Raul Vaz | raulvaz@negocios.pt28 de agosto de 2017 às 23:06
E quando é que António Costa pensa e quer abrir um novo ciclo? "Passadas as eleições autárquicas", que previsivelmente vai ganhar e que o parceiro do grande consenso vai perder. Eis o quadro ideal para o político produzir
Reli, com lupa. O Expresso voltou à carga (bem sei que o online tem os seus truques) com a entrevista de António Costa "originalmente publicada a 20 de Agosto", o momento que "marcou a rentrée". Isto com um título de suporte: "A actual solução governativa não depende de haver ou não maioria absoluta." Et voilà, Costa deu uma entrevista. Mais uma.
Se formos benevolentes depois de uma nova leitura, encontramos uma razão para a coisa, dita pelo protagonista: "Não deve haver ninguém em Portugal que há mais anos exerça consecutivamente funções executivas do que eu." Se António Costa fez contas, tem razão. Facto que pode, como este mundo mostra, ter interpretações diferentes. Mas Costa é, em betão, um democrata.
O pouco que fica da entrevista não marca nada. Muito menos uma rentrée. Claro que o politicão estende a pergunta convencional: "O que será prioritário na rentrée?" A deixa para um recomeço de Costa: "(…) Vamos abrir a grande negociação para um grande consenso sobre o que deve ser a estratégia nacional para o pós-2020." Consenso com quem? Seguindo o plano do primeiro-ministro, com quem "permita que o programa de grandes investimentos em obras públicas seja aprovado por dois terços na Assembleia da República".
E quando é que António Costa pensa e quer abrir um novo ciclo? "Passadas as eleições autárquicas", que previsivelmente vai ganhar e que o parceiro do grande consenso vai perder. Eis o quadro ideal para o político produzir política. Costa sabe que a seguir às autárquicas o PSD entra num processo de convulsão interna, com cabeça para tudo menos para um acordo suicidário com quem fez reversões em áreas do universo em que agora pede um consenso nacional alargado. O novo ciclo de Costa pretende apenas apagar, ou amaciar, o ciclo terrível do estio.
Há um outro pormenor que desmonta o circo. No seu número menos conseguido - desde que "há 20 anos tem funções executivas" -, António Costa despe-se e desilude nas vestes do pragmatismo: "Relativamente ao Brasil, como Angola, Moçambique, Guiné ou qualquer país lusófono, temos a regra contrária à do anarquista: hay gobierno, somos amigos."
A entrevista do primeiro-ministro ao Expresso é um acto falhado. Outras se seguirão para corrigir o tiro. O problema de Costa é que, neste Verão, perdeu o controlo da agenda. Claro que vai recuperar nas eleições de Outubro. Será suficiente? Pedrógão foi um murro com espessura e fractura social. Também é verdade que ontem começaram a cair uns pingos de chuva...
política.
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