Que o gajo holandês não é grande espingarda já todos sabemos, aliás há muitos holandeses como aquele, herdeiros da pirataria, que aprenderam a comer à mesa e a tomar banho com os povos do sul e que agora se comportam como novos ricos. O senhor que recorre a esquemas para desviar uma parte do comércio para o porto de Roterdão e que andam a a atrair muitas empresas do sul a troco de esquemas fiscais, decidiu lamber o rabo ao ministro das finanças da Alemanha à nossa custa.
Só que não percebo o porquê de tanta irritação e indignação por aquele gajo que tem um penteado a lembrar os chulos do Intendente nos anos 70, ele disse com menos palavras e de uma forma que todos entende aquilo que durante anos foi a tese de Passos Coelho. Senão vejamos o que dizia Passos Coelho no dia 6 de Abril de 2014:
«Tive ocasião esta semana no parlamento de demonstrar que esta visão é, pelo menos, uma visão ingénua. Não há nenhuma parte do mundo em que uns poupem para os outros gastarem. Não há em nenhuma parte do mundo gente que faça sacrifícios para pôr as suas contas em ordem para que outros possam ter défices e dívidas. Isso não existe. E isso não se chama solidariedade. Isso não é solidariedade. Solidariedade é valer a quem não pode. Solidariedade não é caridade.»
Aliás, o famoso turista finlandês que disse a Passos Coelho que se calhar iria ter pagar o seu jantar na Madeira quando regressasse à Finlândia foi o grande ideólogo da austeridade em Portugal. Não admira que dois defensores da austeridade, o ministro das finanças holandês e o líder do PSD, usassem o mesmo tipo de argumentos.
Desde João Duque a Vítor Bento, não faltaram por cá os que aconselhavam o povo a comer e calar, porque a austeridade era o castigo merecido por termos andado a comer acima das nossas possibilidades. Da mesma forma que os holandeses são tão tementes a Deus que na gaveta das mesas de cabeceiras dos hotéis há sempre uma bíblia, também por cá a abordagem ideológica da austeridade tem muito de puritanismo. Foi sempre apresentada como um castigo quase divino por termos cometido o pecado da gula. O ministro holandês apenas foi mais preciso e brejeiro, disse-nos que o problema foi termos andado nos copos e nas putas.
Se o ministro holandês nos meteu todos a passear no conhecido bairro das prostitutas de Amesterdão, já Passos Coelho foi mais sacana e para justificar as suas políticas diferenciava os portugueses. Por cá os empresários eram exemplares e quem andava nos copos e nas gajas eram mais os funcionários públicos e, numa segunda fase, os pensionistas. Uns ganhavam mais e trabalhavam menos, os outros viviam à custa dos mais jovens.
Em 2011 uma mulher escreveu a Passos Coelho dando-lhe conta do seu desespero por causa das medidas de austeridade. Passos aproveitou o desespero e reproduziu a mensagem na sua página no Facebook:
« Tomo banho só uma vez por semana, só acendo uma lâmpada, dispensei a mulher a dias, só saio no carro em casos extremos. Não sei mais onde cortar e o dinheiro não chega. Por favor diga-me o que hei-de fazer para poder continuar a pagar as obrigações ao Estado. Estou desesperada. Agradeço que me ajude e dê sugestões de como equilibrar as minhas finanças. »
O comentário de Passos diz tudo:
«Como a Ana Isabel, muitos de vocês estão assustados com o desafio que temos de enfrentar. Mas acredito também que, por mais que estes sacrifícios nos custem, sabemos hoje que não podemos mais fechar os olhos aos erros do passado.»
Por outras palavras, a senhora que lhe escreveu também tinha andado nos copos e nas putas. E o sacana é o só o Jeroen Dijsselbloem?
Ovar, 22 de março de 2017
Álvaro Teixeira
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