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sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Bocageanas

Bocage


BOCAGEANAS

O poeta Manuel Maria Barbosa Du Bocage, foi literato sério, profundo, respeitadíssimo, estudado até hoje nas academias. Mas foi por seus poemas satíricos que ele tornar-se-ia célebre a nível popular – tendo como alvo preferencial os maus poetas, os médicos, os frades, os burocratas… Por exemplo:

(….)

Arrimado às duas portas

Pingue boticário estava,

E brandamente acenou

A um doutor que passava.

Mal chega o bom Galeno,

Diz o outro com ar jocundo:

“Unamo-nos, meu doutor,

E demos cabo do mundo!”

————————————-

            Lavrou chibante receita

            Um doutor com todo o esmero.

            Era para certa moça,

            Que ficou sã como um pero.

            – Tão cedo! é milagre – assenta

            A mãe, que de gosto chora.

            – Minha mãe, não é milagre:

            Deitei o remédio fora.

            ————————————————–

            “Empobreceu todo o bairro,

            Fábio, com pena e cordão;

            Foi quatro meses letrado,

            Quinze dias escrivão.

            Um escrivão fez um roubo;

            Diz-lhe o juiz: “Que razão

            Teve para fazer isto?”

            Respondeu: -“Ser escrivão”.

PIADAS EM VERSOS

Mas muito importante foi o gênero poético que Bocage adotou em muitas de suas sátiras, o Diálogo, que continha a estrutura básica da piada tal como hoje a conhecemos. Por exemplo:

            – Laura divertiu-se muito

            Numa função menos má.

            – Qual o divertimento?

            – Não ter o marido lá.

                         ———-

            – Elmano, lê-me os teus versos.

            – Melhor sorte me dê Deus! Tremo disso.

            – E por que tremes?

            – Porque podes ler-me os teus.

                        —————

            – Mordeu uma serpe Aurélia:

            Que pensais que resultou?

            – Que Aurélia morreu?

            – História: a serpe é que estourou.

NESSE CASO

Num sarau, após os mais extraordinários improvisos, quando pela sala corria não haver impossibilidade que fosse para a criatividade de Bocage; uma moça, que tinha toda a noite insistido em criar os mais exóticos versos, diz ao círculo de amigas:

– Eu é que vou pegá-lo! Vamos ver como ele há de se sair, com uma palavra que não tem consoante.

E alteando a voz, exclama muito ancha: “O meu amor foi pra Índia!”

O poeta, percebendo-lhe a intenção, responde brincalhão:

– Pois, minha senhora, quando ele voltar, vá vossa senhoria para o diabo que a carregue; e ele também!

AMIGO DO CLERO

Bocage costumava freqüentar reuniões de boêmios, em que uma das diversões consistia em um poeta desenvolver versos, de improviso, segundo um mote dado por alguém.

Certa vez, passava Bocage com um amigo na praça, quando um sujeito o desafiou dando o mote:  “Um burro, um frade e uma freira,”

Que foi prontamente glosado pelo poeta, desta forma:

                        “Casou um bonzo da China,

                        Com uma mulher feiticeira.

                        Nasceram três filhos gêmeos,

                        Um burro, um frade e uma freira.”

PERGUNTA BESTA

Bocage retornava da taberna do Nicola, altas horas, com a caveira cheia de vinho, quando foi barrado pela patrulha, apontando-lhe as espingardas. Perguntou-lhe o cabo ríspidamente:

– Quem é? De onde vem? Para onde vai?

– Sou o poeta Bocage, venho do Nicola, e vou para casa, que fica num segundo andar.

O chefe da patrulha apontou-lhe a espingarda, e falou:

– Vosmecê é suspeito, e vai é para o presídio do Limoeiro!

– Pois se sabia aonde eu ia, por que diabos perguntou a mim?…

PERDIA UM AMIGO, MAS NÃO A PIADA

Fora Bocage convidado para padrinho do filho de certo negociante, sócio de uma firma comercial. Quando o padre lhe pedia esclarecimentos para lavrar o termo de batismo, perguntou:

– É filho de…?

-De Manuel Mendes & Cia. – respondeu Bocage, com a maior serenidade.

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