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quinta-feira, 2 de abril de 2020

Só mais um bocadinho

João Cândido da Silva

João Cândido da Silva

Coordenador do Expresso Online

02 ABRIL 2020

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Bom dia,
Crentes, agnósticos e ateus terão, pelo menos, a característica comum de gostarem de desfrutar um fim-de-semana prolongado na companhia de familiares e amigos. Não vai acontecer na Páscoa de 2020. O estado de emergência que vigora em Portugal será prolongado.
As regras de confinamento que visam conter a pandemia da covid-19 vão ser apertadas. Só mais "um bocadinho", afirmou o primeiro-ministro, no estilo relutante de quem se vê na obrigação de dar más notícias e o tenta fazer de forma a que não pareçam demasiado sombrias. Serão "medidas mais claras para que as pessoas percebam que não podem andar a circular de um lado para o outro", explicou António Costa. Sobre os emigrantes que nesta altura do ano costumam visitar Portugal, deixou uma recomendação: “Este ano é melhor não virem na Páscoa”. Nem um bocadinho, presume-se.
Contrariado, talvez, o primeiro-ministro parece disponível para colocar de lado o optimismo irritante e aceitar a realidade incontornável que vem acompanhada da escassez de meios e da necessidade de adoptar alguma humildade a bem do sossego político em época de crise. Apelou à contenção em quatro aspectos: quanto ao modo como se olha para os dados mais recentes, como se olha para o apertar de regras para a segunda quinzena do estado de emergência, como serão as medidas de regresso à normalidade, de que é um exemplo a abertura das escolas, e, por fim, quanto aos apoios que o país tem capacidade para dar.
O combate no terreno da saúde cobra um custo pesado sobre a actividade económica. Os danos são elevados, os pedidos de apoio multiplicam-se. Entre as iniciativas já aprovadas pelo Governo, destacam-se aquelas que estão destinadas a tentar atenuar os efeitos da crise sobre trabalhadores e empresas. Através deste guia, pode ficar a conhecer o que o Governo já decidiu. Há apoios para as microempresas que não se aplicam às grandes e há apoios que se aplicam às grandes e que deixam de fora os empresários em nome individual.
Nem tudo corre bem. As empresas queixam-se de dificuldades no acesso às ajudas e dois terços das empresas inquiridas pela Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa sublinham outro ponto: a maior dificuldade está na imprevisibilidade que resulta das sucessivas alterações que já foram introduzidas.
O balanço nacional desta quarta-feira deu conta do registo de 8.251 pessoas infectadas, um acréscimo de 808 em comparação com o boletim da direcção-geral da Saúde do dia anterior. O número de vítimas mortais subiu para 187 e há 43 recuperados, uma conta que não sofreu alterações nos dias mais recentes. O isolamento social está a produzir efeitos positivos? Os números divulgados revelam uma nova desaceleração da curva, de 10,9%, depois de nesta terça-feira se terem registado mais de mil novos casos.
O que se passa, de acordo com quem tem uma perspectiva global, pode ser lido e escutado nas palavras do diretor-geral da Organização Mundial da Saúde. Tedros Adhanom Ghebreyesus está preocupado com o aumento dos contágios no mundo e admite que algumas medidas levadas a cabo por vários países poderão ser contraproducentes para pessoas vulneráveis. “Entrámos no quarto mês da pandemia e estou muito preocupado com o rápido aumento da infeção”, disse esta quarta-feira. O responsável pela OMS revelou que, ao actual ritmo, o mundo alcançará na próxima semana o número redondo de um milhão de casos confirmados, um cenário preocupante quando se sabe que, de Espanha a Itália, de França ao Reino Unido e aos Estados Unidos, os sistemas de saúde já estão assoberbados.
É possível que muitas das situações de infecção antecipadas por Tedros Ghebreyesus venham a ser detectadas em lugares indevidamente esquecidos. Annie Chapman e Sanne Van Der Kooij são duas médicas que formaram o SOS Moria para unir os médicos de todo o mundo num pedido único: retirem as pessoas dos campos de refugiados porque quando o vírus chegar “vai ser como uma bomba química, não vai matar, vai dizimar”. Mais perto de nós, há quem não tenha casa onde se proteger: "Uma noite na rua a dar comida aos sem-abrigo" é o título de uma reportagem feita junto de uma parte da população que está mais exposta, um relato sobre solidariedade onde ela é agora (ainda) mais necessária.
Noutras circunstâncias, estas notícias seriam surpreendentes e bem-vindas: a concentração de poluentes caiu 80% em Lisboa e 60% no Porto e a mortalidade nas estradas é a mais baixa dos últimos dez anos. As imagens de Lisboa que integram esta fotogaleria explicam as leituras favoráveis sobre poluição e sinistralidade rodoviária feitas pelas entidades oficiais, uma bonança que chega por maus motivos.
Esta quinta-feira é mais um dia no combate à covid-19. Siga os desenvolvimentos através dos diretos do Expresso, que pode encontrar aqui, se pretende acompanhar a situação nacional, e aqui, para ter informação sobre o que está a suceder no Mundo. Estes mapas, nacional e global, também ajudam a perceber a evolução da pandemia.

quarta-feira, 1 de abril de 2020

Países a velocidades diferentes no combate à covid-19

De  Euronews  •  Últimas notícias: 01/04/2020 - 12:24

Países a velocidades diferentes no combate à covid-19

Direitos de autor Bernat Armangue/Copyright 2020 The Associated Press. All rights reserved.

Nos nossos dias, apenas a união pode ter força suficiente para ultrapassar os efeitos da covid-19. Quem o diz é o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, que apela a uma ação conjunta a nível mundial, quando, no mundo, há mais de 40 mil mortes associadas à doença e acima de 850 mil casos confirmados de infeção.

"É necessário uma resposta multilateral coordenada e abrangente em larga escala, que corresponda a pelo menos 10% do PIB global. Os países desenvolvidos podem fazê-lo sozinhos e alguns estão de facto a fazê-lo. Mas devemos aumentar massivamente os recursos disponíveis para o mundo em desenvolvimento", afirmou Guterres.

Em Itália, um dos países mais afetados pela pandemia, já morreram mais de 12 mil pessoas. Mas a curva do número de casos parece estar finalmente a descer.

De acordo com o presidente do Instituto Superior de Saúde de Itália, Silvio Brusaferro, o país chegou a "um ponto estável", ainda por confirmar. No entanto, alerta que ter chegado "a um ponto estável não significa que acabou. Significa que agora temos de começar a descida. E a descida só pode começar se continuarmos a ser extremamente cuidadosos com o que fazemos diariamente".

Em Espanha, a suspensão do estado de emergência está prevista para 12 de abril, Mas com mais de oito mil mortes causadas pelo coronavírus, o país vive em confinamento.

A doença não escolhe idades e está a fazer vítimas também entre os mais jovens. Esta terça-feira, um adolescente de 13 anos, aparentemente saudável, morreu no Reino Unido devido à covid-19.

Também o continente africano se ressente da pandemia. Com mais de 20 milhões de habitantes, a cidade de Lagos, na Nigéria, está de quarentena.

Já em Gaza, onde 70% das famílias abaixo do limiar da pobreza e os equipamentos médicos escasseiam, as organizações humanitárias temem a propagação da doença.

Neste momento, a Antártida parece ser dos únicos pontos no planeta onde o coronavírus não chegou.

A guerra do Covid-19

por estatuadesal

(Joaquim Vassalo Abreu, 31/03/2020)

Neste já fastidioso  ping pong entre EUA e CHINA sobre quem desenvolveu ou produziu o vírus, ou propositadamente o instalou, circulam várias teorias, teorias essas que muitos afirmam serem de conspiração!

Não sei se sim se não, mas a mais recente a que tive acesso, atribuída a NOAM CHOMSKY, reputado e lendário Filósofo, Ensaísta , Linguista e Activista Americano, personagem assumidamente de Esquerda que nunca regateou críticas ao sistema vigente na sua nação e anti Trumpiano assumido, é digna de análise, por de tão elaborada!

Convém dizer que eu, tendo em conta a obra e pensamentos de CHOMSKY, não acredito ser dele a autoria mas, quanto à sua fiabilidade, eu estou como o ditado Espanhol acerca da existência das Bruxas: “ pero que las hay, hay”!

A verdade é que eu já elaborei os princípios deste texto há uns largos dias mas, para fundamentar melhor a minha tese, tenho vindo a esperar o desenvolvimento da crise dos dias para melhor me sustentar.

Diz a referida teoria que Trump, tendo em conta a crescente supremacia da China no mundo, principalmente através da pujança da sua Indústria ( por alguma razão muitos países a apelidam como a fábrica do Mundo, porque capaz de tudo produzir mais rápido e a muito melhor preço final), ordenou a produção laboratial deste vírus e o colocou precisamente em YHUAM, pois existindo aqui um grande Laboratório Bacteriológico Chinês, fácilmente seria aceite e entendida a tese da fuga acidental.

E propagando-se o vírus na extensa  China ele traria consigo,  e de uma forma inexorável, o declínio da sua economia. E começando pela China necessário era seguir de imediato para uma Europa quase na sua totalidade hostil a Trump e não havia melhor lugar para começar do que a rica e industrial Lombardia comandada por um aliado de Putin, o fascista Salvini da Liga Norte. E aí começaria a inevitável derrocada da economia Europeia…

Ressurgiria então a supremacia dos “States” no mundo, tanto ao nível económico como militar, e descoberta intra-muros a vacina ela seria uma acrescida arma de arremesso e de chantagem, podendo os EUA escolher os amigos a quem ceder patentes…

Maquiavélica que chegue esta teoria sofreu um duro inicial revez por parte de Trump e o seu sósia Boris Johnson ao desvalorizarem o impacto da Covid 19 nos seus países, talvez por admitirem que a distância e os mares a impediriam de lá chegar e foram erráticos na  sua abordagem.

Na sua postura inicial arrogante Trump não cuidou de saber, nem soube ouvir, que perante um vírus desta natureza os EUA estariam tão frágeis como quaisquer outros países, mas mais frágil ficou quando subestimando a sua propagação foi tardio a tomar medidas.

E, posto isto, tendo em consideração os seus precários Sistemas de Saúde, onde prevalecem os Seguros (quase um terço da população ou não têm qualquer Seguro ou tem apenas o mais básico) e de Assistência Social, muito se teme que possa vir a acontecer uma autêntica desgraça humanitária naquele que dizem ser o país mais rico do mundo…

A extraordinária declaração de Trump de que cem mil, vá lá duzentos mil (!) mortos já seria para ele uma grande vitória (!) atesta à saciedade não só o desconhecimento que tem da realidade demográfica da sua nação, a quantidade de pobres e excluídos do sistema que possui e basta ver o que são os túneis de Nova York pejados de sem abrigo à noite e as imensas caravanas espalhadas pelas bermas das estradas estaduais onde vivem milhões de americanos em condições periclitantes, mas também do seu estado de sanidade mental.

E não serão os biliões ou triliões de dólares que diz ir injectar na economia que essa iminente tragédia podem evitar…

Entretanto a China já da crise está a sair e, de certo modo, a ajudar o resto do mundo. E os EUA e os seus triliões de dólares servem para quê?

Porque é que o Corona Vírus não é comunista (nem socialista, vá)

por estatuadesal

(Valdemar Cruz, in Expresso Diário, 01/04/2020)

Ao que parece, na Índia, onde 1,3 mil milhões de pessoas estão a ser obrigadas ao confinamento, o Corona Vírus passou a ser apelidado de “Comuna Vírus”. A lógica é na aparência inatacável. É um vírus difundido a partir de um país que se diz comunista, na sua voragem infeciosa não distingue ricos de pobres e, de alguma forma, tem vindo a forçar alguns laços comunitários, não obstante o confinamento a que todos estamos submetidos.

Andei uns dias a matutar na bondade deste argumento, reforçado com as atitudes de Donald Trump e Jair Bolsonaro, dois aguerridos apóstolos do combate a tudo quanto possa ter o mais leve odor socializante. Ambos têm sido inultrapassáveis nas manifestações de desprezo e amesquinhamento do vírus e da sua hipotética importância. O problema é que, quando se trata destas duas excrescências, tudo quanto possa ser ditado pelo esboço de uma ideia ou por um qualquer arremedo de posicionamento ideológico, não o é. É mesmo só ignorância e boçalidade.

A pandemia é democrática, dizem outros, por afetar a todos por igual. Falta o contexto de cada um. O meu confinamento num apartamento na baixa do Porto, equipado com tudo quanto necessito para me distrair e comunicar, não é bem o mesmo que viver em precárias condições no apartamento minúsculo e sobrelotado de um bairro camarário, ou pior, na barraca de uma ilha, ou, extremo absoluto, ter a rua como dormitório. Não há fantasia de igualdade que resista, nem comparação possível com quem deambula numa casa pornograficamente recheada de assoalhadas e com jardim à vista e a perder de vista.

Até podemos estar todos a viver numa espécie de prisão domiciliária, mas o modo como sente, a pode ou consegue vivenciar o operário da construção civil, o pescador de Matosinhos, a empregada de limpeza ou o precário a recibos verdes é bem diversa da de um banqueiro com espírito, mesmo se santo.

O Corona é até anticonstitucional, se estabelecermos um paralelismo com o postulado na nossa Constituição, segundo o qual a trabalho igual deve corresponder salário igual. Então, a doença igual deveria corresponder padecimento igual.

Não vemos nada disso. Pelo contrário, vemos a estrutura de classes em todo o seu esplendor, escancarada nas consequência de um vírus que, se algo socializa, é apenas a doença. Tudo isto somado parece evidente que o Corona Vírus nem eurocomunista é, e está longe de mostrar pergaminhos para se reclamar de socialista.

Uma repugnância atrás da outra

Posted: 31 Mar 2020 03:47 AM PDT

«A crise económica provocada pela Covid-19 será longa e profunda. Para a enfrentar, o Estado terá de entrar em campo como poucas vezes vimos, para apoiar o emprego, as empresas e a produção.

Uma parte deste apoio deverá necessariamente chegar sob a forma de créditos garantidos, subsídios diretos e até mesmo nacionalizações, sempre que estiverem em causa empresas estratégias. Mas uma outra parte, também importante, passa pela regulação de setores e empresas que fazem do abuso a sua regra.

Para além da violação dos direitos laborais em contexto de crise, há outras práticas que devem ser impedidas. É o caso da distribuição de lucros, seja de que forma for.

Se este é o momento de manter o emprego, de financiar a economia e de conceder moratórias aos pagamentos de bens essenciais, então este não pode ser o momento para o BPI entregar 117 milhões aos espanhóis do Caixabank, para a Navigator entregar 100 milhões à Semapa, da família Queiroz Pereira, ou para a EDP Renováveis pagar 70 milhões à EDP que, por sua vez, os entregará à China Three Gorges e à Blackrock, que é "só" o maior fundo privado do Mundo. Bem sabemos que, "nos mercados", os investidores e especuladores, alguns deles acionistas destas empresas, pouco querem saber da sustentabilidade da economia portuguesa. A prova é a penalização das ações do BCP depois de anunciada a suspensão da distribuição dos dividendos de 2019, tal como recomendado pelo Banco Central Europeu. Mas a obrigação de todas as empresas (a tal "responsabilidade social" que faz as delícias do marketing empresarial), é proteger os postos de trabalho e a sua solvabilidade futura. Para que isso seja garantido, não só a distribuição de dividendos das grandes empresas deve ser proibida, como essa regra se deve alargar a outras formas de desnatação, como o pagamento de suprimentos ou respetivos juros.

Para terminar, já que falamos de responsabilidade social das empresas, sobretudo das grandes, talvez este seja também o momento de questionar as suas estratégias de planeamento fiscal. É que, nunca é demais recordar, as holdings de todas as empresas do PSI20 (para onde vão muitos dos dividendos) pagam os seus impostos na Holanda. Já o ministro das Finanças holandês, que não se preocupa em manter um offshore fiscal que destrói as receitas dos outros estados, acha que os países que dizem não ter margem orçamental para lidar com a crise do coronavírus deviam ser investigados pela União Europeia. E o pior é que é mesmo possível que Bruxelas venha a exigir austeridade para compensar o apoio por conta da crise sem precedentes causada pelo vírus.

É uma repugnância atrás da outra.»

Mariana Mortágua