Não traduzas para o JELLE! Não é nada conveniente....
VAI COMO VEIO:
__________________________________________
De um ilustre amigo.
Meu caro Jeroen Dijsselbloem,
Deixa-me dizer-te duas ou três coisas sobre a malta cá dos países do sul, que pareces não conhecer bem. Nós não gastamos o dinheiro só em mulheres e álcool. Também há quem gaste dinheiro em homens. Mas isso é raro. É verdade que gostamos muito de estar com homens ou mulheres – depende de cada um – mas costumamos tê-los de borla. Quer dizer, não fazemos como na Holanda, o teu país, que tem o maior número de prostitutas por metro quadrado em todo o mundo e até as põe à venda em montras. Aí é que se gasta muito dinheiro mal gasto em mulheres. Talvez não saibas, mas há quem diga que no Verão vêm muitas mulheres do teu país à procura de homens no meu país. Duvido que eles lhes paguem alguma coisa.
Também não gastamos assim tanto dinheiro em álcool. Até porque não temos muito dinheiro para gastar em coisa nenhuma. Bebemos algum vinho, é verdade, mas é mais por razões de saúde e para dar trabalho aos nossos agricultores. Eu sei que no teu país a bebida preferida é o leite. Aqui também bebemos disso, mas é de manhã e com café. Às refeições ou quando vamos sair a qualquer lado não costumamos beber leite. E mesmo que quiséssemos não podíamos porque temos menos vacas que no teu país.
Fica a saber que os gajos mais bêbados que conheci em toda a minha vida foram dois holandeses lá para os anos 80, que costumavam acampar na Barragem de Castelo de Bode e apanhavam um pifo que durava quinze dias. Mas eram admiráveis porque ao fim da tarde atravessavam a barragem a nadar de costas, completamente bêbados, e não chegaram a morrer. De mulheres parece-me que não gostavam muito. Devia ser para pouparem dinheiro para a pinga.
Mesmo assim, é melhor gastar dinheiro em vinho do que em haxixe ou outras drogas, como no teu país. Nós não temos cá desses cafés onde se podem fumar umas ganzas em liberdade, mas temos umas belas tascas com mesas de mármore onde se bebem uns copos de três, se joga à sueca e canta à alentejana.
Não fiquei muito admirado com o que tu disseste. No teu país, 40% do território fica abaixo do nível do mar e as pessoas são as mais altas da Europa. Deve ser para poderem tirar a cabeça fora de água e espreitarem para o sul para ver o que se passa por cá. Mas de certeza que isso não faz muito bem ao pescoço. Aqui somos mais baixos e até um pouco mais gordos. Não vem grande mal ao mundo porque, como tu reconheces, as mulheres gostam assim. Também não estamos abaixo do nível do mar porque a maior parte do mar é nosso.
Há no entanto uma coisa em que tu podias ser quase como alguns portugueses. És do Partido do Trabalho, mas trabalhas pouco. Há quase 20 anos no Parlamento da Holanda, depois no Parlamento Europeu e agora como Ministro das Finanças e presidente do Eurogrupo, também temos cá desses trabalhadores. Depois, li por aí que não conseguiste acabar o Mestrado mas que te intitulaste Mestre até seres apanhado. Estás a ver, desses também cá temos. Olha, vou-me despedir com um conselho:
Tu estudaste economia agrícola. Porque é que não te dedicas a apalpar tomates, para ver se estão maduros?
Ovar, 25 de março de 2017
Álvaro Teixeira
Sem comentários:
Enviar um comentário