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quinta-feira, 17 de outubro de 2024

 

O declínio da UE está a tornar-se imparável

By estatuadesal on Outubro 16, 2024

(Ahmed Adel* in I N F O B R I C S, 16/10/2024)



A Europa está num ponto de inflexão: pode tornar-se uma potência mundial ou entrar em declínio e perder terreno para os seus principais concorrentes internacionais, como os Estados Unidos ou a China, de acordo com uma análise da Bloomberg.

A União Europeia enfrenta atualmente uma série de desafios que põem em causa a sua viabilidade como ator relevante a nível internacional e conduzem mesmo à sua queda certa em vários aspetos.

"Depois de décadas de advertências e crescimento abaixo da média, os líderes da região estão repentinamente a enfrentar uma enxurrada de evidências de que o declínio está a tornar-se imparável", alertou a agência americana especializada em economia e finanças.

A análise destaca que uma combinação de paralisia política, ameaças externas e mal-estar económico pode acabar com as ambições de a UE se tornar uma força global. Essa situação, sugere, leva seus estados-membros a dar prioridade aos seus próprios interesses, colocando-os acima dos interesses do bloco. A agência acrescentou que esses fatores deixaram claro que a UE mostrou a sua incapacidade de agir como um grupo homogéneo diante de problemas económicos, de mercado, de segurança e defesa, como o conflito na Ucrânia.

"Todos esses desenvolvimentos sustentam o fracasso da UE em agir como um bloco económico coeso e dinâmico, corroendo o seu status e degradando a sua capacidade de responder a uma ampla gama de ameaças, desde a política industrial chinesa até à agressão militar russa, ou mesmo a uma futura administração antagónica nos EUA", acrescentou a Bloomberg.

O artigo citou analistas dizendo que a Europa está a responder muito lentamente às mudanças globais, incluindo o aquecimento global, a mudança demográfica e a mudança para uma economia pós-industrial, na qual a China se tornou um grande concorrente.

"Algo está a mudar muito, muito dramaticamente e muito, muito profundamente neste mundo", disse o ex-presidente polaco Aleksander Kwasniewski em entrevista à Bloomberg. "Não podemos reagir corretamente, porque somos muito lentos."

Mas, o declínio da UE pode ter começado já na união monetária do bloco, de acordo com outra análise da Bloomberg Economics sugerindo que a economia do bloco seria maior, em cerca de 3 triliões de euros, se tivesse acompanhado o ritmo dos EUA nos últimos 25 anos.

Em setembro, Mario Draghi, ex-presidente do Banco Central Europeu (BCE), apresentou um plano para revitalizar o bloco europeu, ao mesmo tempo que descreveu o perigo do declínio da região como uma potência económica.

"As fundações sobre as quais construímos estão agora a ser abaladas", disse Draghi na introdução de seu relatório. "Este é um desafio existencial."

No entanto, a análise acrescentou que o relatório não foi bem recebido, com alguns responsáveis pela definição e condução das políticas, a temerem que a região esteja a ficar sem espaço de manobra.

"É óbvio que a Europa está ficando atrás dos seus principais parceiros comerciais, os EUA e a China", disse o ministro das Finanças grego, Kostis Hatzidakis, numa entrevista em 24 de setembro. "Se não tomar medidas imediatas, o declínio acabará se tornando irreversível."

Recorde-se que na sua revisão semestral da estabilidade financeira, em maio deste ano, o BCE alertou que os países europeus são "vulneráveis a choques adversos" decorrentes de tensões geopolíticas e taxas de juro persistentemente elevadas devido à sua incapacidade de continuarem a reduzir a sua dívida pública.

O BCE salientou que, um ano após a emergência da COVID-19, muitos países europeus não reverteram totalmente as medidas de apoio introduzidas para proteger os consumidores e as empresas do impacto da emergência sanitária e, subsequentemente, do conflito na Ucrânia. Isso, por sua vez, gerou altos níveis inflacionários e aumentos nos preços da energia. Acresce a isso o conflito no Médio Oriente e sua influência nos preços dos combustíveis.

A instituição financeira considerou que "altos níveis de endividamento e políticas fiscais brandas podem aumentar ainda mais os custos dos empréstimos e ter efeitos negativos na estabilidade financeira, inclusive por meio de repercussões para mutuários privados e detentores de títulos soberanos". O BCE também disse que a dívida soberana provavelmente permanecerá elevada, apontando para "políticas fiscais frouxas" como o principal motivo de preocupação.

Apesar destes ligeiros avanços, a instituição financeira europeia espera que a dívida pública total se mantenha acima dos níveis pré-pandemia, em 90% do PIB em 2024, e aumente ligeiramente no próximo ano. No entanto, isso aponta para o facto de que o conjunto da economia europeia não é mais comparável à dos EUA e da China e será superada pela Índia nas próximas décadas, garantindo que o bloco não será a grande potência que ainda acredita vir a ser.

Não sendo mencionado na análise da Bloomberg ou pelo BCE, o principal fator determinante dos problemas económicos da UE são as sanções anti Rússia devido ao seu efeito de um bumerangue. Alemanha, França e Itália, as três maiores economias da UE, são os países mais afetados pelas sanções anti Rússia, que os arrastaram para a recessão. Enquanto a UE mantiver sanções contra a Rússia, o bloco nunca será capaz de recuperar, e muito menos competir com os EUA e a China.

* O autor é investigador de geopolítica e economia política na cidade do Cairo.

quarta-feira, 16 de outubro de 2024

 

A Soller e outros cromos

By estatuadesal on Outubro 15, 2024

(Por Sófia Puschinka, in Facebook, 15/10/2024, revisão da Estátua)

A Soller


Esta Soller efetivamente não tem um pingo de vergonha: consegue desdizer com uma grande lata tudo aquilo que andou 2 anos e 8 meses a impingir aos otários que paparam as suas análises como se se tratassem das análises de uma especialista.

Mata Hari XXXL

Bem, podia simplesmente fazer como a amiga, a Mata Hari XXXL que não voltei a ouvir falar da Ucrânia; agora é só Mossad e Torá, ou seja, a mesma atitude que teve após andar feita maluca a palrar e a dar como certo o Guaidó presidente. Agora é silêncio sobre a Ucrânia e vira-se para outro lado para espetar mais um rol de aldrabices e propaganda em relação a um novo assunto; ela não é a culpada, os culpados são os que lhe dão palco e os que  lhe arranjam uns tachos com dinheiro público, ou seja, os borregos ainda pagam a quem os engana e até batem palminhas. Estes trastes deviam indemnizar o povo pelas aldrabices que lhes espetaram, durante quase 3 anos.

Bem, mas esta Soller ao contrário da XXXL até mete pena, consegue contradizer-se a ela própria e acho que nem percebe. Provavelmente também não saberá que alguns de nós temos vídeos dos momentos altos da criatura, aqueles momentos em que dizia e jurava a pés juntos que a Ucrânia ia recuperar todo o território, que estava a ganhar porque os russos, coitaditos, não tinham meios e que era impensável a Ucrânia perder esta guerra. Ora, vem agora a criatura dizer que é pouco provável que a Ucrânia recupere territórios?! Mas será que esta alma tem noção do que diz e desdiz? Agora percebo porque não conseguiu acabar o doutoramento num país onde nem sequer primam pela inteligência e cultura 🙄

A mediocridade da criatura é óbvia e o grave é que nem se apercebe, daí dar pena. Diz a criatura que a melhor forma de dissuasão nuclear é a existência de armas nucleares; esta alma limita-se a palrar e a repetir, sem pensar, o que ouviu alguém dizer, algum irresponsável, ou o que leu num qualquer livro de relações internacionais escrito por um mentecapto a quem deram importância. O que é normal quando algumas universidades sugerem livros a pedido dos partidos ou da elite política. Desde que vi, como obrigatório, um livro cheio de gralhas, falsidades e alucinações de Sousa Lara, comecei a entender melhor a mediocridade que minou a sociedade portuguesa, a comunicação e algumas classes profissionais: estas almas não foram treinadas para pensar ou ter opinião, foram treinadas para repetirem, que nem papagaios, a merda que decoram e lhes impingem sem sequer questionarem ou perceberem as lacunas.

Talvez alguém possa explicar a esta coitada que nem sequer deviam existir armas nucleares, que quem criou as primeiras se arrependeu e que os amigos dela, os EUA, foram pioneiros no seu uso quando lançaram duas bombas atómicas em Nagasaki e Hiroxima. A pobre não estudou essa parte da História e com certeza desconhece os resultados. Pergunto-me se esta alma terá cara para falar de paz, ou para algum dia se dirigir aos povos, associações e movimentos pela paz e contra o armamento. Mas, acredito que a imbecil disse esta barbaridade, mas faz separação do lixo a pensar no ambiente: é preciso ser tão lerda que até dói 🙄.

Por outro lado convém que alguém avise a criatura que as armas nucleares não assustam a Rússia. Se a criatura fosse informada sabia desde o primeiro dia a capacidade bélica da Rússia, sabia que possui as 6 armas mais potentes do Mundo, sabia que tem mísseis hipersónicos, algo que os EUA não têm, sabia que o número de ogivas da Rússia e dos seus aliados é superior ao do Ocidente, e sobretudo conhecia a política nuclear russa: não é a Rússia que ataca países com armas nucleares, pelo contrário, usou primeiro o ferro velho que para lá tinha o que até foi uma vantagem, despejou o ferro velho em terreno alheio. Só esta pacóvia e outros idênticos acreditavam e fizeram acreditar alguns ignorantes que a Rússia não tinha armas, nem botas, nem fardas, etc…

A senhora deverá, pois, desconhecer que a política nuclear russa é defensiva, e que muito bom senso e sangue de barata tem Putin: os EUA, com as armas que a Rússia tem, teriam destruído a Ucrânia em 3 dias. Além disso, a senhora devia saber que se atacarem a Rússia e a destruírem, mesmo que não exista nem mais um russo para carregar no botão, haverá automaticamente retaliação porque a Rússia tem um sistema chamado de “mão morta” que atuará sem intervenção humana. Isso sim, isso é dissuasão, senão há muito tempo que a Rússia já teria sido atacada pelos “bonzinhos” dos norte-americanos. A detenção de armas nucleares, por si só, não é dissuasão nenhuma até porque, se a capacidade de um país for inferior à de outro, o que até é o caso, não assusta ninguém. É o mesmo que um caniche a ladrar a um pastor alemão. Mas têm moral, lá isso sem dúvida que têm, mas a estupidez é tanta que ladram, ladram e nem se apercebem da sua insignificância.

 É o caso dos políticos portugueses que andaram em excursão a Kiev. Uma visita era aceitável para fazerem o “papel” na UE, agora andarem sistematicamente a lamber o cú a um asqueroso antidemocrático; a um criminoso que vendeu o seu país e o seu povo por uns milhões de dólares; a um corrupto; a uma besta que permite o tráfico de crianças e em que a associação criada pela mulher está envolvida; a uma besta que manda matar cidadãos no seu país só porque são descendentes de russos ou defendem as suas origens e cultura russa - como foi o caso recente de uma jovem em Odessa, caso em que a comunicação social nem pia -, é vergonhoso e mau de mais.

O regime ucraniano é nazi não é democrático. Aliás, neste momento afastaram toda a oposição, mataram uns e prenderam outros, fecharam meios de comunicação social, oprimem há 10 anos, mas agora é de forma totalitária, e esta gente que debitou disparates durante mais de dois anos é impossível que tenham um pingo de vergonha na cara.

Alguns deviam ser acusados pelas mentiras criminosas que debitaram mas esta Soller, coitada, devia era receber um atestado de incapacidade e um subsídio qualquer do Estado porque é mais do que evidente que aquela cabeça tem falhas graves e ela. coitadita, não tem culpa: aquilo não dá mais, sendo a culpa de quem lhe dá palco e a faz passar por tais figuras tristes; acho até que é bullying

O Serronha

Depois temos o Tenente-General Serronha: "Bem, se não é o cessar-fogo, será a derrota da Rússia; acho um pouco exagerado... em 2025. A Rússia está com problemas económicos, especialmente na economia". 😂😂😂 Este já está com demência, não? Ai a Rússia é que está com problemas económicos? Ou será a Europa e os EUA? Estes últimos, já à uns anos valentes, mas como emitem moeda quando lhes apetece e ninguém fiscaliza está tudo bem 😂. As televisões escolhem estas pérolas a dedo 😂😂. Derrota da Rússia diz este 😂😂😂

O General Salsicha

Bem… O General Salsicha também teve o desplante de um dia destes dizer que a Rússia não tem mísseis hipersónicos. Este, não tarda, é contratado pela NASA. Calma aí, não é pela inteligência, é para substituir a cadela Laika: andam com uns problemas no regresso das naves 😂

terça-feira, 15 de outubro de 2024

 

O nazismo geracional e o Diário de Anne Frank

By estatuadesal on Outubro 15, 2024

(Carlos Matos Gomes, in Medium.com, 15/10/2024)



A geração nascida no pós Segunda Guerra, a dos babyboomers, cresceu e foi educada na associação do nazismo à Alemanha e à caraterização do nazismo como uma ideologia assente no racismo, na imposição de um grupo classificado como raça, a raça ariana, como superior e de uma outra raça, a dos judeus, como uma espécie infra-humana, que deveria ser reduzida a cinzas em campos de concentração e depois eliminada em massa.

A geração atual, a do neoliberalismo e da lei da selva, do sucesso assente na violência, dos meios justificarem os fins, está a ser confrontada com o nazismo israelita, que considera os palestinianos infra-humanos e os israelitas a raça eleita e superior. Esta geração não parece ter termo de comparação e desculpa a violência que lhe é servida nos ecrãs assumindo que os israelitas estão a defender os seus valores, como surge nas legendas.

Na Europa e na União Europeia, a geração dos netos dos que fundaram a Europa com base em valores antinazis, os netos da geração que leu o Diário de Anne Frank, estão agora a viver e a participar na ressurreição do nazismo enquanto ideologia e estão a ser condicionados pelos atuais meios de manipulação a aceitar essa ideologia como a “defesa da liberdade e da democracia e do mercado livre”, valores entendidos segundo o seu ponto de vista: sou superior, logo sujeito os outros, se necessário elimino-os. O neoliberalismo era, sempre foi, um produto do ovo do nazismo! Por detrás do espetáculo da liberdade de comportamentos, mas não tanta que não separe cultura branca (a da elite), de cultura afro e de cultura latina ou hispânica, como é visível nos prémios da indústria do infoentretainment da oligarquia americana) encontra-se o racismo das oligarquias designadas por WASP (White, Anglo-Saxon Protestant), um branco, protestante, cuja família tenha origem no noroeste da Europa e que passou a integrar a oligarquia judaica, Rothschild, Rockefeller, Morgan, Goldman entre outros que dominam o mercado financeiro mundial. O liberalismo nem é livre, nem igualitário.

Assentando o nazismo israelita e o nazismo alemão nos mesmos princípios ideológicos, a superioridade rácica ou étnica, ou até religiosa como razão, a justificação para ocupação de territórios e eliminação de povos, a perversidade do nazismo israelita tem a vantagem de ser patrocinada económica, militar e, no essencial, politica e ideologicamente pela superpotência Ocidental, enquanto que o nazismo alemão dispunha apenas das suas próprias forças e atuava por si e pelos seus interesses. O nazismo israelita beneficia do poder financeiro dos Estados Unidos, do seu aparelho militar industrial e da cobertura fornecida pela sua poderosa indústria de comunicação e manipulação da opinião pública. Fatores determinantes e que permitem todos os atrevimentos e provocações.

O nazismo alemão tinha uma doutrina expressa no Mein Kampf (A minha Luta), superioridade rácica, recuperação da antiga ideia nacionalista alemã do “Drang nach Osten”, a necessidade de ganhar o Lebensraum, o espaço vital, que vemos reproduzido nos nacionalistas israelitas na criação do Grande Israel, que inclui o Líbano e a Síria, e na estratégia do Grande Ocidente Global, leia-se dos Estados Unidos, do domínio do Médio Oriente.

Sendo a mesma a base ideológica no nazismo alemão e do nazismo israelita, a radical diferença entre ambos reside no tempo histórico em que eles se manifestam e na inversão de valores que a adoção do nazismo israelita representa na ideologia do Ocidente — no seu sistema de valores.

O neoliberalismo enquanto doutrina dominante no Ocidente justificou e impôs os fundamentos do nazismo como condição para a sua existência enquanto sistema dominante no mundo no século XXI, mas colocou-o em confronto com a emergência de antigas civilização durante séculos sujeitas ao domínio ocidental e que o contestam.

O Ocidente, como a Alemanha de Hitler, justifica-se pela necessidade de impor a sua supremacia através da conquista de territórios e da eliminação de povos para em seu lugar colocar o povo eleito — arianos num caso, judeus israelitas noutro — que servissem os interesses da sede do império, em Berlim, num caso, em Washington atualmente. O nazismo alemão tem, como qualquer fenómeno político, várias causas e várias explicações, mas todas elas vão convergir na necessidade de impor um poder para defender um interesse julgado vital.

No caso do nazismo alemão, além da crise do orgulho ofendido com a derrota na Grande Guerra e da crise económica provocada pelas reparações que resultaram dela, ou da luta contra a ameaça comunista, ele tem, na essência, por base o objetivo da recuperação do estatuto de grande potência mundial por parte da Alemanha, num tempo em que a Europa ainda era o centro do mundo e de esse objetivo apenas poder ser alcançado pela forma mais brutal que pudesse ser utilizada para o efeito. Por isso os alemães estiveram tão perto da construção da arma atómica, um conhecimento científico que os Estados Unidos aproveitariam em Hiroshima e Nagasáqui. Não herdaram apenas o saber técnico, mas também o objetivo que ele proporciona.

No caso do nazismo israelita, estamos a assistir e a participar na repetição dos mesmos princípios do nazismo alemão para imposição de um poder, o dos Estados Unidos, que seja incontestado. Porque são quem financia (paga), arma e, sabemos agora com a presença dos mais altos comandantes militares americanos em Israel, manda e comanda as operações de Israel no Médio Oriente, como já se sabia que era esse o papel da NATO na guerra na Ucrânia, onde vigora um poder de cariz nazi, apoiado pelos Estados Unidos.

Também é interessante verificar que, tal como no nazismo alemão, o nazismo israelita jamais refere que tipo de sociedade pretende impor nos territórios ocupados a não ser que ficam sob a lei da superioridade ariana ou judaica. Estados teocráticos, na sua essência, o que não os distingue do Irão, do Afeganistão ou da Arábia Saudita.

Jamais o Ocidente — os Estados Unidos — referem nos seus planos de guerra e de pós guerra de valores, de Liberdade, de Justiça e de Respeito pelos povos. Tal como o nazismo alemão jamais o fez. Também, tal como no nazismo alemão, o nazismo israelita impôs a mais férrea censura à contestação à sua política e, fundamentalmente, aos resultados desta. Fê-lo, como o nazismo alemão havia feito, eliminando intelectuais, jornalistas e repórteres e impondo regras leoninas sobre segredo de Estado, utilizando os onze princípios de propaganda de Goebbels, o ministro de Hitler.

Os cidadãos dos Ocidente Global passaram a ter direito apenas a uma verdade oficial, todos os que se manifestam contrários são classificados como traidores, marginais e, logo, banidos do rebanho e do espaço público.

A grande vitória do nazismo israelita é que ele provou que o nazismo pode ser apesentado com sucesso como uma ideologia e uma prática que os ocidentais, os europeus, quer os da geração dos babyboomers, quer a dos precários liberais da nova geração, tomam não só como aceitável moralmente, mas como o melhor lugar ideológico para obter sucesso, lugares de topo da administração pública e privada, títulos académicos, negócios e tudo dentro de uma embalagem que apregoa os grandes valores do Ocidente no pós Segunda Guerra, é certo que mais apregoados do que praticados, mas ainda assim invocados.

No pós Segunda guerra, a Europa Ocidental declarava-se Mundo Livre, patrocinadora da libertação de África, liberal nos costumes e nos mercados, acolhedora de emigrantes de mão de obra barata, mas implacável com os que colocassem em causa a ordem e a exclusividade da violência por parte do Estado, mantendo nos seus aparelhos de poder uma rede protofascista de desestabilização, a GLADIO, gerida pela NATO, aceitando as ditaduras portuguesa, espanhola e grega. Chegou o momento de a embalagem ir borda fora!

A normalização de Hitler e do Mein Kampf tem sido feita diante dos nossos olhos através da glorificação de Zelenski, o ilusionista escolhido pelos americanos para transformar os batalhões nazis em combatentes da liberdade e os antigos nazis em heróis, caso de Bandera e de apresentar Netanyahou como o Herodes que, segundo a Bíblia cristã, ordenou a matança dos inocentes para evitar o nascimento de um verdadeiro rei dos Judeus, que ameaçasse o poder romano.

A normalização de uma estratégia nazi está certificada nos documentos que definem a política dos Estados Unidos para o século XXI, entre eles os recentes National Security Strategy (NSS) e National Defence Strategy (NDS) publicados na segunda metade de 2022 pela administração Biden, que reafirmam a preeminência dos Estados Unidos na ordem mundial em termos militares e económicos e referem a continuidade dos esforços de Donald Trump para estabelecer regras que garantam os meios para as empresas americanas “vencerem na cena mundial”. O Irão é um grande produtor de petróleo e um grande exportador para a China, o inimigo principal dos Estados Unidos económica e militarmente.

Israel representa o papel de provocador de um conflito que permita aos Estados Unidos atacar a China e as suas empresas por via da dificuldade de abastecimento de energia. Os Estados Unidos estarão por detrás do ataque de Israel ao Irão, que utilizou como operações provocatórias e preparatórias o ataque a Gaza, a pretexto do Hamas, o ataque ao Líbano a pretexto do Hezbolah, o assassinato de lideres palestinianos no Irão para dar oportunidade a este ataque.

Imagens do nazismo alemão, tendo a adolescente Anne Frank como figura referencial, do tratamento dado às crianças fechadas no gueto de Varsóvia revelam a herança do nazismo através das práticas dos militares israelitas em Gaza.

Em termos de princípios e valores estamos perante o mesmo fenómeno, o nazismo. Também estamos perante os mesmos objetivos. O nazismo alemão tinha como objetivo a preeminência da Alemanha na cena mundial, cujo centro a Europa ainda representava nos anos vinte do século passado e é pela mesma preeminência, agora ao serviço de um outro patrocinador, e noutro tempo, que o nazismo israelita age para garantir a hegemonia dos Estados Unidos.

O próximo ato de afirmação de luta pela imposição da hegemonia dos Estados Unidos será o ataque ao Irão. Que ele seja desencadeado por um estado nazi caracteriza os valores essenciais pelos quais se rege o estado patrocinador que colocou duas esquadras e forneceu os mais modernos equipamentos de guerra ao serviço de Israel, o estado vassalo. E indicia os valores que vão ser os dominantes no Ocidente Global.

Não foi certamente para defender Israel dos ataques de grupos de guerrilha e resistência que são o Hamas e o Hezbolah que os Estados Unidos deslocaram duas esquadras, forneceram os mais modernos sistemas de armas e, por fim, colocaram em Israel, no comando da operação militar, generais de quatro estrelas do topo da hierarquia das Forças Armadas Americanas, como tem sido a narrativa passada pela comunicação social do Ocidente alargado.

Um êxito no ataque ao Irão será assumido como um êxito americano e um sopro vital para os Democratas, que se apresentarão como os “capitães América” contra os Republicanos; um fracasso ou uma meia vitória será imputada aos israelitas. O nazismo alemão utilizou até ao fim a estratégia de atribuir as vitórias a Hitler e as derrotas aos exércitos executantes no terreno. Os nazis israelitas tanto correm o risco de serem os bodes expiatórias de um mau resultado, como têm a possibilidade de reforçar a condição de elementos indispensáveis ao futuro dos Estados Unidos, com quem partilham os conceitos de conquista e gestão do poder.

Quem está já fora da mesa do jogo de xadrez é o esforçado Zelenski, porque a Ucrânia passou à condição de causa perdida e o Irão passou a ser o objetivo principal para chegar à China.

O que foi tornará a ser, o que foi feito se fará novamente; não há nada novo debaixo do Sol. - Eclesiastes

 

Israel versus Irão: a Rússia entrou no jogo

By estatuadesal on Outubro 14, 2024

(Por M.K. Bhadrakumar, in Outras Palavras, 10/10/2024, revisão da Estátua)

2018: Putin encontra-se, em Teerão, com então presidente do país, Hasan Rohani

Um grande analista do Médio Oriente sustenta: os mísseis iranianos já são capazes de penetrar a “cortina de ferro” israelita. Há indícios claros de que Moscovo está apoiando Teerão – e de que ambos firmarão, em breve, um pacto de defesa mútua.


Israel, aparentemente, pôs na gaveta o seu ataque planeado contra o Irão. Uma combinação de circunstâncias pode estar na base desse recuo, o que desmente a retórica intensa de Telavive, de que estava pronta para agir.

Apesar da brilhante gestão dos média por Israel, surgiram relatos de que o ataque de mísseis iranianos a 1 de outubro foi um sucesso espetacular. Foi uma demonstração da capacidade de dissuasão do Irão para esmagar Israel, se necessário. O fracasso dos EUA em intercetar os mísseis hipersónicos iranianos trouxe uma mensagem própria. O Irão afirma que 90% dos seus mísseis penetraram nos sistemas de defesa aérea de Israel.

Will Schryver, engenheiro técnico e comentador de segurança, escreveu no X: “Não entendo como, alguém que viu os muitos vídeos dos ataques de mísseis iranianos contra Israel, pode não reconhecer e não admitir que foi uma demonstração impressionante das capacidades iranianas. Os mísseis balísticos do Irão ignoraram as defesas aéreas dos EUA/Israel e realizaram vários ataques com grandes ogivas contra alvos militares israelitas.”

Evidentemente, na situação de pânico que se seguiu em Israel, até 4 de outubro ainda havia indecisão sobre qual tipo de resposta dar ao Irão. Como disse o presidente dos EUA, Joe Biden, “se eu estivesse no lugar deles [israelitas], estaria a pensar em outras alternativas além de atacar campos de petróleo”. Esta declaração foi feita numa rara aparição na sala de imprensa da Casa Branca, um dia depois das autoridades israelitas dizerem que uma “retaliação significativa” estava iminente.

Biden acrescentou que os israelitas “ainda não concluíram como — e o que vão fazer” em retaliação. Biden também disse aos repórteres que o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, deveria lembrar-se do apoio dos EUA a Israel ao decidir os próximos passos. Também afirmou que estava a tentar mobilizar o mundo para evitar uma guerra total no Médio Oriente.

Nesta pantomina, é mais seguro acreditar em Biden, já que a verdade é que, sem a ajuda prática e financeira — e a intervenção direta — dos EUA, Israel simplesmente não tem fôlego para enfrentar o Irão. O dominío regional de Israel restringe-se a executar planos de assassinato e a atacar civis desarmados.

Mas, mesmo aqui, é discutível o quão autossuficiente Israel é, em comparação com o Irão. Surgiram relatos de que foi a nova inteligência tecnológica dos EUA que localizou o paradeiro do líder do Hezbollah, Sayyed Nasrallah, o qual foi transmitido a Israel, levando ao seu assassinato.

Curiosamente, o diretor da CIA, William Burns, interveio para refutar os rumores de que o Irão tenha conduzido um teste nuclear no último sábado, 5 de outubro. Falando numa conferência de segurança na segunda-feira, Burns afirmou que os EUA monitoraram de perto a atividade nuclear do Irão em busca de qualquer sinal de que o país esteja acelerando em direção a uma bomba nuclear. “Não vemos evidências hoje de que tal decisão tenha sido tomada. Observamos isso muito cuidadosamente”, disse ele. Burns desfez, assim, suavemente, outro pretexto para atacar o Irão.

Um fator crítico que obrigou Israel/EUA a adiar qualquer ataque ao Irão foi o severo aviso de Teerão de que qualquer ataque à sua infraestrutura por Israel seria respondido com uma reação ainda mais dura. “Ao responder, não hesitamos nem agimos precipitadamente”, afirmou o ministro das Relações Exteriores, Abbas Araghchi, que, aliás, fez uma viagem ao Líbano e à Síria no fim de semana para enviar uma “mensagem” desafiadora a Israel — como ele afirmou — de que “o Irão apoiou fortemente a resistência e sempre a apoiará.”

No início de 4 de outubro, o Líder Supremo, Aiatola Ali Khamenei, usou um raro sermão público para defender o ataque de mísseis do Irão contra Israel, dizendo que foi “legítimo e legal” e que, “se necessário”, Teerão o faria novamente. Falando em persa e árabe durante as orações de sexta-feira em Teerão, Khamenei disse que o Irão e o Eixo da Resistência não recuarão diante de Israel. O Irão não “procrastinará nem agirá apressadamente ao cumprir seu dever” de confrontar Israel, declarou Khamenei.

No entanto, o que desmotiva os israelitas e causa desconforto nos EUA é outra coisa — a crescente sombra da Rússia sobre o cenário do Médio Oriente.

Analistas militares norte-americanos divulgaram que certas armas altamente avançadas da Rússia foram transferidas para o Irão nas últimas semanas, apoiadas pelo envio de pessoal militar russo para operar esses sistemas, incluindo mísseis S-400. Há especulações de que o secretário do Conselho de Segurança da Rússia (ex-ministro da Defesa) Sergei Shoigu fez recentemente duas visitas secretas ao Irão.

Aparentemente, Moscovo também respondeu ao pedido iraniano do envio de dados de satélite, relativos a alvos israelitas, para realizarem o seu ataque de mísseis a 1 de outubro. A Rússia também forneceu ao Irão o sistema de guerra eletrónica de longo alcance “Murmansk-BN”. O sistema “Murmansk-BN” é um poderoso sistema de guerra eletrónica, capaz de bloquear e intercetar sinais de rádio inimigos, GPS, comunicações, satélites e outros sistemas eletrónicos até 5.000 km de distância, neutralizando munições “inteligentes” e sistemas de drones — e é capaz de interromper sistemas de comunicação via satélite de alta frequência pertencentes aos EUA e à NATO.

Sem dúvida, o envolvimento russo no impasse do Irão com Israel é potencialmente um divisor de águas. Do ponto de vista dos EUA, isso levanta o espectro preocupante de um confronto direto com a Rússia, algo que Washington quer evitar.

É nesse cenário que agências de notícias oficiais russas citaram o assessor presidencial Yury Ushakov, no domingo, afirmando que Putin planeia encontrar-se com o seu homólogo iraniano, Masud Pezeshkian, na capital do Turquemenistão, Ashgabat, em 11 de outubro. Ushakov não elaborou sobre a reunião. De facto, isso é uma surpresa, já que os dois líderes programaram encontrar-se novamente na cúpula do BRICS, na cidade russa de Kazan, de 22 a 24 de outubro.

Claro, os iranianos também estão sendo discretos. Tanto Moscovo quanto Teerão anunciaram que os seus presidentes visitariam Ashgabat em 11 de outubro para participar numa cerimónia marcando o 300º aniversário de nascimento do poeta e pensador turcomano Magtymguly Pyragy. Fumaça e espelhos! (aqui e aqui).

É totalmente concebível que, no meio das crescentes tensões regionais, Moscovo e Teerão possam ter pensado em antecipar a assinatura formal do pacto de defesa russo-iraniano, originalmente programado para acontecer em Kazan.

Se for assim, o evento de sexta-feira será semelhante à visita não programada do então ministro das Relações Exteriores soviético, Andrei Gromyko, a Nova Deli para a assinatura do histórico Tratado de Paz, Amizade e Cooperação entre a Índia e a URSS, em 9 de agosto de 1971.

Curiosamente, Ushakov acrescentou que Putin não tem planos de se encontrar com Netanyahu. Putin ainda não respondeu a um pedido de Netanyahu para uma conversa telefónica, feito há cinco dias. Uma lenda que Netanyahu criou, nos últimos anos, para impressionar o seu público doméstico (e confundir as ruas árabes) — de que ele tinha um relacionamento especial com Putin — está a desmoronar-se.

Por outro lado, ao marcar uma reunião urgente em Ashgabat — na verdade, o presidente do Turquemenistão, Serdar Berdimuhamedov, esteve em Moscovo apenas na segunda-feira/terça-feira para uma visita de trabalho — o Kremlin está deixando claro para Washington e Telavive que Moscovo está irrevogavelmente alinhado com Teerão e ajudará este último, não importa o que for necessário. (Veja, no meu blog outro artigo, “Crise na Ásia Ocidental leva Biden a quebrar o gelo com Putin”, 5/10/24, aqui).

A história não estará a repetir-se? O Tratado Indo-Soviético de 1971 foi o tratado internacional mais consequente assinado pela Índia desde sua independência. Não foi uma aliança militar. Mas a União Soviética aumentou a capacidade militar da Índia para uma guerra iminente e criou espaço para que o país fortalecesse as bases de sua autonomia estratégica e da sua capacidade de ação independente.

segunda-feira, 14 de outubro de 2024

 

Médio Oriente — Um claro momento de exposição da natureza humana

By estatuadesal on Outubro 14, 2024

(Carlos Matos Gomes, in Medium.com, 09/10/2024)



O aniversário dos acontecimentos de 7 de Outubro de 2023, um sangrento ataque de guerrilheiros do Hamas a uma povoação do sistema de ocupação do Estado de Israel do território palestiniano serviu, como se esperava, para a montagem de uma gigantesca campanha de apoio à política que desde a sua fundação o Estado de Israel conduz na Palestina .

Para erigir Israel como mártir e vítima valeu tudo: Inventar a História, esquecer o passado, manipular factos do presente. A linha central da mistificação da justificação dos atos assenta na afirmação do direito “à defesa de Israel” e da sua existência. Na realidade o Estado de Israel é uma entidade política criada pelas potências vencedoras da Segunda Guerra Mundial e por sua conveniência. O direito à defesa de Israel é o mesmo de qualquer guarnição romana nos confins do império. Tem o direito a defender-se correspondente à força de que dispuser ou lhe for proporcionada. Quanto ao direito à existência do Estado de Israel ele resulta do poder de potências exteriores imporem um bastião armado num ponto chave de domínio de um território. Em resumo, o atual Israel corresponde ao Krak des Chevaliers do tempo das cruzadas, uma fortaleza da Ordem dos Hospitalários na Síria e que serviu como centro de administração e base militar, permitindo aos europeus dominar a ampla região do Médio Oriente.

Desde a ocupação do Krak pelos cruzados da ordem dos Hospitalários, 1142, esta fortaleza foi o centro do conflito entre os cruzados e os árabes com vitórias e derrotas. Na primeira metade do século XIII, enquanto outras fortalezas dos cruzados foram ocupadas, o Krak e sua guarnição permaneceram na sua posse até 1271, sendo a única área importante sob seu controlo. A proximidade da fortaleza dos territórios muçulmanos permitiu-lhe assumir um papel ofensivo como uma base a partir da qual áreas vizinhas poderiam ser atacadas. Em 1250 um exército muçulmano devastou o campo ao redor do castelo. Em 1268, o mestre da ordem, Hugo Revel, informou os superiores que a área estava deserta e que a propriedade do Krak no Reino de Jerusalém já valia pouco. O direito do Krak a existir extinguiu-se com a perda de valor para a estratégia do Ocidente, que iria concentrar-se no seu desenvolvimento e na expansão marítima.

Krak des Chevaliers, como atualmente Israel, são exemplos clássicos de perturbadores estratégicos. Os pregadores da nova história têm inventado um outro, o Irão, agora o responsável pelo genocídio israelita na Palestina e pela invasão do Líbano. O Irão faz parte da história do Médio Oriente desde sempre. Para não ir aos tempos bíblicos, o Médio Oriente e o Norte de África foram dominados por dois grandes impérios, o império persa e o império otomano. Quem não faz parte da história, a não ser como interventor externo, são Israel, o império britânico e o seu herdeiro, os Estados Unidos.

Durante a antiguidade, o império persa englobava os territórios desde a atual Turquia até o Punjab, incluindo o Egito. Do século VII até ao século XI a Pérsia foi anexada pelo império árabe e a partir de então o islamismo passou a ser a religião oficial, mas os iranianos adotaram a versão xiita como forma de reação nacionalista, já que o império árabe seguia a versão sunita. Da mesma forma, a língua persa foi mantida em oposição à língua árabe. Mais tarde a Pérsia vir-se-ia espremida entre os impérios russo na Ásia Central e britânico na Índia. Cada um destes retirou ao Irão territórios que se tornariam Azerbeijão, Quirguistão, Turcomenistão, Tajiquistão, Uzbequistão e partes do Afeganistão.

A Convenção Anglo-Russa de 1907 formalizou as esferas de influência da Rússia e do Reino Unido sobre o norte e o sul do país, respetivamente, onde a potência colonial detinha a decisão final em assuntos económicos. O Xá Cajar concedeu à Anglo-Persian Oil Company autorização para explorar e operar campos de petróleo, que começaram a produzir em 1914. Winston Churchill, que supervisionava a conversão da Marinha Real Britânica para navios de guerra movidos a petróleo, nacionalizou parcialmente a companhia antes do início da Primeira Guerra Mundial.

O atual Irão foi envolvido na Primeira Guerra Mundial devido à sua posição estratégica entre o Afeganistão e os impérios otomano, russo e britânico e ao seu petróleo. Em 1914, o Reino Unido enviou uma força militar à Mesopotâmia para negar aos otomanos o acesso aos campos de petróleo persas. A Alemanha infiltrou agentes na Pérsia para atacar os campos petrolíferos e provocar uma guerra santa contra o governo britânico na Índia. Após a I Grande Guerra o norte do Irão foi ocupado pelo general britânico William Edmund Ironside e o Reino Unido assumiu o controlo dos campos petrolíferos.

Em 1953, após a nacionalização da Anglo-American Oil Company surgiu um conflito entre o xá (pró-americano) e o primeiro-ministro Mohammed Mossadegh (nacionalista), que levou à deposição e prisão deste num golpe militar realizado com a ajuda dos serviços secretos do Reino Unido e dos Estados Unidos. O xá Reza Pahlevi, que havia fugido do país, retornou e assumiu poderes ditatoriais.

Os laços militares com os Estados Unidos aprofundaram-se em 1971, quando os norte-americanos concederam ao Irão crédito para a compra de armas no valor de um bilião de dólares.

Os Estados Unidos são o herdeiro do império britânico e utilizam Israel como base de ataque na sua estratégia de domínio do Irão. É esta a causa da guerra de Israel contra todos os seus vizinhos e é a recusa em serem submetidos que leva os persas ou iranianos a atacar Israel, que vêm como um factótum americano.

Na década de 80 os interesses no domínio da região do Médio Oriente materializaram-se na guerra Irão-Iraque, oficialmente por razões de definição de fronteiras na região do Shatt al-Arab, onde os rios Tigre e Eufrates se encontram e desaguam no Golfo Pérsico e com um fundo religioso, porquanto o Irão seguia a versão xiita do islamismo, o Iraque era de maioria xiita, mas com um governo sunita e secular. Além disso, o Iraque possuía uma minoria curda que não apoiava o governo iraquiano e, por isso, recebia apoio secreto dos iranianos. Os Estados Unidos apoiaram o Iraque, aliados à Arábia Saudita, dentro da estratégia que está em curso de domínio da versão atual do “Crescente Fértil”, o que inclui os Estados do Golfo, a Arábia Saudita, o Iraque, a Síria, o Líbano e o Egito, tendo como objetivo final o domínio do Irão. Esta estratégia replica a reconstituição do união dos antigos impérios Otomano e do Persa, o domínio do Mediterrâneo Oriental, do Mar Vermelho, do estreito de Ormuz, que permite ameaçar a Rússia e controlar o tráfego marítimo entre o Índico (Índia e China) e o Ocidente através do Canal do Suez. Israel é o pivô desta estratégia e o elemento desestabilizador que a justifica.

O apoio do Irão a vários grupos de resistência na região tem por objetivo opor-se ao domínio dos Estados Unidos que seria a continuação do domínio do império britânico e do regime do Xá Reza Pahlevi.

Durante séculos o desestabilizador da região foi o Império Britânico e desde a revolução industrial e a importância do petróleo, os Estados Unidos e as grandes companhias petrolíferas. O Irão nunca foi um desestabilizador, foi sempre uma entidade sujeita. A justificação de que a Arábia Saudita se aliou aos Estados Unidos por se sentir ameaçada pelo xiismo de Teerão é do domínio da mais despudorada desonestidade. O regime religioso da Arábia Saudita, o wahhabismo sunita, não deve nada em termos de exigência fundamentalista ao xiismo. Grupos terroristas como o Estado Islâmico e a Alqaeda são expressões do radicalismo sunita. O fundamentalismo foi legitimado com a formação da dinastia saudita, no século XVIII, e institucionalizado pelo Reino da Arábia Saudita, formado em 1932, criado pelos ingleses. O fundador da dinastia saudita, Muhammad bin Saud, incorporou na sua política as ideias radicais de Wahhab. Não existe em termos de radicalismo religioso distinção que favoreça o apoio dos Estados Unidos e do Ocidente à Arábia Saudita a não ser a venda de petróleo barato e a compra de material de guerra caro. O resto é hipocrisia e desonestidade intelectual.

Os israelitas são apenas os atuais ocupantes do Krak des Chevaliers que é Israel.

A posição do “resto do mundo” sobre a ação dos Estados Unidos no Médio Oriente reflete o momento de transição das relações de poder que estão em curso. Ao resto do mundo interessa o desgaste que esta guerra provoca nos Estados Unidos, que são quem a paga. À China e à Rússia, em particular, interessa o empenhamento dos EUA nesta região, que limita as possibilidades de intervenção na Ucrânia e em Taiwan. Para os BRICS, esta guerra irá aumentar a já monstruosa dívida pública americana e desvalorizar o dólar, o que é para eles um fator positivo.

A ação de Israel durará até os financiadores americanos entenderem ser lucrativo pagá-la. Uma ação devastadora de Israel sobre o Irão obrigaria os Estados Unidos a empenharem ainda mais meios na região e a aumentar a despesa e é este balanço entre custos e benefícios que os estados maiores financeiros americanos devem estar a fazer relativamente à retaliação de Israel ao Irão. Contas. Contabilidade. Nada mais do que isso. As vidas humanas estão fora da contabilidade. A nossa civilização é um mercado!

Estamos num claro momento de exposição dos valores da nossa civilização e da natureza da humanidade.