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sábado, 30 de setembro de 2017

Patinagem na maionese

ladroes de bicicletas

Posted: 29 Sep 2017 02:41 PM PDT

Fonte: INE, Empresas em Portugal

Passos Coelho - e o CDS - têm uma enorme dificuldade em conseguir passar a sua visão estratégica para o país.
Na entrevista ontem dada à TSF, o ex-primeiro-ministro finalmente explicou a razão por que, no final do seu mandato, incluiu o valor de 600 milhões de euros de cortes das pensões, na proposta de OE.
Foi para conseguir a tão almejada sustentabilidade da Segurança Social como alegou o CDS? Era a tal componente da reforma da Segurança Social que Maria Albuquerque disse que era para negociar com o Partido Socialista? Não, não era nada disso:

"Não se trata de ter uma poupança de 600 milhões... Isso foi um valor que, na altura da Troica, era necessário do lado das contas públicas para fechar o objectivo orçamental"

Ou seja, foi um expediente orçamental que não tinha qualquer visão estratégica por detrás. Maria Luís Albuquerque, Cecília Meireles, Passos Coelho, todos aceitaram fazer esta brincadeira: prometer baixar artificialmente o défice que se pretendia atingir e que não se sabia como, atirando a responsabilidade para a oposição... sobre como cortar nas pensões, única reforma que sabiam fazer.
E por estranho que possa parecer, o site da TSF voltou ontem à carga com um título que é uma repescagem da asneira que tentaram passar, mas com dois anos de idade: "Cortar 600 milhões na Segurança Social? É preciso fazer alguma coisa".
Mas esta falta de visão estratégica é ainda mais clara quando Passos Coelho não consegue conciliar os seus "êxitos" na reforma laboral (mais cortes nos rendimentos) com, nomeadamente, o problema da sustentabilidade da Segurança Social.

Desde 2008, Portugal perdeu quase 600 mil postos de trabalho aplicando as "receitas" europeias para a dita reforma estrutural do mercado laboral que Passos Coelho e o CDS abraçaram. Caso o emprego se tivessem mantido ao nível de 2008, a Segurança Social teria recebido mais 5,6 mil milhões de euros até 2015.
Contra-argumento nº 1: Ah, mas houve uma crise internacional em 2008/09.
É verdade. Então, caso o emprego se tivesse mantido ao nível de 2010, a Segurança Social teria recebido até 2015 mais 2,3 mil milhões de euros!
Contra-argumento nº2: Ah, mas após 2013, recuperou-se no emprego.
É verdade, mas ainda não se recuperou o suficiente. Fazendo contas ao período de 2013 a 2015, e a partir das Estatísticas Empresas em Portugal do INE, recuperou-se apenas 37 milhões de euros de receitas da Segurança Social. Em 2013 e 2014, as receitas não ultrapassaram os valores de 2012.
A asneira cometida com a política seguida foi de tal ordem que a mão teve de ser emendada pelos seus próprios autores. Mas já era tarde. Ficou, no entanto, em vigor (ainda hoje!) a famosa reforma laboral de 2012 que resultou numa quebra de rendimentos salariais - e, com eles, de descontos sociais para a Segurança Social. Uma reforma em tudo ajudada pela existência em 2012 de 1,5 milhões de pessoas subutilizadas (para usar a terminologia do INE), um real exército de reserva que comprimiu os salários dos novos contratos de uma forma nunca vista.
E depois disto releia-se a entrevista de Passos Coelho: (11'50'' da entrevista na íntegra, ao fundo da notícia):

É importante que as pessoas não percam de vista que o PSD não troca as suas ideias quanto à estratégia que defende para o país, só pelo facto de estar na oposição. Nós temos um rumo, uma estratégia para o país que não se confunde com a do Governo do PS e da extrema-esquerda. A nossa principal missão é a de poder dizer aos portugueses que não temos apenas de aproveitar a boa maré que vem da Europa e algumas condições favoráveis que resultam de reformas que já fizemos no passado. Precisamos de preparar o futuro.

Como diria Eça de Queiroz: "Temos homem!" (e mulher!)

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