A escolha de Teresa Leal Coelho para Lisboa é uma excelente notícia. Para o PS e para o CDS. Passos Coelho pode começar a escrever dois discursos: um de derrota, outro de saída
Pedro Passos Coelho está de parabéns, escolheu a melhor das suas alternativas: ele não tinha mais alternativas. Foi à praça dos fiéis disponíveis e só lá estava Teresa Leal Coelho. A abnegação pelo seu amigo é bonita mas o sacrifício dela será o dele. É um nome tão fraco para a Câmara de Lisboa que não concorre contra Medina, concorre contra Cristas. Passos já corre não por gosto, corre por desgosto. Pode correr tão mal que as eleições podem matar dois Coelhos de uma cajadada. Então, Passos perde primeiro o partido, depois o partido perde-o a ele. Vai dar dó. Já dá.
Teresa é leal a Coelho mas, como vereadora da Câmara, não se lhe conhece uma ideia sobre a cidade, não se lhe reconhece um ato de oposição, não se lhe conta a presença em mais do que um quinto das reuniões. Na relação com o partido, é uma formiga política, no formigueiro descontrolado em que se transformou o PSD. Vai receber um programa para a cidade escrito por um velho crítico, José Eduardo Martins, que deve acreditar tanto nela como numa pedra que flutue; vai ter uma concelhia liderada por novo adversário, Mauro Xavier, que só não lhe atira a pedra porque... bom, talvez atire.
Com esta (quinta ou sexta ou décima sétima, nem se sabe bem) escolha, o PSD dá a bandeja a Assunção Cristas e a Fernando Medina. Assunção até foi inteligente, criticando Passos a propósito da banca porque já está em pré-campanha; Medina nem precisou de ser inteligente, bastou-lhe a burrice alheia. Os dois, que nunca antes foram a eleições, têm estrada livre para ganhar: ele, a Câmara; ela, a emancipação no partido. Bastará ter mais do que os 7,5% que Portas teve no passado em Lisboa. Se acontece o delírio de ultrapassar Leal Coelho, será a vergonha acabada.
É por isso que na capital não se joga apenas a probabilidade de derrota de Teresa, mas também a possibilidade de derrota de Pedro. O PSD já recuou nos objetivos, já não quer ter mais câmaras do que o PS, apenas mais votos do que nas autárquicas anteriores. Agora condói-se neste não ir a jogo nas grandes cidades, essenciais para as legislativas seguintes.
As autárquicas são em outubro, o congresso do PSD em janeiro. Da janela da sede, Passos já vê os amoladores de facas entrarem. Enquanto isto, António Costa ri-se às gargalhadas debaixo de uma almofada, para não estragar o desarranjinho.
Teresa e Paulo resistirão até ao fim, mas já não têm muitas cartas na mão. Jogam ao solitário, enquanto nas salas ao lado se joga à lerpa. Como se chama um conjunto de Coelhos? Pouca gente sabe que a resposta rima com banhada mas toda a gente sabe agora que a resposta não é PSD.
Ovar, 22 de março de 2017
Álvaro Teixeira
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