portugueses a tecer loas ao cônsul. Mesmo sendo membro da Internacional Socialista e parceiro do PS, o partido do poder procurava aliados em quase todos os quadrantes. Em 2016, de 17 a 20 de agosto, em mais um congresso de consagração de Dos Santos (e no período em que o nosso atual ministro já cuidava do “melhor relacionamento possível” com o “mais alto dos patamares”), o PS fez-se representar pela secretária-geral adjunta, Ana Catarina Mendes, e pelo presidente, Carlos César, que enfaticamente brindou os anfitriões com um “o MPLA e o PS têm trilhado um caminho comum, um continuado diálogo político e uma colaboração concreta em áreas de interesse mútuo, incluindo no âmbito da nossa família política no seio da Internacional Socialista. Estou convencido que esse caminho de proximidade será cada vez mais produtivo e a nossa presença neste congresso e a nossa saudação neste congresso é justamente para aqui testemunhar a garantia desse caminho novo de proximidade, de afetividade, de colaboração e de luta comum”.

Diz o DN, que assistiu ao congresso, que César acrescentou que “o líder do MPLA e Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, é uma figura referencial da história angolana e da emancipação africana”. Helder Amaral, em nome do CDS (Paulo Portas estava também, mas como “convidado pessoal”, e não falou), explicou que o seu partido estaria mais próximo do MPLA, com “muitos mais pontos em comum”, desejando “fortalecer essa relação”. Dois vice-presidentes do PSD, Teresa Leal Coelho e Marco António Costa, abrilhantaram a cerimónia, bem como Rui Fernandes, membro da comissão política do PCP.

Pois é. O que ninguém pode agora dizer é que não se sabia de nada. Mais se vai descobrir, mas surpresa é que não será. Foi roubo e não foi o mordomo.