29/08/2017 por Eva Garcia
Dicionário da Língua Portuguesa, editado em 1986, Porto Editora
O João Mendes trouxe o texto do Ricardo Araújo Pereira (RAP) no qual se demonstra que, afinal, os cadernos não eram assim tão sexistas como se apregoou. E que o trabalho jornalístico à volta da questão deixou muito a desejar. Na verdade, os meios de comunicação social pegaram numa montagem de duas páginas para, a partir delas, tecerem ilações. E, por fim, a Comissão para a Igualdade de Género (CIG) laureou-se de poderes censórios e, “por orientação do Ministro Adjunto”, Eduardo Cabrita, recomendou à Porto Editora, que “retire[retirasse] estas duas publicações dos pontos de venda”.RAP desmontou a questão, no programa Governo Sombra, implacavelmente e com graça, conforme se pode visualizar no vídeo seguinte.
Nota: O vídeo trunca parte do tema; pode ser visto na totalidade na TVIou ouvido aqui.
Foi a própria Porto Editora que publicou este vídeo no seu canal do YouTube, acrescentando o seguinte comentário:
O Governo Sombra analisou e debateu os “polémicos” blocos de atividades (sic) publicados pela Porto Editora, confirmando o que a Porto Editora afirmou desde o início: não há discriminação, não há preconceito nas nossas edições. [YouTube]Acontece que basta ouvir o que RAP diz para se perceber que não é bem esta a sua tese – voltaremos a este tópico mais à frente.
Ao longo do vídeo, Ricardo Araújo Pereira mostra um exercício mais difícil para as meninas do que para os meninos, como contraponto para o exemplo que toda a comunicação social usou.
Exemplo de um exercício mais difícil para as meninas. Recorte: Governo Sombra
O exemplo usado pela comunicação social. Recorte: Governo Sombra
O humorista comprou os dois livros, comparou-os e conclui que, de uma forma geral, não se justifica a polémica artificial à volta da suposta diferenciação quanto ao grau de dificuldade dos exercícios para meninos e para meninas, tal como titulou o Público, em forma de insinuação.Recorte: Público
Mas RAP acrescenta uma segunda linha de pensamento, suportada pela constatação de existirem nesses dois livros “estereótipos de género, nocivos para ambos os lados”. Ressalva, porém, que estes estereótipos “não justificam a intervenção do Governo”, tal como não se justificaria a retirada dos “filmes e livros da Disney, que exercem uma influência muito maior sobre as crianças e que têm exactamente os mesmos estereótipos de género”.
Que tese pedagógica justifica a existência de versões masculina e feminina do mesmo livro? É neste ponto, dos estereótipos de género, que reside o erro. As meninas gostam mais de cor-de-rosa e os rapazes de azul porque lhes está na natureza ou porque lhes foi ensinado? E quanto a carros e bonecas? E tomar conta da casa ou ir para o escritório?
O sexismo aprende-se e livros como estes ensinam-no. Veja-se a definição de mulher que constava da edição de 1986 do Dicionário da Língua Portuguesa, editado pela Porto Editora. Foi preciso um abaixo assinado, nos anos 90, para a alterar. Esta concepção da sociedade já vem de longe e longe está de estar extinta.
Fonte: Aventar
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