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domingo, 12 de fevereiro de 2017

Ao mau cagador até as calças empatam

 

 

(In Blog O Jumento, 08/02/2017)

cagador

Para conseguir défices bem acima dos 3% a direita inventava desvios colossais para justificar cortes de vencimentos e de pensões, acusava o povo de consumir acima das possibilidades, difamava o país sugerindo que por cá erramos, mais gandulos dos que os outros, cortavam-se férias e feriados, fazia-se de tudo.

As escolas tinham salas empanturradas de alunos para poupar nos professores, morria-se à porta das urgências, os pilares de uma futura ponte perto de Ferreira do Alentejo foram convertidos em postes para ninhos de cegonhas, o Metro deixou de renovar a sua frota, todas as obras pararam. Não havia dinheiro para nada, criou-se um ambiente de terror, não se sabia quanto se iria receber de ordenado no mês seguinte. Não gastar um tostão era símbolo de rigor, competência e amor à nação.

A direita que sempre se afirmou com o dom da competência e do rigor orçamental apostou no falhanço de António Costa, deixou armadilhas montadas nas receitas fiscais, recusou-se a dar contributos para o OE e os seus deputados recebiam o ordenado para roçar o cu no veludo das cadeiras parlamentares, apelaram à direita reunida em Madrid para que condenassem o governo português, exigiram que Bruxelas impusesse um plano B.

A tese era a de que o défice proposta era aritmeticamente impossível de alcançar, já não seria um problema de rigor, a funcionária da Arrows dizia que Centeno nem sabia fazer as contas mais elementares. Ainda esperaram pelo Diabo em Setembro, e cada vez que uma agência de rating se ia pronunciar toda a direita se excitava, sendo o momento mais alto foi quando chegou a vez da canadiana DBRS; se esta desse a notação de lixo viria aí o desejado segundo resgate.

Mas o país sobreviveu à DBRS e às diatribes fiscais da Maria Luís, a esperança deles passou a ser uma armadilha deixada por Passos Coelho, a situação da CGD e do BANIF. As agências rating deixaram de falar no défice, o problema era a banca. A cada subida nas taxas de juro da dívida sentia-se a excitação colectiva da direita. Mas o tal governo que não respeitaria os compromissos internacionais cumpriu com tudo, o défice foi reduzido a mínimos e a CGD vai ser recapitalizada.

Agora o problema já é o crescimento, todos exigem crescimento. Esquecem-se de que era uma palavra proibida por Passos Coelho; e os mesmos jornalistas e comentadores que hoje exigem crescimento no passado elogiavam o Gaspar, o tal ministro que transportava os valores da avó Prazeres, mulher da Serra da Estrela.

Quando o Sôr Pereira exigia medidas para promover o crescimento o Gaspar respondia “não há dinheiro”, perante a insistência perguntou ao colega “qual das três palavras não percebeu”. Os que hoje exigem crescimento numa economia que deixaram descapitalizada elogiavam na altura o traste que era ministro das Finanças.

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