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sexta-feira, 20 de outubro de 2017

MISÉRIA DE ESTRATÉGIA





(Por José Gabriel, in Facebook, 19/10/2017)
penitencia
Escrevi ontem de manhã um pequeno texto em que desabafava a minha náusea pelo que se passava nos canais televisivos de notícias. Nele referi um programa em particular mas não adiantei nomes nem citei ninguém. Não gosto de promover gente de baixo perfil moral - contenho-me nas palavras - e ainda menos dar publicidade às suas alarvidades. Mas há limites. Desde ontem - pelas intermináveis declarações de Passos Coelho, ouvido em particular e por tudo o que se disse no debate (?) parlamentar - começam a desenhar-se as cartilhas e as obscenidades que a direita deve usar para pontuar os seus ataques. Podiam os partidos de direita atacar, na AR e nas suas metástases televisivas, com argumentos e ideias duras, até violentas, mas sérias e, até, procedentes, porque há matéria para tal, mas isso tinha um preço - eles fizeram sempre o mesmo e geralmente pior nestas matérias. Mas não. Não é isso que colhe e o deserto argumentativo parlamentar não surpreende. Por isso, tratam de promover e repetir curtas e simplórias grosserias. Não há limites. Mas há concertação. Exemplo? Ontem, na TVI24, uma jornalista (??) promovida a comentadora, uma tal Judite de Freitas arengava: "o PCP e o BE eram outra coisa, agora são... não sei... uma espécie...não sei...uma coisa...estão mascarados de partidos que apoiam governos que permitem 100 mortos...". Horas depois, Nuno Magalhães, com a elegância oratória que lhe é reconhecida, bolsava: " cabe ao PCP e ao BE avaliarem se a morte de 100 pessoas não é grave". Esta miserável imitação de ideia vai fazendo o seu caminho ao ritmo da obediência dos vários servidores da causa.
A segunda obsessão desta gente, aparenta ser muito cristã: "peça desculpa, peça perdão, penitencie-se". Quer dizer, parece não interessar o que há a fazer e o valor das mediadas já tomadas e a tomar, sua avaliação e escrutínio, como não interessa a crítica dura mas fundamentada; não, interessa humilhar, fazer vergar vontades, fazer espectáculo e melodrama barato daquilo que é uma verdadeira tragédia.
Tudo isto é inocente, decorrente de personalidades deformadas? Claro que não. Há mais de um sentido em tudo isto. Enquanto se trata a situação nestes termos, não só se obtem nas mentes mais incautas uma má vontade contra o governo e seus apoiantes parlamentares, com se evita a verdadeira discussão que, inevitavelmente, implicará a actual oposição e suas responsabilidades em toda esta situação.
É que o que aconteceu foi mesmo de uma gravidade sem medida, tem responsáveis, tem políticas erradas persistentemente seguidas, tem sujeitos que ficaram aquém das suas obrigações, interpela os deveres de todo o aparelho de Estado, desde o governo à freguesia - responsabilidades de desigual grau e, até, natureza, claro -, sem esquecer os que, entre os cidadãos, foram negligentes ou mesmo culpados - há mais de 150 incendiários acusados e inúmeras multas por queimadas ilegais.
Aquilo que se ouve na comunicação social e no argumentário da direita agita a espuma das coisas, o insulto grosseiro, o golpe baixo, preferindo a análise que se evade à crítica procedente. Enquanto isto acontece, espera a direita que nos possamos esquecer do seu rasto sujo em todas estas matérias.
Penitenziagite, penitenziagite, grita a direita afinando os papagaios da sua orquestra; mas não faleis de coisas sérias, que alguém pode estar a ouvir. Nem tomeis boas medidas, porque podem resultar, os nossos donos não iriam gostar e nós não voltaríamos a governar.

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