BOCAGE PUBLICITÁRIO
Um proprietário de uma casa de banhos, amigo de Bocage, pediu-lhe que redigisse um letreiro para a tabuleta da casa. O poeta, sempre gozador, escreveu:
“Banhos frios. Também os temos quentes para senhoras a 200 réis, com lençóis.”
O homem ficou muito contente e mandou pintar a placa.
Dias depois aparece novamente o dono da casa dos banhos ao poeta, a dizer-lhe que os vizinhos não tinham gostado do letreiro, e seria bom corrigi-lo.
Disse o poeta:
-Ponha, então, assim: “Banhos frios. Também os temos para senhoras quentes de 200 réis, com lençóis”.
O homem ficou muito contente, mas correu a consultar os vizinhos. Meia hora depois tornava ele a casa do poeta para lhe dizer que os vizinhos acharam “pior a emenda do que o soneto”.
Bocage, aborrecido já com aquela história, exclamou:
– Olhe, meu amigo, ponha então assim: “Banhos frios. Com senhoras não queremos negócios quentes. Nem quentes, nem frios, nem por 200 réis, nem por nada, nem com lençóis, nem sem lençóis.”
MELHOR O BATIZADO
Uma tarde, dirigiam-se para a igreja de São Domingos, uns noivos seguidos de numeroso cortejo nupcial. Iam a pé, e a noiva ostentava enormes ramalhetes de flores de laranjeira.
Segundo constava, porém, a moça já não tinha o direito de levar aquela flor, porque entre os grupos que presenciavam a passagem do casamento, murmuravam que ela já estaria “esperando”..
O poeta Bocage assistia quando os noivos pisavam os degraus da igreja. Ao ver a noiva, riu-se e comentou com os amigos que lhe estavam próximos:
– Façam o batizado, que é melhor…
DRAMALHÃO
Conversavam duas velhas fidalgas com Bocage em casa da condessa de Oyenhaussem e uma delas diz muito pesarosa:
– Não sabem quem está muito doente, quase a morrer? É o barão do Freixo.
– Como assim? –interroga a outra velha. –Aquele que casou há três meses com a afilhada? Lá fica viúva a pobre rapariga.
– Mas ainda eu não disse tudo. A baronesa, a noivazinha, também caiu gravemente enferma. Parece um hospital aquela casa.
– Ora!… Ora!… Que infelicidade! – diz o brejeiro Bocage. – Querem as senhoras ver que, no fim de três meses casados, ficam ambos viúvos?!
AMOSTRA
Entrou certa noite Bocage no café Nicola, do Rocio, e mandou fazer um bife. Era o primeiro alimento que tomava naquele dia o pobre poeta. Momentos depois, aparece o criado trazendo no fundo de um prato uma diminuta porção de carne, que não merecia nem o nome de um quarto de bife.
Bocage pegou no prato, examinou atentamente o seu conteúdo e o devolveu ao criado, dizendo:
-Isso mesmo, José. É exatamente desta carne que eu gosto, podes mandar fazer o bife.
POETA GOZADOR
Pelo Rocio afora ia Bocage correndo uma tarde de 1795. Como havia rumores de revolta no norte do país, tudo quanto era extraordinário se tornava suspeito.
Além disso, Bocage ia gritando:
– Novas! Novas! Há novas!
Muita gente, na boa fé, seguiu Bocage correndo. Na Rua do Ouro, iam atrás dele mais de quinhentas pessoas. Bocage seguiu até ao Terreiro do Paço, e aí subindo a um banco do cais, rodeado de muita gente, pediu silêncio. Todos se calaram, para ouvir as “novas”, mas Bocage, mostrando as botas que trazia calçadas disse:
-Novas, compradinhas agora mesmo.
FICA A DEVER O RESTO
O poeta Bocage viveu por muitas vezes dos favores dos amigos. Nessas ocasiões, a todos pagava, quando lhe pediam, com o que tinha: em versos.
O comendador Trippa, que era um admirador da sua inspiração fogosa, foi um dia abordado por Bocage na rua, que lhe pediu duas libras.
– Não tenho hoje senão uma, – respondeu logo o comendador, querendo escapulir.
– Está bem: dê-me essa libra e fica-me devendo a outra.
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