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segunda-feira, 18 de novembro de 2024

 

Zelensky, o mais recente putinista

By estatuadesal on Novembro 17, 2024

(Tiago Franco, in Facebook, 16/11/2024, Revisão da Estátua)


Depois da última entrevista de Zelensky, adorava ouvir os defensores dos "game changers", "as long as it takes" e "agora é que é".

Gostava que me explicassem, aqueles que durante (quase) três anos defenderam uma guerra paga com o dinheiro de todos e regada com o sangue ucraniano, com que cara é que vão sair disto, depois de ouvirem Zelensky admitir que a guerra termina quando os EUA quiserem e, pior, que é preciso entender quais são as linhas vermelhas definidas pelo governo de Trump.

Ou seja, traduzindo para português corrente, o presidente da Ucrânia assume aquilo que qualquer pessoa com dois dedos de testa diz há anos: a Ucrânia não tem qualquer influência no curso desta guerra.

Cabe-lhe o papel de meter a carne no assador, enquanto as potências decidem as novas alianças, fronteiras e parcerias económicas. Os ucranianos, como dito e escrito 500 vezes, não são tidos nem achados para a sua própria guerra.

Ninguém quis saber durante os anos de guerrilha no Donbass e, a partir da invasão russa, passaram os ucranianos a servir como ponta-de-lança de uma estratégia que pretendia desgastar os russos e deixá-los quietos mais 20 anos. E com sucesso, diga-se.

Zelensky foi elevado a resistente e herói pelos interesses do momento (EUA e RU), foi abraçado pelos idiotas úteis (UE) e no fim, depois de servir devidamente as potências que o manipularam, assume, que vai assinar o acordo que os outros deixarem, ou seja, o mesmíssimo que poderia ter assinado em 2022 mas com menos 500 000 mortos. Hoje até já ouvi dizer que "as fronteiras são dinâmicas" e "até Napoleão e Hitler caíram na Rússia".

Meus amigos, quem andou a dizer estar merda durante 2 anos, era putinista. Quem o passou a dizer, depois da eleição de Trump, a começar pelo Zelensky, é o quê? Um novo-putinista ou um simples idiota encartado?

O som de tanta espinha a dobrar, ouvido aqui ao longe, daria para fazer a percussão do concerto de Natal do coro Santo Amaro de Oeiras.

 

A carneiragem

By estatuadesal on Novembro 16, 2024

(Por Major-General Raúl Cunha, in Facebook, 15/11/2024)

Ovelhas, carneiros, ou ambos?


Sabemos agora que os políticos europeus não tinham sequer, do quase dispensado Biden, autorização para mencionar a possibilidade de uma trégua, cessar-fogo, ou mesmo acordo de paz, no conflito ucraniano, até que Trump tornou essa hipótese aceitável após a sua eleição.

Mas mesmo isso assume, à primeira vista, uma muito maior dimensão do que parece: na realidade, confirma-se agora a existência de uma complexa matriz de controlo por um verdadeiro e global deep state, cujos fios invisíveis passam por toda a Europa. Ficou claro que, nos bastidores, os principais líderes mundiais são meramente porta-vozes de interesses mais poderosos — Scholz, Macron e outros só têm autorização para seguir uma certa linha política estreita, determinada superiormente, até que uma diferente "luz verde" lhes seja dada pelos seus controleiros.

Entretanto e por exemplo, a Ministra dos Negócios Estrangeiros alemã, Annalena Baerbock, admitiu aberta e repugnantemente que o orçamento da Ucrânia terá de ser financiado, nem que sejam necessários cortes sociais difíceis aos cidadãos alemães: inclusive, num seu discurso anterior, também declarou sem rodeios que a Ucrânia tem que ser financiada não importa o que pensem os eleitores alemães, porque ela fez uma promessa aos ucranianos. E isto, é depois de a Alemanha já ter assinalado, por várias vezes, que tem conhecimento do envolvimento da Ucrânia no ataque terrorista ao NordStream, que prejudicou brutalmente a sua economia e potencialmente até a condenou para sempre.

Relevo ainda a posição do atual Primeiro-ministro português que não se coibiu de prometer recentemente mais 52 milhões de ajuda militar a um governo notoriamente nazi, a somar aos 126 prometidos em julho e mais aos 100 do governo de Costa, isto apesar de, entretanto, continuar a deixar de tanga o nosso SNS, com sérias consequências no INEM. De facto, os políticos do nosso centrão, os ditos liberais e a esquerda libertária, deixam muito a desejar em termos de lealdade à Pátria.

Estas descaradas traições são incompreensíveis e cabem, na prática, na verdadeira definição do termo globalistas: pessoas cujas lealdades são para com a ordem global, governada por um pequeno cartel financeiro-militar-dinástico e não para com os seus próprios concidadãos. Nesse termo, têm também absoluto cabimento outros traidores, entre os quais muitos jornalistas e a maioria dos comentadores televisivos que, dada a sua condição de não possuírem coluna vertebral e de cultivarem um desprezo atávico à verdade, dizem com a mesma cara o contrário do que antes garantiam (alguns até já tiveram o arrojo de confessar que antes debitavam por necessidade uma falsa narrativa) e vogam assim ao sabor dos ditames dos seus patrões ideológicos e atrevo-me a acrescentar dos seus patrões financeiros.

São vermes, que poluem a nossa academia e os principais canais das nossas TVs, e que serão inevitavelmente desmascarados quando, terminadas as presentes situações, forem apresentadas as abundantes provas e testemunhos do seu rasteirismo, falsidades, duplicidade e, sobretudo, mau carácter.

sexta-feira, 15 de novembro de 2024

 

Entre a mentira e o logro

By estatuadesal on Novembro 14, 2024

(Carlos Matos Gomes, in Medium.com, 14/11/2024)



Nós, a multidão, passámos estes últimos anos a ser bombardeados com um novo léxico político: “desinformação”, “fakenews”, “nova normalidade”, “intrusão”.

A relação dos seres gregários funda-se na confiança. É assim num formigueiro, numa colmeia, numa alcateia, numa tribo, numa formação militar, num gangue. Na constituição de equipas para operações especiais uma das perguntas aos candidatos era: quem escolhias para te acompanhar na travessia de um rio perigoso? Isto é, em quem confias.

A organização social e a organização política que dela decorre assenta na relação entre autoridade e fiabilidade. As notas de banco são credibilizadas pela assinatura do governador, os decretos reais continham um selo de chumbo e lacre com as armas do soberano. As mobilizações para uma guerra são assinadas pelo comandante-chefe. As grandes campanhas, as fatwa, as cruzadas, as descobertas dos europeus foram decretadas com base numa verdade que as tornava imperiosas. Acreditámos no segredo profissional de médicos e advogados. Na reserva da nossa correspondência. Acreditámos nos editais e nos calendários. Eram a verdade. Hoje a verdade é uma ratoeira. É um som transmitido por um karaoke, é uma mercadoria. As nossas doenças, as nossas confissões, as nossas escolhas são vendidas, na melhor das hipóteses. Na pior, matam, como os pagers que uma empresa de telecomunicações vendeu a Israel para assassinar eventuais inimigos.

Na Bíblia, Cristo, a figura de referência civilizacional do Ocidente, proclamou: Eu sou a verdade! Maquiavel, com os pés na terra e rodeado de semelhantes, adaptou um estado ideal que de facto nunca existiu e preferiu escrever sobre a realidade concreta, estabelecendo o conceito de verdade efetiva das coisas (veritá effetuale), fundamental para compreendermos o interesse pela realidade como ela é e não como uma projeção idealizada. A verdade efetiva serviu de padrão para aferir a correspondência entre o “discurso público” dos políticos e dos dirigentes e a necessidade de obter a adesão a uma realidade. Mas a palavra continha sempre uma intenção de verdade. Os membros da sociedade continuavam a jurar. A honra continuava a ser um valor e a desonra uma nódoa infamante.

A justificação da existência de armas de destruição em massa por parte do governo de Saddam Hussein para George Bush Jr decretar a invasão do Iraque terá sido o exemplo mais próximo e mais marcante da passagem da “verdade efetiva” para a pós-verdade. Pós verdade é um eufemismo para um tipo de mentira, que pode percorrer vários patamares, da pura invenção, por mais inverosímil que seja, à manipulação de factos que podem ser plausíveis e às promessas irrealizáveis de salvação. A pós verdade é o sinónimo do logro declinado nos vários significados, de burla, de engano com dolo, de fraude, de intrujice, ludíbrio, de trampolinice, de trapaça. Vivemos no reino do logro. Do tipo das barras batizadas de “delícias do mar” e que não são nem peixe, nem marisco e que nem passaram pelo mar.

A invasão do Iraque marca uma nova era no Ocidente na relação entre governantes e governados: a vitória dos grandes aparelhos de manipulação sobre a realidade, a transformação dos cidadãos em espetadores de espetáculos de efeitos especiais, a purificação dos canalhas e a sua transmutação em exemplos, como é o caso de Paulo Portas ou Durão Barroso, os videntes que viram as provas da mistificação que justificou a invasão do Iraque e que são hoje criaturas tidas por decentes e respeitáveis. A política passou a replicar os jogos da Marvel e os políticos surgiram como “transformers” e vendedores de delícias do mar como se fossem lagosta.

Do mesmo modo que a metralhadora alterou o modo de fazer a guerra na Grande Guerra, que a arma atómica alterou a a forma de as grandes potencias se relacionarem após a Segunda Guerra, a guerra da comunicação da era da informação proporcionada pelas novas tecnologias alterou de novo as táticas e acentuou a insídia na guerra. A pós-verdade são as imagens mais ou menos manipuladas que surgem nos ecrãs de televisão com paisagens e pontos assinalados por uma cruz-alvo, são atores-comentadores a arengar uma narrativa como antigamente os contadores de histórias faziam nas feiras, são um grande espetáculo de massas. Para os manipuladores da opinião, o genocídio de Gaza é um festival de efeitos especiais. A multidão mundial está tão anestesiada pela mentira que não reage. Estamos impermeabilizados. Os pilotos israelitas que bombardeiam Gaza marcam pontos no seu ecrã de videojogos. A pós verdade é a desumanização. Começa por ser a desumanização dos outros e acabará por ser a desumanização dos detentores das máquinas de jogos, sejam caças F35 ou drones.

Os europeus, com a velha arrogância, têm apresentado a nova arte de manipular as opiniões como uma especificidade americana, de que Trump é o mais exuberante talento. Pura mistificação. A utilização da mentira e do logro sob a designação de pós-verdade está tanto na ordem do dia na Torre Trump em Nova Iorque como no edifício Berlaymont em Bruxelas, sede da Comissão Europeia. Ursula Vaon Der Leyen e os seus comissários mentem, inventam e manipulam tanto quanto a nova administração Trump. E mentem sobre os mesmos grande temas, as guerras na Ucrânia e na Palestina, mentem quanto a promessas de uma nova era de leite e mel se continuarem a drenar fundos para essas guerras, mentem quanto aos objetivos de fazer a América Grande de Novo ou a Europa um continente de prosperidade, desde que derrotem os russos, os chineses, saqueiem África, dominem o Médio Oriente e determinem o preço do petróleo, rasguem os protocolos sobre as alterações climáticas, fechem as fronteiras aos imigrantes provocados pelas suas guerras.

Que diferenças, exceto de forma, existe entre o discurso pistoleiro de Úrsula Von Der Leyen, de Borrell e da sua sucessora Kallas como representante da política externa da U E, da neoliberal Albuquerque dos secretários da nova administração Trump? Que diferença existe entre os e as warmongers americanos e americanas dos e das warmongers da União Europeia? A diferença da relação entre a verdade e a realidade no discurso dos dirigentes americanos e dos dirigentes europeus é a mesma entre um carniceiro e um assassino de arma fina. Os painéis de pastores das TV portuguesas não diferem dos painéis dos pastores nos Estados Unidos. A norma é o televangelismo.

A percepção de que a Europa não é o folclore americano resulta da desinformação a que somos sujeitos através da “armamentização” da comunicação social. O filósofo Marshall McLuhan escreveu há anos que “o meio é a mensagem”. A diferença entre a mentira sob o eufemismo de pós-verdade americana e europeia é que nos Estados Unidos o meio é agora Elon Musk, o homem mais rico do mundo que comprou uma plataforma de comunicação global, o X, e é o chefe de estado sombra do que era a maior superpotência do mundo. Essa é a diferença. Uma diferença de armamento e de dimensão entre uma tromba de água e um regador. Os Estados Unidos com a sua rede de satélites e de empresas de dados e comunicações, da Starlink ao Google, podem fazer descarregar um dilúvio de mentiras, ou de pós-verdades sobre o mundo, uma “dana” como a de Valência à escala planetária e a Europa não consegue provocar mais que chuviscos, mesmo com as tentativas em curso de censura e domínio dos meios de comunicação que ainda restam no domínio público ou fora dos grandes conglomerados.

No essencial, a germinação e cultivo em estufa de dirigentes quer nos Estados Unidos quer na Europa obedece ao mesmo processo: um grande apoderado paga uma generosa bolsa de estudos para um seu pupilo vir a ocupar um lugar na administração do Estado que favoreça os seus negócios. Musk financiou Trump, mas Peter Thiel, o cofundador do PayPal, rastejando nas sombras, garantiu que o seu homem, JD Vance, entrasse no par presidencial como vice-presidente. Jeff Bezos, atrasado para a festa, entrou na onda falhando alguns dias, mas garantindo que o seu Washington Post não endossasse nenhum candidato. Aqui na Europa ninguém que coloque em causa as verdades únicas da guerra na Ucrânia e do aumento das despesas militares chegará a qualquer posto de relevo. Apenas têm lugar à manjedoura os que que puxam a carroça do dono.

Quer nos Estados Unidos quer na Europa existe uma oligarquia no poder que funde os negócios do Estado e os negócios privados e constitui uma elite governante. Os negócios renderão biliões, milhões de pessoas morrerão e incontáveis crimes serão cometidos. Como li em algum lugar: “Estamos além do espelho. Estamos todos a viajar pelos esgotos da informação. Trump é um bacilo, mas o problema são os canos.” E pelos canos escorrem muitos outros dejetos.

O essencial são os valores. O valor da palavra dada. A democracia assenta no caráter dos cidadãos e em particular dos que têm maiores responsabilidades. Quando não há caráter há canalhas. Temos um regime de canalhas. Quando se abicam dos valores criamos um mundo de faquistas e de trafulhas.

quinta-feira, 14 de novembro de 2024

 

Política americana para 2025 – o que não vai mudar…

By estatuadesal on Novembro 14, 2024

(João Mc-Gomes, in VK, 13/11/2024)



Na minha simplicidade cidadã e como um "não estudioso" da matéria politica mundial, mas considerando-me um relativo "atento" à gestão politica mundial que tem sido trazida pelos novos dirigismos, assentes nas novas politicas liberais que "enfermam" todas as grandes nações na procura das correções aos problemas maiores e menores, anteriormente conduzidos mais por questões ideológicas do que económicas e que - hoje - são mais económicas do que ideológicas, face ao facto de se ter permitido paulatinamente - pela via da corrupção politica - que o Mundo global fosse "absorvido" pelos grandes interesses do capital (que, não tendo ideologia, se espalhou praticamente em todos os paises desenvolvidos ou em vias de desenvolvimento, onde procura influenciar politicos e empresários), percebe-se que a "bolha americana" de desenvolvimento chegou ao seu ponto mais alto e que a sua "democracia formal" não consegue encontrar alternativas conducentes à aplicação de soluções que façam "reviver" as suas indústrias, o seu comércio e a sua economia.

Há muitos anos vivendo sob o "chapéu mundial" que lhe permite desenvolver as suas diversas atividades, os EUA começaram a enfrentar há cerca de 20 anos um desenvolvimento mais acelerado, mais prático e menos oneroso do que uma China muito mais bem organizada e que começou a mostrar capacidades insuspeitadas para passar da mera "cópia" de plástico de artigos ocidentais, para a alta tecnologia que a transportou para a ciência espacial e para a industria e o comércio em larga escala, trazendo com isso a "ocupação" dos mercados mundiais anteriormente detidos por outros.

Num pequeno exemplo prático: enquanto a China desenvolvia a colocação de milhões de lojas em todo o Mundo para exportar os seus produtos, os EUA continuaram na politica das joint ventures abrindo os seus negócios através de terceiros e perdendo o controlo da distribuição do seu comércio, ao mesmo tempo que fazia fabricar em paises terceiros - incluindo a China - alguns dos seus produtos próprios para diminuição dos custos de produção. Isso traduziu-se na paulatina perda de mercado e no enfraquecimento das suas industrias locais.

Ora, o ambiente social nos EUA iniciou a sua degradação não há 10 ou 20 anos, mas há 30 ou 40, quando se deu incio ao processo económico de transferência das suas industrias e comércio para o exterior e as grandes multinacionais se procuraram localizar "fora de portas" mas tendo que seguir os critérios fiscais, financeiros e estruturais exigidos por terceiros.

Observando isso, a recente vitória republicana nos EUA reflete divisões profundas e crescentes na sociedade americana, resultado de múltiplos fatores sociais, políticos e económicos. Essas divisões não são apenas ideológicas, mas também estruturais e geográficas, moldadas por crises económicas e culturais que polarizam a população.

A desigualdade económica crescente alimenta frustrações populares, especialmente em estados e regiões industriais que sofreram com a desindustrialização e com políticas de globalização. A percepção de que políticas democráticas focadas em justiça social e redistribuição não alcançaram essas populações gera apoio às promessas republicanas de políticas económicas mais duras e liberais, voltadas ao empresariado e à redução de regulação, vistas como meios de recuperar empregos e revitalizar a economia.

O populismo de direita encontrou um terreno fértil, reforçado por uma comunicação divisiva e por uma retórica que explora o medo do declínio cultural e da "perda de identidade" americana. A promoção de políticas nacionalistas e mais autoritárias fortalece a base republicana, que busca uma liderança forte e menos focada em multiculturalismo e políticas identitárias.

A polarização nos valores culturais e sociais está cada vez mais acentuada. Questões sobre imigração, direitos LGBTQ+, aborto e controle de armas dividem profundamente a população. As políticas sociais democráticas, vistas por alguns como imposição de valores progressistas, criaram uma resposta adversa em estados conservadores, que apoiam uma abordagem republicana de "valores tradicionais".

Esse cenário criou tensões democráticas sérias. A polarização extrema afeta a confiança nas instituições e mina a capacidade de compromissos bipartidários. A sociedade americana vê-se cada vez mais segmentada, o que levará a conflitos sociais graves, prejudicando ainda mais a coesão social e colocando em risco a estabilidade democrática, assim que Trump iniciar as suas politicas que vão endurecer, ainda mais, a divisão atual. Os EUA, em 2025, vão apresentar claramente um Estado ainda mais policial do que aquilo que tem sido e, se se espalham as injustiças sociais e as prisões ilegitimas, bem como as mortes pela "cor" é muito claro que esse cenário vai piorar na gestão republicana.

É de esperar um ciclo de retrocessos democráticos e desafios sociais profundos no futuro dos EUA e isso pode vir também a contribuir para o agravamento das tensões do Mundo nos locais onde os EUA assentam os seus interesses económicos, sendo o Médio Oriente um deles mas sem esquecer a questão oriental, onde Taiwan provavelmente sofrerá algum "congelamento" ao longo dos próximos anos e enquanto a questão económica entre os EUA e a China não estiver mais favorável e equilibrada para os EUA.

 

A verdade sobre o acordo de paz de Trump para a Ucrânia em “24 horas”

By estatuadesal on Novembro 13, 2024

(Martin Jay, in Strategic Culture Foundation, 13/11/2024, Trad. da Estátua)

Trump pode muito bem obter a paz na Ucrânia em 24 horas. Mas a que preço?



O gato finalmente saiu do saco. Agora, à medida que a UE é confrontada com a vitória de Trump em Washington, ela tem que enfrentar o seu dilema mais difícil até ao momento: se deve continuar a apoiar o presidente Zelensky na Ucrânia e manter a guerra, ou encarar a realidade, acabar com a confusão e trabalhar num acordo de paz. Na verdade, tudo se resume a duas relações. Uma com os próprios EUA e as suas administrações; outra, com o próprio Trump.

Trump afirmou que vai parar a guerra na Ucrânia em 24 horas. Ao contrário de muitos relatos, ele até explicou como se faria isso: simplesmente desligando toda a ajuda militar a Zelensky. Esta enunciação lança um holofote sobre um assunto espinhoso; mais uma vez fica claro como os países da UE desempenham um papel tão pequeno para os EUA. A UE ganha uma boleia grátis por fazer parte de um bloco de defesa global, enquanto os EUA pagam a maior parte da conta. Não é segredo para ninguém que a maior parte das armas que estão a manter a guerra no lado ucraniano são provenientes dos EUA. Se esse fornecimento for abruptamente interrompido, os meios de comunicação social mundiais serão forçados a olhar para a equação e a relatar a principal queixa de Trump: que o acordo entre os EUA e os países da UE é injusto e precisa de ser reformulado.

O gasto mínimo de 2% do PIB dos países é provavelmente irrealista e precisaria de ser aumentado para 4% ou mesmo 5% se houvesse algum tipo de equilíbrio nos gastos com defesa e responsabilidade igual para as chamadas iniciativas de "manutenção da paz" às quais o Ocidente se entrega, e que costumam terminar em pontos críticos problemáticos pelo mundo fora, tornando-se uma ameaça ainda maior do que eram antes da intervenção liderada pelos EUA.

Quem poderia imaginar que os Talibãs estariam agora no poder no Afeganistão depois da intervenção da coligação da NATO liderada pelos EUA (mais alguns outros países como a Austrália), que custou mais de 2 triliões de dólares e 2.500 soldados americanos mortos? Biden pode ter ido embora, mas o vídeo de arquivo de notícias de afegãos, correndo ao lado de um avião de transporte aéreo dos EUA enquanto descola, será lembrado e visionado, talvez durante as próximas décadas, como um lembrete assustador de como a intervenção dos EUA geralmente falha.

No entanto, a Velha Europa tem suas próprias ideias sobre a Ucrânia e Trump.

Os líderes da UE, antes das eleições nos EUA, juntaram-se e aprovaram uma série de pacotes de ajuda à Ucrânia que, segundo vários especialistas, como Ian Proud, ex-diplomata do Reino Unido, manteriam a guerra por mais um ano, com ou sem a ajuda dos EUA.

Isto, caso se concretize nos próximos dias, irritará Trump ainda mais colocá-lo-á numa posição em que seus primeiros contatos com a UE e os seus líderes serão de confronto. A sua principal tarefa para manter a sua palavra sobre a reivindicação das 24 horas será dizer à UE para cancelar as suas próprias promessas a Zelensky, o que imediatamente lembrará ao mundo inteiro quem ainda está a dar as cartas no Ocidente. Se a UE resistir, Trump não hesitará em tirar os EUA da NATO, embora temporariamente para fazer valer seu ponto de vista. Trump também insistirá que os 300 biliões de dólares em ativos russos que a UE detém, sejam descongelados e devolvidos ao seu legítimo proprietário. Como parte de um novo acordo para obter a paz na Ucrânia, os EUA terão que mostrar, pelo seu lado, alguma boa vontade e será Trump quem será o fiador dos europeus, certificando-se de que eles não "farão um Minsk", assinando papéis apenas para enganar aqueles que estão do outro lado da mesa de negociações.

Trump será profundamente impopular entre os líderes da UE, pois um acordo de paz — mesmo um provisório que crie um cessar-fogo — incluirá o levantamento de sanções, que podem mesmo chegar ao descancelar no Ocidente dos meios de comunicação social russos.

A primeira cimeira da NATO em Bruxelas será interessante, pois a nova ordem mundial será abalada e os europeus serão informados, de forma inequívoca, sobre quem está no comando.

A ideia de que Trump simplesmente dirá à UE "o show é vosso, se vocês querem continuar a financiar a guerra, a decisão é vossa" é uma loucura, pois isso representaria a ocorrência de um cataclismo na estrutura de poder da NATO - já para não mencionar o comércio dos Estados Unidos com o bloco da UE -, que poderia colocar a Europa num lugar em que ela nunca quis estar: sozinha e inepta, desprovida de qualquer política no cenário mundial e perigosa.

A UE só conhece um caminho, que é o caminho americano. Trump pode muito bem obter a paz na Ucrânia em 24 horas. Mas a que preço?